SITUAÇÕES SINÓTICAS ASSOCIADAS ÀS DIFERENÇAS NAS PROPRIEDADES ÓPTICAS DA ATMOSFERA EM AMBIENTE URBANO



Documentos relacionados
GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

Utilização de imagens de satélite e modelagem numérica para determinação de dias favoráveis a dispersão de poluentes.

Estudo da ilha de calor urbana em cidade de porte médio na Região Equatorial

MECANISMOS FÍSICOS EM MÊS EXTREMO CHUVOSO NA CIDADE DE PETROLINA. PARTE 3: CARACTERÍSTICAS TERMODINÂMICAS E DO VENTO

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA TEMPERATURA E DA UMIDADE RELATIVA DO AR EM DIFERENTES LOCAIS DA CIDADE DE MOSSORÓ-RN.

VARIAÇÃO DA AMPLITUDE TÉRMICA EM ÁREAS DE CLIMA TROPICAL DE ALTITUDE, ESTUDO DO CASO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL, SP E SÃO PAULO, SP

CARACTERÍSTICAS DE EPISÓDIOS DE RAJADAS DE VENTO NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE SALVADOR

DIFERENÇAS TÉRMICAS OCASIONADAS PELA ALTERAÇÃO DA PAISAGEM NATURAL EM UMA CIDADE DE PORTE MÉDIO - JUIZ DE FORA, MG.

COMPARAÇÃO DE MÉDIAS DIÁRIAS E MENSAIS DE TEMPERATURA DO AR OBTIDAS POR VÁRIOS MÉTODOS. (1) Departamento de Meteorologia da UFPa

Aplicação de geoprocessamento na avaliação de movimento de massa em Salvador-Ba.

VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO(1997) Dimitrie Nechet (1); Vanda Maria Sales de Andrade

ANÁLISE DE PICOS SECUNDÁRIOS NA CONCENTRAÇÃO DE OZÔNIO EM SUPERFÍCIE SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

ESTUDO DO OZÔNIO NA TROPOSFERA DAS CIDADES DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: SOROCABA E SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Bruno Maiolli Razera 1 ; Paulo Giovani Basane 2 ; Renan Vinicius Serbay Rodrigues 3 ; José Hilton Bernardino de Araújo

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

VISUALIZAÇÃO TRIDIMENSIONAL DE SISTEMAS FRONTAIS: ANÁLISE DO DIA 24 DE AGOSTO DE 2005.

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE AVALIAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO NO OESTE DA BAHIA CONSIDERANDO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

MONITORAMENTO DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE EM ÁREAS URBANAS UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

Modelagem Numérica de Alta Resolução para Análise do Transporte de Poluentes Emitidos por Fogos

INFORMATIVO CLIMÁTICO

VARIABILIDADE CLIMÁTICA PREJUDICA A PRODUÇÃO DA FRUTEIRA DE CAROÇO NO MUNICÍPIO DE VIDEIRA SC.

DATA WAREHOUSE PARA ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS ERROS DETECTADOS NO SISTEMA DE ASSIMILAÇÃO DE DADOS DO CPTEC/INPE

Boletim Climatológico Mensal

Eny da Rosa Barboza Natalia Fedorova Universidade Federal de Pelotas Centro de Pesquisas Meteorológicas

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

Respostas - Exercícios de rotação e translação

Caracterização da Variabilidade do Vento no Aeroporto Internacional de Fortaleza, Ceará. Parte 2: Análise da Velocidade

SIMULAÇÃO DE SECAGEM DE MILHO E ARROZ EM BAIXAS TEMPERATURAS

MATERIAIS E METODOLOGIA

Análise de qualidade de ar e conforto térmico nos meios de transporte públicos de Belém

Boletim Climatológico Anual - Ano 2010

ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS SONDAGENS DE CAXIUANÃ DURANTE O EXPERIMENTO PECHULA.

COEFICIENTES PARA ESTIMATIVAS DE PRECIPITAÇÃO COM DURAÇÃO DE 24 HORAS A 5 MINUTOS PARA JABOTICABAL

A POLUIÇÃO DO AR NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: IMPACTOS À SAÚDE HUMANA

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

Boletim Climatológico Mensal

PROGNÓSTICO DE VERÃO

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

OCORRÊNCIA DE INVERSÃO TÉRMICA NO PERFIL TOPOCLIMÁTICO DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ, BRASIL.

