V Conferência Anual da RELOP Sessão de Abertura. Vítor Santos, ERSE. Caro Prof. Edvaldo Santana, Presidente da RELOP, Estimados colegas reguladores,

Documentos relacionados
SEMINÁRIO PPEC. Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica Avaliação de Resultados e Perspectivas Futuras.

Mobilidade elétrica: novos desafios para a Regulação. Vitor Santos Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2013

Eletricidade e Energias Renováveis em Portugal

VI Conferência Anual da RELOP

A regulação do setor energético em Portugal e os seus desafios

X Conferência RELOP Cooperação e Integração nos Mercados de GN e Petróleo

A harmonização regulatória do MIBEL e o novo enquadramento europeu (3º Pacote)

Grandes Desenvolvimentos Regulatórios nos Países de Língua Oficial Portuguesa

Sessão de lançamento do livro A Regulação da Energia em Portugal no âmbito das Comemorações dos 20 anos de atividade da ERSE

ESTUDO DE BENCHMARKING DE REGULAÇÃO MODELOS DE GOVERNAÇÃO I PARTE

Novos desafios para a participação dos consumidores no mercado de energia. Eduardo Teixeira Lisboa, 11 de novembro de 2016

O Futuro da Energia e o mercado da eletricidade do futuro

A Regulação do Sector Energético

II.ª Conferência RELOP A Regulação da Energia nos Países de Língua Oficial Portuguesa. Os Modelos de Governação das Entidades Reguladoras da RELOP

Comunicado. Novos regulamentos do setor do gás natural

Aprofundamento do mercado interno de energia. Vitor Santos, Presidente da ERSE The Golden Age of Gas, de Outubro de 2012

MIBEL ASPECTOS DE GOVERNAÇÃO E HARMONIZAÇÃO REGULATÓRIA

Comunicado. Proposta de Tarifas e Preços para a Energia Elétrica em 2012

PLANO NOVAS ENERGIAS (ENE 2020)

A transição energética e o papel crucial do Gás Natural

As Experiências de Regulação de Energia nos Países de Língua Oficial Portuguesa

- um ponto de situação -

PARA A OBTENÇÃO DE DISPENSA OU REDUÇÃO DA COIMA

Energia nuclear no mercado de eletricidade

III Conferência Anual da RELOP. Sessão de Abertura. Vítor Santos, Presidente da RELOP. Caro Dr. Haroldo Lima, Director Geral da ANP,

República Democrática de São Tomé et Principe. Sao Tomé e Príncipe

Audiçao Pública. Revisão dos Regulamentos do Sector Eléctrico UNION FENOSA. Jorge Martín Alvarez. Lisboa, 20 de Maio de

CLEAN ENERGY Energia Limpa para todos os Europeus

Empoderamento dos Consumidores no sector elétrico

Desafios para a manutenção da qualidade e independência regulatória

Desafios e Desenvolvimentos nos Enquadramentos Legais dos Sectores Energéticos

A Convergência da Regulação e da Supervisão da Actividade Financeira. Gabinete do Governador e dos Conselhos

REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA ENERGIA E ÁGUAS UNIDADE DE IMPLEMENTAÇÃO DA REFORMA

Desenvolvimento Sustentável

Comunicado. Proposta de Tarifas e Preços para a Energia Eléctrica em 2011

O Mercado da Eletricidade do Futuro: Novos Desafios para a Regulação

O Mercado da Eletricidade do Futuro: Novos Desafios para a Regulação

Redes Inteligentes na Transmissão SMART GRIDS

VII CONFERÊNCIA ANUAL DA RELOP A REGULAÇÃO DOS SECTORES DE ENERGIA EM TEMPOS DE MUDANÇA DE PARADIGMA OS DESAFIOS DA CPLP

Proposta de revisão dos Regulamentos do Sector Eléctrico

Necessidade urgente de uma legislação que regule o autoconsumo. Jorge Borges de Araújo

DESENVOLVIMENTOS TECNOLÓGICOS E REGULATÓRIOS NO SECTOR DE ELECTRICIDADE

EXPERIÊNCIA DE REGULAÇÃO DO SECTOR ELÉCTRICO

O AUTOCONSUMO E A SUA ENVOLVENTE. Seminário APESF 29 de Janeiro de 2015

QUADRO REGULATÓRIO. Rui Cunha Marques. Prof. Catedrático da Universidade de Lisboa Consultor da EU

