Organização e catalogação do arquivo fotográfico da escritora Patricia Bins



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Transcrição:

Organização e catalogação do arquivo fotográfico da escritora Patricia Bins Carolina Silva Skolaude 1 O objetivo desse artigo é relatar a importância da organização e descrição dos itens pertencentes ao acervo fotográfico da escritora Patricia Bins, vinculado ao DELFOS- Espaço de Documentação e Memória Cultural da Biblioteca Central Irmão José Otão da PUCRS. O acervo fotográfico é composto por 1.290 fotografias, sendo algumas em preto e branco e outras coloridas, que retratam a vida da escritora, de seus familiares e amigos. A escritora Patricia Bins nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1928. Filha de mãe inglesa de Londres, Íris Holliday, e pai húngaro de Budapeste, Andor Ströh. O casal veio aventurar-se às novas terras. O local escolhido foi o Brasil, Rio de Janeiro. Queriam fazer novas amizades, ganhar experiência e dinheiro, e depois retornar à Europa. Patricia residiu no Rio de Janeiro até os cinco anos de idade. Em 1934 a família foi transferida para Belo Horizonte e Patricia, então, com seis anos de idade, começou a frequentar uma escola particular e aprendeu a ler. A cultura com que Patricia conviveu desde criança era a cultura européia e a língua falada era somente o inglês. Mesmo morando no Brasil, seus pais e amigos, em sua maioria divorciados e sem filhos, não abriam mão do espírito europeu. Isso deu à escritora mais sensibilidade e experiência, já que o Brasil não estava habituado a certas modernidades, que para ela eram normais. p.04), comenta: Patricia Bins, em uma entrevista publicada em Autores Gaúchos (Vol 28, 1990, Os amigos de meus pais eram todos meio loucos, desajustados, poliglotas, eram quase todos desquitados. Convivi então, com essa coisa européia, pouco conhecida no Brasil, das pessoas se divorciarem, casarem de novo, terem um outro companheiro ou companheira. Mas eles não tinham filhos, ou os filhos tinham ficado com as mulheres anteriores. Tudo isso era muito normal para mim e colaborou para o meu amadurecimento. Patricia teve uma infância solitária e viveu esse período rodeada por adultos. Encantou-se muito cedo com as palavras. Sua primeira criação literária deu-se entre os dez e os doze anos, concretizada em um poema intitulado O beijo. Desde criança, Patricia 1 Acadêmica do curso de Letras da PUCRS, bolsista BPA de Iniciação Cientifica do Delfos Espaço de Documentação e Memória Cultura da PUCRS. Atua no projeto denominado Organização e catalogação do arquivo fotográfico da escritora Patricia Bins.

47 nunca deixou de ler e a biblioteca da família nunca teve restrições, recebia livros dos avós da Europa que iam desde contos de fadas até versões para crianças de Dickens, Shakespeare, etc. Teve também o privilégio de ter tido uma educação bilíngue, em razão das origens dos seus pais e da freqüência com que os dois idiomas, Português e Inglês, eram falados em sua casa. Educada para retornar à Europa e ao mesmo tempo apaixonada pelo Brasil e pela língua portuguesa, Patricia comenta (Autores Gaúchos, Vol. 28, 1990, p.04): Fui educada para retornar, não para ficar, mas me apaixonei de tal forma pela cor do Brasil, pelo idioma, que acabei sendo uma escritora brasileira. Um ano depois de a família estar residindo na cidade mineira, nasceu a sua irmã caçula, Elizabeth-Anne. Com diferença de sete anos em relação à irmã, Patricia muitas vezes cumpria o papel de mãe. Em 1940 sua família vem residir no Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre. Patricia, então com doze anos, ingressa na quarta série do Colégio Americano. Ganhou alguns prêmios literários, como o Prêmio Joyce Almeida e o Prêmio de contos concedido pela Academia Literária Feminina. Era aluna dedicada e formou-se em primeiro lugar no curso secundário. Aos quatorze anos começa a dar aulas particulares de inglês em sua residência, e aos dezessete foi convidada a lecionar no Instituto Cultural Brasileiro Norte Americano. Lecionou também na escola de idiomas Yázigi. Em 1946 ingressou na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, no mesmo ano, conheceu o professor e arquiteto Roberto Bins, seu futuro marido. Formou-se em Artes Plásticas em 1950 e recebeu uma bolsa de estudos para dar seguimento à sua formação na América do Norte. Não aceitou o prêmio, pois Roberto, na época seu noivo, não concordava com a mudança de Patricia para outro país. Em 31 de janeiro de 1952 Patricia casou-se, na igreja Nossa Senhora Auxiliadora, com Roberto Bins. Um ano depois, nasceu Roberto Bins Jr., seu filho mais velho, e em 1956, Carlos Henrique Bins. Já nos anos 70, Roberto Bins, ainda bastante jovem, sofreu um derrame cerebral, modificando, dessa forma, a rotina da família. Patricia, nessa época, já era avó e estava cursando jornalismo há dois anos na UFRGS, mas envolvida com a nova situação familiar, desistiu do curso, pois a doença do marido exigia tempo e cuidados. Para amenizar as modificações familiares ocorridas, Patricia resolveu abrir um antiquário, o Ilhantiga.