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO TEMPORAL DA TEMPERATURA DO AR NA CIDADE DE PORTO ALEGRE NO PERÍODO DE

Instituto de Educação Infantil e Juvenil Verão, Londrina, de. Nome: Turma: Tempo: início: término: total: MUDANÇAS CLIMÁTICAS

RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO NO VESTIBULAR E O RENDIMENTO ACADÊMICO DOS ESTUDANTES NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DA UFSCAR

Boletim Climatológico Mensal

Boletim Climatológico Mensal

Estudo de caso de um sistema frontal atuante na cidade de Salvador, Bahia

Boletim meteorológico para a agricultura

ESTUDO SOBRE OCORRÊNCIAS DE NEVOEIRO NO AEROPORTO INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO/GALEÃO ANTÔNIO CARLOS JOBIM

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

CARACTERIZAÇÃO DE EXTREMOS CLIMÁTICOS UTILIZANDO O SOFTWARE RClimdex. ESTUDO DE CASO: SUDESTE DE GOIÁS.

Boletim Climatológico Mensal

UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS COMPÓSITOS EM GRADES DE PLATAFORMAS MARITIMAS (2012) 1 OLIVEIRA, Patrícia, GARAY, André RESUMO

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

UTILIZAÇÃO DO MODELO SCREEN 3 DA EPA PARA ESTUDO DE DISPERSÃO DE MATERIAL PARTICULADO NO MUNICÍPIO DE CONTAGEM MG,BRASIL

Avaliação de Modelos Gaussianos para Fins Regulatórios Um Estudo para o Verão na Região de Nova Iguaçu, RJ

PED ABC Novembro 2015

ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO SAZONAL NAS CIDADES DE MACAPÁ-AP E SANTARÉM-PA NA REGIÃO AMAZONICA BRASILEIRA-ANO-2009.

ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

A ILHA DE CALOR EM BELO HORIZONTE: UM ESTUDO DE CASO

Perfil do Emprego nas Fundações de Belo Horizonte/MG *

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VÁCUO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA.

A seguir são apresentadas as etapas metodológicas da Pesquisa CNT de Rodovias.

Universidade de São Paulo Departamento de Geografia FLG Climatologia I. Pressão Atmosférica

CARACTERIZAÇÃO PLUVIOMETRICA POR QUINQUÍDIOS DA CIDADE DE PIRENOPOLIS - GO

ANÁLISE DE UMA LINHA DE INSTABILIDADE QUE ATUOU ENTRE SP E RJ EM 30 OUTUBRO DE 2010

MASSAS DE AR E FRENTES

CREMATÓRIO EMISSÕES ATMOSFÉRICAS - ROTEIRO DO ESTUDO

Poluição atmosférica decorrente das emissões de material particulado na atividade de coprocessamento de resíduos industriais em fornos de cimento.

Boletim Climatológico Mensal

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA REDUÇÃO DO ESPELHO D ÁGUA NOS RESERVATÓRIOS DO MUNICÍPIO DE CRUZETA RN, ATRAVÉS DE IMAGENS DE SATÉLITE.

A EXPANSÃO URBANA E A EVOLUÇÃO DO MICROLIMA DE MANAUS Diego Oliveira de Souza 1, Regina Célia dos Santos Alvalá 1

Boletim climatológico mensal dezembro 2012

Elementos e fatores climáticos

Estudo comparativo dos limites legais de Emissões Atmosféricas no Brasil, EUA e Alemanha.

Boletim Climatológico Mensal Setembro de 2013

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

Em seguida, foram coletadas as coordenadas geográficas de cada ponto, (total de 14 pontos, acima descritos) utilizando-se do aparelho GPS (Global

Análise de Tendências de Extremos para o Planalto Central

Variáveis ambientais de caracterização do ar no ambiente urbano: Belém (PA)

Desenvolvimento e Avaliação Sensorial de Produtos Alimentícios Elaborados com Farinha de Puba em Substituição a Farinha de Trigo

Implantação de sistema computacional aplicado a informações meteorológicas para internet.

