HENRIETTEA E HENRIETTELLA (MELASTOMATACEAE, MICONIEAE) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL



Documentos relacionados
José Fernando A. Baumgratz 1,3 & Maria Leonor D El Rei Souza 2

MELASTOMATACEAE NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL: TRIBOS BERTOLONIEAE E MERIANIEAE

Matheus Fortes Santos 1,4 & Paulo Takeo Sano 1

O SERVIÇO DE POLINIZADORES E A EFICÁCIA REPRODUTIVA DAS PLANTAS EM FRAGMENTOS VEGETAIS DE CERRADO NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS, GOIÁS

O Estado da Biodiversidade Brasileira: Genes, Espécies e Biomas

METODOLOGIA PARA O GEORREFERENCIAMENTO DE ILHAS COSTEIRAS COMO SUBSÍDIO AO MONITORAMENTO AMBIENTAL

10. Plantas vasculares com flor: Divisão: Anthophyta (leitura recomendada Raven et al. Capítulo 19:Angiosperms)

Aula 9 ESCALA GRÁFICA. Antônio Carlos Campos

ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TRECHOS DO ARROIO CANDÓI, LARANJEIRAS DO SUL, REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO PARANÁ

Senecio L. (Asteraceae, Senecioneae) no Estado do Rio de Janeiro, Brasil 1

A Comissão Científica do II Simpósio de Agroecologia da Bahia estabelece as normas de submissão de trabalhos descritas a seguir

CHRYSOPHYLLUM JANUARIENSE EICHL. (SAPOTACEAE): NOVA OCORRÊNCIA PARA O BRASIL E DESCRIÇÃO DO FRUTO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PRO-REITORIA DE PESQUISA, POS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO

Educação Patrimonial Centro de Memória

DIAGNÓSTICO DA COLETA E DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Os jacarandás de setembro

A família Melastomataceae s.s Juss. no Parque Nacional do Viruá (Roraima).

RELATÓRIO RESUMIDO PRELIMINAR DOS RESULTADOS DA IV OLIMPÍADA BRASILEIRA DE ASTRONOMIA IV OBA

Três novas espécies de Isotomiella Bagnall, 1939 do sudeste do Brasil (Collembola: Isotomidae)

NOTA TÉCNICA DE PESQUISA

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Levantamento e caracterização das populações de Macacos Guariba (Alouatta sp.) ocorrentes no município de Bambuí-MG

IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS COMO APOIO AO PROJETO SEMENTES DO PORTAL II: RESULTADOS PRELIMINARES

AGRICULTURA TRADICIONAL DE CORTE E QUEIMA NO BIOMA DE MATA ATLÂNTICA (RJ) - BRASIL

Três novas Myrtaceae de Santa Teresa, Espírito Santo, Brasil

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

Câmara Municipal de Barão do Triunfo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DOS SOLOS: MANEJOS DIFERENTES EM BIOMA DE MATA ATLÂNTICA NA REGIÃO SERRANA/RJ*

Projeto CIC Centro de Informação e Cultura: o nascimento de uma biblioteca

EDITAL DO PROGRAMA DE BOLSAS DE ESTUDOS ANO LETIVO DE (Em conformidade com a Lei /2009 e o Decreto 7237/2010)

Ar puro. Natureza. Conexão. Espaço. Conforto. Liberdade. Segurança. Tranquilidade. Modernidade. Estilo. Sua vida com tudo o que mais importa.

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO

Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Inventário de Identificação dos Reservatórios da CEDAE. Secretaria de Estado de Cultura - RJ

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

Melastomataceae do Parque Estadual da Serra Dourada, Goiás

Uma nova espécie de Tibouchina Aubl. (Melastomataceae), endêmica do Paraná, Brasil 1

DENDROLOGIA Histórico, Conceitos e Importância da Dendrologia

Monitoramento de qualidade e quantidade de água superficial em área de reflorestamento de Pinus taeda e Pinus elliottis

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DAS ESPÉCIES DE CYPERACEAE DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MUNICIPAL DO INHAMUM, CAXIAS, MARANHÃO

Universidade Regional de Blumenau FURB

EDITAL 04/2016-PRPI/UFCA

ANEXO II PORTARIA Nº 420, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011 TERMO DE REFERÊNCIA DE RELATÓRIO DE CONTROLE AMBIENTAL PARA REGULARIZAÇÃO DE RODOVIAS RCA

NOTAS TÉCNICAS DO BANCO DE DADOS DO ATLAS DIGITAL GEOAMBIENTAL VALE DO PEIXE BRAVO

Município de Colíder MT

Modem e Redes Locais. Número de Peça: Outubro de 2005

PROJETO DE PESQUISA ESTUDO DOS COMPONENTES LENHOSOS NA COBERTURA VEGETAL DA ENCOSTA DA FACULDADE MACHADO SOBRINHO, JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, BRASIL

Revista Perspectiva. 2 Como o artigo que aqui se apresente é decorrente de uma pesquisa em andamento, foi possível trazer os

2- (0,5) O acúmulo de lixo é um grave problema dos ambientes urbanos. Sobre o lixo responda: a) Quais são os principais destino do lixo?

Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações de Pesca por Satélite

IBAM EQUIPAMENTOS CULTURAIS E DE LAZER EXISTENTES NOS MUNICÍPIOS. François E. J. de Bremaeker

AGENDA 2015 ATIVIDADE ESCLARECIMENTO

GESTÃO AMBIENTAL. Zoneamento Ambiental. Espaços Territoriais especialmente protegidos ... Camila Regina Eberle

Mudanças na estrutura diamétrica em uma comunidade no Cerrado de Itirapina, São Paulo

NOTAS TÉCNICAS DO BANCO DE DADOS DO ATLAS DIGITAL GEOAMBIENTAL QUADRILÁTERO FERRÍFERO

EDITAL DE SELEÇÃO DE BOLSA DE PÓS-DOUTORADO DO PROGRAMA PNPD/CAPES

BIOVESTIBA.NET BIOLOGIA VIRTUAL Profº Fernando Teixeira UFRGS FISIOLOGIA VEGETAL

Morfoanatomia Foliar de Pouteria sp. nov. (Sapotaceae) em Ambiente de Sol e Sombra

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 266, DE 03 DE AGOSTO DE 2000

AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DE UM SOLO SOB FLORESTA ATLÂNTICA NA FAZENDA SANTA RITA, FARIA LEMOS, MG

30 KOLLMANN: BEGONIA RUSCHII Begonia ruschii L Kollmann A B sanguinea Raddi cui affinis, sed praecipue indumento pilis stellatis cinereo-ferrugineiis

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO PROJETO DE LEI Nº 506, DE 2008: A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA:

FENOLOGIA REPRODUTIVA DE SCHINUS TEREBINTHIFOLIUS RADDI EM ÁREA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

Submissão de Trabalhos para Comunicações Orais

Redação científica. Português

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO COLEGIADO DE COORDENAÇÃO DIDÁTICA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL *** SELEÇÃO 2015.

