O ALCANCE DO DIREITO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS SISTEMAS JURÍDICOS BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO SOB O ENFOQUE DO ACESSO À JUSTIÇA PELOS HIPOSSUFICIENTES Luiz Jeha Pecci de Oliveira 1 Ilise Senger 2 Arthur Gabriel Marcon Vasques 3 RESUMO: O presente trabalho tem a finalidade de realizar uma efetiva análise comparativa entre os sistemas jurídicos do Brasil e dos estados unidos sob a ótica da concretização do princípio do acesso à justiça a todos, inclusive àqueles que não têm condições de pagar pela assistência jurídica regular. Proceder-se-á uma investigação a respeito da inserção de tal princípio no ordenamento jurídico dos referidos países, com considerações a respeito das diferentes estruturas sistêmicas que brasileiros e norte-americanos adotam, sob os regimes de Civil Law e Common Law, respectivamente. A atuação das defensorias públicas brasileiras será realçada como importante esteio dos hipossuficientes no cumprimento desta missão, inclusas em um progressivo processo de regularização nacional, atendendo aos preceitos legais que devidamente o estabelecem. Far-se-á, também, um paralelo com os procedimentos adotados nos estados unidos que podem ser considerados equiparáveis à atuação das Defensorias Públicas em território brasileiro, como forma de sanar a questão do representação em favor dos hipossuficientes, ressaltando-se igualmente os métodos implementados no Brasil para fazê-lo na ausência local de defensores públicos devidamente regulamentados. Através de uma metodologia focada em pesquisas legais, doutrinárias e jurisprudenciais cabíveis a esta temática, serão buscadas lições a se aprender para que se descubra uma eventual possibilidade de efetiva implementação deste aprendizado no direito brasileiro, como forma de reencontrar a conceituação de justiça com seu sentido original, na forma da virtude essencial que proporciona aos mais pobres a efetiva representação de suas pretensões na construção de uma sociedade civilizada. Palavras-chave: 1. Direito comparado. 2. Acesso à Justiça. 3. Sistemas jurídicos. 4. Hipossuficientes. 5. Defensorias Públicas. PROBLEMA DE PESQUISA 1 Graduando em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco - MS. 2 Mestra em Direitos Humanos na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ. 3 Graduando em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco - MS.
2 Esta pesquisa versa, sobretudo, acerca de uma imersão no direito brasileiro e em seu congênere norte-americano com a finalidade de investigar o funcionamento do sistema de acesso à justiça pelos hipossuficientes em ambos os países. E algumas considerações preliminares precisariam ser feitas antes do início da análise aplicada. As manifestas diferenças entre as diferentes famílias do direito de Civil Law e Common Law, tidas como base jurídica por Brasil e Estados Unidos, respectivamente, fornecem pistas sobre como a questão do acesso à justiça pode ser vista em ambos os países. No sistema de Civil Law, adota-se a supremacia da lei escrita e efetivamente codificada, visto que quem determinava o direito era um poder superior, que manifestava sua vontade pela positivação das normas de conduta, enquanto que no modelo de Common Law, a fonte principal do direito eram os costumes observados pelo meio, e a conduta social era regulada pela razão, ou por aquilo que os membros da sociedade entendiam como correto. Adentrando-se, então, na análise jurídica aplicada, é possível colocar como parâmetro de comparação a instituição das Defensorias Públicas no Brasil, reguladas pela Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994 que, em conjunto com a Lei 1.060, de 5 de fevereiro de 1950 (que estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados), possibilitou a efetiva consolidação do princípio do acesso à justiça no Brasil, proclamando uma ordem jurídica progressivamente aberta, consagrando o disposto no inciso LXXIV do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, que já previa a assistência jurídica integral e gratuita fornecida pelo Estado àqueles que comprovem insuficiência de recursos, atendendo-se a uma rígida supremacia legislativa. Tal base, ainda que com carências estruturais e defeitos locais ao redor do Brasil, se mostra um avanço perante o modelo norte-americano, que se encontra ainda em status relativamente precário no que diz respeito à conscientização geral acerca do direito do acesso à justiça, organizando-se de forma altamente variável em torno dos estados de sua federação, com algumas similaridades, tanto dentro da área criminal quanto cível. Há, nos EUA, defensores públicos organizados para a área criminal, financiados com recursos do erário, mas a assistência jurídica no campo cível é prestada mais frequentemente por advogados vinculados a organismos que, por sua vez, são ligados à iniciativa privada, com considerável parcela de colaboradores provenientes da própria sociedade civil. A decisiva atuação na Suprema Corte
3 em proceder avanços nesta temática, apoiada sobre o já referido sistema de Common Law, também é digna de nota. Tais modelos possibilitam firmar a compreensão de que, no Brasil, o oferecimento de representação jurídica em favor dos mais pobres é um direito colocado em lei e exigível em face do Estado, enquanto que nos EUA tal conduta representa uma forma de assistencialismo, condicionado à moralidade social, pontuando-se ainda que ambas as formulações estão atreladas ao necessário alicerce da justiça. OBJETIVOS O referido trabalho tem por objetivo principal o estabelecimento de um paralelo que possa levar a um aprendizado, dentro do meio jurídico brasileiro, acerca de métodos eficientes de promover a expansão da assistência jurídica a quem não pode dela usufruir através dos próprios meios. Seus objetivos específicos se concentram em realizar pesquisas legais e doutrinárias acerca do funcionamento do sistema jurídico dos EUA e do Brasil; desenvolver ideias aplicáveis ao contexto brasileiro baseadas em aprendizados advindos dos EUA; e investigar problemas decorrentes do modelo norte-americano e comparar com situações semelhantes no Brasil. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS A pesquisa foi fundamentada no método hipotético-dedutivo através de uma análise doutrinária e legal dentro do universo jurídico do Brasil e dos EUA, com uma precisa coleta de dados de maneira a formular hipóteses cabíveis para a exposição e solução de problemas peculiares brasileiros no que tange à questão do acesso à justiça pelos hipossuficientes. RESULTADOS
4 Este projeto buscou inserir em pauta uma comparação entre duas realidades sócio-jurídicas propositalmente diferentes para que se tenha um parâmetro sólido da amplitude que a temática do direito ao acesso à justiça possui quando confrontada com uma visão diferente, oriunda de um sistema com origem totalmente distinta do que se adota no Brasil. Por meio da realização de apontamentos críticos posicionados à luz de doutrinas nacionais e internacionais, foi colocada em discussão a real efetividade brasileira em lidar na consolidação deste direito. O cabimento da temática aqui retratada é perceptível quando se confrontam as consequências dos diferentes mundos vivenciados por brasileiros e norte-americanos. Com a crescente consagração de uma justiça democrática, imparcial e acessível a todos, torna-se evidente a necessidade de avaliação dos efetivos resultados da implementação desta ideia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Cleber Francisco. A estruturação dos serviços de assistência jurídica nos Estados Unidos, na França e no Brasil e sua contribuição para garantir a igualdade de todos no Acesso à Justiça. 2005. 614 f. Tese (doutorado em Direito) - Curso de pós-graduação em Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira). BRASIL. Lei 1.060, de 5 de fevereiro de 1950. Estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1060compilada.htm >. Acesso em 10 de agosto de 2017. BRASIL. Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. Organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp80.htm >. Acesso em 13 de agosto de 2017. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Ellen Gracie Northfleet (trad.). Porto Alegre: Fabris. 1988. CICHOCKI, José Neto. Limitações ao acesso à justiça. Curitiba: Juruá. 1999. MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. dos Tribunais, 2016. 688 p. 33. ed. São Paulo: Revista
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