Análise da Freqüência das Velocidades do Vento em Rio Grande, RS

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

Analise o gráfico sobre o número acumulado de inversões térmicas, de 1985 a 2003, e a) defina o fenômeno meteorológico denominado inversão

O TRABALHO POR CONTA PRÓPRIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

Análise de um evento de chuva intensa no litoral entre o PR e nordeste de SC

BOLETIM CLIMATOLÓGICO ANUAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP

Pablo Oliveira, Otávio Acevedo, Osvaldo Moraes. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

VARIABILIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE/BRASIL

UTILIZANDO O HISTOGRAMA COMO UMA FERRAMENTA ESTATÍSTICA DE ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE ÁGUA TRATADA DE GOIÂNIA

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

Composição da atmosfera terrestre. Fruto de processos físico-químicos e biológicos iniciados há milhões de anos Principais gases:

EFEITO DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA DO SUBMÉDIO DO VALE SÃO FRANCISCO

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA / ELETROTÉCNICA

Faculdade Sagrada Família

Qualificação de Dados Meteorológicos das PCDs Plataforma de Coleta de Dados

REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR SETEMBRO DE 2008 TAXA DE DESEMPREGO MANTÉM DECLÍNIO NA RMS

Documento apresentado para discussão. II Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais

SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO

Transcrição:

SITUAÇÕES SINÓTICAS ASSOCIADAS ÀS DIFERENÇAS NAS PROPRIEDADES ÓPTICAS DA ATMOSFERA EM AMBIENTE URBANO Luciene Natali 1 Willians Bini 2 Edmilson Dias de Freitas 3 RESUMO: Neste trabalho é feita uma investigação entre a correlação da espessura óptica de aerossol (AOT) obtida via sensoriamento remoto (MODIS) e a concentração de material particulado medido próximo à superfície (PM 10 ) sendo associados às condições atmosféricas da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Para os dias que apresentavam AOT MIN, AOT MED e AOT MAX, entre 35 dias analisados em 19 pontos de monitoramento na RMSP, foram feitas análises dos campos meteorológicos fornecidos pelo modelo BRAMS, verificando a situação atmosférica, para observar a influência dessas variáveis meteorológicas em escala sinótica sobre a AOT e as concentrações de PM 10. Obteve-se para a AOT MIN, uma situação pós-frontal com instabilidade atmosférica antecedida por fortes chuvas. Para a AOT MED verificou-se uma atmosfera estável e para a AOT MAX uma atmosfera relativamente seca, quente e estável com penetração de brisa marítima na tarde do dia anterior, o que pode causar uma re-circulação do ar poluído da cidade. ABSTRACT: In this work the correlation between the aerosol optical thickness (AOT), obtained by remote sensing (MODIS) and the concentration of the particulate mater (PM 10 ) at the surface are analyzed and associated to some atmospheric conditions over the Metropolitan Area of São Paulo (MASP). Based on 35 days in 19 monitoring stations over MASP, three days were selected and it were defined three different conditions for the aerosol optical thickness, AOT MIN, AOT MEA and AOT MAX. After this definition it was made a synoptic analysis, using BRAMS model fields, in order to identify the atmospheric situation and its influence over AOT and PM 10 concentrations. It was observed that the AOT MIN was associated with atmospheric instability with a post-frontal situation preceded by heavy rains. For the AOT MEA a stable atmosphere was found and for the AOT MAX a dry, hot and stable atmosphere was found with see-breeze penetration, which can cause a recirculation of polluted air over the city. Palavras-Chave: Aerossol, AOT, Análise Sinótica. INTRODUÇÃO A qualidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é determinada por um complexo sistema de fontes móveis (veículos automotores) e fixas (indústrias) e o seu 1 Departamento de Ciências Atmosféricas IAG/USP Rua do Matão, 1226, Cidade Universitária São Paulo SP CEP 05508-090 Fone: +55 (11) 3091-2837. Email: lunatali@model.iag.usp.br 2 SOMAR Meteorologia Rua Afrânio Peixoto, 262, Butantã São Paulo SP CEP 05507-000 - Fone/Fax: +55 (11) 3816 2888. Email: willians@met.com.br 3 Departamento de Ciências Atmosféricas IAG/USP Rua do Matão, 1226, Cidade Universitária São Paulo SP CEP 05508-090 Fone: +55(11) 3091-2812. Email: efreitas@model.iag.usp.br