DESMATAMENTO DA MATA CILIAR DO RIO SANTO ESTEVÃO EM WANDERLÂNDIA-TO

MELIPONICULTURA: OPORTUNIDADE DE RENDA COMPLEMENTAR PARA OS QUILOMBOLAS DO MUNICÍPIO DE DIAMANTE PB

Palavras-chave: Arborização; inventário ambiental; manejo; patrimônio arbóreo; radiofreqüência

FOLHA FOLHA. Base foliar Limbo. Pecíolo. Principais funções: fotossíntese e transpiração

Myrsinaceae da APA de Cairuçu, Parati (Rio de Janeiro, Brasil)

O Capítulo III do SNUC define os seguintes objetivos e normas para as categorias de man ejo:

ÁREA TEMÁTICA: Meio Ambiente

Serão aceitos trabalhos com no máximo oito integrantes, sendo o autor principal e o apresentador acadêmicos em exercício.

Relatório Técnico: B-23686/1. Flora brasiliensis On-Line

MANEJO DE ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

DESMATAMENTO EM ÁREAS PROTEGIDAS DA CAATINGA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DEPARTAMENTO DE FITOPATOLOGIA (DFP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA FITOPATOLOGIA (PPG-FITO)

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS NÚCLEO DOS BIOMAS MATA ATLÂNTICA E PAMPA PROJETO MATA ATLÂNTICA GCP/BRA/O61/WBK

Comunidade de palmeiras em fragmentos florestais no Vale do Paraíba

Journal of Transport Literature

Planejada e editada por. RAULlNO REITZ. Publlcaçlo patrocinada por:

Alexson de Mello Cunha John Kennedy Ferreira Cardoso Leandro Roberto Feitoza

Arrudea A revista do Jardim Botânico do Recife

Como Encaminhar uma Denúncia, Representação ou Solicitação

Ensino Fundamental II

Instruções Técnicas para Apresentação de Projetos de Cemitérios - Licença Prévia (LP) -

NOTAS TÉCNICAS DO BANCO DE DADOS DO ATLAS DIGITAL GEOAMBIENTAL BACIA DO SANTO ANTÔNIO

A FAMÍLIA MALVACEAE sensu lato EM UMA ÁREA DO AGRESTE PARAIBANO, NORDESTE DO BRASIL 1

O Governo da República Federativa do Brasil. O Governo da República do Peru,

RESERVA BIOLÓGICA JAÍBA

Modificações nas características estomáticas de plantas de genótipos de milho (Zea mays L. spp mays) em função da morfologia foliar

Data: ABN. Cafés especiais do Brasil consolidam novos mercados

Aula 4 Conceitos Básicos de Estatística. Aula 4 Conceitos básicos de estatística

A FAMÍLIA BIGNONIACEAE NA APA DE MARICÁ, RIO DE JANEIRO, BRASIL

Transcrição:

HENRIETTEA E HENRIETTELLA (MELASTOMATACEAE, MICONIEAE) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL Kelly Cristina da Silva 1,2 & José Fernando A. Baumgratz 1,3 RESUMO (Henriettea e Henriettella (Melastomataceae; Miconieae) no Rio de Janeiro, Brasil) É apresentado o tratamento taxonômico dos gêneros Henriettea e Henriettella na flora do estado do Rio de Janeiro. Cada gênero está representado por uma só espécie: Henriettea saldanhaei e Henriettella glabra, Os dois táxons ocorrem em floresta atlântica. Apresenta-se uma chave para identificação dos gêneros que integram a tribo Miconieae e as espécies estudadas, além de descrições, ilustrações, dados de distribuição geográfica e comentários sobre particularidades nomenclaturais e morfológicas. São propostos três lectótipos e Henriettea glazioviana, H. glazioviana var. verruculosa e Henriettella glazioviana são sinonimizadas. Registra-se a nova ocorrência de Henriettea saladanhaei e Henriettella glabra no estado do Espírito Santo. Key words: flora, Miconieae, Mata Atlântica, taxonomia. ABSTRACT (Henriettea and Henriettella (Melastomataceae; Miconieae) in Rio de Janeiro State, Brazil) A taxonomic study of the genera Henriettea and Henriettella in the flora of Rio de Janeiro State is presented. Each genera is represented by only one species Henriettea saldanhaei and Henriettella glabra, that are found in the Atlantic forest. A key to identify the genera of the tribe Miconieae and the species studied is presented, as well as descriptions, illustrations, geographical distribution data and comments about nomenclatural and morphological particularities are provided. Three lectotypes are proposed and Henriettea glazioviana, H. glazioviana var. verruculosa and Henriettella glazioviana are accepted as synonyms. The occurrence of Henriettea saladanhaei and Henriettella glabra to the Espírito Santo State is pointed out for the first time. Palavras-chave: flora, Miconieae, Atlantic forest, taxonomy. INTRODUÇÃO Melastomataceae, uma das famílias mais numerosas entre as Angiospermae, é pantropical e no Brasil está representada por cerca de 68 gêneros e 1.500 espécies, distribuindo-se desde o Amazonas e Região Centro-Oeste até o Rio Grande do Sul, ocorrendo praticamente em todas as formações vegetacionais, exceto na caatinga senso stricto (Baumgratz et al. 2006). No estado do Rio de Janeiro a família também é muito diversificada, com 27 gêneros e mais de 300 espécies, ocorrendo desde restingas e matas de baixada até florestas pluviais alto-montanas, inclusive em campos de altitude (Baumgratz et al. 2007; Santos Filho & Baumgratz 2008). Há poucos estudos sobre as Melastomataceae na flora do estado do Rio de Janeiro, não se dispondo de informações taxonômicas atualizadas para a grande maioria dos gêneros. Nos trabalhos monográficos sobre a família (Cogniaux 1883-88, 1891), vários táxons apresentam circunscrições imprecisas, principalmente em nível de variedade, evidenciando lacunas no conhecimento para os dias atuais. Enquanto Brade (1935, 1938, 1945, 1956a,b) descreveu novas espécies, Pereira (1961a,b, 1964, 1966) abordou a família para o antigo estado da Guanabara, hoje integrado ao município do Rio de Janeiro. Baumgratz (1980, 1982, 1984) e Baumgratz & Ferreira (1980, 1984) restringiram-se a estudos taxonômicos e morfológicos, respectivamente, apenas de espécies de Miconia e também para este município, e Baumgratz et al. (2004) estudaram o gênero Bisglaziovia. A ocorrência de Melastomataceae em Unidades de Conservação (UCs) no estado também tem sido assinalada, e geralmente sob a forma de lista de espécies (Ule 1895; Dusén 1905; Rizzini 1954; Brade 1956c; Santos 1976; Oliveira et al. 1995; Artigo recebido em 04/2008. Aceito para publicação em 10/2008. 1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Pacheco Leão 915, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Bolsista PIBIC; Graduanda UFRRJ, Curso de Ciências Agrícolas. 3 Autor para correspondência: jbaumgra@jbrj.gov.br

