- ANÁLISE: - A MORENINHA JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - LUCÍOLA JOSÉ DE ALENCAR - PROSA ROMÂNTICA:



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Transcrição:

- ANÁLISE: - A MORENINHA JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - LUCÍOLA JOSÉ DE ALENCAR - PROSA ROMÂNTICA: O romance romântico: o texto em prosa predominou no Romantismo, sendo a forma de expressão mais significativa do gosto burguês na Literatura. A Burguesia buscou na Arte mais uma forma de entretenimento, tornando a leitura hábito do cotidiano, acessível ao gosto médio. Os gêneros discursivos em prosa cultivados no Romantismo foram o romance narrativa longa em prosa, com personagens centrais envolvidos em um conflito central, com apresentação, complicação, clímax e desfecho, e personagens e conflitos secundários a novela narrativa que apresenta conflitos intercalados e o conto narrativa curta, que apresenta personagens centrais e conflito único. O termo Romantismo deriva da palavra romance e identifica o movimento artístico, que é distinto de romantismo, estado de espírito. O romance romântico apresenta o esquema básico da narrativa, introduz os personagens centrais e o conflito amoroso, este se complica por motivos sociais/ morais, chega ao clímax e traz o desfecho aguardado pelo público: feliz, se os personagens seguem o padrão burguês, ou trágico, caso os personagens cometam uma transgressão do padrão burguês de comportamento. Os romances defendem o moralismo burguês: família, casamento e trabalho. Quando ocorre o happy end, normalmente uma peripécia o precede. A peripécia é um recurso usado desde as comédias gregas e consiste em um fato que muda o rumo dos acontecimentos, beneficiando os protagonistas. Os personagens do romance romântico são planos, idealizados, assim como o sentimento que os move. Representam ou o arquétipo de comportamento social, o herói/a heroína burgueses, normalmente médico, advogado, jornalista, ou o herói nacional, o representante de um povo, o cavaleiro medieval na Europa, o índio no Brasil. Os temas desenvolvidos e a linguagem aproximam-se de seu público. Os elementos do romance identificam-se com o universo dos leitores, trazendo a eles o mundo que eles sonham. - Joaquim Manuel de Macedo A Moreninha: - O autor: nascido em Itaboraí, RJ, em 24 de junho de 1820, foi médico, jornalista, político e o primeiro romancista brasileiro. Faleceu no Rio de Janeiro, 11 de abril de 1882, deixando uma obra ampla, mas que o tempo se encarregou de provar a pouca consistência. Seu primeiro livro, A Moreninha, escrito quando concluía o curso de Medicina, estabeleceu a popularidade do folhetim

brasileiro, abrindo o caminho para Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar, os principais autores de folhetins do Romantismo urbano. - A OBRA: O romance A Moreninha é considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Apresenta uma linguagem simples, um enredo que prende o leitor com algum suspense e um final feliz típico dessa fase do movimento do Romantismo. A obra remonta o cenário da alta sociedade carioca em meados do século XIX. Joaquim Manuel de Macedo ganhou notoriedade na corte carioca, pois a obra caiu no gosto do público. A obra mostra os costumes e a organização da sociedade que se formava no século XIX no Rio de Janeiro: os estudantes de medicina, os bailes, a tradição da festa de Sant Ana, o flerte das moças etc. Também está presente a cultura nacional, através da lenda da gruta, em que o choro de uma moça que se apaixonou por um índio e não foi correspondida se transforma na fonte que corre na gruta. A idealização do amor puro, que nasce na infância e permanece apesar do tempo, é uma das principais características que enquadram a obra como romântica. Além disso, a menção à tradição religiosa (festa de Sant Ana), o sentimentalismo e caracterização da natureza através da ilha, da gruta e do mar contribuem para montar o cenário do amor romântico entre Augusto e Carolina. A linguagem da obra é simples, com a presença do popular. O narrador é onisciente, em terceira pessoa. O romance se desenrola em três semanas e meia, em tempo cronológico. A leitura leve, o suspense presente no decorrer do romance e o final feliz fizeram da obra uma referência, que teve repercussão não só na época de sua escrita, como também é lida até hoje. A Moreninha conta a história de amor entre Augusto e D. Carolina (a moreninha). Tudo começa quando Augusto, Leopoldo e Fabrício são convidados por Filipe para passar o feriado de Sant Ana na casa de sua avó. Os quatro amigos estudantes de medicina vão para a Ilha passar o feriado e lá encontram D. Ana, a anfitriã, duas amigas, a irmã de Filipe, D. Carolina e suas primas Joana e Joaquina. Antes de partirem Filipe havia feito uma aposta com Augusto: se este voltasse da Ilha sem ter se apaixonado verdadeiramente por uma das meninas, Filipe escreveria um romance por ter perdido a aposta. Caso se apaixonasse, Augusto é quem deveria escrevê-lo. - Personagens do romance: - Filipe: estudante de medicina, amigo de Augusto. Faz o convite aos colegas para passarem o feriado na casa de sua avó. - Leopoldo: o mais animado dos amigos de Augusto, também estudante de medicina. - Fabrício: é prático e um tanto mesquinho quando se trata de relacionamentos. Pede ajuda a Augusto para livrar-se de Joaquina.

