Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Indeferimento da petição inicial / 76 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 76 Indeferimento da Petição Inicial arts. 330 e 331, CPC/15: A regra é que a petição inicial como ato processual que é deverá ser aproveitada sempre que possível, de modo que o seu indeferimento será exceção. O objetivo do legislador é salvar a petição inicial, qualquer que seja o teor e forma de apresentação, por conta do direito material que se procura resguardar. No entanto, é de se ter em mente que o indeferimento da petição inicial sana uma série de problemas. Diante de uma inicial mal arrumada e com falhas de toda ordem, às vezes, o melhor é acabar logo com ela do que tentar constantemente corrigi-la. Assim, o indeferimento serve para evitar o crescimento desenfreado de uma inicial que já nasceu errada. Se a correção não for suficiente para deixar o processo apto ao seu prosseguimento, é melhor extingui-lo de uma vez. O indeferimento da petição inicial ocorre no nascedouro/no início do processo. Antes de comunicar ao réu a existência de uma demanda contra ele proposta, o juiz ao identificar os vícios na petição inicial deve determinar que o autor a emende ou complete. Não sendo realizada esta emenda ou sendo realizada de maneira indevida, o juiz poderá determinar a realização de uma nova emenda. Caso o juiz identifique que a nova emenda não será suficiente para corrigir o vício, deverá indeferir a inicial. Hipóteses: Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
1) Inépcia art. 330, I e 1 o, CPC: 1 o Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir [falta fundamentação]; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão [falta coerência]; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. Pedido indeterminado (inciso II) -> diz respeito ao gênero do pedido. Nos casos de pedido genérico (art. 324), o pedido é determinado quanto ao gênero; a sua indeterminação diz respeito à qualidade ou quantidade do objeto desejado. Portanto, a indeterminação a que a lei faz referência no art. 330, 1 o, II, diz respeito ao gênero. Pedidos incompatíveis (inciso IV) -> se a incompatibilidade residir no procedimento de cada um dos pedidos e sendo possível adotar o procedimento comum para todos, os pedidos poderão prosseguir. Agora, quando a incompatibilidade em virtude do procedimento não puder ser corrigida, o pedido incompatível deverá ser indeferido e a parte deverá promover ação própria perante o juízo competente e de acordo com o procedimento devido. 2) Ilegitimidade art. 330, II, CPC: Parte manifestamente ilegítima -> surge questão: é ilegitimidade ad processum ou ilegitimidade ad causam? A ilegitimidade ad processum é aquela ilegitimidade para todo e qualquer processo, em virtude de regras oriundas do Direito Civil (Arts. 3 o e 4 o, CC); diz respeito às pessoas relativa e absolutamente incapazes. Já a ilegitimidade ad causam é a ilegitimidade para causa específica. A ilegitimidade ad processum é considerada um pressuposto processual e dá ensejo à extinção do processo sem resolução do mérito, com base no art. 485, IV, CPC. Pergunta: a ilegitimidade ad processum possibilita o indeferimento da inicial? Sim, caso não seja corrigida após a determinação do juiz para que a parte realize a emenda (sane o vício). No que tange a ilegitimidade ad causam, há divergência. Para quem entende que se trata de pressuposto processual (art. 485, IV c/c VI), ela possibilita igualmente o indeferimento da
inicial. Entretanto, para quem entende que se trata de análise de mérito, não dá ensejo ao indeferimento, mas sim à improcedência do pedido quando da prolação da sentença. 3) Autor carece de interesse processual art. 330, III, CPC: Assim como demonstrado no item anterior, para quem entende que o interesse processual é pressuposto processual, é possível o indeferimento da inicial, com fulcro no art. 485, IV c/c VI, CPC. Por outro lado, para quem entende que é matéria de mérito, não é possível o indeferimento, de modo que deve se dar seguimento ao processo, para, ao final, julgar improcedente o pedido. 4) Não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 art. 330, IV, CPC: Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado: I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações; II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço. 1 o Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição. 2 o Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Art. 330, 2 o Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. 3 o Na hipótese do 2 o, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados.
O indeferimento da petição inicial pode ser realizado pelo juiz de primeiro grau ou pelo Tribunal. No âmbito do Tribunal, esse indeferimento pode ser realizado pelo relator e, excepcionalmente, pelo órgão colegiado. O indeferimento da inicial pode ser total ou parcial: (i) total indeferimento de toda a petição inicial; (ii) parcial quando diz respeito a algum (ns) pedido (s) ou alguma (s) causa (s) de pedir. O juiz de primeiro grau pode indeferir a petição inicial de maneira: Total (forma tratada expressamente pelo CPC) -> apelação; Parcial -> decisão interlocutória -> agravo de instrumento (art. 1.015, XIII c/c art. 354, p. único). Do mesmo modo, o relator pode indeferir a inicial de forma: Total Ambos os casos -> decisão monocrática do relator -> agravo interno (art. 1.021, CPC/15). Parcial E, também, o órgão colegiado pode indeferir a inicial de maneira: Total Ambos os casos -> REsp, RE, Recurso Ordinário Constitucional ou embargos de divergência. Parcial CPC, Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se. Juízo de retratação a ser exercido no prazo (impróprio 1 ) de 5 dias, realizado com base no chamado efeito regressivo. 1 Não cumprido o prazo, não haverá qualquer sanção.
1 o Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. 2 o Sendo a sentença reformada pelo tribunal [afastado o indeferimento da inicial], o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334 2. 3 o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença. 2 CPC, Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.