Preconceito contra a população LGBT: uma análise qualitativa e quantitativa das ações adotadas para promover atendimentos mais humanizados Kethelin Aparecida Silva -Graduada em Psicologia pela Universidade Presidente Antônio Carlos-UNIPAC -Pós Graduanda em Saúde Mental pela Faculdade Venda Nova do Imigrante-FAVENI Resumo: Atualmente estamos vivendo em uma sociedade onde o preconceito está presente constantemente. No Brasil os índices de agressões físicas e psicológicas contra a população LGBT têm aumentado. Observa-se que as politicas públicas tem se mobilizado com campanhas para promover o respeito e eliminar o preconceito que culmina em atos de violência. Infelizmente a realidade das múltiplas orientações sexuais e identidades de gênero ainda possuem inúmeros casos de agressões físicas, porém a violência psicológica cria marcas profundas, além de desencadear problemas emocionais. A partir de novas estratégias e de novos comportamentos podemos estimular o acolhimento, o atendimento e o encaminhamento das demandas da população LGBT, sem discriminação e com respeito, favorecendo a diminuição das dificuldades vividas por esta população nos serviços públicos, de saúde, nas escolas, entre outros locais. O preconceito é resultado de muitos fatores interacionados, portanto não há uma estratégia especifica para solucionar o problema. Com base nos determinantes sociais da saúde pode-se verificar que os diferentes modos de vida, ambientes de trabalho e valores culturais podem afetar as pessoas como no acesso a saúde e no cuidado, por exemplo, todas as pessoas têm direito ao atendimento humanizado e livre de discriminação por orientação sexual, contudo ainda existem relatos de que esse direito foi violado. Com base nesses aspectos faremos uma análise de alguns serviços que tem adotado essas inciativas além de fazer um paralelo com outras propostas de trabalho que tem como finalidade reduzir os dados de violência além de reestabelecer os laços sociais, e minimizar os efeitos psicológicos que o preconceito promove. Palavras Chaves: Violência, Orientação Sexual, População LGBT, Discriminação;
2 1-Violação de direitos contra a População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) Na década de 60, a sexualidade era um dos grandes questionamentos, esse período foi importante porque marcou que o sexo não era apenas para a reprodução humana, mas que ele poderia ser fonte de prazer, sendo assim se tornou um direito de todos. Conhecer a própria sexualidade é um caminho um pouco difícil em alguns casos devido ao grande preconceito que há na sociedade brasileira. (Cassemiro,2015) O preconceito tem gerado muitos casos de agressão física e psicológica contra a população LGBT(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), os dados estatísticos que medem as agressões tem crescido no Brasil. Atualmente é possível perceber que a mídia tem divulgado diversas campanhas contra o preconceito e a discriminação, sendo assim todas a campanhas tem como objetivo central promover o respeito. Segundo Cassemiro(2015): Os meios de comunicação, destacando o jornalismo, revistas, internet, são veículos que circulam informações retratando a realidade, representando a diversidade de pensamento, a multiplicidade de culturas e sexualidades. (pág. 2) Através desses meios de comunicação que temos acesso, eles se tornam uma ferramenta importante de combate ao preconceito sexual, porque podemos repensar as nossas práticas e promover acesso aos direito humanos. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Esses direitos humanos são universais, indivisíveis e inter-relacionados. A Constituição de 1891, no seu artigo 72 garantia a universalidade dos direitos, porém a constituição tinha como principio norteador a igualdade de todos. Art.72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e á propriedade, nos termos seguintes: (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) 1º Ninguém pode ser obrigado a fazer, ou deixar fazer alguma cousa, senão em virtude de lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926)
3 2º Todos são iguais perante a lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) A constituição garante esses direitos, mas infelizmente alguns desses direitos são negados conforme a citação abaixo: A orientação sexual e a identidade gênero são essenciais para a dignidade e humanidade de cada pessoa e não devem ser motivo de discriminação ou abuso, entretanto, violações de direitos humanos que atingem pessoas por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero, real ou percebida, ainda é uma realidade que atinge muitas pessoas. As violações incluem desde execuções extrajudiciais, tortura, maus-tratos, agressões sexuais e estupro à invasão de privacidade, detenção arbitrária, negação de oportunidades de emprego e educação. (Brasil,2013) Os movimentos sociais visão aplicação dos direitos já conquistados e também aquisição de novos direitos. Com relação aos movimentos sociais na década de 60, questionou principalmente as relações