- Augusto: é volúvel e inconstante nos relacionamentos amorosos. Apaixona-se facilmente, mas dura pouco, por isso afirma nunca ter amado. Apesar da inconstância, é romântico. Pois não engana as moças, apenas é volúvel. - Joana: prima de Filipe. Tem dezessete anos, cabelos e olhos negros, é pálida. - Joaquina: prima de Filipe. Tem dezesseis anos, é loura de olhos azuis e tem faces cor-de-rosa. - D. Ana: avó de Filipe. Dona da casa na ilha, senhora amável de sessenta anos que nutre um carinho especial pela neta (a Moreninha) que criou após ter ficado órfã. - Moreninha: irmã de Filipe. Menina de quatorze anos, travessa, engraçada e impertinente. - D. Violante: uma senhora amiga de D. Ana. Era inconveniente e chateou Augusto com lamentações e assuntos de doenças. - Resumo: Augusto era um jovem namorador e inconstante no amor. Fabrício revela a personalidade do amigo a todos num jantar, o que faz Augusto ser desprezado pelas moças, menos por Carolina. Sentindo-se sozinho, Augusto revela a D. Ana, em uma conversa pela Ilha, que sua inconstância no amor tem a ver com as desilusões amorosas que já viveu e conta um episódio que lhe aconteceu na infância. Em uma viagem com a família, Augusto apaixonou-se por uma menina com quem brincara na praia. Ele e a menina ajudaram um homem moribundo e, como forma de agradecimento, o homem deu a Augusto um botão de esmeralda envolvido numa fita branca e deu a menina o camafeu de Augusto envolvido numa fita verde. Essa era a única lembrança que tinha da menina, pois não havia lhe perguntado nem o nome. O fim de semana termina e os jovens retornam para os estudos, mas Augusto se vê com saudades de Carolina e retorna a Ilha para encontra-la. O pai de Augusto, achando que isso estava atrapalhando seus estudos, proíbe o filho de visitar Carolina. Depois de um tempo distantes, Augusto volta a Ilha para se declarar a Carolina. Mas ela o repreende por estar quebrando a promessa feita a uma garotinha há anos atrás. Augusto fica confuso e preocupado, até que Carolina mostra o seu camafeu. O mistério é desfeito, e, para pagar a aposta, Augusto escreve o livro A Moreninha. - LUCÍOLA JOSÉ DE ALENCAR ANÁLISE: - O Autor: José Martiniano de Alencar, cearense de Messejana, 1 de maio de 1829, veio para o Rio de Janeiro na infância, quando o pai tomou posse do cargo de senador. Criado no Rio de Janeiro, onde fez os estudos básicos, formou-se em Direito, cursando primeiro em São Paulo e

