O ENSINO POR PROBLEMATIZAÇÃO COMO PRESSUPOSTO METODOLÓGICO NA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL



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Transcrição:

O ENSINO POR PROBLEMATIZAÇÃO COMO PRESSUPOSTO METODOLÓGICO NA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL Maresa Radassa Veiga de Sousa¹, Cíntia Kelly Lima Farias², Fabrício André Lima Cavalcante³, Márcia Adelino Silva Dias 4 1, 2, 4 Universidade Estadual da Paraíba 3 Escola Estadual Dr. Elpídio de Almeida - PRATA As mudanças ocorridas na sociedade como a urbanização e a modernização, tem mudado o estilo de vida das pessoas, como também os hábitos alimentares. Sob esse ponto de vista, a educação nutricional tem se tornado um dos temas mais abordados pelos veículos de comunicação e, consequentemente, tem ganhado espaço nas escolas. Nesse sentido, os projetos de reeducação alimentar têm entrado em vigor em diversas entidades, inclusive nos estabelecimentos de ensino, como proposta de políticas públicas, a exemplo da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que apoia a disseminação de informações e estimulo a produção de campanhas educativas referentes à alimentação. Esse artigo tem como objetivo abordar a importância de temas como a educação nutricional no âmbito escolar através de atividades integradoras, entre os alunos, por meio de estratégias didáticas inovadoras desenvolvidas na Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Elpídio de Almeida. A realização das atividades faz parte do processo educativo previsto pelos bolsistas integrantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - UEPB, no ano de 2011. Foi possível identificar que o desenvolvimento de minicursos e oficinas são relevantes no processo de construção do conhecimento, na reelaboração de conceitos e, consequentemente, na mudança de opiniões e atitudes. Palavras-chave: Educação nutricional; educação em saúde; minicursos e oficinas; ensino por problematização; temas transversais. INTRODUÇÃO Dois grandes problemas encontrados na sociedade são as questões socioambientais e de saúde. O modernismo tem influenciado o estilo de vida das pessoas, inclusive o hábito alimentar, modificando-o gradualmente. A alimentação inadequada mostra-se como um dos principais causadores de doenças, pois o consumo exagerado de embalados e de lanches rápidos, a falta de tempo para cuidar do corpo e para fazer exercícios físicos, tem afetado diretamente o bom funcionamento do organismo. A falta de conhecimento sobre alimentação e nutrição, e sobre sua importância para o desenvolvimento físico e mental tem sido identificado como uma problemática para tais ocorrências. Segundo Bizzo e Leder (2005, p. 662) a promoção de saúde no ambiente escolar vem sendo fortemente recomendada por órgãos internacionais. A escola, sendo um ambiente propício para o processo educativo, deve valorizar a contextualização a fim de promover a construção de conhecimentos, a resolução de problemas cotidianos e a formação dos educandos como agentes transformadores da sociedade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem como proposta um ensino que abarque os fatos cotidianos vividos pelo aluno valorizando assim a contextualização, principalmente, as questões relacionadas ao ambiente, ao corpo e a saúde. De acordo com os PCNEM (2000, p. 94) as visões, fantasias e decisões sobre o próprio corpo e saúde, base para um desenvolvimento autônomo, poderão ser mais bem orientadas se as aprendizagens da escola estiverem significativamente relacionadas com as preocupações comuns na vida de todo jovem. A educação nutricional não deve estar limitada a ensinar sobre como se alimentar bem, mas desenvolver nos alunos a capacidade deles próprios escolherem quais decisões tomar. Segundo Assis e Nahas (1999, p. 37) a mudança de comportamento individual pode ser facilitada pela modificação dos fatores pessoais internos. Estes fatores incluem não somente a obtenção dos conhecimentos necessários e práticas apropriadas para fazer uma mudança, mas também um componente de autodesenvolvimento. Como afirmam Rodrigues e Boog: A educação nutricional pode promover o desenvolvimento da capacidade de compreender práticas e comportamentos, e os conhecimentos ou as aptidões resultantes desse processo contribuem para a integração do adolescente com o meio social, proporcionando ao indivíduo condições para que possa tomar decisões para resolução de problemas mediante fatos percebidos. (RODRIGUES e BOOG, 2006, p. 924). Para alcançar tais objetivos quanto a formação do aluno, a transmissão do conhecimento deve estar alinhada a metodologias que deem suporte aos objetivos que se deseja alcançar para cada conteúdo. Bordenave e Pereira (2010, p. 68) afirmam que a opção metodológica feita pelo professor no processo de ensino pode ter efeitos decisivos sobre a formação da mentalidade do aluno, de sua cosmovisão, de seu sistema de valores, e, finalmente, de seu modo de viver. Dependendo de sua metodologia, o professor pode contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma visão universalista ou uma visão estreita e unilateral. Sobre a metodologia mais adequada para a educação nutricional, Bizzo e Leder defendem que: A educação nutricional deve ser abordada com uma metodologia pedagógica adequada que se configure como dialogal, significativa, problematizadora, transversal, lúdica, que haja utilização de métodos construtivistas e que proporcione a construção da cidadania através do desenvolvimento do senso crítico. (BIZZO; LEDER, 2005, p. 662-663). Os minicursos e oficinas proporcionam o espaço adequado ao desenvolvimento dessas metodologias, especialmente a prática da problematização. Candau (1999) define as oficinas como espaços de construção coletiva de um saber, de análise da realidade, de confrontação e intercâmbio de experiências, de exercício concreto dos direitos humanos.

