Produção de mudas de Coccinea grandis em função da idade e de diferentes tipos de estaquia* Thâmara Figueiredo Menezes Cavalcanti 1 ; Fábio Barufaldi De Nadai 1 ; Antônio de Amorim Brandão 1 ; Thaís Leles Advíncula 1 ; Cândido Alves da Costa 1 ; 1 UFMG - Instituto de Ciências Agrárias, Avenida Universitária, 1.000, Bairro Universitário, 39404 006, Montes Claros MG, thamara_fmc@yahoo.com.br, fabiobdenadai@hotmail.com RESUMO A reprodução assexuada por estaquia permite selecionar e manter características superiores de uma espécie vegetal. Para assegurar bom desenvolvimento das mudas é essencial que haja boa formação das raízes na estaca. Há diversos fatores que influenciam o crescimento de raízes adventícias, como: como a presença de folhas na estaca, o uso de reguladores de crescimento, idade da planta matriz, estádio de desenvolvimento do ramo e também a época do ano que as estacas são retiradas. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a produção de Coccinea grandis em função da idade e de diferentes tipos de estaquia. O experimento foi realizado na fazenda experimental do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, município de Montes Claros, Minas Gerais, no período de dezembro a fevereiro de 2011. Os tratamentos consistiram em cinco tipos de estacas: apical com folha (T1), apical sem folha (T2), mediana com folha (T3), mediana sem folha (T4) e basal sem folha (T5). Os resultados mostraram que as estacas: medianas com e sem folha e basal, aos 30 e 60 dias após o plantio na bandeja apresentaram melhor desenvolvimento das mudas de Coccinea grandis nas condições do Norte de Minas Gerais. PALAVRAS-CHAVE: Coccinea grandis (L) Voigt, hortaliças não convencionais, propagação vegetativa. ABSTRACT Seedling production Coccinea grandis according to age and different types of cuttings The asexual plants reproduction by cuttings you can select and retain superior characteristics of the species. To ensure proper development of seedling is essential to have a good root s formation in cuttings. There are several factors that influence the growth of adventitious roots, as the presence of leaves per cutting, the use of growth regulators, age of the mother plant, stage and cutting s development and the also season the cuttings are removed. The objective of this study was to evaluate the production of Coccinea grandis according to the age and different types of cuttings. The experiment was conducted at the experimental garden of Institute Agricultural Sciences, in Montes Claros, Minas Gerais, from December to February 2011. The five treatments were: apical with leaf (T1), apical without leaf (T2),
median with leaf (T3), median without leaf Coccinea grandis in Northern Minas Gerais (T4) and basal without leaf (T5). The results showed the cuttings median with and without leaf and basal cutting at 30 and 60 days after planting in trays had better seedling growth of conditions. Keywords: Coccinea grandis, underutilized vegetables, vegetative propagation. INTRODUÇÃO O termo hortaliças não-convencionais, também denominadas de sub-utilizadas, compreende as espécies olerícolas nativas e introduzidas que têm pouca ou nenhuma circulação em grandes mercados agrícolas. Normalmente, constituem as espécies regionais, cultivadas ou espontâneas e sem qualquer melhoramento genético convencional, comumente conduzido nas hortaliças convencionais (Cardoso, 1997). Apesar de serem tradicionalmente cultivadas por agricultores familiares, o consumo e a exploração de hortaliças não-convencionais são ainda muito baixos. Uma das causas é a pouca divulgação das potencialidades das espécies já estudadas e também a ausência de informações a respeito de muitas espécies usadas por esses agricultores. Há, portanto, uma grande necessidade de que as instituições de pesquisa desenvolvam trabalhos no sentido de descobrir e divulgar as potencialidades das espécies não-convencionais além de promover o aumento da produtividade e a qualidade comercial, tornando-as nova opção de plantio e renda para o agricultor familiar e ampliando o leque de produtos disponíveis para o consumidor (Padulosi et al., 2002). A Coccinia grandis (L.) Voigt, conhecida popularmente como maxixinho, é uma hortaliça nãoconvencional cultivada e mantida por agricultores familiares no Norte de Minas Gerais. Nativa da África Oriental foi introduzida como alimento em vários países da Ásia e nas Américas. A espécie é uma trepadeira, perene e herbácea, com caule glabro, raízes tuberosas e folhas alternadas e simples. Propagam-se vegetativamente ou por sementes, sendo uma planta dióica, duas plantas devem estar presentes para formar sementes viáveis (Muniappan et al., 2009). A estaquia, ou reprodução por estacas, é um meio de propagação vegetativa que garante a seleção de genótipos com características superiores do que a média da população, além de maior produção de mudas em um pequeno espaço de tempo. Mas ainda há dificuldade de induzir a produção de raízes adventícias em muitas espécies vegetais. A formação de raízes nas estacas é influenciada por fatores como: a presença de folhas, uso de reguladores de crescimento, idade da planta matriz, estádio de desenvolvimento do ramo e também a época do ano que as estacas são retiradas (Hartmann et al., 2002).