888 Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. Baumgratz 1996, 1997a,b, 2000; Baumgratz et al. 2001). Recentemente, tratamentos florísticos para a família em UCs têm sido divulgados (Baumgratz et al. 2006, 2007; Barberena et al. 2008). Entre as cinco tribos de Melastomataceae com representantes na flora fluminense, Miconieae é a mais numerosa, constituída de oito gêneros e mais de 200 espécies (Santos Filho & Baumgratz 2008), sendo a única com frutos carnosos (Baumgratz et al. 2007). Essa tribo também tem mostrado uma maior riqueza de táxons em Unidades de Conservação do Rio de Janeiro, como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Rizzini 1954), Reserva Biológica de Poço das Antas (Baumgratz et al. 2006), Reserva Ecológica de Macaé de Cima (Baumgratz et al. 2007) e Parque Nacional do Itatiaia (Barberena et al. 2008). Gêneros como Henriettea e Henriettella, ambos dessa tribo, não têm sido estudados recentemente, tanto no contexto da taxonomia quanto no de flora do Rio de Janeiro, onde ocorrem em remanescentes de Mata Atlântica. Pereira (1966), ao estudar as Melastomataceae no antigo estado da Guanabara, aborda apenas Henriettella. Desse modo, objetivando ampliar o conhecimento morfológico e taxonômico da família no estado, apresenta-se o estudo desses dois gêneros, reavaliando as espécies e variedades, elaborando descrições e ilustrações e identificando padrões de distribuição geográfica, especificidades ambientais e o estado de conservação dos táxons. Além disso, apresenta-se uma chave para a identificação dos gêneros que integram a tribo Miconieae e as espécies estudadas. MATERIAL E MÉTODOS As características fisiográficas do estado do Rio de Janeiro citadas no texto foram obtidas em Veloso (1992) e IBGE (2007). O levantamento das espécies foi realizado com o auxílio de literatura especializada e nas coleções dos herbários BR, C, G, GUA, HB, K, P, R e RB (siglas de acordo com Holmgren & Holmgren 1998), com análise também de exemplares-tipo e imagens digitalizadas de tipos. Realizaram-se coletas no campo, observando-se particularidades ecológicas do ambiente e relativas à fenologia e morfologia de partes vegetativas, florais e frutíferas. Os exemplares coletados foram herborizados segundo técnicas usuais e incorporados ao Herbário RB. No estudo das peças florais e frutíferas, utilizaram-se amostras herborizadas, previamente hidratadas, e recentemente coletadas e fixadas em etanol a 70%. Dos materiais examinados, foi selecionado um espécime por município e, quando necessário, acrescentou-se material adicional. Uma lista com todas as coleções examinadas é apresentada no final do tratamento. A circunscrição da tribo Miconieae segue Baumgratz et al. (2007), que se basearam nas proposições de Renner (1993) e Clausing & Renner (2001) para a classificação da família Melastomataceae. As descrições dos táxons foram restritas à área de estudo e a terminologia morfológica está baseada em Radford et al. (1974), Briggs & Johnson (1979), Baumgratz (1985) e Weberling (1988). A análise e o reconhecimento do estado de conservação das espécies estudadas foram baseados nos critérios da IUCN (2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO A tribo Miconieae pode ser distinta, principalmente, pelo seguinte conjunto de características morfológicas: estames isomórficos ou subisomórficos, em geral iguais ou subiguais no tamanho, com conectivo curtamente ou não prolongado abaixo das tecas, geralmente inapendiculado ou com apêndice dorsal curto, formando ou não projeções ventrais; frutos carnosos, oligo e polispérmicos; e sementes freqüentemente obpiramidas, com testa papilosa, granulosa ou aparentemente psilada. Na flora do estado do Rio de Janeiro, com base no levantamento de Santos Filho & Baumgratz (2008), essa tribo está representada por oito gêneros e 224 espécies: Clidemia (13 spp.), Henriettea (1 sp.), Henriettella (1 sp.), Leandra (99 spp.), Miconia (92 spp.), Ossaea (7 spp.), Pleiochiton (8 spp.) e Tococa (3 spp.).

