Entre as Cidades e a Serra Mobilidades, capital social e associativismo no interior algarvio



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Transcrição:

Entre as Cidades e a Serra Mobilidades, capital social e associativismo no interior algarvio

Renato Miguel do Carmo (organizador) ENTRE AS CIDADES E A SERRA MOBILIDADES, CAPITAL SOCIAL E ASSOCIATIVISMO NO INTERIOR ALGARVIO Daniel Melo Maria Manuela Mendes Renato Miguel do Carmo Sofia Santos LISBOA, 2011

Renato Miguel do Carmo (organizador), 2011 Renato Miguel do Carmo (organizador) Entre as Cidades e a Serra. Mobilidades, Capital Social e Associativismo no Interior Algarvio Primeira edição: Maio de 2011 Tiragem: 500 exemplares ISBN: 978-989-96783-8-5 Depósito legal: Composição (em caracteres Palatino, corpo 10) Concepção gráfica e composição: Lina Cardoso Capa: Nuno Fonseca Revisão de texto: Gonçalo Praça e Helena Soares Impressão e acabamentos: Publidisa, Espanha Este livro foi objecto de avaliação científica Reservados todos os direitos para a língua portuguesa, de acordo com a legislação em vigor, por Editora Mundos Sociais Editora Mundos Sociais, CIES, ISCTE-IUL, Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa Tel.: (+351) 217 903 238 Fax: (+351) 217 940 074 E-mail: editora.cies@iscte.pt site: http://mundossociais.com

Índice Indice de figuras e quadro... vii Introdução... 1 Renato Miguel do Carmo Parte I Composição socioespacial. Mobilidades e representações 1 Os perfis territoriais do Algarve... 9 Renato Miguel do Carmo e Sofia Santos 2 Mobilidade espacial e confiança... 45 Renato Miguel do Carmo e Sofia Santos 3 Entre o rural e o urbano: representações socioespaciais... 71 Maria Manuela Mendes Parte II Capital social e associativismo 4 Capital social e práticas associativas... 87 Renato Miguel do Carmo e Sofia Santos 5 Associativismo e sustentabilidade no quadro local... 115 Daniel Melo 6 E o bem comum, tem futuro?... 149 Daniel Melo 7 O rural enquanto espaço aberto, dinâmico e preso... 179 Renato Miguel do Carmo Anexo 1 Notas metodológicas... 193 Sofia Santos v

vi ENTRE AS CIDADES E A SERRA Anexo 2 Guião do questionário (São Brás de Alportel)... 201 Anexo 3 Análise de correspondências múltiplas... 215

Índice de figuras e quadros Figuras 1.1 Configuração territorial dos quatro clusters em 1991... 13 1.2 Configuração territorial dos quatro clusters em 2001... 13 1.3 Unidades territoriais da região algarvia, segundo o PROTAL (2004)... 18 1.4 População residente nas freguesias da região do Algarve, em 2001... 21 1.5 Evolução da densidade populacional, 1981-2008 (habitantes/km 2 )... 28 1.6 Evolução do número de alojamentos, 1981-2008... 29 1.7 Evolução da população empregada no sector primário em 1981-2001 (% do total da população empregada)... 31 1.8 Explorações cujo rendimento familiar depende exclusivamente da actividade agrícola (% do total), 1979-1999... 35 1.9 Produtores com actividade a tempo parcial < 25% (% do total), 1979-1999... 36 1.10 Produtores com actividade a tempo > 75% (% do total), 1979-1999... 36 1.11 Taxas de variação da população 1991-2001 em São Brás de Alportel, segundo áreas do concelho (%)... 39 1.12 Taxas de variação da população 1991 2001 em Alcoutim, por freguesia (%)... 40 2.1 Percurso migratório do inquirido (outro concelho de residência)... 51 2.2 Frequência das deslocações dentro e para fora de São Brás de Alportel, segundo o motivo... 52 2.3 Frequência das deslocações dentro e para fora de Alcoutim, segundo o motivo... 52 2.4 Deslocações para visitar familiares e amigos... 53 2.5 Deslocações para visitar lojas e centros comerciais... 55 2.6 Deslocações para fazer compras e ir ao supermercado... 55 4.1 Análise de correspondências múltiplas disposição de variáveis de caracterização nas dimensões resultantes... 105 4.2 Disposição dos perfis de capital social no plano factorial... 107 vii