afetivo-sexuais, e também formas de violência e exclusão. (Cassemiro,2015) Essas violações são, com frequência, agravadas por outras formas de violência, ódio, discriminação e exclusão, como aquelas baseadas na raça, idade, religião, deficiência ou status econômico. Ao se discutir lesbianidade e bissexualidade, devemos ter em mente o fato de que as lésbicas e as bissexuais, tal como outros grupos, ainda são alvo de muita discriminação. Essa discriminação geralmente começa no próprio lar, depois estende-se à escola, ao trabalho e ao mundo social em geral. (Brasil,2013) O movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) é um movimento social expressivo de enfrentamento ao preconceito com relação à orientação sexual. A discriminação vivenciada é decorrente da percepção conservadora da sociedade. Eles veem lutando por direitos, por visibilidade, abrindo espaços de aceitação, sobretudo através, produtos, marcas, manifestações culturais e na mídia por emancipação e justiça na sociedade brasileira. (Cassimiro, 2013)
4 2-Ações do movimento LGBT: uma análise das ações adotadas por alguns setores de serviços As ações do movimento LGBT tem buscado parceiras para a reinvindicação de direitos tais como: Saúde, Cultura, Educação, Mercado de Trabalho. A população LGBT está invisível na sociedade, às campanhas na mídia tem a finalidade de dar visibilidade e de promover ações de conscientização para que hajam menos agressões físicas e psicológicas. Segundo o psicólogo Alexandre Nabor Mathias de França: O preconceito é algo que não se deve ter vergonha de dizer, porque a partir do momento que se admite que tem já é uma porta para diminuí-lo. O mais importante é saber o que se faz com o preconceito, para que ele não se enraíze e se transforme em discriminação, e assim, num ato homofóbico.. A partir do conhecimento do impacto que os determinantes sociais do preconceito e da discriminação causam na população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais é possível compreender a homofobia, lesbofobia, transfobia como uma expressão da violência, anunciada pelo ódio, preconceito e repugnância, contra a população LGBT, tendo uma cobertura na mídia, nas redes sociais. (Cassemiro, pág. 2) Com base nas novas estratégias e de novos comportamentos podemos estimular o acolhimento, o atendimento e o encaminhamento das demandas da população LGBT, sem discriminação e com respeito, favorecendo a diminuição das dificuldades vividas por esta população nos serviços públicos, de saúde, nas escolas, entre outros locais. Algumas políticas nacionais tem se mostrado efetivas e presentes no cotidiano da população brasileira. A aplicação delas é importante, pois garante que os direitos não sejam violados, além de diminuir a manifestação do preconceito e da discriminação. Como por exemplo, a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT abriu espaço para outros setores da saúde dialogar além de construir de ações intra e intersetoriais à população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, (Brasil,2016) A inclusão do uso do Nome Social em diversos setores de saúde é um marco importante, pois amplia o acesso a serviços de saúde garante cidadania e diminui os efeitos da vulnerabilidade em saúde. O atendimento na atenção básica com acolhimento e informação adequados e necessário e fundamental para atenção integral na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo atualmente é possível perceber que há mais informação chegando ao usuário,
5 sendo assim garantindo um atendimento humanizado e livre de discriminação por causa da orientação sexual e da identidade de gênero. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde também é um avanço que deve ser divulgado, sendo considerado um instrumento na luta pelos direitos à saúde de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. (Brasil,2016) A distribuição de cartilhas promove uma maior visibilidade a este público, sensibilizando gestores e profissionais de saúde para um acolhimento adequado à saúde. (Brasil,2016) Com base nesses aspectos é possível analisar que alguns serviços que tem adotado essas inciativas. Algumas escolas tem adotado projetos que visando respeito pela diversidade social e também pela orientação sexual, essas escolas adotam como método de trabalho: palestras, oficinas de arte, cartazes, onde os próprios alunos confeccionam. E possível perceber que no ambiente organizacional a discriminação e exercida contra a população LGBT ainda ocorre, segundo uma pesquisa realizada por Pocahy (2007) e possível perceber quais os locais onde homossexuais sofrem discriminação. Ao realizar uma pesquisa na parada gay de Porto Alegre em 2004 sobre a discriminação exercida contra homossexuais, concluiu que 32,4% dos entrevistados sofreram discriminações na escola, 27,8% nos círculos de amizade e vizinhos, 24,6% no ambiente familiar e 10,9% no ambiente de trabalho e agências de emprego. Entretanto, quando o pesquisador analisa os processos judiciais que envolvem discriminação de homossexuais, 59% dos autores dos atos discriminatórios praticaram os atos em situações relacionadas ao mundo do trabalho. (Garcia e Souza,2010 pág. 3) A prática de atos discriminatórios ocorre na escola, no ambiente familiar e também no ambiente de trabalho. De acordo com Garcia e Souza (2010) a discriminação é indireta sendo: algo comum no ambiente de trabalho em todos os bancos estudados, apesar de serem proibidas pelos seus códigos de ética. Elas se manifestam de diversas formas; contudo, uma delas aparece em todas as falas dos entrevistados: as piadas que tratam os homossexuais de forma caricata e pejorativa. (pág 10). A contratação de homossexuais segundo uma pesquisa realizada por Garcia e Souza
