Uma Introdução para Compreender o Mercado Paralelo de Câmbio no Brasil



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Transcrição:

Uma Introdução para Compreender o Mercado Paralelo de Câmbio no Brasil Hugo Cuevas-Mohr 1 IMTC Mohr Word Consulting Introdução Este breve artigo tem como objetivo explicar o uso, por Operadores do Mercado Paralelo (OMPs), de transferências 2 de dinheiro de brasileiros inocentes ou desavisados vivendo nos EUA, Europa e outros lugares para abastecer um sistema no qual os Reais, normalmente em espécie e produtos de atividades ilegais no Brasil, são depositados nas contas dos beneficiários da transferência no Brasil, enquanto os Dólares ou Euros entregues aos remetentes no exterior são usados para saldar e movimentar dinheiro como parte dessa troca de fundos. O motivo pelo qual uso em este artigo as siglas GMRE (Gray Market Real Exchange 3 ) é para intencionalmente atrair a atenção para suas semelhanças com o BMPE (Black Market Peso Exchange 4 ), um termo cunhado na década de 90 para explicar como cartéis de drogas colombianos lavam os lucros obtidos com as vendas de narcóticos nos EUA e na Europa. O objetivo de tal sistema era facilitar as trocas dos Dólares obtidos pelos cartéis nos EUA por Pesos na Colômbia através da venda de Dólares a comerciantes colombianos que desejavam comprar e pagar bens americanos (e, posteriormente, chineses) para importação. O sistema explicava como os Dólares entravam no sistema financeiro mundial por meio de corretores e assim eram lavados sem atrair atenção. 1 Hugo Cuevas-Mohr é o diretor da Mohr World Consulting (http://www.mohrworld.info), uma empresa de consultoria com sede em Miami, na Flórida. Hugo trabalha na indústria de transferências de dinheiro há mais de 25 anos e também é o diretor de conferências das IMTC (International Money Transfer Conferences, por suas iniciais em inglês), que incluem a IMTC BRASIL 2012, que será realizada de 13 a 15 de fevereiro de 2012 em São Paulo (http://www.imtcbrasil.com ). Hugo trabalhou na Colômbia e nos EUA na década de 90, quando a Colômbia enfrentou o desafio de formalizar seus sistemas de pagamento por remessas e os controles e regulamentações contra lavagem de dinheiro foram estabelecidos. 2 Uso o termo transferência de dinheiro, em vez de remessa, porque a maioria dos bancos centrais e organizações multilaterais usa o termo remessas apenas no sentido de remessas de trabalhadores (fundos enviados para auxiliar as famílias em seus países de origem). Contudo, para o setor privado, remessas é um termo mais amplo, que inclui quaisquer transferências internacionais de fundos realizadas por um indivíduo, qualquer que seja seu motivo: auxiliar a família, repatriar fundos, depósitos (para economias, pagamento de contas, etc.), remessas por trabalhadores sazonais, pagamento de empréstimos, fundos para comprar bens a ser vendidos, enviados, etc. Essas transferências de fundos não costumam ser feitas por meio de transferências interbancárias. Alguns bancos agora prestam ambos os serviços (remessas e transferências interbancárias), que são muito diferentes em termos de custo, divulgação da taxa de câmbio, velocidade de pagamento, natureza do pagamento, etc. 3 Mercado Cinzento de Câmbio de Reais; no Brasil: Mercado Paralelo. 4 Consulte as publicações do FINCEN acerca do BMPE (Mercado Negro de Câmbio de Pesos): http://www.fincen.gov/news_room/rp/advisory/pdf/advisu9.pdf, e uma publicação atualizada: http://www.fincen.gov/news_room/rp/advisory/html/advis12.html 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 1

A conexão entre o sistema BMPE e os cartéis de drogas atraía tanta atenção que foi resultado de resposta, vigilância, regulamentação, investigação, acusação, entre outros, em nível global. O Sistema do GMRE é semelhante ao sistema colombiano do BMPE, mas a conexão entre o sistema brasileiro e atividades ilegais não é tão evidente e clara quanto no caso colombiano. O sistema brasileiro parece mais conectado à lavagem de dinheiro comercial, evasão fiscal e corrupção do que a outras atividades ilegais 5. O Mercado Negro do Dólar no Brasil evoluiu e os termos doleiros ou operadores do mercado negro eram muito usados até recentemente. A expressão mercado negro do dólar praticamente desapareceu das páginas dos jornais. Por um lado, a expressão ficou politicamente incorreta ao associar o negro a uma prática ilícita; por outro, o chamado câmbio livre ou paralelo tornou-se uma atividade legal ou quase-legal. 6 As autoridades brasileiras têm feito um trabalho em grande escala - realizado por órgãos reguladores e agentes da lei - para combater os doleiros e o mercado negro, e abrir o mercado a mais instituições, aumentando assim a concorrência e a capilaridade, além de facilitar as condições para que mais instituições prestem serviços financeiros e de câmbio. É verdade que o mercado informal 7 mudou-se das ruas para os escritórios, do "negro" para o "cinzento" - um tom bem escuro de cinza - e o termo atualmente utilizado é "mercado paralelo" ou "mercado B" 8. Contudo, a natureza dos crimes e a ilegalidade das operações não mudaram muito. As operações podem ter se tornado mais sofisticadas, mas o sistema existe há décadas 9 pelas mesmas razões: mover grandes somas de dinheiro, sem que sejam detectadas, declaradas, ou sujeitas à supervisão ou controle pelo governo. 5 O 2011 Cornerstone Report do HSI - Homeland Security Investigations (o braço investigativo da agência de imigração e aduana dos EUA) explica o uso de lavagem de dinheiro baseada em comércio tendo os sistemas BMPE colombiano e GMRE brasileiro como exemplos. http://www.ice.gov/doclib/news/library/reports/cornerstone/cornerstone7-3.pdf 6 O mercado negro do dólar no Brasil, Economia e Energia - http://ecen.com/eee38/the_black.htm 7 Nem todas as atividades informais são necessariamente ilegais, como veremos posteriormente neste documento. 8 Consulte o site da NMTA para ver o documento de Paul S. Dwyer publicado em 2006, U.S. Money Transmitters in the Brazilian Doleiro Currency Market (Agentes de transferência de dólares no mercado de câmbio paralelo do Brasil, tradução livre): http://nmta.us/site/e107_docs/doleiropaper_firstrelease.pdf 9 Para obter a descrição de um caso de 2004 envolvendo MSBs (empresas de serviços com dinheiro) brasileiras e o mercado de doleiros, leia: Bank Of America Settles Money Laundering Probe (Bank of America faz acordo com investigação de lavagem de dinheiro, tradução livre): http://www.northcountrygazette.org/articles/092706moneylaundering.html. Confira também este artigo de 2001: http://www.businessweek.com/2001/01_09/b3721167.htm. Um caso mais recente que envolveu 55 doleiros em 2009 está aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,55-doleiros-movimentaram-us-700-mi,696427,0.htm 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 2