ENTIDADE REGULADORA DOS SERVIÇOS ENERGÉTICOS

AUDIÇÃO PÚBLICA. Proposta de Revisão dos Regulamentos do Gás Natural (Lisboa, 12 de dezembro de 2012)

1/5. Comentários Gerais

OS SERVIÇOS DE INTERESSE GERAL A CRISE E SEUS DESAFIOS A Perspectiva do Consumidor. 28 de Novembro de 2012, Porto

Projetos-piloto para Aperfeiçoamento das Tarifas de Acesso às Redes e Introdução de Tarifas Dinâmicas em Portugal continental

COMUNICAÇÃO PROFERIDA PELO DR

Agenda. Encontro te cnico Cabo Verde Sa o Tome e Príncipe

A REABILITAÇÃO URBANA E A CONSTRUÇÃO DAS CIDADES INTELIGENTES DO FUTURO

O Empoderamento dos Consumidores de Energia Elétrica

DIREITO DOS MERCADOS PÚBLICOS REGULAÇÃO ECONÓMICA 2017/ º Semestre

Na reunião de 18 de Maio de 2009, o Conselho (Assuntos Gerais e Relações Externas) aprovou as Conclusões apresentadas em Anexo à presente nota.

TEL

ERSE e CNE finalizam proposta de funcionamento do MIBGAS

Integração da PRE no MIBEL

Seminário - Operar nos Mercados Únicos da UE Novas potencialidades para as empresas

Ordem dos Engenheiros Encontro Nacional de Engenharia Civil

O setor fotovoltaico em Portugal

Proposta de Reestruturação do Sector Energético Português

Transição energética nas empresas

Comunicado. Tarifas e Preços para a Energia Eléctrica em 2011

Proposta de Intervenção de S. Exa. a SEAE no Seminário Energia e Cidadania CIEJD, 23 de Março de 2009

OPORTUNIDADES DE FINANCIAMENTO

As interligações de energia e o mercado interno de energia europeu

Liberalização das utilities e reguladores sectoriais A liberalização dos antigos serviços públicos prestacionais factores político-ideológicos ideológ

Consulta Pública: Documento de comentários

A política ambiental na fiscalidade sobre os recursos hídricos

2. O desenvolvimento do MIBGAS

Organização: O MODELO PORTUGUÊS. Afonso Lobato de Faria Porto, 7 de maio de 2015

Comunicado. Tarifas e preços de gás natural de julho de 2016 a junho de 2017

TAGUSGÁS Empresa de Gás Natural do Vale de Tejo, SA COMENTÁRIOS À PROPOSTA DE REVISÃO REGULAMENTAR ERSE

COMENTÁRIOS DA GOLDNERGY À PROPOSTA DE ALTERAÇÃO REGULAMENTAR APRESENTADA PELA ERSE EM DEZEMBRO 2012

ENERGIA O MERCADO DAS INFRA-ESTRUTURAS PDIRT. e Investimento da Rede de Transporte. Redes Energéticas Nacionais, SGPS

Contribuições Setoriais para a Descarbonização da Economia Transportes

REVISÃO DOS REGULAMENTOS DE RELAÇÕES COMERCIAIS E TARIFÁRIO

Experiencias de Cooperação e Integração nos Mercados Elétricos

Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Elétrica (PPEC)

Ganhe eficiência nas soluções de energia.

ASSOCIAÇÃO DE REGULADORES DE ENERGIA DOS PAÍSES DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA ESTATUTOS CAPÍTULO I DENOMINAÇÃO, SEDE E FINS. Artigo 1.