Henriettea e Henriettella no Rio de Janeiro 889 Chave para identificação dos gêneros da tribo Miconieae e das espécies de Henriettea e Henriettella no estado do Rio de Janeiro 1. Plantas epífitas... Pleiochiton 1. Plantas subarbustivas, arbustivas ou arbóreas. 2. Inflorescências axilares, em nós folhosos e/ou áfilos. 3. Arbustos; inflorescências não fasciculadas, geralmente em nós folhosos... Ossaea 3. Árvores; inflorescências fasciculadas, geralmente em nós áfilos ao longo das porções inferiores dos ramos. 4. Folhas com a face abaxial lepidoto-estrelada; botões florais com ápice obtuso a arredondado; hipanto estriguloso-adpresso; pétalas com ápice arredondadoemarginado... Henriettea (H. saldanhaei) 4. Folhas com a face abaxial pubescente e pubérula; botões florais com ápice acuminado; hipanto pubescente e pubérulo; pétalas com ápice acuminado...... Henriettella (H. glabra) 2. Inflorescências terminais e/ou pseudo-axilares, raro também axilares em nós folhosos das extremidades dos ramos. 5. Folhas com domácias em forma de bolsas vesiculosas na base... Tococa 5. Folhas desprovidas de domácias, se presentes, marsupiformes ou em tufo de tricomas. 6. Botões florais e pétalas de ápice agudo a acuminado (lobos externos do cálice maiores que os internos)... Leandra 6. Botões florais de ápice obtuso e/ou arredondado; pétalas com ápice arredondado ou assimetricamente emarginado ou retuso (lobos externos do cálice inconspícuos ou evidentes, neste caso, menores ou maiores que os internos). 7. Inflorescências terminais e pseudo-axilares; lobos externos do cálice maiores que os internos... Clidemia 7. Inflorescências terminais, às vezes também axilares em nós folhosos das extremidades dos ramos; lobos externos do cálice menores que os internos... Miconia Henriettea e Henriettella mostram-se morfologicamente de fácil reconhecimento dentro da família, principalmente pelo hábito arbóreo e inflorescências axilares com pedúnculo inconspícuo, dispostas geralmente em nós desnudos, assemelhando-se à caulifloria. As flores são pentâmeras, com pedicelos longos, cálice persistente, anteras com conectivo não prolongado abaixo das tecas e apêndice dorsal, ovário ínfero, frutos do tipo bacídio, polispérmicos com sementes ovadas a oblongas, de testa granulada. Além do indumento foliar, do hipanto e da forma do ápice dos botões florais e pétalas, Henriettea saldanhaei pode ser distinta pelas folhas com cinco nervuras acródromas, enquanto as de Henriettella glabra possuem apenas três nervuras. Tomando-se por base os trabalhos de Cogniaux (1888a; b; 1891) e Pereira (1966) e as coleções dos herbários consultados, Henriettea e Henriettella estariam representados na flora fluminense por duas espécies cada um, e o primeiro também por uma variedade. No entanto, cada gênero está representado por uma só espécie, Henriettea saldanhaei e Henriettella glabra, uma vez que novos sinônimos são propostos no presente estudo. Henriettea DC., Prodr. 3: 178. 1828. Gênero de ampla distribuição geográfica, ocorrendo no México, América Central, Colômbia, Venezuela, Guianas e Brasil e constituído por cerca de 15 espécies (Cogniaux 1888a; Pereira 1961a; Luckana & Berry 2001). No Brasil, é encontrado nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

890 Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. Henriettea saldanhaei Cogn. in Mart., Eich. & Urb., Fl. bras. 14(4): 531, t. 113. 1888a. Tipo: Habitat in prov. Rio de Janeiro, Mauá, perto de Magé, Manduca Palma, 1.II.1883, fl., J. Saldanha 6992 (Lectótipo R!, aqui designado). Fig. 1 Henriettea glazioviana Cogn. in Mart., Eich. & Urb., Fl. bras. 14(4): 532-533. 1888a. Tipo: Rio de Janeiro, restinga de Mauá, 8.VI.1876, fl. e fr., A.F.M. Glaziou 8460 (Holótipo, BR!; Isótipos, G!, K!, P!-2ex, R!). Syn. nov. Henriettea glazioviana var. verruculosa Cogn. in Mart., Eich. & Urb., Fl. bras. 14(4): 533. 1888a. Tipo: Rio de Janeiro, restinga de Mauá, 5.VIII.1875, fl. e fr., A.F.M. Glaziou 8352 (Lectótipo K! aqui designado; Isolectótipos, BR!-3ex, G!, P!-2ex, R!,). Syn. nov. Arvoretas ou árvores 3 12 m alt.; indumento estriguloso-adpresso. Folhas com pecíolos 0,8 2,2 cm; lâmina 10 24,2 4,8 11,1 cm, cartácea, elíptica a obovada, base aguda a arredondada, ápice obtuso a arredondado-acuminado, margem ciliada, revoluta, face adaxial híspidoadpressa nas nervuras acródromas, raras glândulas papilosas, face abaxial densamente lepidoto-estrelada, tricomas com eixo central dentrítico e glandulosos; 5 nervuras acródromas 2 7 mm suprabasais; domácias marsupiformes. Cimóides fasciculados 1,4 2,5 cm, axilares, nas porções geralmente áfilas e inferiores dos ramos; brácteas e prófilos persistentes. Botões florais de ápice obtuso a arredondado. Flores com indumento estriguloso-adpresso e pubescente-glanduloso; pedicelo 4 23 mm; hipanto 3 7 3 6,2 mm, estreito-campanulado; zona do disco glabra; cálice persistente, face adaxial setuloso-glandulosa, lacínias infletidas pós-antese, lobos externos 0,5 1,8 0,5 1,3 mm, denticulado-apiculados, lobos internos 1 3,5 2,7 5 mm, oblatos; pétalas 7,5 9 11 14 mm, alvo-rosadas a lilases, assimétricas, obovadas, base bilobada, unguiculada, ápice arredondadoemarginado, margem irregular-denteada, ciliolada, pubescentes e pubérulo-glandulosas, tricomas retrorsos; estames subiguais em tamanho, filetes 4,5 8 mm, anteras 5 9,, alvo-lilases, subuladas, poro terminal, apêndice dorsal inconspícuo, uni ou bicalcarado, lobos projetando-se ventralmente; ovário 1,7 3 mm, 5-locular, glabro; estilete 12 18 mm, levemente espesso no ápice, glabro. Bacídios 4,7 8 4,1 9 mm, vinosos a nigrescentes, urceolados; sementes 0,7. Material selecionado: RIO DE JANEIRO: Duque de Caxias, VIII.1958, E. Pereira 4192 (RB); Macaé, IX.1986, D. Araújo et al. 7552 (RB); Magé, VIII.1982, R. Guedes et al. 161 (RB); Rio de Janeiro, IX.1933, J. G. Kuhlman & A. C. Brade s.n. (RB 45554); Silva Jardim, X.2004, D. C. Carraça et al. 35 (RB); I.2006, J. F. A. Baumgratz et al. 877 (RB). Material adicional: ESPÍRITO SANTO: entre Guarapari e Anchieta, XII.1964, fl. e fr., Z. A. Trinta et al. 1088 (HB). Endêmica do Brasil, restrita ao Espírito Santo e Rio de Janeiro. Neste estado, pode ser encontrada em florestas aluviais e submontanas, sobre morros e morrotes, capoeiras, fragmentos remanescentes e em matas de restingas. Floresce em janeiro, de abril a junho e de agosto a novembro; frutifica em abril, maio e de julho a novembro. Na Reserva Biológica de Poço das Antas, os frutos são muito apreciados pelo mico-leão-dourado (Leonthopithecus rosalia) e por diversas espécies de ave (Baumgratz et al. 2006). Não é uma espécie ameaçada de extinção no estado, sendo encontrada em distintas localidades, incluindo áreas protegidas. Assinala-se pela primeira vez a ocorrência dessa espécie no Espírito Santo. Cogniaux (1888a) distingue H. glazioviana de H. saldanhaei por características com delimitações muito frágeis, caracterizando-a principalmente pelas folhas estreito-obovadas ou obovado-oblongas, com ápice subarredondado e curto-apiculado e distintamente com cinco nervuras acródromas basais, conectivo inapendiculado e estilete filiforme, muito espesso. As demais características vegetativas e florais, com base nesse autor, são muito semelhantes e se sobrepõem, incluindo os dados quantitativos. Nos espécimes-tipo de H. glazioviana e da variedade verruculosa as folhas são elípticas a obovadas, com base aguda a arredondada, ápice agudo, obtuso ou arredondado-acuminado e as nervuras acródromas mais internas nitidamente suprabasais, além do conectivo ser apendiculado e o espessamento do estilete não se diferenciar do observado nos espécimes-tipo de H. saldanhaei.