viii ENTRE AS CIDADES E A SERRA Quadros 1.1 Evolução dos quatro perfis territoriais, em número de freguesias e de população residente... 15 1.2 Taxas médias de variação da população 1991-2001 por perfil sociodemográfico, total e por grupos etários (%)... 16 1.3 Caracterização das unidades territoriais segundo o PROTAL... 19 1.4 Taxas de variação da população na região algarvia, por concelho, 1981 2008 (%)... 22 1.5 Taxas de variação da população concelhia no Algarve, 2001-2008, por grupos etários... 23 1.6 Indicadores sociodemográficos (2001 e 2008), São Brás de Alportel e Alcoutim... 24 1.7 Indicadores de mobilidade, Alcoutim e São Brás de Alportel, 2001... 25 1.8 População e habitação em Alcoutim e São Brás de Alportel, 1981-2001 28 1.9 Regime de propriedade e tipo de habitação segundo a centralidade do local de residência no concelho, São Brás de Alportel e Alcoutim, 2009... 29 1.10 Variação da população empregada total e por sectores... de actividade económica 1981-1991 e 1991-2001 (%)... 31 1.11 População empregada por grupos profissionais: 1991, 2001... e 1991-2001 (%)... 32 1.12 Classes sociais em São Brás de Alportel e Alcoutim (% do total... da população empregada), 2009... 34 1.13 População agrícola, superfície agrícola utilizada (SAU) e número de produtores, 1979-1999... 35 1.14 Trabalho agrícola no agregado familiar segundo a centralidade do local de residência no concelho, 2009... 37 1.15 Indicadores sociodemográficos de São Brás de Alportel, 1991 e 2001... 39 1.16 Indicadores sociodemográficos das freguesias do concelho de Alcoutim, 1991 e 2001... 41 2.1 Experiência migratória do(a) próprio(a) e naturalidade do progenitor (mãe) (% do total de deslocações)... 51 2.2 Deslocações para visitar familiares ou amigos (% do total de deslocações)... 53 2.3 Deslocações para consumo (% do total de deslocações)... 54 2.4 Meio de transporte nas deslocações para o trabalho e para outras deslocações (%)... 56 2.5 Deslocações para lazer e por motivos de saúde (% do total de deslocações)... 57 2.6 Índice de intensidade da mobilidade segundo a idade, total e por concelho... 58 2.7 Índice de intensidade da mobilidade por nível de diferenciação geográfica... 59

ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS ix 2.8 Índice de intensidade da mobilidade de consumo segundo a idade, total e por concelho... 61 2.9 Índice de intensidade da mobilidade de consumo por nível de diferenciação geográfica... 62 2.10 Confiança nos vizinhos segundo a idade, total e por concelho... 64 2.11 Grau de conhecimento dos vizinhos, total e por concelho... 65 2.12 Regularidade na conversa com os vizinhos, total e por concelho... 66 2.13 Confiança nos vizinhos por nível de diferenciação geográfica... 66 3.1 Pontos fortes dos concelhos... 74 3.2 Primeiro ponto forte do concelho por grau de escolaridade... 75 3.3 Pontos fracos do concelho por concelho... 76 3.4 Principal ponto fraco do concelho por grupos de idades... 77 3.5 Opinião sobre o local de compras por grupo de idades e concelho (principais destinos)... 79 3.6 Opiniões sobre as principais mudanças por concelho... 80 3.7 A população mudou ( mais estrangeiros ), por grupos de idade... 81 3.8 Avaliação das mudanças por grupo de idades... 81 3.9 Avaliação das mudanças por grau de escolaridade... 82 4.1 Nível de conhecimento de dirigentes associativos ou funcionários da câmara municipal por idade... 94 4.2 Nível de conhecimento de associações e/ou de projectos por nível de escolaridade... 95 4.3 Pertença a uma associação por nível de escolaridade... 96 4.4 Referências a associações locais, por tipo de associação... 97 4.5 Referências a associações por tipo e segundo a idade e a escolaridade ( Conhece associações locais? )... 98 4.6 Tempo de pertença associativa, segundo o tipo de associação... 98 4.7 Opinião sobre a participação nas decisões locais ( Acha importante que as pessoas participem nas decisões do poder local? ), segundo a idade e a escolaridade... 100 4.8 Opinião sobre modos de participação nas decisões locais ( Acha importante participar. De que forma? )... 100 4.9 Participação através de sugestões dirigidas às autoridades locais ( Faz sugestões à câmara municipal ou junta de freguesia? ), segundo a idade e a escolaridade... 101 4.10 Forma das sugestões dirigidas às autoridades locais... 101 4.11 Conhecimento do orçamento participativo, segundo a idade... 102 4.12 Conhecimento do orçamento participativo, segundo a escolaridade... 102 4.13 Medidas de discriminação por variável... 105 4.14 Perfis de capital social por concelho de residência... 108 4.15 Perfis de capital social por nível de diferenciação geográfica... 109 5.1 Perfil e dados dos entrevistados das associações do Algarve... 119 A1.1 Composição das amostras de São Brás de Alportel e Alcoutim segundo a distribuição geográfica... 197