Assim, nós acabamos por chamá-lo GMRE, na sigla em inglês, o que os brasileiros conhecem como o mercado paralelo. E sim, também há mercados negros do dólar no Brasil. No entanto, sua importância para os turistas é zero. Você não encontrar pessoas na rua lhe oferecendo serviços de câmbio de dólares. O mercado negro do dólar é usado por brasileiros ricos (principalmente) que desejam enviar dólares para fora do país sem passar pelos controles do Banco Central - e para isso usam os doleiros (operadores do mercado negro). A importância desse mercado negro costumava serem tão grande que sua taxa de câmbio (conhecida como dólar paralelo ) ainda é mostrada todos os dias na imprensa junto à taxa do dólar comercial e do dólar turismo. 10 Estimativa da dimensão do GMRE Não acho que exista alguém no Brasil (ou em outro lugar do mundo) capaz de fornecer uma estimativa definitiva do tamanho do GMRE e esse não é o propósito deste documento. No entanto, realmente acho que o trabalho feito pelo ETCO 11, o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e pela Fundação Getulio Vargas 12, um centro de ensino brasileiro muito respeitado, possa nos oferecer uma perspectiva inicial. O custo dos bens e serviços produzidos pela economia subterrânea brasileira no último ano foi equivalente a 27,1% do PIB do país, de acordo com um estudo publicado pela Fundação Getulio Vargas, uma entidade privada. 13 O estudo aqui citado é parte do trabalho contínuo do ETCO para estimar e chamar a atenção do país para os problemas da informalidade, ilegalidade e evasão fiscal, que obstruem o crescimento da economia brasileira. Através dos diversos métodos usados pelo ETCO para estimar a chamada economia subterrânea, cada um deles demonstra que sua dimensão atualmente está em cerca de 18% do PIB (20,7% em 2003, 19,6% em 2006, e 17,2% em 2010). No entanto, é importante observar que a porcentagem vem reduzindo devido ao crescimento da economia formal, e não exatamente à redução da economia subterrânea. André Franco Montoro Filho, presidente-executivo do ETCO, comparou o tamanho da economia subterrânea do Brasil ao PIB da Argentina. 10 Brazil Travel Blog, de Tony Gálvez - http://www.braziltravelblog.com 11 O ETCO - Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (http://www.etco.org.br) - é uma Organização Não Governamental (ONG) que congrega empresas e associações comerciais com o objetivo de promover a melhoria no ambiente de negócios e estimular ações que evitem desequilíbrios comerciais causados por evasão fiscal, informalidade, falsificação e outros desvios de conduta. Numa visão mais ampla, conscientizar a sociedade acerca dos malefícios sociais de práticas não-éticas e seus reflexos negativos para o crescimento do país. 12 A Fundação Getulio Vargas (http://portal.fgv.br) é um centro de ensino de qualidade e excelência que dedica seus esforços ao desenvolvimento intelectual do país. Sua política de promoção e incentivo à produção e ao aperfeiçoamento de idéias, dados e informações faz da FGV uma das maiores instituições no cenário nacional e internacional, além de possibilitar a formação de cidadãos éticos, cientes de suas responsabilidades como agentes transformadores da sociedade. 13 Latin American Herald Tribune: http://www.laht.com/article.asp?categoryid=14090&articleid=334886 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 3

A economia subterrânea brasileira esconde uma Argentina inteira. Segundo o estudo Estimação do Tamanho da Economia Subterrânea no Brasil, produzido pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas para o ETCO, circularam na informalidade no ano passado 578,4 bilhões de reais, o equivalente ao PIB do país vizinho. 14 Como descrito pelo ETCO, a economia subterrânea consiste de fraude (evasão fiscal), corrupção, venda de bens roubados, contrabando e, em menor escala, prostituição, jogos ilegais, venda de drogas, etc. Além disso, ela também inclui os setores informais, trabalho doméstico, vendedores de rua, construção informal e outras atividades. Há vários relatórios sobre a enorme economia informal brasileira. O Brasil ocupou a 105ª posição - em um total de 151 países - em um documento de 2007 do Banco Mundial de acordo com o tamanho de sua "economia subterrânea 15. A maioria das atividades da economia subterrânea que requerem a movimentação internacional de fundos usa o GMRE. A porcentagem dessa enorme economia subterrânea que precisa da movimentação de fundos para além das fronteiras brasileiras é um desafio que ainda requer estimativa - desafio que deve ser enfrentado pelo ETCO e outros economistas brasileiros. Transferências de Dinheiro e o GMRE Especialistas concordam que o Brasil logo se tornará um dos maiores mercados de transferência de dinheiro do mundo: em entrada, saída e nacionais. Atualmente, caso todas as transferências de fundos que chegam ao Brasil fossem devidamente registradas, o país estaria entre os 15 maiores mercados de remessa de fundos do mundo, junto a Egito, Indonésia e Vietnã, que recebem cada um, mais de US$ 7 bilhões por ano. Atualmente, o valor total das transferências de fundos que entram no Brasil relatadas pelo Banco Central do Brasil gira em torno de US$ 4,5 bilhões por ano, sendo metade referente à remessas de trabalhadores. As remessas enviadas ao Brasil são oriundas principalmente da América do Norte, Europa e Ásia. Metade das remessas tem origem nos EUA, onde vivem quase 1,4 milhão de brasileiros 16, concentrados em Massachusetts (355 mil), Nova Iorque (300 mil), Flórida (300 mil) e Califórnia (100 mil). O órgão responsável pelo censo dos EUA informa que 340 mil brasileiros dos EUA nasceram fora do país 17. Cerca de 20% das remessas têm origem no Japão, onde estimativas dão conta de que há 230 mil brasileiros residentes. O restante vem de Portugal, Espanha, Reino Unido e outros países europeus, onde há 900 mil brasileiros residentes estimados. 14 Revista ETCO, Setembro 2010 Nº 16 - ANO 7: http://www.etco.org.br/user_file/revista/etco_16.pdf 15 Shadow Economies All over the World (Economias subterrâneas no mundo, tradução livre): http://wwwwds.worldbank.org/servlet/wdscontentserver/wdsp/ib/2010/10/14/000158349_20101014160704/rendered/pdf/wps5356.pdf 16 Confira este documento do governo brasileiro: http://www.imtconferences.com/imtcweb/brasileiros/ 17 A população nascida em outros países inclui qualquer pessoa que não era cidadã dos EUA no nascimento, incluindo aquelas que se tornaram cidadãs americanas por meio da naturalização: http://www.census.gov/prod/2011pubs/acsbr10-15.pdf 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 4