Segundo Patricia, era um escritório/loja de assessoria artística, de decoração e literatura. Vários amigos frequentavam o local para conversas agradáveis e animadas, trazendo muitos benefícios para Roberto, pois tinha trabalho e contato com as pessoas. A escritora, com o apoio de Lara de Lemos, de Paulo F. Gastal e da editora Lygia Nunes, seguiu sua busca pela arte. Em 1968, a convite de Breno Caldas, diretor das Empresas Jornalísticas Caldas Junior, começou a coordenar o Suplemento Mulher, da Folha da Tarde, sob a direção do jornalista Edmundo Soares, o que lhe proporcionou contato com diversos escritores que enviavam seus livros e trabalhos para serem publicados. Com o apoio e colaboração de jornalistas e escritores como Lya Luft e Olga Reverbel, organizou um caderno literário. Permaneceu durante dezoito anos no Jornal Correio do Povo. Em 1981, Patricia lançou O assassinato dos pombos cronicontos, denominado dessa forma pela escritora, pois se trata de uma coletânea de contos e crônicas que haviam sido publicadas no Correio do Povo. O livro levou o título de uma crônica sobre um concurso de tiro ao alvo, sendo que o alvo eram os pombos. Patricia, indignada com o fato, escreveu sobre ecologia. No seguinte ano, ingressou na Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Sul, na cadeira 26, a convite da poetisa Stella Brum, ocupou o lugar de Lila Ripoll. Em 1983, lançou Jogo de fiar, primeiro volume da Trilogia da Solidão, pela Editora Nova Fronteira. Em 1984 a obra recebeu a Grande Medalha Grau Ouro, do Governo de Minas Gerais. Em seguida, a escritora lançou o segundo volume dessa Trilogia, intitulado Antes que o amor acabe e três anos depois, o terceiro volume, Janela do Sonho. Em 1989 publicou o primeiro volume da Trilogia da Paixão, intitulado Pele nua do espelho que, segundo a autora, foi um dos mais difíceis de escrever. Foi escolhido para representar o Brasil na Feira Internacional de Frankfurt, Alemanha. A escritora, em Autores Gaúchos (Vol.28, 1990, p.06), comenta: Pele nua do espelho - foi o mais arrojado e o mais difícil porque não é como escrever uma história linear com princípio, meio e fim. É uma história caleidoscópica, como já falei; é uma história estilhaçada que tem cortes constantes, mas que não perde o fio. Eleita por unanimidade, ingressou na Academia de Letras do Brasil, cadeira número trinta, patrono Érico Veríssimo, que é sediada em Brasília e presidida por Almeida Fischer.

49 Patricia completou a Trilogia com os livros Theodora, de 1991, e Sara e os anjos, de 1993. A terceira trilogia, de Eros ou da Sedução, criada por Patricia, não chegou a ser concluída. Teve seu primeiro volume, Caçador de memórias, lançado em 1995 e Instantes do mundo em 1999. O terceiro volume permaneceu inacabado. Patricia participou de Trilogias e Antologias, fez traduções e publicou as obras O dia da árvore em 1996, Pedro e Pietrina em 1997, na área da Literatura Infanto-Juvenil. Um ano após perder o marido, Patricia foi eleita patrona da 44ª Feira do livro de Porto Alegre, com o lema O Mundo na praça, que pretendeu contribuir para o intercâmbio com autores estrangeiros e inserir o evento no circuito internacional. A Feira, que ocorreu na Praça da Alfândega, como de costume, contou com a participação de quarenta autores de outros estados e quinze estrangeiros, oriundos da Rússia, Estados Unidos, Portugal, França, Espanha e Mercosul. Patricia Bins, em janeiro de 2003 doou à Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) o seu acervo fotográfico, juntamente com os seus manuscritos, correspondências e outros. O acervo faz parte do DELFOS- Espaço de Documentação e Memória Cultural, localizado no sétimo andar da Biblioteca Central Irmão José Otão da PUCRS. O DELFOS é responsável por um grande número de acervos de escritores, poetas, artistas plásticos, jornalistas, historiadores, arquitetos, no qual trabalham professores-pesquisadores e alunos-pesquisadores que são treinados para manter e pesquisar nesses acervos de forma diferenciada. É importante salientar que, apesar de Patricia ter nascido no Rio de Janeiro, isto é, ser carioca, ela assumiu o Estado do Rio Grande do Sul como seu lugar de origem e de história, justificando, dessa forma, seu acervo junto a outros de escritores gaúchos. Atualmente o projeto desenvolvido no acervo da escritora é denominado Organização e Catalogação do Arquivo Fotográfico da Escritora Patricia Bins. Está sendo desenvolvido pela professora Dr. Helenita Rosa Franco e tem apoio da auxiliar de pesquisa, a graduanda da Faculdade de Letras Carolina Silva Skolaude. As fotografias doadas pela escritora precisavam ser organizadas e armazenadas de forma moderna e segura por serem delicadas e retratarem não só a vida de Patricia Bins, mas juntamente com seus contemporâneos. Um dos principais objetivos do projeto é a preservação desses documentos, bem como a criação de uma metodologia que ajude os pesquisadores a terem