concluindo o curso em Recife. De volta ao Rio de Janeiro, destacou-se como jornalista, cronista, político e escritor. Sua atividade intelectual tornou-o o mais relevante nome de nosso Romantismo, por seu projeto literário delineado, planejado, o de criar a cultura, a literatura e a língua nacional. Como político, teve atuação corajosamente conservadora, criticou as leis abolicionistas, por considerá-las falhas, ao não definir programas de inclusão dos negros libertos, mas não foram suas posturas que lhe valeram o fim da carreira política e sim uma crítica feita ao livro A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães, o primeiro poeta de nosso Romantismo; por considerar o livro uma epopeia pretensiosa e fora de contexto, teve a candidatura ao senado vetada pelo imperador; Gonçalves de Magalhães era amigo pessoal de D. Pedro II. No final da vida, com problemas de saúde e financeiro, desencantado com a política e com uma viagem feita à Europa, onde não conseguiu ver as qualidades de que tanto seus contemporâneos falavam, morreu no Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877, como o maior nome do período, segundo seu amigo Machado de Assis. Sua obra, a mais ampla do Romantismo brasileiro, abrange crônicas, crítica, poesia, peças teatrais, das quais se destaca a comédia Demônio Familiar, deliciosa crítica de costumes, e romances históricos (As Minas de Prata, Alfarrábios, A Guerra dos Mascates), romances regionalistas (Til, O Tronco do Ipê, O Gaúcho, o Sertanejo), romances indianistas (O Guarani, Iracema, Ubirajara) e romances urbanos (Cinco Minutos, A Viuvinha, A Pata da Gazela, Sonhos d Ouro, Diva, Encarnação, Lucíola, Senhora) - Lucíola Análise: A obra Lucíola se enquadra nos chamados romances urbanos de Alencar, que relatam o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa da Corte. Na literatura desse momento, a figura principal do Romantismo deixa de ser o índio, a natureza, e passa a ser a sociedade, com suas mazelas e suas virtudes, procurando reafirmar o recente independente país. Lucíola representa o ponto de maturidade da prosa urbana de José de Alencar, pela crítica social que apresenta, ao revelar a hipocrisia de um mundo que aceita e condena a prostituição. Narrado em primeira pessoa por Paulo, o protagonista masculino da obra, centra-se no amor impossível dele por Lúcia, uma cortesã. Paulo sente em relação a ela um sentimento paradoxal, ama, mas o preconceito o impede de viver o amor. Dividido entre o sentimento e a razão, que lhe diz para se afastar de Lúcia, para não prejudicar seu futuro, era advogado e pretendia a carreira diplomática, ele sofre muito. O dilema dos dois se resolve no final, quando Lúcia morre e, junto com ela o filho que ela trazia e considerava fruto do pecado. Ao preferir a morte, ela deixa Paulo sofrendo, mas desimpedido para seguir a vida. O narrador Paulo é também um dos personagens principais. Porém, a obra peculiar de Alencar possui um narrador que não apresenta uma visão crítica em relação aos acontecimentos. Ao decorrer da narração, Paulo parece reviver a emoção dos momentos que teve com Lúcia. A

narração feita em primeira pessoa torna-se assim limitada, uma vez que parte sob a perspectiva pessoal de Paulo. Ou seja, não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. Além disso, como estratégia do autor, a história entre Lúcia e Paulo é contada através de uma carta entregue à senhora G.M. para que Paulo não levasse a culpa de publicar o romance e ser mal visto por se envolver com uma cortesã, diante de uma sociedade preconceituosa. Ele também se revela preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história. De outro lado, há Lúcia. A Cortesã é cobiçada pela sua beleza e vive numa sociedade que a julga preconceituosamente, até encontrar Paulo, o único capaz de enxergar além das aparências. Já no primeiro encontro, Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima de sua origem, enquanto Maria da Glória. Nessa dualidade de Lúcia, podemos enxergar a dicotomia entre os valores cristãos, de pureza, calma, bondade, e os valores do mundo da libertinagem. A personagem busca a auto piedade e o esquecimento do seu passado, porém não consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos. Sendo assim, não existiria alternativa para o desfecho e salvação de Lúcia, a não ser a morte. - Outros personagens: Sá: amigo de infância de Paulo e ex-amante de Lúcia, ele quem apresenta os dois. Milionário e solteiro, é o típico homem burguês. Dá festas em sua casa e representa o preconceito da sociedade burguesa diante da impossibilidade de haver perdão aos atos de Lúcia. Cunha: amigo de Paulo e ex-amante de Lúcia. Ela o deixou no dia em que viu sua mulher sozinha, triste. Couto: foi o primeiro cliente de Lúcia. Responsável por oferecer dinheiro a ela, em troca de favores sexuais, quando Lúcia tinha apenas 14 anos. Rochinha: na roda de amigos boêmios, é o mais novo, com 17 anos, e o mais inexperiente. Porém, tem uma vida irrigada por bebidas alcoólicas. Laura: uma das prostitutas que participaram da festa na casa de Sá. Nina: uma prostituta que se interessou por Paulo, com quem chegou até a marcar um encontro, que não acontece. Jesuína: Quando Lúcia foi expulsa de casa por seus pais, foi morar com Jesuína. Mais tarde, ela aparece como suposta enfermeira na casa de Lúcia. Ana: Com 12 anos e irmã mais nova de Lúcia, vai morar com ela no interior. Possui traços muitos semelhantes aos de Lúcia. Quando Lúcia falece, fica sob responsabilidade de Paulo, e no final do livro casa-se.