Manuel Orozco, da Interamerican Dialogue, uma especialista-líder em remessas, publicou um estudo em 2008 intitulado Brazilians in the United States: A Look at Migrants and Transnationalism 18 em conjunto com Alvaro Lima e Eugenia Garcia-Zanello. Em tal estudo, eles estimaram que as transferências de fundos dos EUA para o Brasil somaram cerca de US$ 3,5 bilhões em 2007. Nossos dados acerca dos brasileiros nos EUA mostram que cerca de 70% deles faz remessas, enviando uma média de US$ 700 a cada vez, o que totaliza cerca de US$ 8.400 por ano. Usando nossa estimativa de que havia cerca de 600 mil brasileiros nos EUA em 2007 e 65% deles enviavam remessas de cerca de US$ 700 a cada mês; calculamos a soma total de remessas de dólares em 2007. 19 Usando esses números de 2007, podemos criar uma estimativa geral de que 50% das remessas totais enviadas ao Brasil têm origem nos EUA, enquanto o restante vem da Europa e do Japão. De acordo com dados publicados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as remessas enviadas ao Brasil foram de US$ 7,2 bilhões em 2008 20. No entanto, se você pesquisar os dados atuais do BID descobrirá que o volume total relatado de remessas para o Brasil foi de US$ 4.746 bilhões para 2009. 21 No site do BID é possível encontrar a seguinte declaração (quatro de março de 2010): O maior declínio ocorreu no Brasil - uma queda de 34% - prolongando uma tendência iniciada bem antes da crise global. Migrantes brasileiros vêm apresentando a tendência de retornar ao seu país, encorajados pelo crescente desempenho econômico do país e pelas perspectivas cada vez piores nos países onde residem, como o Japão. 22 É verdade que as remessas feitas ao Brasil têm diminuído à medida que a economia brasileira melhora e a economia dos países de origem piora. Contudo, poucas pessoas da indústria de transferências de fundos acredita que o volume enviado ao Brasil diminui nessa proporção. A maioria das instituições financeiras e empresas de transferências internacionais de fundos que operam por meio de canais registrados e licenciados no Brasil tem certeza de que mais da metade do volume de transferências de fundos ao Brasil está nas mãos dos OMPs. 18 (Brasileiros nos EUA: um olhar sobre migrantes e transnacionalismo, tradução livre) 19 http://www.digaai.org/wp/pdfs/lima.migrants&transn.7-23-09.pdf 20 http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=1910986 21 Remittances to Latin America and the Caribbean in 2009 - The impact of the global financial crisis (Remessas para a América Latina e Caribe em 2009 - O impacto da crise financeira mundial, tradução livre). http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=35101526 - O site da CEMLA possui dados referentes às remessas brasileiras que dão conta de que o total de remessas do Banco do Brasil foi de US$ 2,192 bilhões em 2009, mas faz a seguinte declaração (aqui traduzida): Números publicados pelo Banco Central do Brasil. Os dados do MIF diferem desse número, já que também consideram outros componentes da balança de pagamentos como parte das remessas. Os dados do MIF para 2009 são de US$ 4,746 bilhões. Dados históricos do MIF disponíveis em: www.fomin.org (tradução livre): http://www.cemlaremesas.org/medicion/componentes.htm 22 Remittances to Latin America stabilizing after 15% drop last year (Remessas para a América Latina se estabilizam após a queda de 15% no ano passado, tradução livre) - http://www.iadb.org/en/news/newsreleases/2010-03-04/remittancesto-latin-america-stabilizing-after-15-drop-last-year-mif,6671.html 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 5

Das maiores empresas globais de transferência de fundos, como Western Union, MoneyGram e RIA Envia, às empresas americanas como Pontual Money Transfer, BB Money e Viamericas, o sentimento é o mesmo: empresas de transferência de fundos operando com OMPs estão com uma parte bem maior do mercado. Em lugares como Boston e áreas vizinhas que abrigam brasileiros, em New Jersey - no lado oposto do Rio Hudson em frente à Nova Iorque - e em Orlando, na Flórida, a porcentagem de transferências de fundos enviadas com OMPs é ainda maior. Agentes de MTCs (Money Transfer Companies; MTCs, por suas iniciais em inglês 23 ) fazem transferências para outros países por meio de uma MTC e transferências para o Brasil por meio de outra MTC, que por sua vez trabalha com um OMP. De acordo com uma empresa de pesquisas do Brasil, entre 45% e 62% das transferências de fundos do corredor EUA-Brasil são processadas por empresas de serviços com dinheiro usando canais irregulares no Brasil. Rodney Alves 24, um advogado americano-brasileiro que tem atuado como consultor para MTCs nos EUA afirmou na recente conferência IMTC MIAMI 2011 25, realizada em Miami, durante uma apresentação de nome "Migrando o Mercado de Remessas Brasileiro dos Canais Informais para os Formais": Acredito, com base no volume de operações de alguns Operadores de Transferência de Fundos dos EUA e da maioria das empresas de transferência de fundos da Europa, que o mercado paralelo provavelmente cuida de 60% a 80% do volume total de remessas feitas de todo o mundo para o Brasil. As remessas realizadas através do mercado paralelo no Brasil são o grande problema sobre o qual ninguém quer falar. O mercado paralelo é tão complexo que mesmo com todos cientes de sua existência, pouquíssimas pessoas realmente entendem como ele opera, e ainda menos estão dispostas a fazer o necessário para eliminá-lo de uma vez por todas. 26 23 Empresas de Transferências de Fundos 24 Almeida Advogados, Rodney Alves: http://www.almeidaadvogados.com.br/almeidalaw/ingles/detequipe.php?codequipe=226&phpsessid=b285e77e94eedf d851b010df74cedc2d 25 A conferência International Money Transfer Conference IMTC MIAMI 2011 - http://www.imtconferences.com/imtcweb/en/conferences/imtc-miami/imtc-miami-2011.html 26 Anotações feitas durante a apresentação de Rodney Alves, confirmadas pelo próprio. 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 6