nas fotografias uma ferramenta eficaz no desenvolvimento da memória social. Nesse sentido, o objetivo é também a realização de pesquisas que irão contribuir para o aumento do conhecimento a respeito da produção existente. Os registros fotográficos doados por Patricia Bins pertencem à classe dos documentos audiovisuais. Documento, segundo Ataliba Teixeira Castilho (1991, p 28.) é o testemunho da atividade do homem, fixado num suporte durável. Através dos documentos, pode-se estabelecer um Arquivo Permanente ou Histórico que poderá interagir com diversos órgãos de cultura. A ficha catalográfica utilizada para descrição das fotografias foi elaborada pela equipe da biblioteca com base no software Aleph, programa já usado em outros projetos desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores ao qual o acervo de Patricia Bins pertence e também é programa utilizado em bibliotecas do mundo todo. Essa organização facilitará a pesquisa informatizada aos interessados. O processo de catalogação inicia com a descrição do documento, organizando-se em séries e fundos, a partir dos documentos de recuperação da informação nele contida. Tais instrumentos são: o registro de entrada e a classificação com arranjo e ordenação. A ordenação deve submeter-se às estruturas e à natureza do material a ser ordenado, conforme preceitua a arquivística, ciência que se relaciona com a ciência da informação. A arquivística é um conjunto de princípios, conceitos e técnicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e uso de documentos em arquivos. As pastas onde são armazenadas as fotografias devem ser identificadas por numeração, que obedecerá às normas de arranjo e ordenação. A catalogação será feita por meio de ficha catalográfica, com entradas relativas ao código do material, acervo, categoria, gênero, localização, autor, instituição produtora e local de publicação. Os arquivos com inúmeras peças devem ser devidamente organizadas e catalogadas, gerando, assim, um banco de dados. O trabalho de descrição das fotografias foi realizado com a ajuda de alguns bolsistas que fizeram a pesquisa em livros, revistas e jornais com publicações sobre a vida da escritora e também com a colaboração da professora Dr. Helenita Rosa Franco, coordenadora do projeto, por ter tido contato com a escritora, e ter conhecimento de particularidades de sua vida, reconhecer o contexto histórico das fotografias e conhecer as personalidades, os locais e os eventos retratados nos

51 documentos. As descrições resultam em um inventário do acervo fotográfico, juntamente com um índice dos assuntos e personalidades retratados, com o objetivo de auxiliar as pesquisas e consultar o acervo fotográfico. A fotografia é o registro de uma imagem congelada em um determinado momento, o que nos favorece considerar as questões de tempo e espaço. Segundo Kossoy (1989, p.6): A imagem fotográfica é o que resta do acontecimento, sob os olhos e a intromissão de um fotógrafo. A imagem fotográfica possibilita apresentar os sujeitos através de suas vestes e comportamentos que parecem configurar uma realidade vivida, porém o que está impresso deve ser considerado não como uma verdade e sim enquanto elaboração de uma versão daquilo de que se gostaria tivesse sido vivido. A fotografia é sempre uma construção ideal, as roupas, os objetos que se mostram em uma cena de um retrato, com certeza foram escolhidos para compor a referida imagem. Michelon & Tavares (2008, p. 101). Para que exista a fotografia tem que ter existido um momento real e um fotógrafo disponível que tenha captado o instante do acontecimento. A fotografia, como fonte histórica, é complexa e inesgotável. Ela proporciona conexões não somente com o fotógrafo ou com o personagem principal na foto, mas com todo relacionamento de tempo, espaço e pessoas que vivenciaram, presenciaram, ou tiveram conhecimento desse momento. Devemos também considerar a importância que a fotografia proporciona dentro da dispersão cultural, social, econômica, política, estética, religiosa, histórica, etc. Segundo Mazzochi & Kirst (2000, p.169), A fotografia é uma linguagem que tal como a literatura, em certa medida, recria o mundo, acumulando infinitas impressões nas cenas que se interligam e associam, conforme os significados atribuídos pelos espectadores. [...] Ao vermos uma fotografia e nos interessarmos por ela, estamos criando uma versão do mesmo e nos reconstruindo pelos caminhos da memória e suas reconfigurações. A fotografia, além de ser uma fonte histórica, determina diferentes leituras e interpretações, dessa forma, resultando em um processo de construção de sentido. Do ponto de vista temporal, a fotografia também permite a reconstrução do passado, como uma mensagem que se verifica através do tempo. Sabendo-se que são muitas as ideias, considerações atribuídas às imagens fotográficas, assim como a forma de interpretação das

