CARA METADE EXPOSIÇÃO. Desenhos FRANCISCO PAIVA Textos ANTONIETA GARCIA



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Transcrição:

CARA EXPOSIÇÃO METADE Desenhos FRANCISCO PAIVA Textos ANTONIETA GARCIA A exposição CARA METADE resulta do encontro improvável entre artistas, que generosamente aceitaram o desafio da COOLABORA: Francisco Paiva que fez os desenhos que inspiraram o texto de Maria Antonieta Garcia. MARIA ANTONIETA GOMES BATISTA GARCIA nasceu no Fundão e estudou na Guarda. Licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. É mestre em Literatura e Cultura Portuguesas e doutorada em Sociologia/Sociologia da Cultura pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Professora Associada na Universidade da Beira Interior (aposentada) tem desenvolvido as suas investigações no âmbito do Judaísmo e das Identidades. FRANCISCO TIAGO ANTUNES PAIVA (Covilhã, 1973), Professor Auxiliar da Universidade da Beira Interior, onde dirige o 1º Ciclo de estudos em Design Multimédia. Doutor em Belas Artes, especialidade de Desenho, pela Universidade do País Basco, licenciado em Arquitectura pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e licenciado em Design pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Fois investigador na Universidade de Bordéus3 e integra o LabCom. A humanidade é feita de duas metades: nascemos homens e mulheres. Uma destas metades, com intensidades diferentes, consoante épocas ou lugares, enfrenta de forma sistemática desigualdades estruturais que a remetem para um papel de subalternidade. A violência nas relações de intimidade e o assédio sexual; a desigualdade salarial e os obstáculos dissimulados à progressão na carreira; o difícil acesso à esfera pública e à vida politica; os papéis sociais que as remetem para a esfera doméstica e que caucionam o fardo desigual que pesa sobre elas, são exemplos dessa discriminação que prejudica homens e mulheres. A arte é por excelência um território de inquietação fecunda. A sua linguagem questiona as nossas vivências individuais e colectivas e facilita a desconstrução de mitos e crenças que perpetuam relações de poder assimétricas. A igualdade de género é uma questão de todas as mulheres e de todos os homens que se empenham na construção de uma sociedade mais democrática e onde uns e outras possam realizar o seu potencial.

O sol baixou ao som da cegarrega. Estremece a sala. Se sabe a amanhecer, que (a)venturas enovela a rebelde?

A ruptura instala-se e inquieta.

Descendo degraus, esmaga-o o peso do silêncio.

No meio das ruas, desamparada, inocente, prende-a o fio que (entris) tece a vida.

Estátua de mim em sombra, solidão e oração de silêncio.

O mutismo dos espelhos, quando o encanto se escondeu.

O corpo fragmentado, retalhado, não chora magoa..

Tropeço em fios da meada, enredado em labirintos, em demanda do caminho. Que ritmo persigo?

Um risco metafórico num percurso intranquilo.

No corpo de primavera, ouve-se o rumor de um cantar de amigo.

Vozes fechadas à música do vento. Abre as janelas à toada do amanhecer.

Traçado fiel de linhas, definindo fronteiras. Miserere

Alquimias do sentir: o encontro, a imperfeição dos sonhos e o semear de palavras de luz.

Viagens interiores pelos muros da tristeza: uma sintaxe de exílio e desespero.

Companheiros da alvorada, em angústia de (di)visão.

O amor dos braços em cabra-cega. Aqui mora a palavra mãe.

Recolhe-me. Eu me abandono, dobrada como um vime

No declínio do sol, a casa pequena conhece a história, o amor a doer-lhe mais.

O banco caído, o ursinho, meninos em desalinho emudecem soluços de tristeza.

O corpo materno modelado pelos itinerários do amor.

Fracturas de formas perdidas. 46 45 1 13 38 39 40 44 43 42 2 12 3 11 37 36 4 5 10 6 8 9 7 14 23 35 22 34 15 24 21 25 16 20 26 27 28 32 29 31 30 17 18 19