Henriettea e Henriettella no Rio de Janeiro 891 b c 2 mm 2 mm 1 cm a e d g h i f j 0,5 mm k Figura 1 Henriettea saldanhaei Cogn. a. ramo fértil; b-c. detalhe do indumento das faces adaxial e abaxial da lâmina foliar, respectivamente; d. flor; e. pétala; f. estame; g. secção longitudinal do ovário evidenciando adnação ao hipanto; h. secção transversal do ovário, evidenciando os lóculos; i. estilete; j. bacídio jovem; k. detalhe do indumento estriguloso do hipanto, no fruto jovem (Carraça 35).

892 Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. A variedade verruculosa, conforme circunscrita por Cogniaux (1888a) e observado nos espécimes-tipo (Glaziou 8352), também não apresenta características que a diferenciem da variedade típica e de H. saldanhaei, tendo sido estabelecida pelo maior comprimento do pedicelo floral (5 15 mm) e pelo cálice revestido de tricomas estrigulosos muito espessos. O epíteto infraespecífico é em alusão ao aspecto verrugoso do hipanto, principalmente durante a frutificação, quando a base de alguns tricomas torna-se muito intumescida. Entretanto, essa característica é encontrada em todos os espécimes examinados e o comprimento do pedicelo pode variar de 4 a 23 mm. Desse modo, depreende-se que ambas as características não têm valor diagnóstico para se estabelecer um táxon autônomo. Assim, sinonimizam-se aqui H. glazioviana e a variedade verruculosa com H. saldanhaei, optando-se por este nome, uma vez que está associado a uma ilustração, além da descrição. Ressalta-se que os exemplares-tipo dos três táxons foram coletados na mesma região litorânea e em formações de baixada no estado fluminense. Cogniaux (1888a) examinou apenas a coleção J. Saldanha 6992, do herbário de A. W. Eichler, para descrever H. saldanhaei. Atualmente, o acervo deste botânico encontra-se distribuído nos herbários B, G e M (Stafleu & Cowan 1976), mas nenhum exemplar de J. Saldanha foi localizado, nem mesmo no herbário BR, onde A. Cogniaux trabalhou. Porém, há uma duplicata dessa coleção em R, categorizada como isótipo por Martins (1997). Desse modo, como o holótipo não foi definido no protólogo nem localizado, o material de R é aqui indicado como lectótipo. Ao descrever H. glazioviana var. verruculosa, Cogniaux (1888a) assinala dois síntipos Glaziou 7302 e 8352. Entretanto, não se localizou qualquer exemplar da primeira coleção nos herbários consultados e da segunda, o espécime de K está sendo designado como lectótipo. Henriettella Naudin, Ann. Sci. Bot., sér. 3, 18: 107. 1852. Gênero de ampla distribuição geográfica, ocorrendo da Guatemala ao Panamá, Antilhas, Colômbia, Venezuela, Guianas, Equador, Peru, Bolívia e Brasil, sendo constituído de 35 a 40 espécies (Cogniaux 1888b; Pereira 1961a; Berry 2001). No Brasil é encontrado na Amazônia, Região Centro-Oeste e nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Henriettella glabra (Vell.) Cogn. in Mart., Eichl. & Urb., Fl. bras. 14(4): 538-539. 1888b. Fig. 2 Melastoma glabra Vell., Fl. flum. text. p. 171. 1829 (1825), Ic. 4, tab. 121. 1831 (1827). Tipo: Lectótipo, aqui designado: Vellozo, Fl. flum. icon. 4, tab. 121. 1831 (1827). Henriettella glazioviana Cogn. in Mart., Eichler & Urban, Fl. bras. 14(4): 539, t. 114. 1888b. Tipo: Rio de Janeiro, Corcovado para Paineiras, 20.I.1877, fl., A.F.M. Glaziou 8684 (Holótipo, BR!; Isótipos, BR!, C!, G!, K!, P!-3ex, R!, RB!). Syn. nov. Árvores 5 15 m alt.; indumento de partes vegetativas e florais esparso-pubescente e densopubérulo, tricomas adpressos, caducos. Folhas com pecíolos 1,2 5,2 cm; lâmina 7,6 18 3,1 9,7 cm, papirácea ou cartácea, elíptica a obovada, base aguda a agudo-cuneada, ápice acuminado, agudo ou obtuso, às vezes arredondado-obtuso, margem inteira a levemente ondulada, revoluta, face adaxial glabrescente; 3 nervuras acródromas, as mais internas 3 14 mm suprabasais; domácias marsupiformes. Cimóides fasciculados 0,7 2,6 cm, axilares, nas porções áfilas e geralmente inferiores dos ramos; brácteas e profilos persistentes. Botões florais de ápice acuminado. Flores com pedicelo 3 13 mm; hipanto 2,1 4 2,5 4 mm, campanulado; zona do disco glabra; cálice 0,8 1,2 mm, persistente, truncado-ondulado, lacínias obsoletas, formando um anel sinuoso; pétalas 3,9 4 1,5 2 mm, alvas, assimétricas, oblongo-triangulares, ápice acuminado, unilateralmente dentado-calcarado, face abaxial esparso-papilosa; estames subiguais em tamanho, filetes 2 5 mm, anteras 2,1 3 mm, amarelas, obovadas, dois poros terminais, apêndice dorsolateral, bilobado; ovário 1 3,5 mm, 4 5-locular, glabro; estilete ca. 8 mm, glabro. Bacídios 3 6 4 6,3 mm, nigrescentes; sementes 0,5 0,8 mm. Material selecionado: RIO DE JANEIRO: Guapimirim, II.2001, F. M. B. Pereira 15/74 (RB, RFA); Itatiaia,