Segundo Fachinello et al. (1995), a capacidade da estaca formar raiz, diminui com o aumento da idade da planta matriz. Estacas coletadas de plantas em fase jovem apresentam maior habilidade de formar raízes do que estacas retiradas de uma planta em fase adulta, devido ao aumento de inibidores e diminuição de co-fatores enquanto a planta se torna adulta. A propagação vegetativa por estaquia é utilizada comumente na produção comercial de espécies olerícolas, visando vantagens que permitem os clones manterem as características das plantas matrizes, maior uniformidade no desenvolvimento das mudas, produtos de alta qualidade e ainda a redução de custos com sementes (Hartmann et al., 2002). O objetivo do presente trabalho foi avaliar a produção de Coccinea grandis em função da idade e de diferentes tipos de estaquia. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi conduzido na fazenda experimental do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, localizado no município de Montes Claros, Minas Gerais, no período de dezembro a fevereiro de 2011, cujo clima é classificado por Köppen como Aw, típico do semi-árido, tendo temperatura média anual 23ºC, com estações bem definidas e chuvas concentradas nos meses de novembro a janeiro e precipitação média anual de 1000 mm. Foram coletadas estacas de plantas matrizes de Coccinea grandis, com 10 meses de idade, propagadas por estaquia, sendo um material bastante uniforme, que estavam em fase reprodutiva e oriundas do banco de germoplasma de Hortaliças Não-convencionais do ICA/UFMG. Os ramos foram coletados pela manhã e acondicionados em sacos plásticos para reduzir a transpiração durante o transporte. Os tratamentos consistem nos seguintes tipos de estacas: apical com folha (T1) com 9,958 cm de comprimento e 2,409 cm de diâmetro em média, apical sem folha (T2) com 10,24 cm de comprimento e 2,56 cm de diâmetro em média, mediana com folha (T3) com 12,93 cm de comprimento e 4,19 cm de diâmetro em média, mediana sem folha (T4) com 11,52 cm de comprimento e 4,49 cm de diâmetro em média e basal sem folha (T5) com 12,925 cm de comprimento 9,135 cm de diâmetro em média. As estacas foram preparadas com dois nós, sendo efetuado um corte horizontal no ápice e em bisel na extremidade basal e as folhas foram reduzidas a metade da área foliar. Bandejas de isopor de 128 células foram preparadas com substrato comercial Bioplant, no qual as estacas foram plantadas verticalmente, uma por célula, enterrando-se 2/3 de seu tamanho. 1280 O experimento foi instalado em casa de vegetação sob nebulização intermitente. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com 5 tratamentos, 4 repetições e 10 estacas por parcela. Avaliaram-se as estacas 30 dias após o plantio.