x ENTRE AS CIDADES E A SERRA A1.2 Distribuição geográfica da população nos concelhos de São Brás de Alportel e Alcoutim em 2001 (%)... 197 A1.3 Composição das amostras de São Brás de Alportel e Alcoutim segundo a idade... 198 A1.4 Estrutura etária da amostra segundo a distribuição geográfica (%)... 198 A1.5 Escolaridade dos inquiridos em São Brás de Alportel e Alcoutim... 199 A3.1 Análise de correspondências múltiplas: coordenadas dos centroides face às modalidades de resposta... 215 A3.2 Coordenadas dos centros dos clusters... 217

Introdução Renato Miguel do Carmo O presente livro resulta da concretização de um projecto de investigação financiado pela FCT (PTDC/SDE/69882/2006). O projecto tinha como objectivo geral o estudo aprofundado do fenómeno do associativismo à escala local, medindo a sua dinâmica intrínseca ao nível da actividade dos dirigentes associativos e também a sua relação com as comunidades locais. Dentro do conjunto heterogéneo do associativismo voluntário, ou do denominado terceiro sector, elegeram-se as associações de desenvolvimento local como objecto central do estudo. Todavia, à medida que a investigação se foi desenvolvendo, optou-se por alargar esta concepção ao espectro das associações cuja actividade contribui, de algum modo, para o desenvolvimento local. Foi nesse sentido que criámos, logo no início, na internet, o Fórum Local: associativismo e desenvolvimento local (www.forumlocal.org), que, entre outros itens, contém duas extensas bases de dados: uma sobre o conjunto das associações de desenvolvimento local do país e outra que compila mais de 600 referências bibliográficas sobre o tema do associativismo voluntário. Tendo como pano de fundo a questão do associativismo, considerou-se imprescindível efectuar uma análise sobre a composição social das populações em causa, assim como identificar as transformações sociais mais determinantes que afectam os diversos sectores da vida social. Desde logo, entendemos que o estudo pormenorizado à escala local deveria contemplar uma perspectiva comparativa a enquadrar diferentes realidades sociais e territoriais. Várias hipóteses foram sendo equacionadas, mas tornou-se claro que o estudo deveria canalizar-se para espaços considerados mais periféricos e de cariz rural. Para essa decisão contribuíram vários motivos, dos quais salientaremos dois. O primeiro tem a ver com o facto de entendermos que, nos anos mais recentes, estas realidades têm sido pouco estudadas pelas ciências sociais. O que tem contribuído, na nossa opinião, para generalizações simplistas sobre a composição e as dinâmicas sociais que se desenvolvem nos espaços rurais. Como será suficientemente demonstrado pelos diversos capítulos do presente livro, estes territórios têm sofrido profundas transformações que em certos casos detêm sentidos contraditórios. 1