Por que algumas MTCs usam OMPs para enviar as remessas de seus clientes? A resposta é relativamente simples: a Taxa de Câmbio que a MTC pode oferecer a seus clientes. Os OMPs são capazes de oferecer às MTCs mais Reais para cada Dólar ou enviado. A maioria das MTCs que operam com OMPs não trabalha exclusivamente com eles, mas também com Prestadores de Serviços de Remessas formais para evitar serem detectadas. Vamos analisar em exemplo simples de um dia qualquer em 2011. Retirado dos Dados de Câmbio do Banco do Brasil: Média do Mercado para o dia: Compra: 1,6979 Real por Dólar Venda: 1,6986 Real por Dólar Nesse dia, uma MTC oferecia ao público R$ 1,6816 para cada dólar. Uma MTC concorrente que operava com um OMP (MTC-OMP) oferecia R$ 1,7300 para cada dólar. Em uma transação média de US$ 500, o remetente de uma transferência poderia conseguir R$ 24 a mais - cerca de US$ 14 - para o beneficiário se escolhesse trabalhar com a MTC-OMP. Se colocarmos na ponta do lápis para entender melhor a operação, chegaremos à conclusão de que o OMP que paga os fundos no Brasil está perdendo, somente nessa transação, mais de US$ 20. No entanto, os Dólares americanos e Euros, já em uma Instituição Financeira fora do Brasil, valem muito, e o OMP acaba compensando esse "prejuízo" na taxa de câmbio oferecida ao MTC ao vender os fundos "limpos" por uma taxa de câmbio que proporcionará ao OMP um belo retorno. 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 7

Explicando o uso das Remessas de Entrada realizadas por OMPs Há vários modos de remessas usados por OMPs. Abaixo se encontra apenas uma dos esquemas. Como pode ser visto, fundos de remessas são uma maneira fácil de lavar os lucros de atividades ilegais no Brasil. A Uma remessa é enviada por um remetente nos EUA ou na Europa, para sua família no Brasil. B - Os fundos do remetente são depositadas em uma Conta Bancária de propriedade da MTC e ela os transfere para uma conta bancária de propriedade do OMP 1 (no mesmo país, mas geralmente em outro). C - O OMP 1 envia as instruções de pagamento ao OMP 2 (que incluem uma lista de contas de beneficiários, valores a depositar e dados de identificação). D - Com os fundos do remetente em seu poder, o OMP 1 distribui os fundos a diversos destinos. E - O OMP 2, tendo recebido as informações do remetente, instrui terceiros a fazer depósitos de Reais na conta bancária dos beneficiários. F - O dinheiro é depositado na conta bancária dos beneficiários; um recibo de depósito bancário é recebido e enviado por fax / e-mail para os registros da MTC. Um auditor sem suspeitar do esquema verá todos esses recibos de depósitos como evidência legal de que a remessa foi paga em uma instituição financeira. G - O beneficiário, também sem suspeitar de nada, confirma que os fundos do remetente estão em sua conta bancária. Com esse sistema, dinheiro de atividades ilegais no Brasil, quer sejam produzidos por atividades no próprio país ou nas fronteiras com o Uruguai ou Paraguai, é depositado em milhares de contas bancárias de beneficiários de remessas, enquanto os fundos do remetente são usados para concluir as operações internacionais dos "proprietários" do dinheiro. Vamos explorar os exemplos da troca que ocorre na outra extremidade da transação. Um comerciante de recursos deseja evitar sonegar impostos no Brasil. Para tanto, ele se certifica de que suas transações sejam feitas com dinheiro, assim evitando que esses fundos entrem no sistema 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 8