6 (2010) verificou que : A maioria das pessoas entrevistadas são de bancos públicos pelo fato de terem maior estabilidade em seus empregos. Elas sabem que não podem ser demitidas pelo fato de serem homossexuais. Já nos bancos privados essa estabilidade não existe e a pessoa pode ser demitida sem justa causa, sem que seja necessário justificar o motivo da demissão, o que levou a maioria das pessoas de bancos privados contatadas a não concederem uma entrevista, pois temiam o risco de uma possível demissão caso fossem identificadas como homossexuais. (pág. 15) Com base nessas informações pode-se observar como o mercado de trabalho é promotor de discriminação e preconceito. Atualmente tem pesquisas sendo realizadas que evidenciam que boa parte da população LGBT, tem encontrado espaço de trabalho em profissões ligadas a área da beleza e estética, além de casas noturnas, realizando shows, mas em contrapartida a algumas dessas pesquisas algumas empresas têm adotado práticas que visam o fim de atos discriminatórios e tem admitido Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais no seu quadro de funcionários, mas áreas de administração, comércio (vendas), entre outras áreas. A sociedade brasileira tem se mobilizado para colocar um fim no preconceito e na discriminação por meio de ações afirmativas juntamente com o Governo Federal, Estadual e Municipal. Segundo Costa, Nardi (2015) muitas dessas soluções já foram aplicadas com algum grau de sucesso com o preconceito racial e de gênero, no entanto, os movimentos sociais têm contribuído com propostas de trabalho que têm como finalidade reduzir os dados de violência, através da conscientização, além de reestabelecer os laços sociais, e minimizar os efeitos psicológicos que o preconceito promove. Contudo o mais importante e à participação de toda a sociedade brasileira no combate, as instituições onde há respeito e se aprecia pluralidade, constituem em um local onde possamos aprender a respeitar a diversidade e a orientação sexual. (Menezes, 2009)
7 3-Referências Bibliográficas Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Mulheres lésbicas e bissexuais: direitos, saúde e participação social / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 32 p. : il. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Homens gays e bissexuais: direitos, saúde e participação social / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília : Ministério da Saúde, 2016. 58 p. : il. (Coleção Movimentos Sociais, v. 3) CASSEMIRO, Luiza Carla. HOMOFOBIA, LESFOBIA, TRANSFOBIA: toda forma de preconceito e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero e a repercussão nos meios de comunicação. VII Jornada Internacional de Politica Publica, 2015.Acessado em http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo6/homofobia-lesfobia-transfobiatoda-forma-de-preconceito-e-discriminacao-por-orientacao-sexual-e-identidade-de-genero-ea-repercussao-nos-meios-de-comunicacao.pdf COSTA, Ângelo Brandelli; NARDI, Henrique Caetano. Homofobia e preconceito contra diversidade sexual: debate conceitual. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 23, n. 3, p. 715-726, set. 2015. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-389x2015000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 01 out. 2017. http://dx.doi.org/10.9788/tp2015.3-15. GARCIA, Agnaldo; SOUZA, Eloisio Moulin de. Sexualidade e trabalho: estudo sobre a discriminação de homossexuais masculinos no setor bancário. Rev. Adm. Pública, Rio de
8 Janeiro, v. 44, n. 6, p. 1353-1377, dez. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0034-76122010000600005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 09 out. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/s0034-76122010000600005. GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Traduzida por Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. 158 p. JANCZURA, Rosane. Risco ou vulnerabilidade social?. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 11, n. 2, p. 301-308, ago./dez. 2012.Acessado em 05/9/2015. Disponível em revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/download/.../8639 MENEZES, Luiz Carlos de. Diferenças: respeito versus preconceito. Disponível em: < http://revistaescola.abril.com.br/formacao-continuada/dife >.2009. Acesso em: 22. set. 2017.