A reflexão, a contextualização, a socialização de ideias, a análise de acontecimentos, a leitura e discussão de textos valoriza, sobretudo, a liberdade de expressão, a exposição de questionamentos e a busca pela resolução de problemas. A prática educativa norteada pela pedagogia da problematização é mais adequada à prática educativa em saúde, pois promove a valorização do saber do educando, estimula-o para a transformação de sua realidade e de si mesmo, possibilitando efetivação do direito da clientela às informações, além de estabelecer sua participação ativa nas ações de saúde, assim como desenvolver habilidades humanas e técnicas no trabalhador de saúde, fazendo que este exerça um trabalho criativo. (PEREIRA, 2003, p. 1533). A problematização deve considerar o sujeito da intervenção - no contexto escolar, o professor - como ator social de transformação na busca pela transparência e aprimoramento do próprio existir humano social de seus alunos. Tendo em vista a importância da educação nutricional no contexto escolar, é totalmente viável que haja o desenvolvimento de projetos que visem a informação, a construção de conhecimentos, a reelaboração de conceitos e práticas e a intervenção por parte da escola quanto à saúde dos alunos que compõem a instituição. Por este motivo, foi desenvolvido o projeto Educação para a Saúde, com finalidade de abordar temas que tornem o conhecimento significativo quanto a resolução de problemas relacionados ao ambiente e a saúde do corpo, face as necessidades cotidianas. A educação nutricional mostra-se totalmente necessária e de grande importância para a comunidade, considerando a sua relevância para o desenvolvimento de hábitos que melhorem a vida, tanto no sentido mental quanto físico. A escola como promotora de educação deve ser um instrumento para disseminar conhecimentos que visem a mudança, a construção e o desenvolvimento de indivíduos como agentes críticos-sociais transformadores de si mesmo e da sociedade. METODOLOGIA O trabalho foi realizado na Escola Estadual de Ensino Médio e Profissional Dr. Elpídio de Almeida (PRATA), na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba, com alunos de segundo e terceiro ano, com idade entre 15 e 16 anos. A pesquisa foi desenvolvida durante o ano letivo de 2011, contemplando os pressupostos da proposta de Ensino Médio Inovador, sendo desenvolvida pelos bolsistas do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência); conforme descrita a seguir.