Henriettea e Henriettella no Rio de Janeiro 893 3 mm 5 cm 5 mm i a j g h 5 mm 3 mm c b d e f Figura 2 Henriettella glabra Cogn. a. ramo fértil; b-c. botões florais: evidenciando profilos na base (b), e em préantese (c); d. flor; e. pétala; f. estame; g. detalhe dos poros da antera; h. secção transversal do hipanto e ovário, evidenciando a zona do disco e lóculos; i. bacídio; j. semente (Botelho 81).

894 Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. II.1942, A. C. Brade 17175 (RB); Macaé, XII.2000, J. F. A. Baumgratz et al. 781 (RB); Nova Friburgo, VI.1989, J. F. A. Baumgratz et al. 435 (RB); Nova Iguaçu, I.2002, M. G. Bovini et al. 2124 (RB); Parati, XII.2007, J.F.A. Baumgratz et al. 1037 (RB); Rio de Janeiro, III.1997, D. Araújo 10564 (GUA, RB); XI.1996, P. Botelho et al. 81 (RB); Teresópolis, IV.1977, G. Martinelli 1664, 1751 (RB). Material adicional: ESPÍRITO SANTO: Santa Teresa, VII.1998, fr., E. Bausen & W. Pizziolo 134 (MBML, RB); I.1999, fl., L. Kollmann et al. 1713 (MBML, RB); III.1999, fr., L. Kollmann et al. 2138 (MBML, RB); IV.1999, fr., L. Kollmann et al. 2435 (MBML, RB); II.2002, fl. e fr., L. Kollmann et al. 5595 (MBML, RB); III.2003, fr., R. R. Vervloet et al. 2032 (MBML, RB). Endêmica do Brasil, restrita ao Espírito Santo e Rio de Janeiro. Neste estado, ocorre entre 300 900 m de altitude, em floresta atlântica submontana e montana, em encostas com vegetação preservada ou alterada. Floresce de janeiro a abril e em julho, novembro e dezembro; frutifica de janeiro a junho e de outubro a dezembro. Não é uma espécie ameaçada de extinção, sendo encontrada em diferentes localidades e áreas protegidas. Assinala-se pela primeira vez a ocorrência dessa espécie no Espírito Santo. Henriettella glabra e H. glazioviana são muito afins e distintas por características inconsistentes (Cogniaux 1888b, 1891; Pereira 1961b). Esses autores distinguem H. glazioviana principalmente pelas folhas oblongo-lanceoladas, com base longo-atenuada e aguda, ápice agudo ou acuminado e três nervuras acródromas basais ou levemente suprabasais, e cálice externamente obsoleto, 5-denticulado. Nos exemplares-tipo (Glaziou 8684) desta espécie, observa-se que o ramo folhoso corresponde a um rebroto, desprovido de qualquer estrutura reprodutiva, e originado de um ramo adulto, áfilo, mas com botões, flores e/ou frutos jovens; as folhas têm apenas nervuras acródromas suprabasais, algumas muito curtamente, podendo ser interpretadas equivocadamente como basais. Todas essas características são observadas não só em espécimes utilizados para descrever H. glabra (Glaziou 13858), como em outros recentemente coletados na mesma região do exemplar-tipo de H. glazioviana (Angeli 80, 589; Farney 2672; Pereira 67) ou em outro local distinto (Marquete 1537). Desse modo, conclui-se que ambas as espécies correspondem a um único táxon, sendo H. glazioviana considerada sinônimo de H. glabra. Vellozo (1829; 1831), ao descrever Melastoma glabra, não assinala qualquer material examinado. Por essa razão, a ilustração apresentada pelo autor está sendo indicada como lectótipo, embora os desenhos dos estames não ilustrem adequadamente a forma dessas estruturas. Sinônimos em Cogniaux (1888b). AGRADECIMENTOS Ao Chefe da Reserva Biológica de Poço das Antas e IBAMA, pelo apoio e autorização de coleta. Aos curadores dos herbários citados, pelo empréstimo do material e envio de imagens digitalizadas. Aos ilustradores botânicos Maria Alice de Rezende e Paulo Ormindo, pela confecção das pranchas a nanquim. Ao CNPq, pela Bolsa PIBIC concedida ao primeiro autor e de Produtividade em Pesquisa, ao segundo autor. A FAPERJ, pelo apoio concedido à pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barberena, F. F. V. A., Baumgratz, J. F. A. & Chiavegatto, B. 2008. Melastomataceae no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro, Brasil: Tribos Bertolonieae e Merianieae. Rodriguésia 59(2): 381-392. Baumgratz, J. F. A. 1980. Miconias do Município do Rio de Janeiro. Seção Miconia DC. (Melastomataceae). Rodriguésia 32(55): 73-95.. 1982. Miconias do estado do Rio de Janeiro. Seção Tamonea (Aubl.) Cogniaux (Melastomataceae). Arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro 26: 69-86.. 1984. Miconias do estado do Rio de Janeiro. Seção Chaenanthera Naud. (Melastomataceae). Rodriguésia 36(60): 47-58.. 1985. Morfologia dos frutos e sementes de Melastomataceae brasileiras. Arquivos do Jardim Botânico do Rio Janeiro 27: 113-155.. 1996. Melastomataceae. In: Marques, M. C. M. (org.). Espécies coletadas no estado