Agroalimentar, Florestas e Biodiversidade

Consulta Pública n.º 73

Portugal e a integração dos Mercados Elétricos europeus

RELATÓRIO DE QUALIDADE DE SERVIÇO ANO GALP GÁS NATURAL, SA Comercializadora

GN 2017/2018 BALANÇO

Tarifas de gás natural de outubro de 2019 a setembro de 2020

Tarifa Social de Fornecimento de Gás Natural

Plano Integrado de Energia Doméstica. Por Fátima Arthur Ordem dos Engenheiros de Moçambique

Conferência Parlamentar sobre Energia. Sustentabilidade Financeira. Vitor Santos, ERSE

Setor Elétrico Brasileiro: Conjuntura e Perspectivas

RELATÓRIO DE ATIVIDADES CONSELHO DE REGULADORES DO MIBEL

Case study. Stakeholders internos MOBILIZAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL EMPRESA

Decreto-Lei n.º 69/2002 de 25 de Março

ENERGIA LIMPA PARA TODOS OS EUROPEUS

IX Conferência RELOP

Redes Eléctricas Inteligentes (Smart Grids) Joana Silvério

Transcrição:

V Conferência Anual da RELOP Sessão de Abertura Vítor Santos, ERSE Caro Prof. Edvaldo Santana, Presidente da RELOP, Estimados colegas reguladores, Minhas Senhoras e meus Senhores, Gostaria de começar por agradecer a presença de todos. Uma saudação muito especial de boas vindas para os nossos Colegas Reguladores. A RELOP acabou de concluir o seu quarto ano de vida. Tem sido uma caminhada conjunta muito frutuosa por várias razões: Pela partilha de informação e conhecimento sobre experiências de regulação que seguiram naturalmente caminhos distintos em função das especificidades de cada país, nomeadamente, o nível de desenvolvimento económico, as características e a estrutura do seu sector energético e a dimensão económica e geográfica; Pela criação das pre-condições adequadas à realização de estudos de benchmarking sobre os Modelos de Governação das entidades reguladoras e a identificação das boas práticas regulatórias; Pela circunstância da RELOP ser uma plataforma de cooperação que incentiva a realização de ações de assistência técnica, de formação e de estágios sobre os diferentes temas da regulação. Na sessão de abertura da V Conferência da RELOP deixem-me que sublinhe um facto muito relevante: temos vindo a assistir a uma evolução muito positiva na organização e no aprofundamento da análise e do debate dos temas das Conferências da RELOP. E ainda bem que assim é! 1

É para nós muito estimulante promover, por ocasião do Dia Mundial da Energia, mais uma Conferência da RELOP em que, por um lado se procuram analisar alguns dos novos desafios da regulação da energia e, por outro se aprofundam temas da maior relevância como sejam a qualidade de serviço e as energias renováveis. Permitam-me que faça um breve sobrevoo sobre o programa desta Conferência, sublinhando os principais temas que iremos abordar ou suscitando, aqui e além, algumas questões que gostaríamos de ver discutidas. No primeiro painel analisam-se os novos desafios para a regulação, destacando-se três temas centrais: 1. Um primeiro tema a analisar é a relação entre financiamento e regulação: Um dos principais argumentos para a criação de reguladores independentes é a preservação da estabilidade e a redução dos riscos regulatórios. A credibilidade e a consistência intertemporal das decisões regulatórias é particularmente relevante na regulação do sector energético. Os investimentos em infraestruturas têm a natureza de custos afundados e têm subjacentes períodos de vida útil muito longos. Neste contexto, a existência de estabilidade regulatória é uma pré-condição essencial para a promoção de investimento privado baseado em expectativas de remuneração adequadas; a falta de credibilidade ou a incerteza regulatória podem não inviabilizar o investimento mas, certamente, contribuirão para aumentar o custo de capital e os custos de financiamento com reflexos no incremento das tarifas. Um tema que vai certamente suscitar muito interesse e debate! 2