financeiro brasileiro. Com esse dinheiro em mãos, ele procura um OMP 2 e entrega seu dinheiro. O OMP 1 é instruído acerca de onde os fundos de fora precisam ser alocados, fechando o círculo da troca. Um político corrupto está pronto para receber um suborno. Ele sabe que é muito mais seguro receber esse dinheiro em outro país. O comerciante que compra o auxílio do político entrega o dinheiro ao OMP 2, que instrui o OMP 1 sobre onde os fundos devem ser alocados, fechando o círculo de outra "troca". Mas nem todos os casos envolvem dinheiro depositado na conta do beneficiário. Em algumas transferências de fundos que fizemos em caráter de teste usando o canal MTC-OMPs, observei que, na conta bancária do beneficiário, o depósito era feito diretamente por uma empresa (e não uma instituição autorizada de transferência de fundos) 27. Em alguns casos, observamos que os depósitos foram feitos por empresas de factoring 28. É por isso que essas transferências de fundos jamais são informadas ao Banco Central do Brasil - elas nunca são oficialmente registradas, já que os fundos não passam por Prestadores de Serviços de Remessa autorizados antes de chegar diretamente ao beneficiário. Um exemplo interessante me foi passado por um OMP que decidiu interromper suas práticas no mercado paralelo, já que achava que as operações estavam ficando arriscadas demais para ele e seus colegas. Os Reais usados pelos brasileiros para comprar produtos em países vizinhos são vendidos a OMPs, que trazem o dinheiro clandestinamente de volta ao Brasil e fazem depósitos em dinheiro para as contas bancárias de beneficiários de remessas. A troca ocorre quando os fundos de transferências de dinheiro, nos EUA e na Europa, são usados para comprar bens ao redor do mundo para fornecer tais produtos. É importante observar que o OMP se certifica de que nenhum remetente / beneficiário fique insatisfeito com o serviço, não recebendo nenhuma queixa de seus clientes. O que ocorreria, imagino eu, se o remetente soubesse que os fundos depositados na conta bancária de seu parente são os lucros decorrentes de evasão fiscal, corrupção ou contrabando? O que é necessário para interromper o uso de remessas pelo GMRE? Em primeiro lugar, é importante observar que vêm sendo realizadas ações para interromper o uso de transferências de fundos por OMPs. Não apenas o Governo Brasileiro tomou diversas decisões importantes para modernizar suas regulamentações de transferência de dinheiro, mas as indústrias de serviços de câmbio e financeiros do Brasil também vêm realizando um trabalho de 27 Hawalas e outros Sistemas Informais de Transferência de Valores (Informal Value Transfer System or IVTS por suas iniciais em inglês) funcionam de maneira semelhante: Hawalas: http://www.treasury.gov/resource-center/terrorist-illicitfinance/documents/fincen-hawala-rpt.pdf IVTS: http://www.fincen.gov/statutes_regs/guidance/html/fin-2010-a011.html 28 Consulte o Apêndice deste documento, Factoring e o MCC no Brasil. 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 9

conscientização acerca de controles de lavagem de dinheiro e prevenção de crimes financeiros. A ABM Transf (www.abmtransf.com.br) - Associação Brasileira das Empresas Prestadoras de Serviços de Micro-Transferência de Dinheiro - trabalha sem parar na conscientização dos setores público e privado. No entanto, à medida que se aumenta a conscientização acerca dessas atividades e medidas de controle são estabelecidas, os OMPs também aprimoram seus métodos. Nos EUA, a NMTA 29 (www.nmta.us) também vem trabalhando na conscientização dentro da Indústria de Transferência de Fundos, por meio da explicação do GMRE as Representantes de Auditoria e Oficiais de Compliance de MTCs para que estejam mais preparadas para exigir informações acerca da natureza e da legalidade do pagante final da transferência de fundos ao Brasil enviada por sua instituição. Diversas MTCs cortaram todas as suas ligações com intermediários ou corretores de transferências de fundos quando os mesmos não conseguem ou não estão dispostos a fornecer as informações completas do pagante final. Eles o fizeram, mesmo com o custo de perder agentes de transferências de fundos que os trocaram por empresas que continuam usando OMPs (agentes usam essas empresas para não perder clientes que buscam taxas de câmbio melhores"). Alguns Banking Departments 30, como o da Califórnia, instruíram seus auditores a observar cuidadosamente transferências de fundos ao Brasil de empresas licenciadas que operam no estado 31 para se certificar de que tais fundos estejam sendo direcionados os Prestadores de Serviços de Remessas no Brasil. No entanto, os esforços não acabam por aí. As autoridades dos EUA, com as informações fornecidas pelos Bancos acerca de atividades suspeitas de MTCs, conseguiram congelar as contas bancárias de empresas licenciadas de transferência / remessa de fundos que operam com OMPs. Recentemente, houve confisco de fundos e revogação de licenças. Em um relatório publicado há pouco tempo 32, o FINCEN 33 divulgou que o Brasil é o quinto, com 5%, do total de SARs 34 enviados pelas instituições que tem a obrigação legal de fazê-lo. Antes do Brasil, da primeira para a quarta, encontramos a Venezuela (39%), Argentina, Uruguai e Emirados Árabes Unidos. Isso comprova que o sistema bancário dos EUA e as MSBs 35 suspeitam cada vez mais de transações relacionadas ao Brasil. Mas isso não é o bastante. A cada etapa, os OMPs se tornam mais sofisticados e têm conseguido evitar a abertura de ações judiciais contra eles. Esses corretores mudaram-se para outros locais, como a Europa, onde estão confiantes de que podem evitar serem detectados. 29 Associação Nacional das Empresas de Transferência/Remessa de Dinheiro (tradução livre): National Money Transmitters Association NMTA - por suas iniciais em inglês. 30 Departamentos Estaduais de Supervisão de Atividades Bancárias 31 Ainda não há uma Licença Federal de Transferência de Fundos nos EUA. Cada estado regulamenta as MTCs e outras MSBs de maneira independente, embora a MTRA (http://www.mtraweb.org) (Associação dos Reguladores de Empresas de Transferência / Remessa de Fundos, tradução livre) tenha feito um bom trabalho para estabelecer alguns padrões comuns e se reunir anualmente para análise dos problemas atuais. 32 http://www.fincen.gov/news_room/rp/files/sar_tti_20.pdf 33 Rede de Policiamento de Crimes Financeiros (tradução livre): Financial Crimes Enforcement Network FINCEN - por suas iniciais em inglês, uma unidade do Departamento do Tesouro dos EUA 34 Relatos de Atividades Suspeitas (tradução livre): Suspicious Activity Reports SARs - por suas iniciais em inglês. 35 Empresas de Serviços Monetários (tradução livre): Money Service Business MSBs - por suas iniciais em inglês. 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 10