Henriettea e Henriettella no Rio de Janeiro do Rio de Janeiro, depositadas no Herbário RB. Ed. Imprinta, Rio de Janeiro. Pp. 56-59.. 1997a. Melastomataceae. In: Lima, H. C. & Guedes-Bruni, R. R. (eds.). Serra de Macaé de Cima: diversidade florística e conservação em Mata Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 331-332.. 1997b. Melastomataceae. In: Marques, M. C. M. (org.). Mapeamento da cobertura vegetal e listagem das espécies ocorrentes na Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, Município de Parati, RJ. Série Estudos e Contribuições 13: 69-70.. 2000. Melastomataceae. In: Di Maio, F. R. & Silva, M. B. R. (coords.). Espécies ameaçadas de extinção no município do Rio de Janeiro: flora e fauna. Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Rio de Janeiro. Pp. 30-31. & Ferreira, G. L. 1980. Estudo da nervação e epiderme foliar das Melastomataceae do Município do Rio de Janeiro. Gênero Miconia. Seção Miconia. Rodriguésia 32(54): 161-169. & Ferreira, G. L. 1984. Nervação e epiderme foliar das Melastomataceae do estado do Rio de Janeiro. Gênero Miconia Ruiz et Pavon. Seção Tamonea (Aubl.) Cogniaux. Rodriguésia 36(58): 89-94. ; Silva, S. A. S. & Menezes, M. O. P. 2001. Melastomataceae. In: Costa, A. F.& Dias, I. C. A. (orgs.). Flora do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e arredores, Rio de Janeiro, Brasil: listagem, florística e fitogeografia: angiospermas, pteridófitas, algas continentais. Rio de Janeiro, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pp. 93-95. ; Souza, M. L. D. R.; Carraça, D. C. & Abbas, B. A. 2006. Melastomataceae na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil: aspectos florísticos e taxonômicos. Rodriguésia 57(3): 591-646. ; Souza, M. L. D. R. & Tavares, R. A. M. 2004. Bisglaziovia Cogn. (Merianieae: 895 Melastomataceae): considerações taxonômicas e biogeográficas. Bradea 10(2): 75-80. ; Souza, M. L. D. R. & Tavares, R. A. M. 2007. Melastomataceae na Reserva Ecológica de Macaé de Cima, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil. I - Tribos Bertolonieae, Merianieae e Microlicieae. Rodriguésia 58(4): 797-822. Berry, P. E. 2001. Henriettella Naudin. In: Berry, P. E.; Yatskievych, K. & Holst, B. K. (eds.). Flora of the Venezuelan Guayana. Vol. 6. Timber Press, Oregon. Pp. 346-349. Brade, A. C. 1935. Melastomataceae novae. Arquivos do Instituto de Biologia Vegetal 2(1): 13-17.. 1938. Melastomataceae novae II. Arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro 4(1): 71-77.. 1945. Melastomataceae novae III. Rodriguésia 9(18): 3-7.. 1956a. Melastomataceae novae IV. Arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro 14: 211-228.. 1956b. Algumas espécies novas do gênero Leandra (Melastomataceae novae V). Arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro 14: 241-255.. 1956c. A flora do Parque Nacional do Itatiaia. Boletim do Parque Nacional do Itatiaia 14: 213-228. Briggs, B. G. & Johnson, L. A. S. 1979. Evolution in the Myrtaceae-evidence from inflorescence structure. Proceedings of the Linnean Society of New South Wales 102(4): 157-256. Clausing, G. & Renner, S. S. 2001. Molecular Phyllogenetics of Melastomataceae and Memecylaceae: implications for character evolution. American Journal of Botany 88(3): 486-498. Cogniaux, A. 1883-88. Melastomaceae. In: Martius, C. F. P. Von; Eichler, A. G. & Urban, I. Flora brasiliensis. Munchen, Wien, Leipzig, 14(3): 1-510; 14(4): 1-656.. 1888a. Henriettea DC. In: Martius, C. F. P. Von; Eichler, A. G. & Urban, I.