2. Um outro tema a analisar em duas apresentações são os reflexos da mudança de paradigma de funcionamento do sector energético e dos seus efeitos sobre o futuro papel do consumidor de energia. Os recentes desenvolvimentos ao nível dos equipamentos de medição e controlo abrem caminho a uma gestão inteligente e automática da rede de distribuição, solução incontornável num futuro próximo. Estas inovações viabilizarão a produção e a armazenagem descentralizadas através do crescimento da micro geração e da introdução do veículo eléctrico e a utilização custo-eficaz das novas tecnologias no controlo da potência e na gestão dos consumos dos domésticos. Nos próximos anos, as mutações organizacionais e as estratégias empresariais neste sector vão estar cada vez mais centradas na procura e nos consumidores-produtoresarmazenadores que deixarão de ser meros pontos de consumo passivos a jusante da cadeia de valor e passarão a ser protagonistas centrais do processo de liberalização e a ter um papel activo e impulsionador substancial na promoção da eficiência energética. 3. Um terceiro tema muito relevante que será objeto de debate são as virtualidades do Mercado a prazo de eletricidade A volatilidade crescente das energias primárias, as especificidades que caraterizam o funcionamento do setor elétrico (nomeadamente a circunstancia da eletricidade não poder ser armazenada) e o próprio processo de integração de mercados, entre outros fatores, suscitaram a necessidade de criar mercados a prazo de electricidade cujo principal objetivo é oferecer instrumentos de gestão de risco sob a forma de derivados. No âmbito do MIBEL e dos acordos estabelecidos para este mercado, a entidade responsável pela gestão do mercado a prazo é o OMIP cujos responsáveis nos farão uma apresentação detalhada do seu funcionamento e dos instrumentos que são disponibilizados. 3

São ainda analisados, de forma aprofundada, dois temas específicos: a qualidade de serviço e as renováveis. Relativamente à Qualidade de Serviço, será relevante sublinhar o seguinte: A regulação económica dos monopólios naturais, nomeadamente quando é baseada em incentivos, tende a estimular as empresas a privilegiarem o desempenho e a eficiência em detrimento de outros objectivos que são da maior importância como sejam a qualidade de serviço ou o desempenho ambiental. Justifica-se assim a necessidade de criar um quadro de incentivos mais equilibrado e harmonioso, que contribua para que as empresas desenvolvam estratégias empresariais inspiradas nos princípios do desenvolvimento sustentável e que valorizem a qualidade de serviço prestada ao consumidor. O nível adequado de qualidade de serviço em cada momento e a sua evolução desejável no futuro resultará sempre de uma escolha que deverá assegurar um compromisso equilibrado entre os benefícios para a sociedade resultantes desse nível de qualidade de serviço e o nível de custos eficientes que será necessário suportar para concretizar esse objectivo. Nesta perspectiva, a regulação da qualidade de serviço é uma matéria complexa que suscita, entre outras, as seguintes questões: Como determinar o nível óptimo de qualidade de serviço? Qual é o incremento nos preços que os consumidores estão predispostos a pagar para melhorar a qualidade de serviço? Qual é o montante que os consumidores estão dispostos a aceitar como compensação para um nível subóptimo da qualidade de serviço? 4

Gostava de fazer finalmente uma breve referência às energias renováveis. No âmbito da política energética europeia, orientada pelas dimensões da concorrência, sustentabilidade e segurança de abastecimento, diversos países, incluindo Portugal, têm promovido eficazmente a geração renovável e endógena, designadamente a geração eólica. O mesmo tem vindo a acontecer relativamente a outros PLOP ( ). A este propósito suscitam-se, entre outras, as seguintes questões: Que instrumentos de incentivo ao desenvolvimento da geração renovável se revelam simultaneamente mais eficazes e mais eficientes? Como superar os desafios suscitados pelas energias renováveis no âmbito da harmonização do Mercado Ibérico? Como minimizar os efeitos que a variabilidade e as intermitências que caracterizam a geração renovável suscitam sobre a gestão do sistema? Por fim, gostaria ainda de fazer uma referência ao painel Petróleo e GN nos países da CPLP em que se apresenta o modelo de regulação adoptado no Brasil e uma visão sobre O Mercado do Petróleo e Gás e o papel da Bacia Atlântica onde muitos dos países membros da RELOP são players muito relevantes. A circunstância de termos o privilégio de beneficiar da presença de oradores posicionados em pontos de observação muito distintos será uma motivação adicional para o debate profícuo. Operadores activos em mercados com graus de maturidade muito diferenciados, analistas e académicos que são referências nesta temática e os reguladores são uma mistura fina que nos permite ter expectativas elevadas sobre o debate que vai seguir-se. Gostaria de terminar esta minha intervenção, expressando os votos de que esta Conferência constitua um momento de reflexão profícuo que permita aprofundar e tornar mais consistente os nossos modelos regulatórios. Muito obrigado. 5