Uma questão que vem causando polêmica e sempre é levantada em encontros do setor são as afirmações encontradas no excelente site "Remittance Prices Worldwide" 36, do Grupo de Desenvolvimento de Sistemas de Pagamentos do Banco Mundial. Esta diz respeito ao corredor EUA- Brasil: Observação: no Brasil, há diversas taxas de câmbio para USD / BRL: comercial, paralelo e turismo. Para uma reflexão mais precisa do custo real arcado pelo remetente, a taxa do câmbio paralelo foi usada como referência para o cálculo das margens de taxa de câmbio nesse corredor, em vez da taxa de câmbio interbancária usada para os outros. 37 Com relação ao corredor Reino Unido-Brasil, a afirmação é outra: Nesse corredor, a taxa de câmbio usada como referência para o cálculo das margens de taxa de câmbio foi ajustada para uma reflexão mais precisa do custo real arcado pelo remetente. No Brasil, há diversas taxas de câmbio para o USD: comercial, paralelo e turismo. A taxa de câmbio usada como referência é igual à taxa de câmbio interbancária GPB / USD multiplicada pela taxa do câmbio paralelo de USD / BRL. 38 Essa afirmação é semelhante àquela feita sobre o corredor Itália-Brasil. O corredor Japão-Brasil 39 não possui qualquer afirmação desse tipo, fato que reflete a ausência de OMPs no mercado. Essas afirmações são um sinal claro de que o GMRE é grande e bem-sucedido, já que suas taxas são, de certo modo, aceitas e definitivamente influenciam os preços do mercado de remessas, que é o que o site do Banco Mundial demonstra. A Indústria de Transferência de Fundos entende que essas afirmações oferecem de modo implícito, legitimidade ao mercado paralelo e tem solicitado que o Banco Mundial e os Agentes Reguladores Brasileiros discutam o problema e modifiquem a afirmação, ou que retirem as informações da taxa do mercado paralelo. Estou de acordo que listar ou usar a taxa do mercado paralelo em um site do Banco Mundial leva qualquer pessoa desavisada a acreditar que se trata de um mercado legítimo. Uma análise detalhada das empresas que oferecem as taxas do câmbio paralelo encontradas no site do Banco Mundial também podem servir como sinal para agências reguladoras, autoridades, auditores de conformidade e instituições financeiras acerca dos riscos enfrentados por essas empresas ao operar com OMPs. 36 Preços Globais de Remessas, tradução livre. 37 http://remittanceprices.worldbank.org/country-corridors/united-states/brazil/ 38 http://remittanceprices.worldbank.org/country-corridors/united-kingdom/brazil/ (nov./2011) 39 http://remittanceprices.worldbank.org/country-corridors/japan/brazil/ (nov./2011) 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 11

Vamos voltar à questão: o que é necessário para interromper o uso de transferência de fundos pelo GMRE? 1- A primeira coisa para todos os envolvidos com transferências de fundos - indústria, reguladores e autoridades competentes no Brasil, EUA e Europa, além de organizações multilaterais como o BID, CEMLA 40 e Banco Mundial - é aceitar o fato de que o sistema existe, de que transferências de fundos para o Brasil estão sendo usadas como um meio fácil de integrar os fundos dos remetentes ao Sistema do GMRE. Todos precisamos aceitar esse fato, mesmo que não estejamos totalmente de acordo quanto ao tamanho do volume de transferências de fundos que não são registradas adequadamente 41 e assim evitam a detecção. Conscientização e cooperação são os primeiros passos. 2- O Banco Central do Brasil precisa trabalhar para fornecer explicações e informações melhores a autoridades dos EUA e Europa acerca de quais instituições estão legalmente autorizadas a fazer pagamentos de transferências de fundos no Brasil e tornar seu site e documentos mais diretos e fáceis de compreender 42. 3- Não é frequente que a Indústria de Transferência de Fundos solicite que os reguladores aumentem a prestação de contas ou a carga regulamentar com a qual lidam. No entanto, associações comerciais de ambos os lados da equação vêm exigindo que seja necessário que as MTCs dos EUA e da Europa divulguem, informem e sejam obrigadas a conhecer o pagante final da transferência de fundos enviada ao Brasil. É óbvio que um recibo de depósito bancário não é um sinal de que uma remessa foi processada por uma instituição autorizada no Brasil 43. Sem aplicar às MTCs regras e procedimentos claros, achamos que será impossível para os Prestadores de Serviços de Remessas Brasileiras formalizados receber e pagar todas as transferências de fundos que os migrantes brasileiros enviam ao seu país de origem. Há vários casos de países que necessitam de cooperação internacional para o controle de fraudes, evasão fiscal, corrupção e outras atividades ilegais. Todos concordamos que precisamos de dados completos que sejam mensuráveis e confiáveis para saber a quantidade de transferências de fundos recebidas pelo Brasil. Sem dados completos, o país não será capaz de instituir as políticas que permitirão que as remessas sejam usadas para o desenvolvimento de crédito, de programas para os que não têm acesso a bancos, educação financeira, etc. 40 Centro de Estudos Monetários Latino-Americanos - http://cemla.org/ 41 Independentemente de serem classificados como remessas, repatriação de capital, etc. 42 GENCE, a Gerência-Executiva de Normatização de Câmbio e Capitais Estrangeiros do Banco Central do Brasil, e seu Diretor, o Sr. Geraldo Magela Siqueira, estão cientes da situação e se comprometeram a fornecer mais informações em inglês e participar de encontros internacionais para o fornecimento de informações e assistência. 43 Políticas bancárias de alguns países proíbem o depósito de dinheiro em contas sem prova de que as mesmas pertencem ao depositante 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 12