monitoramento é de extrema importância no fornecimento de informações sobre impactos no meio ambiente e verificação de limites de poluentes para a saúde da população (CETESB, 2005/2006). O sensoriamento remoto via sensores em satélites tem tido grandes avanços no desenvolvimento tecnológico e cientifico no que diz respeito a estimativas de concentração de poluentes atmosféricos. Essas estimativas podem ser de grande utilidade, uma vez que podem complementar as medidas realizadas em superfície, principalmente em regiões em que as observações são esparsas ou mesmo inexistentes. Hutchison et al. (2005) realizaram comparações entre medidas de espessura ópticas de aerossol, obtidas pelo MODIS (The Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), e medidas de concentração de PM 2,5 feitas próximas à superfície, verificando que existe uma boa relação entre esses parâmetros. A relação entre espessura óptica de aerossol (AOT Aerosol optical thickness) e a concentração de material particulado inalável (PM 10 ) na RMSP apresenta uma grande variabilidade. Em alguns casos verifica-se uma boa relação, mas, na maioria das vezes, parece não existir correlação entre AOT e PM 10. Esse fato pode ser uma conseqüência do transporte horizontal e vertical dos aerossóis na atmosfera. Uma análise sinótica pode fornecer uma idéia de como as condições atmosféricas podem interferir nessa relação. Sendo assim, este trabalho busca analisar situações distintas da relação entre espessura óptica e concentração de PM 10 em superfície, identificando a situação sinótica em cada uma delas, ou seja, em quais condições atmosféricas as medidas de espessura óptica podem ser utilizadas para uma estimativa da concentração de poluentes próximo à superfície. MATERIAL E MÉTODOS Fez-se um estudo para 35 dias dos anos de 2002 e 2003 entre a correlação da concentração de material particulado (PM 10 ) e a espessura óptica de aerossol (AOT). A concentração de material particulado foi obtida a partir das estações automáticas de monitoramento da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e a espessura óptica de aerossol a partir de medidas de refletância do MODIS calculadas pela metodologia proposta por CASTANHO (2005). O valor da AOT é uma média em uma área de 5 x 5 km centrada nos mesmos pontos geográficos das estações de medida do PM 10. Explorou-se a variação da espessura óptica de aerossol com uma análise da situação sinótica na região, sendo a análise feita para três dias com diferentes AOTs (mínima, média e máxima) com base nos 35 dias e em 19 pontos de medida do PM 10 sobre a RMSP. Para a análise sinótica nos dias de AOT MIN, AOT MED e AOT MAX foram utilizadas observações, imagens de satélite e saídas numéricas do modelo regional BRAMS (Brazilian Regional Atmospheric Modeling System). Dentre as variáveis utilizadas destaca-se o uso de medidas observadas nos aeroportos da cidade de São Paulo: Congonhas e Campo de Marte.

O BRAMS foi rodado com uma grade de 30 x 30 pontos, com resolução de 15 km e iniciado 24 horas antes dos dias estudados, dando tempo ao modelo para se ajustar às condições atmosféricas. RESULTADOS Os resultados das correlações em todas as estações nos dias 25/05/2003 (AOT mínima), 25/07/2002 (AOT média) e 22/08/2003 (AOT máxima) são apresentados na Figura 1 (a, b e c), nas quais cada ponto representa uma estação de monitoramento. Os valores médios de PM 10 e AOT para esses dias são apresentados na tabela 1. Verificamos nas figuras que as diferentes situações apresentam correlações relativamente baixas. Entretanto, podemos verificar que as situações em que foram obtidos os maiores valores médios correspondem aos valores mais altos de correlação. Outro aspecto importante é que valores baixos de concentração de PM 10 correspondem aos valores mais baixos de espessura óptica, apesar da baixa correlação. Figura 1: Correlação entre AOT e PM 10 para dias com AOT MIN, AOT MED e AOT MAX, onde cada ponto representa uma estação de monitoramento. Tabela 1: Comportamento das concentrações médias de material particulado e AOT para os dias selecionados AOT PM10 (μg/m 3 ) AOT MIN 0,20 17,81 AOT MED 0,24 126,59 AOT MAX 0,46 142,21

A figura 2 mostra as imagens de satélite para cada dia de AOT MIN, AOT MED e AOT MAX, incluindo o dia anterior, visando analisar as condições anteriores a cada situação de AOT. AOT MIN AOT MED AOT MAX Dia anterior (-1) Dia corrente Figura 2: Imagens de satélite para os dias com AOT MIN, AOT MED e AOT MAX no dia corrente e dia anterior. Para o caso de AOT MIN pode-se notar a passagem de uma frente fria no dia anterior, e uma segunda-frente fria se aproximando de São Paulo no dia corrente. Para o AOT MED nota-se uma frente fria entre MG e o Sul da Bahia, sendo que SP se encontra com condições de tempo mais estáveis. Já para AOT MAX, uma massa de ar mais seco predomina sobre a região central do Brasil. A figura 3 mostra a variação de temperatura e umidade para o Aeroporto de Congonhas durante o dia anterior e corrente, para a AOT MIN, AOT MED e AOT MAX, respectivamente. Figura 3: Variação horária de Temperatura e Umidade para o Aeroporto de Congonhas Para a AOT MIN, informações anteriores mostravam que houve chuvas e trovoadas na passagem da frente fria no dia 23/05/03 (dois dias antes) e com isso as temperaturas entraram em declínio. Dados observados de vento mostraram maior variação, com ventos constantes variando