mesmas, destaca-se a necessidade de preservação das imagens fotográficas para a interpretação do passado e seu progresso. A organização completa dos arquivos fotográficos dos periódicos é uma necessidade não só para a conservação das peças, mas principalmente para aperfeiçoar o tempo de busca e o aproveitamento das imagens em outras matérias a elas relacionadas. É importante também destacar que, através dos anos, têm-se descoberto dados importantes do passado através da fotografia, pois ao idealizá-la o fotógrafo dá origem a um ato de comunicação que, assim como a escrita ou a abordagem oral, pode ter infinitas interpretações e descobertas a serem feitas. As fotografias são suportes de memória muito significativos, dessa forma, os acervos fotográficos tornam-se importante como valor histórico e documental e nesse caso, retratando não somente a vida da escritora Patrícia Bins, mas salientando a fotografia como parte essencial do patrimônio cultural devendo ser considerada pelo seu valor artístico e documental. O trabalho de Organização do Arquivo Fotográfico da Escritora Patricia Bins traz como experiência a reflexão sobre a importância dos acervos fotográficos, reavivando dessa forma a sua história de vida e a memória de seus familiares e amigos na interação com as imagens. Salienta-se a importância do projeto, pois o conhecimento do passado pelas futuras gerações de pesquisadores será possível através desse trabalho. Referências BINS, Patricia. Instantes do mundo. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1999.. Caçados de memórias: romance. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1995.. Sarah e os anjos: romance. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1993.. Theodora. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1991.. Pele nua do espelho: romance. Rio de janeiro: Bertrand, 1989.. Janela do sonho. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1986.. Antes que o amor acabe. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1984.

53. Jogo de fiar. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1983.. O assassinato dos pombos. Porto Alegre: Metrópole, 1982.. O dia da árvores. Porto Alegre: Bertrand Brasil, 1996.. Pedro e Pietrina. Porto Alegre: Bertrand Brasil, 1997. BORDINI, Maria da Glória. Cadernos do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS. v.1, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995. BURGI, Sérgio. Introdução à preservação e conservação de Acervos Fotográficos: técnicas, métodos e materiais. Rio de janeiro: FUNART, 1988. CASTILHO, Ataliba (Org.). A sistematização dos arquivos públicos. Campinas: Editora da Unicamp, 1991. CURY, Maria Zilda Ferreira. A pesquisa em acervos e o remanejo da crítica. In: Manuscrítica revista de crítica genética. São Paulo: APML, 1993. FRANCO, Helenita Rosa. Organization and analysis of the arquives of the Contemporary Brazilian Author Patricia Bins. 1999. 331fls. Tese (Doutorado em Letras) - The University of New Mexico. Albuquerque, New Mexico, U.S.A. 1999. HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliografia. v 1. Rio de janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1967. IEL. Patricia Bins. Porto Alegre: IEL, 1990. Col. Autores gaúchos, v. 28. KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989. LAUFER, Roger. Introdução à textologia. São Paulo: Perspectiva, 1980. MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da imagem. São Paulo: Contexto, 2008. MAZZOCHI, Nilcia Peres; KIRST, Patrícia Gomes. A Fotografia como tecnologia da inteligência. IN: PELLANDA, Nize Maria Campos. Ciberespaço: Um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e ofícios, 2000. MICHELON, Francisca Ferreira. TAVARES, Francine Silveira. Fotografia e memória Ensaios. Pelotas: Editora e gráfica Universitária da UFPEL, 2008. SALLES, Cecília Almeida. Gesto Inacabado processo de criação artística. São Paulo: FAPESP, Annablume, 2004.

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