Conclusão O Brasil é o único país das Américas que ainda tem um grande desafio pela frente para direcionar o fluxo de transferências de fundos dos canais informais para os formais 44. Em algum momento, todos os países do continente, entre os quais EUA, México e Colômbia, tiveram de enfrentar esse desafio e obtiveram sucesso. Os desafios e sucessos da Indústria de Transferência de Fundos deste continente serviram de exemplos para vários outros países na África, Oriente Médio e Ásia ao formalizar seus próprios fluxos de remessas. Vários países também enfrentaram desafios enormes para impedir o uso das remessas por operadores ilegais na lavagem de seus lucros derivados de atividades criminosas. As autoridades internacionais certamente preferem operações em grande escala, confiscando fundos e levando OMPs à cadeia; uma operação em escala global que envie uma mensagem clara para assustar o restante dos OMPs e levá-los a encerrar suas atividades ilegais ou migrar para outros métodos. Há três anos, em 2009, um OMP decepcionado me abordou e contou que seus advogados haviam lhe avisado que sua operação era legal e que ele seria capaz de provar tal afirmação. Eu ofereci a ele a opção de convidar esses advogados para uma conferência na qual poderiam explicar a legalidade de sua operação de transferência de fundos. Ele retornou com a alegação de que seus advogados lhe disseram que isso revelaria os segredos de sua operação e as brechas legais descobertas por eles. Vários brasileiros da indústria acreditam que há pessoas no governo que não querem o GMRE exposto por se tratar de uma fonte importantíssima para a movimentação de fundos em atividades relacionadas à corrupção. Embora a corrupção no governo seja um problema grave no Brasil, os novos esforços realizados pela batalha anticorrupção da presidenta Dilma 45 são um sinal de que o país está pronto para o desafio. Juntas, a Receita Federal do Brasil (RFB), a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da União vêm conduzindo uma guerra declarada contra a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro, algo que ficou claro com as notícias referentes à Operação Alquimia 46 em agosto de 2011, que teve como resultado o indiciamento de mais de 68 pessoas em 12 estados, a confiscação de uma grande soma de bens e de um valor estimado de US$ 600 milhões em impostos não recolhidos. A Operação Pomar 47 revelou, em junho de 2011, o uso de empresas de papel para cometer fraudes, contrabandear bens e lavar os lucros de atividades criminosas. Jose Casado, um jornalista do O Globo, publicou um artigo no final de 2011 que dá boa conta da evolução recente da batalha contra a lavagem de dinheiro no país 48. 44 A Venezuela também enfrenta um grande desafio, já que as transferências de fundos recebidas também estão sendo usadas para trocas devido aos existentes controles de câmbio nesse pais. Corretores trocam fundos, em dólares americanos nos EUA - de remetentes de remessas - por bolívares no país, de venezuelanos que não podem ou não estão dispostos a usar os canais formais para mandar o dinheiro para fora do país. 45 Brasil: Iniciativa anticorrupção da presidenta Dilma: http://www.lab.org.uk/index.php?option=com_content&view=article&id=1078:brazil-president-dilmas-anticorruptiondrive&catid=65:news&itemid=39 46 http://www.receita.fazenda.gov.br/principal/ingles/noticias/2011/17082011.htm 47 http://www.receita.fazenda.gov.br/automaticosrfsinot/2011/06/28/2011_06_28_11_28_23_228562388.html 48 Brasil vira paraíso de lavagem de dinheiro - http://www.imtconferences.com/docs/brasil_vira_paraiso_de_lavagem_de_dinheiro.pdf 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 13

Com base em registros de depósitos de transferências de fundos recebidas nas contas bancárias de beneficiários de remessas, foi comprovado que empresas de factoring são usadas por OMPs para efetuar pagamentos no Brasil como parte do GMRE 49. Quando ouço desencorajados Executivos de MTCs nos EUA e na Europa que nem mesmo querem oferecer serviços de remessa para o Brasil por achar que concorrer com o mercado paralelo é uma tarefa impossível, lembro-me do trajeto já percorrido pela indústria e penso que, mais cedo ou mais tarde, trabalhando em conjunto com agências reguladoras e com as autoridades em ambos os lados da equação, obteremos sucesso em separar as remessas do GMRE. Colocando em prática uma iniciativa coletiva, não será algo difícil de atingir. Notas finais: Todos os sites aqui mencionados foram acessados entre setembro e novembro de 2011. Para comentários e contribuições, acesse o link contact em http://www.mohrworld.info. Quero agradecer a todas as pessoas e empresas que forneceram informações, orientação, consultoria, e comentários utilizados para a publicação deste documento. Graças à Kathalin Carvalho e Rodney Alves pela revisão da versão em português deste documento. Este documento pode ser baixado aqui: http://www.imtconferences.com/docs/mercado_paralelo_de_câmbio_no_brasil.pdf Versão em Inglês: http://www.imtconferences.com/docs/understanding_the_brazilian_parallel_market.pdf 49 Consulte o Apêndice, Factoring e o MGCR no Brasil. 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 14