entre 10 a 20 km/h. Já para a AOT MED e AOT MAX os ventos estavam calmos. Na AOT MED as temperaturas estavam mais amenas, comparadas à situação de AOT MAX, porém, no dia corrente a máxima chegou a 28 graus devido ao aquecimento pré-frontal. Para a AOT MAX as temperaturas estavam elevadas e o tempo bastante seco, com umidade relativa chegando a 18%. A simulação feita com o modelo BRAMS mostrou os padrões sinóticos associados a cada uma das AOTs. Para a AOT MIN os índices de instabilidade estavam mais elevados, indicando uma situação pós-frontal, com ventos mais intensos e turbulência. A figura 4 mostra o campo de vento na superfície para cada uma das AOTs para o período da manhã (12Z). As figuras mostram um campo mais homogêneo para a AOT MIN, com ventos mais intensos. Na AOT MED os ventos são do quadrante norte, associado com uma situação pré-frontal e na AOT MAX os ventos sopram de NW, o que mantém também as temperaturas mais elevadas. Os resultados da simulação e dos dados observados mostraram uma forte penetração da brisa marítima na tarde anterior à AOT MAX, que se repetiu no dia corrente. Os resultados mostraram ainda uma componente ascendente durante a AOT MIN, e valores elevados de índice K. No geral, a AOT MIN apresentou padrões de tempo mais instável, com ventos mais fortes e temperaturas mais amenas comparado com as demais AOTs. Para a AOT MAX o tempo estava extremamente quente e seco, com forte atuação da brisa marítima já no período da tarde. Na AOT MED, as temperaturas estavam altas devido à aproximação de uma frente fria, porém menos seco que a AOT MAX. A tabela 2 resume as diferenças entre as AOT. AOT- MIN AOT- MED AOT- MAX Figura 4: Circulação na superfície para os casos de AOT-MIN, AOT-MED e AOT-MAX.

Tabela 2: Diferenças de padrões atmosféricos entre AOT-MIN, AOT-MED e AOT-MAX Situação sinótica Circulação AOT MIN intensidade (NW) - pós-frontal (instável) - ventos homogêneos de forte - turbulência - pré-frontal (estável) - quadrante N AOT- MED - ventos fracos AOT- MAX - massa de ar quente e seco (estável) - forte penetração da brisa marítima - ventos fracos CONCLUSÕES Após a análise sinótica percebe-se que para AOT MIN tivemos fortes chuvas dois dias antes e a passagem de uma frente fria no dia anterior que gerou instabilidade e ventos fortes fazendo assim com que a atmosfera estivesse favorável a uma maior dispersão dos poluentes. Já na AOT MED não se observa nenhuma característica sinótica marcante que justifique uma alteração na espessura óptica de aerossol e sim uma condição estável sem muitos ventos, o que deixaria a região com sua AOT numa condição característica da região. Para a AOT MAX temos as condições sinóticas estáveis com uma massa de ar seco e quente, ventos fracos e a penetração da brisa marítima na tarde anterior a esse máximo; isso pode nos indicar uma situação de concentração de poluentes devido à estabilidade do sistema, um transporte de aerossol trazido pela brisa marítima e causando ressuspensão de solo ou até uma re-circulação do ar poluído da cidade, fatores esses que aumentam a concentração de poluentes na atmosfera. A análise sinótica pôde mostrar a influência das variáveis meteorológicas na concentração de material particulado e no valor da AOT o que pode ajudar a evidenciar a grande importância de estudos de variáveis meteorológicas para o transporte e a dispersão de poluentes na atmosfera. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTANHO, A. D. A.; Propriedades ópticas das partículas de aerossol e uma nova metodologia para a obtenção de espessura óptica via satélite sobre São Paulo. São Paulo, 2005. Tese de doutoramento do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. CETESB. Relatório de qualidade do ar em São Paulo, 2004 e 2005 (disponível em www.cetesb.sp.gov.br). HUTCHISON, K. D.; SMITH, S.; FARUQUI, S. J. Correlating MODIS aerosol optical thickness data with ground-based PM 2,5 observations across Texas for use in a real-time air quality prediction system. Atmos. Env., 39 (37), 7190-7203, 2005