2 ENTRE AS CIDADES E A SERRA O segundo motivo que levou à selecção dos dois concelhos contemplados São Brás de Alportel e Alcoutim, deriva do anterior e deve-se à constatação de que, de entre os diversos territórios rurais que ainda assim foram estudados pelas ciências sociais, o Algarve tem sido das regiões menos trabalhadas ao nível da investigação sociológica. A escolha destes municípios tentou precisamente ir ao encontro de duas realidades, que apesar de geograficamente próximas (situam-se no interior algarvio), são muito distintas do ponto de vista demográfico e socioeconómico. Por esta razão, resolvemos empreender uma análise comparativa entre estes dois espaços. São Brás e Alcoutim são dois concelhos envolvidos pela Serra do Caldeirão, que se impõe pela força da sua paisagem. Todavia, em termos sociodemográficos estamos perante duas realidades muito distintas. O primeiro, localizado a pouco mais de 20 km da cidade de Faro, tem conhecido nas últimas duas décadas um crescimento e rejuvenescimento populacional relevantes, enquanto Alcoutim assiste a um pronunciado despovoamento e envelhecimento. Este dado convenceu-nos a empreender uma análise comparativa de dois espaços rurais em transformação. Na verdade, a partir da nossa imersão nestes territórios deparamo-nos com realidades sociais complexas, que escapam a definições aprioristas assentes muitas vezes em apenas dois ou três indicadores. O ponto de partida deste livro tem assim por base três perguntas simples, mas que remetem para respostas necessariamente complexas. No fundo, o que tentamos compreender ao longo das páginas seguintes é como se movem as pessoas nestes espaços, focando as diferentes variantes da mobilidade espacial; como se relacionam, tendo em conta as componentes mais determinantes do capital social; e como se associam, considerando as modalidades da participação cívica e associativa. Do ponto de vista analítico, estas três dimensões podem ser tratadas autonomamente, mas simultaneamente encontram-se fortemente imbricadas, daí ser difícil estabelecer entre elas uma relação de causalidade. Aliás, nem esse é o nosso propósito. Almejamos sim à identificação de um conjunto de condicionantes dos múltiplos sentidos da acção social e da produção socioespacial. Estes não existem em estado puro; na verdade, são por natureza impuros, remetendo não para uma lógica de causa-efeito, mas para um sistema compósito de correlações. O conteúdo do livro orientou-se, portanto, no sentido de se estabelecer uma relação analítica entre as dinâmicas espaciais e as diversas dinâmicas sociais, nas quais a questão do associativismo surge como ponto de ligação fulcral. Relativamente às primeiras, tivemos o cuidado de partir das configurações geográficas, de modo a perceber em que medida se foram modificando ao longo dos últimos vinte anos. Como é demonstrado no capítulo inicial, estas mudanças detêm um carácter estrutural e remetem necessariamente para formas de recomposição social e económica. Por sua vez, como se depreenderá no segundo capítulo, outras densidades menos tangíveis emergem nestes espaços, para além das densidades físicas expressas no volume populacional e de povoamento. Referimo-nos em grande medida à relevância da mobilidade e da intensidade de circulação que encontramos nestas populações. Este dado revelou ser um dos mais surpreendentes do estudo. Pois se

INTRODUÇÃO 3 em termos das mudanças estruturais São Brás se afasta cada vez mais de Alcoutim, no que concerne à intensidade das mobilidades espaciais encontramos algumas similitudes inesperadas. Estas e outras tendências são tudo menos unívocas e reflectem-se inclusivamente na forma diferenciada como os indivíduos representam os espaços onde vivem, como demonstra o terceiro capítulo. Estes três capítulos compõem a primeira parte do livro e, embora ainda não foquem directamente a questão do associativismo, denotam já algumas dinâmicas de certo modo relacionadas com essa temática. Por exemplo, a questão da confiança e da solidariedade social surge articulada com os processos de transformação social. Nos primeiros capítulos, por intermédio dos dados recolhidos com base num inquérito aplicado em ambos os municípios, observamos que as formas de relacionamento se alteram em múltiplos sentidos, alguns dos quais são abordados na segunda parte. No quarto capítulo, o conceito que surge com maior prevalênciaéodecapital social. A partir das suas diversas dimensões, identificamos vários perfis relativos à participação cívica e associativa da população residente. No quinto e sexto capítulo dá-se voz aos testemunhos recolhidos nas entrevistas aos dirigentes associativos. Por intermédio de uma análise pormenorizada, vemos como estes interpretam a realidade que os envolve e, simultaneamente, enquadram a actividade associativa que desenrolam no seu quotidiano. Pretendemos assim elaborar uma perspectiva dupla sobre o associativismo e o desenvolvimento local, dando voz não só aos líderes dos grupos, mas tentando compreender a incorporação e importância da dinâmica associativa na população local. Ao longo dos seis capítulos, indagamos não uma realidade esquecida (porque periférica e relativamente marginal), mas uma realidade presente, que se impõe pelas transformações por que tem passado e pela vivacidade que incorpora. Tal como salientamos no capítulo conclusivo, estamos perante espaços vivos que, à semelhança de outros, fazem parte do mundo contemporâneo, que por isso necessitam de ser melhor conhecidos e estudados. Este livro significa um contributo nesse sentido de desvelar e aprofundar o estudo sobre realidades que escapam ao horizonte de certas agendas científicas mais distraídas. O estudo foi sendo construído recorrendo a diversos saberes e modos de fazer resultantes das diferentes formações e experiências de investigação dos membros da equipa, oriundos de diversas ciências sociais. Assim, para além do uso de diferentes metodologias designadamente a consulta de fontes estatísticas e documentais, a concepção e aplicação de inquérito, por questionário e de entrevistas aprofundadas, a análise estatística e de conteúdo, a análise cartográfica, convocaram-se diversas maneiras de interpretar e de problematizar os dados em questão. Esse exercício foi verdadeiramente enriquecedor e revelou-se fundamental para o aprofundamento da análise sociológica. 1 O recurso a uma pluralidade de abordagens metodológicas, quer em termos de recolha de dados quer ao nível do tratamento da informação (quantitativa e 1 Ver Anexo 1 Notas Metodológicas.