1. CONHECIMENTO DO CONTEXTO ESCOLAR Para que qualquer trabalho de intervenção seja iniciado é necessário conhecer o contexto da escola e dos alunos com os quais se pretende trabalhar. Isso nos foi possível durante um período de observação das aulas de biologia ministradas na referida escola. Neste período buscamos identificar as dificuldades existentes no âmbito escolar quanto a disponibilidade de recursos, a maneira de como a aula é ministrada, a aprendizagem dos conteúdos por parte dos alunos, fazendo assim um levantamento prévio do que podíamos, ou não, utilizar na idealização e planejamento da proposta de atividade intervencionista. Nesta etapa da pesquisa foi possível perceber a insuficiência de articulação dos temas presentes nos livros didáticos com a vida cotidiana dos alunos; fato que norteou a elaboração da etapa de planejamento. 2. PLANEJAMENTO A partir do que foi observado, desenvolvemos um plano de minicursos que compunha o projeto Educação Para a Saúde, o qual tratou de temas diversos: Meio Ambiente, Caatinga, Educação Nutricional e Educação Sexual. O planejamento foi realizado a partir do mês de fevereiro até o mês de junho de 2011, através de reuniões entre os bolsistas PIBID e o professor colaborador, nas quais foram discutidas as propostas de temas a serem trabalhados e a metodologia a ser utilizada. 3. INTERVENÇÃO EDUCATIVA O minicurso sobre educação nutricional baseou-se na construção de conhecimentos por meio da problematização. Havia um questionamento a ser resolvido: O que os alunos entendem por alimentação saudável e quais deles desenvolvem-na no seu dia a dia? Antes do início das atividades, foi feito o levantamento do conhecimento prévio dos alunos acerca da educação nutricional utilizando-se de uma atividade escrita contendo perguntas semiabertas. Foi possível observar que grande parte dos alunos relacionou a alimentação saudável apenas ao consumo de frutas, verduras, cereais, etc., e exclusão de alimentos gordurosos como frituras, doces e refrigerantes. Esse conhecimento prévio mostrou-se superficial, frente a amplitude do que vem a caracterizar a alimentação saudável, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Após esse levantamento, foi dado início à execução das atividades previamente planejadas. Uma forma encontrada para facilitar a interação em classe, foi o desenvolvimento de dinâmicas no início de cada aula. Os temas abordados durante o minicurso foram escolhidos mediante pesquisas em revistas de educação, sites, artigos, reportagens e livros. Os recursos utilizados foram escolhidos de acordo com a necessidade de cada tema. A fim de trabalhar um mesmo tema de maneiras diferentes, utilizamos recursos como artigos de revistas, material audiovisual, reportagens, discussões e debates, socialização de acontecimentos, entre outros, foram empregados. A combinação de atividades tanto horizontal como sequencial tem a vantagem sobre a atividade única de repetir as mesmas ideias por meios diferentes, oferecendo ao aluno a oportunidade de perceber e analisar diversos ângulos do assunto, o que contribui não somente para o enriquecimento da aprendizagem, mas também para a retenção do aprendido. (BORDENAVE; PEREIRA, 2010, p. 132). Os minicursos tiveram uma duração de 14 horas, aproximadamente, ocorrendo em sete encontros, um dia por semana, durante dois meses no turno da tarde. 4. COLETA E ANÁLISE DOS RESULTADOS A coleta dos resultados se deu através de avaliação entrevista semidiretiva, individual, contendo dez perguntas que faziam levantamento do perfil do aluno, analisavam o nível de enriquecimento do conhecimento que os mesmos apresentaram anteriormente e qual o grau de importância que os mesmos atribuíam à educação nutricional. A análise dos resultados foi realizada a partir dos pressupostos de Bardin (2011), que propõe o método de análise de conteúdo. Este método tem como objetivo inferir as respostas encontradas em um conjunto de entrevistas e o seu objetivo final é poder inferir algo, por meio da análise de palavras, a propósito de uma realidade representativa de uma população de indivíduos ou de um grupo social. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante os minicursos houve uma frequência média de dez alunos. Destes dez, oito se disponibilizaram para participação da entrevista. Das dez perguntas presentes no questionário, duas foram selecionadas para análise, pois nelas encontravam-se as

informações necessárias quanto a relevância e a atuação das atividades desenvolvidas para os alunos, participantes da pesquisa. Nos níveis de análise foram levadas em consideração as características associadas ao tema central, ou seja, a imagem que se tem sobre o tema de forma representativa, e o significado atribuído ao conhecimento adquirido. As palavras associadas encontradas nas respostas foram subdivididas em categorias. A pergunta Você acha que o minicurso sobre nutrição é importante, especialmente na vida de jovens e adolescentes? buscava do entrevistado a relevância que o mesmo atribuía ao minicurso. Dividimos as palavras ou frases associadas nas seguintes categorias: Conhecimento, saúde, valor pessoal; cujos elementos lexicais estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1: Divisão categorial dos elementos lexicais associados a importância do minicurso. Conhecimento Saúde Valor pessoal Saber Ser saudável Sentir-se bem consigo mesmo Adquirir conhecimento Ter hábitos saudáveis Tem interesse na área Aprender Educar Ter uma visão mais ampla Alimentação saudável Alimentação equilibrada Ter uma vida melhor Ao analisar as respostas levando em consideração tais divisões categoriais, tivemos o resultados que estão apresentados no Gráfico 1: 100 75 50 25 0 Balancear Equilibrar Atender as necessidades do corpo Manter o corpo saudável Gráfico 1: Representação dos resultados a partir da análise lexical quanto a importância do minicurso. Foi possível perceber que 25% dos alunos entrevistados atribuíram a importância do minicurso a valores pessoais, como a melhora da autoestima, e a identificação com a área de estudo; 75% também conferem importância ao minicurso pelo fato do mesmo