APÊNDICE I Factoring e o GMRE no Brasil O Factoring se desenvolveu no Brasil devido às suas próprias características baseadas na economia e a na realidade social do país, que são muito diferentes daquelas vistas no resto do mundo. Provavelmente, o número de empresas de factoring em todo o mundo é menor do que a metade da quantidade de empresas de factoring no Brasil - de acordo com uma pesquisa realizada pela Toth Management, uma empresa da qual eu participava até recentemente, o número de empresas dessas empresas em todo o mundo é de cerca de 5.000 50 O que é Factoring? Factoring é uma forma de financiamento comercial de curto prazo no qual são comprados direitos creditórios provenientes de bens e serviços realizados a prazo. O Factor (também chamado de faturizador ) mantém o registro de vendas e realiza outras tarefas administrativas relacionadas a funções de contas a receber, recolhe as contas a receber e fornece proteção contra insolvência do devedor 51. A Convenção Diplomática de Factoring Internacional (Ottawa, 1988) 52 definiu um contrato de factoring como um contrato entre duas partes: o Cliente (Fornecedor) e o Factor. De acordo com a Convenção, a empresa de factoring deve realizar ao menos duas das seguintes funções: a) Financiamento para o fornecedor, incluindo empréstimos e adiantamento de pagamentos; b) Manutenção do registro de vendas; c) Recolhimento de recebíveis; d) Proteção contra não pagamento de devedores. O Factoring também é a prestação de consultoria de marketing e crédito, gerenciamento de risco e crédito, monitoramento de contas a receber e outros serviços. O Brasil foi uma das 53 nações signatárias da convenção de Ottawa. A atividade foi introduzida pela primeira vez no Brasil pela promulgação legislativa de 20 de janeiro de 1995 (Lei nº 8.981 art. 28, 1º, c-4 seguida pelo art. 58 da Lei nº 9.430/96). O Factoring nasceu no Brasil com a criação da ANFAC 53 (Associação Nacional de Factoring). Rogério Alessandre de Oliveira Castro, em seu livro sobre a importância do Factoring, descreve como a atividade foi criticada e contestada pelas instituições financeiras e como até mesmo o Banco Central do Brasil (BACEN) tentou torná-la uma prática ilegal (Circular nº 703, de 16 de junho de 1982). Foi somente em 1988 que o Banco Central aceitou a prática (Circular 1.359, de 3 de outubro de 1988) 54. Ambas as associações de factoring, a ANFAC e a FEBRAFAC (Federação Brasileira de Factoring), fornecem aos seus membros assistência legal e operacional, treinamento, serviços de contabilidade e fiscais, e cursos instrutivos contra lavagem de dinheiro. Há alguma ligação entre Lavagem de Dinheiro e Factoring no Brasil? A última década abrigou inúmeros artigos e discussões no Brasil acerca da maneira de controlar a lavagem de dinheiro (com base em comércio) por empresas de factoring no Brasil. Ambas as Associações Comerciais trabalham continuamente no desenvolvimento de cursos sobre lavagem de dinheiro com o intuito de aumentar a conscientização entre seus membros. Diversos especialistas de renome já publicaram livros sobre o assunto, como o Dr. Marco Antonio de Barros ( Lavagem de Dinheiro e o Factoring ) e o Dr. Arnaldo Rizzardo ("Desvios na Utilização do Factoring"). O governo brasileiro vem debatendo a questão da regulamentação de empresas de factoring há cerca de 3 anos. 55 Devido a preocupações inquestionáveis existentes entre os setores público e privado com o uso do factoring para fins de lavagem de dinheiro, o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) promulgou a "Resolução 13", que obriga todas as empresas de factoring a prestar contas diretamente ao COAF. O COAF relatou 5.684 empresas de factoring registradas em 2010 56, com 29 delas tendo sido multadas desde 2006 devido a acusações relacionadas a lavagem de 50 Ernani Desbesel: http://www.portaldofomento.com.br/artigo.php?id=46 51 Uma boa definição para o factoring no Brasil pode ser encontrada aqui: http://www.grupomrg.com.br/rioclaro/duvidas.php 52 http://www.unidroit.org/english/conventions/1988factoring/main.htm 53 http://www.anfac.com.br 54 http://www.pa.sebrae.com.br/sessoes/pse/tdn/tdn_fac_oque.asp 55 http://coad.jusbrasil.com.br/noticias/2272656/plenario-aprova-regulamentacao-da-atividade-de-factoring 56 https://www.coaf.fazenda.gov.br/downloads/relatorios-coaf/relatorioatividades2010.pdf 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 15

dinheiro. O número de relatórios recebidos pelo COAF de empresas de factoring em 2010 foi de 12.628. Os Relatórios de Transações Suspeitas (RTS) somaram 5.212 em 2009 57. O relatório do GAFI (Grupo de Ação Financeira) de 2010 resume os requisitos de empresas de factoring perante o COAF 58. A Revista do Factoring, um periódico de renome para o setor de factoring, publicou um volume especial em 2005 59 com foco na questão do Factoring e Lavagem de Dinheiro. Uma entrevista especial concedida pelo presidente do COAF, o dr. Antonio Gustavo Rodrigues, foi o destaque da publicação, além de conter artigos do dr. Marco Antonio de Barros e dr. Arnaldo Rizzardo, entre outros. Factoring, Lavagem de Dinheiro e o Grupo de Ação Financeira (GAFI) O Brasil faz parte do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (Financial Action Task Force FATF - por suas iniciais em inglês) e do Grupo de Ação Financeira da América do Sul (GAFISUD). Uma avaliação conjunta de obra do FATF-GAFISUD foi realizada em outubro e novembro de 2009 e publicada em junho de 2010 em inglês 60 e em português (Sumário Executivo) 61. O relatório da avaliação descreve e analisa as medidas contra lavagem de dinheiro em vigor no país e faz recomendações sobre como melhorar determinados aspectos do sistema. Além disso, ele também aborda os níveis de conformidade do país, com base nas recomendações do Grupo de Ação Financeira (FATF). Muitas recomendações para o controle, alteração dos requisitos de prestação de contas e necessidades de regulamentações são direcionadas especificamente a empresas de factoring: Requisitos de identificação de proprietários e diretores 62 Atenção a padrões e transações incomuns, além de requisitos de devida diligência de clientes 63 Controles Internos 64 Requisitos para licenciamento 65 Falta de mão-de-obra do COAF para o controle de empresas de factoring 66 O governo brasileiro reagiu com rapidez às recomendações do GAFI e César Almeida, coordenador de supervisão do COAF, comentou, em um artigo recente, que, em 2012, entrarão em vigor novas medidas que também se aplicarão a empresas de factoring 67. Factoring e o GRME: Com base em registros de depósitos de transferências de fundos recebidas nas contas bancárias de beneficiários de remessas, não há dúvida que empresas de factoring são usadas por OMPs para efetuar pagamentos no Brasil como parte do GMRE. As dimensões do uso desse tipo de empresa para efetuar tais pagamentos será uma tarefa a ser analisada pelo COAF e por Associações de Factoring. A análise das ramificações jurídicas e das contravenções da lavagem de dinheiro realizada pelas empresas de factoring ao efetuar tais pagamentos, assim como das entidades internacionais que as usam para canalizá-los, não faz parte do escopo deste apêndice. 57 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/13/50/45800700.pdf - Página 154 # 646 (tabela) 58 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/13/50/45800700.pdf - Página 142 # 591 59 http://www.editoraklarear.com.br/final/produtos.asp?produto=23 60 http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/13/50/45800700.pdf 61 https://www.coaf.fazenda.gov.br/downloads/sumario%20executivo%20brasil%202010.pdf 62 Página 117: 464 - Propriedade benéfica (COAF/FIs) 63 Página 101: 3.1 & Página 127: 520 - COAF/FIs - Risco de lavagem de dinheiro ou financiamento a terroristas 64 Página 263: 15 & Página 277: 3.8 - Controles Internos 65 Página 182: 789 -Empresas de factoring não estão sujeitas a quaisquer requisitos de licenciamento ou registro perante o COAF 66 Página 189: 3.10.2 - Recomendações e comentários 67 http://www.anfac.com.br/v3/informativos-noticias.jsp?id=447 2012 Hugo Cuevas-Mohr Mohr World Consulting v-1.2 - traduzido por Fernando Abreu - 16