As características analisadas foram: a) porcentagem de mortalidade, b) porcentagem das estacas enraizadas, c) porcentagem de mudas formadas (broto + raiz), d) número médio de brotações, e) comprimento médio de brotações, f) número médio das raízes mais desenvolvidas, g) comprimento médio das raízes mais desenvolvidas, h) massa fresca das brotações e da raiz i) massa seca das brotações e da raiz. Utilizou-se um paquímetro digital com precisão de centésimo de milímetro para a medição das raízes e balança digital analítica com precisão de milésimo de grama para a determinação da fitomasa. Os dados foram submetido a análise de variância e transformados para arcoseno e para quando necessário. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para as estacas avaliadas aos 30 dias após o plantio constatou-se que houve diferença significativa entre os tratamentos para todas as características avaliadas (Tabela 1) e para 60 dias após o plantio não houve diferença significativa em relação ao número de folhas e número de raízes principais. As maiores porcentagens de estacas enraizadas ocorreram nos tratamentos T4, T5 e T3, seguido do tratamento T2 para 30 dias. Paras as mudas com 60 dias de idade, as maiores porcentagens ocorreram nos tratamentos T3, T4, T5 e T2, respectivamente. A menor porcentagem ocorreu no tratamento T1 para as duas idades envolvidas. Os resultados estão de acordo com Ehlert et al. (2004), que observou uma resposta negativa da estaca apical sem folha de alfavaca-cravo. A maior porcentagem de mortalidade em mudas com 30 dias ocorreu no tratamento T1, seguida de T2. A maior mortalidade no tratamento T1 e T2 para as mudas de 60 dias. As menores porcentagens de mortalidade ocorreram nos tratamentos T4 e T5 com 0%. O maior número de brotos foi observado nos tratamentos T2, T3, T4 e T5 e o menor número de brotos ocorreu no tratamento T1 para 30 e 60 dias. Este resultado pode ser explicado de acordo com Taiz & Zeiger (2004), devido à auxina, que regula a dominância apical, inibindo o crescimento das gemas axilares. Assim, devido à remoção do ápice caulinar, favoreceu o crescimento das gemas laterais, explicando a maior brotação nas estacas sem ápice. Com relação ao número de folhas por estaca, houve uma diferença para mudas com idade de 30 para 60 dias. Para as mudas de 30 dias: a estaca basal apresentou maior número de folhas seguido das estacas medianas com e sem folhas. O menor número de folhas foi observado na estaca apical 1281 sem folha, seguido da apical com folha. O que não foi observado para as mudas de 60 dias, que não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos. Em relação ao maior comprimento de brotos foi observado no tratamento T5, seguido dos tratamentos T3 e T4 e os menores comprimentos foram nos tratamentos T2 e T1, respectivamente
para as estacas com 30 dias de idade. Já para 60 dias, T5 apresentou o maior comprimento de broto, seguido por T4, T3, T1 e T2. O tratamento T5 apresentou a maior massa fresca e seca da parte aérea, seguido dos tratamentos T3 e T4, que não apresentaram diferença estatística. Os menores foram obtidos nos tratamentos T2 e T1 para mudas com 30 dias. As estacas com 60 dias apresentaram maiores uniformidades, para massa fresca da parte aérea, o T5 teve maior destaque entre os tratamentos e para massa seca da parte aérea, os maiores resultados foram obtidos dos tratamentos 5 e 4. Os tratamentos subseqüentes não apresentaram diferença estatística entre si. Para as características massa fresca e seca da raiz os tratamentos T5, T4 e T3 apresentaram as maiores médias seguidos dos tratamentos T2 e T1 para estacas de 30 dias. Já as mudas de 60 dias de idade apresentaram maior igualdade, sendo o T5 destaque entre os tratamentos. Houve um decréscimo do T4 ao T1. Pelos resultados obtidos no presente estudo, conclui-se que as estacas medianas e as basais são as mais indicadas para a produção de mudas de Coccinea grandis nas condições do Norte de Minas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPEMIG pelo auxílio financeiro para participação ao 51º Congresso Brasileiro de Olericultura. REFERÊNCIAS CARDOSO, M.O. 1997. Hortaliças não-convencionais da Amazônia. Manaus: Embrapa-CPAA, 150p.: il. EHLERT, P.A.D., LUZ, J.M.Q., INNECCO, R. 2004. Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n1, p. 10-13, jan-mar. FACHINELLO, J.C.; HOFFMANN, A.; NACHTIGAL, J.C.; KERSTEN, E.; FORTES, G.R. de L. 1995. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado. Pelotas: Editora e Gráfica UFPel, 179p. HARTMANN, H. T.; KESTER, D. E.; DAVIES JUNIOR, F. T.; GENEVE, R. L. 2002. Plant propagation: principles and pratices. 7. ed. New Jersey: Prentice Hall. 880 p. MUNIAPPAN R; REDDY GVP; RAMAN A. 2009. Coccinia grandis (L.) Voight (Cucurbitaceae). 1282 Disponível em: http://www.wptrc.org/userfiles/file/reddy/coccinia-p175-182.pdf. Acessado em 01 de abril de 2011. PADULOSI, S; HODGKIN, T; WILLIAMS, JT; HAG, N. 2002. Underutilized crops: trends,challenges and opportunities in the 21st century. Managing plant genetic diversity. Rome, 323-338.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. 2004. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Artmed. 719 p Tabela 1. Médias da porcentagem de estacas enraizadas (EE), porcentagem de mortalidade (MOR), número de brotos (NB), número de folhas (NF), comprimento do maior broto (CB), número de raízes principais (NRP), comprimento da maior raiz (CMR), massa fresca da parte aérea (MFA), massa seca da parte aérea (MSA), massa fresca da raíz (MFA), massa seca da raiz (MSR) em estacas de Coccinea grandis, com 30 dias de idade 1 (Mean rooting porcentage (EE), mortality porcentage (MOR), buds numbers (NB), leafes numbers (NF), the largest bud lenght (CB), main roots numbers (NRP), root lenght (CMR), fresh shoot (MFA), shoot dry mass (MSA), fresh weight of root (MRF), root dry mass (MSR), in cuttigns Coccinea grandis, with 30 days of age). ICA/UFMG, Montes Claros, MG, 2011. Tratamento EE (%) MOR (%) NB NF CB (cm) NRP CMR (cm) MFA (g) MSA (g) MFR (g) MSR (g) 1 8,33 c 91,67 a 0,000 b 0,000 d 0,000 c 0,75 b 0,5250 b 0,000 c 0,000 c 0,003 b 0,000 b 2 50,00 b 50,00 b 0,665 a 1,415 c 1,6775 c 2,79 a 4,7550 b 0,1328 c 0,0136 c 0,0366 b 0,0022 b 3 75,00 a 25,00 c 0,915 a 3,290 b 8,9025 b 5,08 a 15,3150 a 0,7835 b 0,0847 b 0,2828 a 0,0230 a 4 100,00 a 0,00 c 1,0825 a 2,58 b 11,8525 b 4,33 a 8,7550 a 0,07732 b 0,0857 b 0,1731 a 0,0116 a 5 100,00 a 0,00 c 1,0825 a 2,245 a 33,215 a 5,91 a 9,2450 a 2,7054 a 0,3212 a 0,2911 a 0,0207 a CV (%) 34,29 64,76 30,91 26,917 33,092 42,347 54,603 32,567 35,434 58,656 62,207 1 As médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferiram estatisticamente entre si pelo teste Scott Knott, a 5% de probabilidade (Means followed by the same letter in the column do not differ significantly, according to Scott Knott s test p<0.05). Tabela 2. Médias da porcentagem de estacas enraizadas (EE), porcentagem de mortalidade (MOR), número de brotos (NB), número de folhas (NF), comprimento do maior broto (CB), número de raízes principais (NRP), comprimento da maior raiz (CMR), massa fresca da parte aérea (MFA), massa seca da parte aérea (MSA), massa fresca da raíz (MFA), massa seca da raiz (MSR) em estacas de Coccinea grandis, com 60 dias de idade 1 (Mean rooting porcentage (EE), mortality porcentage (MOR), buds numbers (NB), leafes numbers (NF), the largest bud lenght (CB), main roots numbers (NRP), root lenght (CMR), fresh shoot (MFA), shoot dry mass (MSA), fresh weight of root (MRF), root dry mass (MSR), in 1283 cuttigns Coccinea grandis, with 60 days of age). ICA/UFMG, Montes Claros, MG, 2011. Tratamento EE (%) MOR (%) NB NF CB (cm) NRP CMR (cm) MFA (g) MSA (g) MFR (g) MSR (g) 1 16,67 b 83,33 a 0,25b 1,375 a 7,9375 b 1,75 a 2,625 b 0,5246 b 0,0782 b 0,0437 b 0,0158 b 2 50,00 a 50,00 a 1,00 a 2,500 a 3,1625 b 4,625 a 8,3625 b 0,3584 b 0,0490 b 0,0578 b 0,0110 b 3 75,00 a 25,00 b 1,00 a 3,3325 a 9,025 b 4,5415 a 16,4150 a 1,0292 b 0,1409 b 0,1502 b 0,0319 b 4 75,00 a 0,00 c 1,00 a 3,4551 a 15,4916 b 5,665 a 11,3825 a 1,4445 b 0,3214 a 0,1095 b 0,0331 b 5 100,00 a 0,00 c 1,33 a 5,83 a 28,2742 a 6,1625 a 17,3975 a 2,9608 a 0,4046 a 0,3399 a 0,0697 a
CV (%) 32,32 44,249 10,57 25,598 68,098 31,682 37,153 61,771 67,32 73,447 73,471 1 As médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferiram estatisticamente entre si pelo teste Scott Knott, a 5% de probabilidade (Means followed by the same letter in the column do not differ significantly, according to Scott Knott s test p<0.05).