apresentar ao educando a proposta de desenvolver hábitos saudáveis garantindo, assim, uma vida melhor; 87,5% enfatizaram que a importância do minicurso está em construir e ampliar o conhecimento. A análise mostra que houve bom aproveitamento do minicurso, tanto pelo sentimento de satisfação expressada nas afirmações, como pela boa percepção dos alunos quanto a educação nutricional. A segunda pergunta Para você, o que é uma alimentação saudável? foi elaborada com o intuito de perceber em que, e de que forma o conhecimento acrescentou aos participantes. Esta foi analisada levando em consideração os elementos lexicais associados à alimentação saudável (Tabela 2): Tabela 2: Elementos lexicais associados a alimentação saudável Alimentação saudável Balancear Equilibrar Atender às necessidades do corpo Manter o corpo saudável A frequência de aparecimento destas características está representada no Gráfico 2: 100 75 50 25 0 Balancear Equilibrar Atender as necessidades do corpo Manter o corpo saudável Gráfico 2: Representação dos resultados obtidos a partir da análise lexical quanto a alimentação saudável. Ao fazer essa análise, percebemos que os três termos igualmente utilizados para caracterizar a alimentação saudável foram: balancear a alimentação, equilibrar as quantidades, atender as necessidades do corpo. Isso nos mostra que houve uma mudança de conceito, pois, como observado anteriormente, para os alunos a alimentação saudável

referia-se apenas a ingestão do que, para eles, são os alimentos saudáveis como verduras, frutas, cereais, etc. Percebemos então, que houve uma percepção mais ampliada de que a alimentação saudável, para ser completa, necessita de todos os tipos de alimentos de maneira equilibrada a fim de suprir todas as necessidades do corpo, principalmente quanto a presença de lipídeos, proteínas e carboidratos. A manutenção da saúde do corpo também é considerada como importante e dependente de uma alimentação saudável. Um dos fatores relevantes percebido durante as entrevistas foi o desejo quanto à mudança de hábitos alimentares, por entenderem a real importância de se alimentar bem. Foi possível perceber também, uma preocupação em disseminar o conhecimento adquirido para as pessoas com as quais os alunos têm algum tipo de vínculo, mostrando também como resultado o alcance quanto a formação de agentes transformadores que enxergam que a importância não se resume apenas a transformação deles próprios, mas na sua capacidade em atuar na sociedade. CONCLUSÕES É perceptível que a educação nutricional, partindo da instituição escolar, tem um papel de fundamental importância no contexto atual, visto que a escola é o ambiente ideal para a promoção da educação em todos os sentidos. O professor precisa entender que sua atuação no ambiente escolar vai além da preparação e ministração de aulas, pois o mesmo tem o poder e a capacidade de atuar como mediador na formação dos seus alunos como agentes transformadores de si mesmos e da sociedade, frente aos problemas vividos no dia a dia. Os métodos a serem trabalhados são de grade importância, principalmente quando se trata de intervenção e reelaboração conceitual. A problematização, mediada pela discussão, pelos debates e estudos de caso, é decisiva no processo de mudança de opinião e de atitudes. A construção de significados quanto ao tema trabalhado está totalmente interligado ao planejamento do professor que deve construí-los gradativamente através da organização e complementação de conteúdos. A modalidade de minicursos, associado à oficinas, possibilita o aprendizado em um ambiente adequado para desenvolver a capacidade de raciocínio, de sensibilização e a construção e ampliação de conhecimentos. É, também, uma maneira de motivar os alunos ao estudo através do uso de recursos variados que visem, principalmente, a socialização de

ideias e a oportunidade de desenvolver atividades inovadoras em sala de aula a fim de alcançar os objetivos do processo educativo. Quando se trata da prática educativa em saúde, o aluno precisa sentir-se estimulado para transformar a sua realidade e a si mesmo. A ação docente de favorecer a este quanto ao desenvolvimento de práticas e posturas que visem a mudança do meio social ao qual pertence. Os conhecimentos e habilidades resultantes deste processo proporcionam ao aluno a capacidade de tomar decisões e, assim, resolver suas próprias questões. Frente a essa necessidade, a pedagogia da problematização mostra-se relevante no processo de transformação e formação do educando como agente transformador da sociedade. REFERÊNCIAS ASSIS, M. A. A.; NAHAS, M. V. Aspectos motivacionais em programas de mudança de comportamento alimentar. Revista de Nutrição, Campinas, v. 12, n. 1, p. 33-41, jan./abr. 1999. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. BIZZO, M. L. G.; LEDER, L. Educação nutricional nos parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 5, p. 661-667, set./out. 2005. BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília: MEC, 1998. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. CANDAU, V. M. Oficinas Aprendendo e Ensinando Direitos Humanos. Educação em Direitos Humanos: Uma proposta de trabalho. Rio de Janeiro: Novameria, 1999. PEREIRA, A. L. F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 1527-1534, set-out. 2003. RODRIGUES, É. M.; BOOG, M. C. F. Problematização como estratégia de educação nutricional com adolescentes obesos. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 923-931, mai. 2006.