896 Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. Flora brasiliensis. Munchen, Wien, Leipzig, 14(4): 525-536.. 1888b. Henriettella DC. In: Martius, C. F. P. Von; Eichler, A. G. & Urban, I. Flora brasiliensis. Munchen, Wien, Leipzig, 14(4): 537-541.. 1891. Melastomaceae. In: Candolle, A. de & Candolle, C. de. Monographiae phanerogamarum. Paris 7: 1-1256. Dusén, P. 1905. Sur la flore de la serra do Itatiaya au Brésil. Arquivos do Museu Nacional 13: 1-96. Holmgren, P. K. & Holmgren, N. H. (eds.). 1998 onwards (continuously updated). Index Herbariorum. New York Botanical Garden. Disponível em: http://sciweb.nybg.org/ science2/indexherbariorum.asp. Acesso em: mar. 2008. IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: maio 2007. IUCN. 2007. Red List Categories and Criteria v. 3.1. The world Conservation Union. Disponível em: http://iucn.org/themes/ssc/ redlists/rlcats2001booklet.html. Acesso em: maio 2007. Luckana, N. G. & Berry, P. E. 2001. Henriettea DC. In: Berry, P. E.; Yatskievych, K. & Holst, B. K. (eds.). Flora of the Venezuelan Guayana. Vol. 6. Timber Press, Oregon. Pp. 338-346. Martins, V. L. C. 1997. Tipos das plantas vasculares do herbário do Museu Nacional (R) XV: Melastomataceae. Boletim do Museu Nacional 100: 1-47. Oliveira, R. R.; Zaú, A. S.; Lima, D. F.; Silva, M. B. R.; Vianna, M. C.; Sodré, D. O. & Sampaio, P. D. 1995. Significado ecológico da orientação de encostas no maciço da Tijuca, Rio de Janeiro. In: Esteves, F. A. (ed.). Oecologia Brasiliensis: Estrutura, funcionamento e manejo de ecossistemas brasileiros. Vol. 1. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 523-541. Pereira, E. 1961a. Contribuição ao conhecimento das Melastomataceae brasileiras. Arquivos do Jardim Botânico do Rio Janeiro 17: 125-169.. 1961b. Flora do estado da Guanabara III. Melastomataceae I Tibouchineae. Rodriguésia 23-24(35-36): 155-188.. 1964. Flora do estado da Guanabara IV. Melastomataceae II Miconieae. Gênero Miconia. Arquivos do Jardim Botânico do Rio Janeiro 18: 183-214.. 1966. Flora da Guanabara V. Melastomataceae III (Final). Tribos: Miconieae, Merianieae, Bertolonieae e Microlicieae. Rodriguésia 25(37): 181-202. Radford, A. E.; Dickison, W. C.; Massey, J. R. & Bell, C. R. 1974. Vascular plant systematics. Harper & Row, New York, 891p. Renner, S. S. 1993. Phylogeny and classification of the Melastomataceae and Memecylaceae. Nordic Journal of Botany 13(5): 519-540. Rizzini, C. T. 1954. Flora Organensis. Lista preliminar dos Cormophyta da Serra dos Órgãos. Arquivos do Jardim Botânico do Rio Janeiro 13: 117-246. Santos, N. 1976. Plantas existentes no Parque Nacional da Tijuca. Brasil Florestal 7(26):1-12. Santos Filho, L. A. F. & Baumgratz, J. F. A. 2008. Melastomataceae. In: Programa Diversidade Taxonômica/JBRJ (org.). Checklist da flora do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.jbrj.gov.br/pesquisa/div_tax/ acessobd.php. Acesso em: mar. 2008. Ule, E. 1895. Relatório de uma excursão botânica feita na serra do Itatiaia. Arquivos do Museu Nacional 9: 185-223. Veloso, H. P. 1992. Sistema fitogeográfico. In: Manuais técnicos em geociências: manual técnico da vegetação brasileira. Vol. 1. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro Pp. 9-38. Vellozo, J. M. C. 1829 (1825). Melastoma glabra. In: Florae fluminensis, texto. Rio de Janeiro. P. 171.. 1831 (1827). Melastoma glabra. In: Florae fluminensis, icones. Paris, t. 4, tab. 121. Weberling, F. 1988. The architeture of inflorescences in the Myrtales. Annals of Missouri Botanical Garden 75(1): 226-310.

Henriettea e Henriettella no Rio de Janeiro 897 Índice de coletores: (1) Henriettea saldanhaei; (2) Henriettella glabra. Angeli, C.: 80 (2), 341 (2), 589 (2); Araújo, D.: 7046 (1), 7552 (1); 10514 (2), 10564 (2); Bacelli, D.: R 168231 (2); Baumgratz, J.F.A: 435 (2), 781 (2), 877 (1), 1037 (2); Bausen, E.: 134 (2); Botelho, P.: 81 (2); Bovini, M.G.: 2124 (2); Brade, A.C.: 17175 (2); Carauta, J.P.P.: 2669 (1); Carcerelli, C.: 22 (1); Carraça, D.C.: 1 (1), 8 (1), 9 (1), 11 (1), 12 (1); 35 (1); Correia, C.M.B.: 353 (1); Costa, G.: RB 180685 (1); Duarte, A.P.: 5243 (2); Ducke, A.: RB 21653 (2); Farias, D.S.: 219 (1), 282 (1); Farney, C.: 2672 (2); Glaziou, A.F.M.: 598 (2), 13858 (2), 16960 (2); Guedes, R.: 59 (1), 161 (1), 339 (1), 355 (1), RB 293872 (2); Kollmann, L.: 1713 (2), 2138 (2); 2435 (2); 5595 (2); Kuhlman, J.G.: RB 45554 (1); Lima, H.C.: 3507 (2), 4514 (1), 4658 (1), 4665 (1), RB 293870 (2); Luchiari, C.: 382 (1), 386 (1), 567 (1); Marquete, R.: 1537 (2); Martinelli, G.: 1664 (2), 1751 (2), 2893 (1), 8437 (1), RB 293871 (2); Netto, L.: R 168080 (2); Pereira, E.: 67 (2), 4192 (1); Pereira, F.M.B.: 15/74 (2); Peres, C.: 50 (1); Pessoa, S.V.A.: 1057 (1); Ochioni, P.: 223 (2); Oliveira, C.A.L.: 813 (2); Ribeiro, R.: 1133 (2); Riedel, L.: C s.n. (2); Silva Neto, S.J.: 1647 (2); Tatto, L.: 54 (2), RB 76193 (2); Trinta, Z.A.: 1088 (1); Ule, E.: 3637 (1), R 114872 (1), R 114905 (1); Vale, M.H.: 111 (2); Vervloet, R.R.: 2032 (2). Sem coletor: R 27638 (2), R 114880 (1), R 168081 (2), BR s.n. (2).