4 ENTRE AS CIDADES E A SERRA qualitativa), foi essencial para descortinar as diversas dinâmicas que se desenvolvem nestes espaços situados em zonas relativamente remotas. Por outro lado, esta postura interdisciplinar, cruzando diferentes abordagens científicas e metodológicas, compreende riscos que derivam, entre outros aspectos, do carácter imprevisto e experimental inerente a qualquer processo de investigação debruçado sobre realidades sociais em profunda transformação. Os dois concelhos em causa, apesar da sua localização no interior algarvio, contemplam uma heterogeneidade social e territorial assinalável. Alcoutim, embora detenha uma reduzida densidade populacional, caracteriza-se por uma bipolarização sociodemográfica em torno de duas freguesias com quase o mesmo número de habitantes (Alcoutim e Martim Longo), para além das restantes zonas rurais que representam grande parte da área do concelho. Por sua vez, São Brás de Alportel, que está a sofrer processos de urbanização intensos na vila e nas zonas envolventes, conhece, simultaneamente, um despovoamento continuado das áreas mais serranas, que, apesar de deterem uma densidade populacional baixíssima, abrangem uma parte significativa da área geográfica concelhia. No entanto, estes territórios que se esvaziam, tornando-se quase irrelevantes em termos meramente demográficos e estatísticos, ocupam uma área considerável da geografia concelhia e deveriam, na nossa perspectiva, ser devidamente contemplados pelos instrumentos de inquirição. Do ponto de vista da concepção das amostras, isto significou atribuir maior peso a determinadas áreas geográficas, provocando certos desequilíbrios no que concerne à representatividade global (ver anexo metodológico). A opção apresentou os seus riscos cujos efeitos foram amenizados pelo tratamento estatístico, designadamente por meio de variáveis de controlo que relativizam a informação em função de categorias diferenciadas e comparáveis entre si mas, por outro lado, permitiu aprofundar o estudo no que diz respeito aos diversos níveis de diferenciação geográfica, possibilitando uma análise mais fina e pormenorizada das realidades em causa. Na verdade, há uma visão que se salienta dos vários capítulos deste livro: à medida que se afunila a escala de análise (tanto geográfica como sociológica), emergem um conjunto de dinâmicas inesperadas que nos interpelam a novas leituras e modos de interpretação. Não quer dizer que tenhamos de produzir conceitos alternativos para enquadrar estes fenómenos. Pelo contrário, como evidenciam os diferentes capítulos, muitos dos conceitos que fizeram história no pensamento sociológico ainda têm sentido, desde que se reequacione os seus pressupostos teóricos à luz dos processos sociais contemporâneos. Este confronto entre a teoria e a análise empírica, que representa o cerne da actividade científica, é necessariamente um exercício em construção, no qual dificilmente se chega a um fim definitivo ou sequer conclusivo e ainda bem que assim é! Este livro, portanto, está longe de deter esse carácter definitivo e de ser um percurso de investigação que chega ao seu término. Para este percurso foram fundamentais vários contributos. Uma primeira palavra de agradecimento vai para os Professores Doutores João Ferrão e António Firmino da Costa, cujas sugestões e comentários na fase final do estudo foram preciosos para o seu aperfeiçoamento. Devemos também um agradecimento ao trabalho de Ana Nunes, bolseira de integração na investigação no âmbito do projecto,

INTRODUÇÃO 5 que se encarregou da actualização do site, entre outras tarefas. Na aplicação dos questionários em ambos os concelhos, contámos com o valiosíssimo trabalho de quatro finalistas e uma licenciada em sociologia, da Universidade do Algarve: Cheila Cadir, Nuno Custódio, Neuza Marçalo, Susana Silva e Ana Rita Teixeira. Finalmente, não podemos deixar de agradecer também a disponibilidade e generosidade dos entrevistados: Júlio Pereira, Ana Eusébio e Bruno Simão (Associação Cultural Sambrasense); Carlos Jacinto, Eduardo Palma e Fátima Sousa (Associação dos Industriais e Exportadores de Cortiça Delegação Regional do Baixo Alentejo e Algarve); José Simão (Alcance); Ruy Silva (Al-Portel); José Albuquerque e Miguel Vieira (Associação de Produtores Florestais da Serra do Caldeirão); Emanuel Sancho (Amigos do Museu de São Brás de Alportel); Telma Marques (Associação Terras do Baixo Guadiana); Priscila Soares e Margarida Correia (In Loco); e Célia Romão (Instituição de Solidariedade Social da Serra do Caldeirão).