SÍTIO ARQUEOLÓGICO ROBERTO EKMAN SIMÕES ARCHAEOLOGICAL SITE ROBERTO EKMAN SIMÕES

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Transcrição:

239 SÍTIO ARQUEOLÓGICO ROBERTO EKMAN SIMÕES Neide BARROCÁ FACCIO Juliana Aparecida ROCHA LUZ Hiuri Marcel DI BACO Resumo: Apresentamos neste artigo o Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões e a análise de sua indústria lítica. O sítio está localizado em área de terraço do Rio Paranapanema e apresentou apenas líticos lascados sobre seixo. Entre os utensílios deste sítio evidenciou-se ponta de projétil e raspador plano convexo. Palavras-Chave: Lítico lascado, Sítio Roberto Ekman Simões, Ponta de Projétil. ARCHAEOLOGICAL SITE ROBERTO EKMAN SIMÕES Abstract:This article presents Roberto Ekman Simões Archaeological Site and the analysis of its stone tool. The site, situated in a terrace area, in Paranapanema River, showed only chipped stone tool on pebble. Among the utensils from the site, it was evidenced projectile tip and convex plane scraper. Professora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente. Coordenadora do Laboratório de Arqueologia Guarani da FCT/UNESP. Líder do grupo de pesquisa Patrimônio Cultural, cadastrado no CNPq. Mestre em Arqueologia pelo MAE/USP. Membro do grupo de pesquisa Patrimônio Cultural, cadastrado no CNPq. Mestrando em Arqueologia pelo MAE/USP. Membro do grupo de pesquisa Patrimônio Cultural, cadastrado no CNPq.

240 1. INTRODUÇÃO O Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões foi diagnosticado, pela primeira vez, em janeiro de 1997. Nessa ocasião, verificou-se que seu estado de conservação era do tipo submerso e de faixa de depleção. O sítio foi localizado no baixo curso do Rio Paranapanema, na sua margem direita, a 500 metros de uma lagoa de caráter temporário, denominada Lagoa Seca, no Município de Iepê, SP. Com o levantamento realizado no ano de 1997, verificou-se a existência de peças arqueológicas dispersas numa faixa de 250 metros ao longo das margens do Rio Paranapanema. Essas peças estavam misturadas a deposições sedimentares quaternárias que compreendem areias inconsolidadas de granulação variável, argilas e seixos mascarados por depósitos coluviais. Nessa faixa de 250 metros, foram evidenciados vestígios arqueológicos. Observou-se, dessa forma, a oeste uma área de margem de 300 metros onde não foi encontrado material arqueológico. Depois dessa faixa o material arqueológico aparecia em superfície novamente. Todas as peças encontravam-se visivelmente fora da posição original, estando algumas submersas e outras depositadas na margem, pela ação das águas do Lago da Usina Hidrelétrica da Capivara. 2. METODOLOGIA Bertrand afirma que território é o espaço geográfico produzido e vivido pelas sociedades sucessivas, afirmação essa que se presta a uma contribuição às dimensões histórica e arqueológica do meio ambiente (BERTRAND, 2007, p. 120). Na área do ProjPar, onde está inserido o Sítio Roberto Ekman Simões, a análise da paisagem, ou seja do espaço geográfico produzido pelo homem foi realizada, levando-se em consideração 1) os levantamentos estimativos - registros georreferenciados do sítio e da paisagem do entorno, por coordenadas de GPS e MDTs (modelagens digitais do terreno), fotografias aéreas e imagens de satélite; 2) levantamentos avaliatórios - geoindicadores arqueológicos registrados e selecionados na fase anterior para a identificação e definição da extensão da área que será analisada, ou seja, a delimitação da paisagem constituída pelo

241 sítio e o entorno; 3) levantamentos mitigatórios - com elaboração de cartas, mapas e fotos que definem a área georreferenciada do sítio arqueológico; aqui, os objetos prospectados são analisados em correlação com a paisagem, a fim de uma resolução entre a preservação in situ ou da conservação ex situ. A tomada de decisão ocorre baseada na análise da quantidade e qualidade do material que é necessário para os estudos em laboratório (MORAIS, 1999; 2000). Dessa forma, entender a geografia e o meio ambiente de uma determinada área é um importante aspecto da pesquisa arqueológica. Permite, outrossim, que um olhar isolado no passado possa ser inserido em contexto amplo e melhor compreensível (MORAIS, 1998, p. 36). Para a realização da análise do lítico lascado, os procedimentos metodológicos utilizados foram os preconizados por Morais (1985). Esta metodologia foi criada para a análise dos materiais da área do ProjPar, tendo sido amplamente testada para o nosso trabalho. 3. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA No ano de 1997 foi realizada a primeira etapa, foram coletados, ao longo dessa faixa de 300 metros, fragmentos de cerâmica, líticos lascados e um fragmento de lítico polido. A uma distância que variou entre 1,5 a 3 metros do terraço, foi verificada uma ruptura de declive, alçada a 2,20 metros do nível do Rio Paranapanema. Em 1998, mais precisamente no mês de novembro, com a seca que ocorreu no oeste do Estado de São Paulo, o Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões apresentou líticos e poucos fragmentos de cerâmica na superfície da área antes coberta pelas águas do lago da UHE da Capivara. A foto 1, de 1998, à esquerda, mostra um desnível e, à frente, uma área erodida onde evidenciamos, em superfície, líticos lascados e poucos fragmentos cerâmicos. Do lado direito da foto, há 300 metros da cerca, está o Sítio Arqueológico Lagoa Seca, que apresenta uma ocupação guarani. No atual momento em que se encontram os estudos para as áreas em tela, não temos como fazer inferências definitivas sobre o fato de esses sítios serem ocupações distintas, ou se, realmente, correspondem a uma única área de ocupação guarani.

242 No objetivo de resolver este problema de pesquisa, foram escavados cortes de verificação na área que, a princípio, delimitamos como sendo do Sítio Roberto Ekman Simões. Foto 1: Área do Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões emersa. Ao fundo verificase a Ruptura de declive que antes (1978) estava entre 1,5 e 3 metros de distância da lâmina d'água do lago da UHE da Capivara. No ano de 1998, delimitamos a área do Sítio Roberto Ekman Simões, coletamos sistematicamente líticos lascados em superfície, fora da posição original, bem como fragmentos de cerâmica e realizamos a escavação de sondagens na área. As intervenções realizadas na área deste sítio não apresentaram nenhum vestígio em profundidade. Podemos neste momento, considerar hipoteticamente que esta seja uma ocupação de grupo caçador coletor, diferente do Sítio Lagoa Seca, que foi associado à ocupação de grupo guarani. No ano de 2006, voltamos à área do sítio para uma vistoria e coletamos sistematicamente peças, entre as quais uma ponta de projétil em superfície. Nessa ocasião, verificamos que o barranco havia sofrido uma erosão de aproximadamente 3 metros. Além disso, foram escavadas

243 sondagens na área onde anteriormente evidenciamos líticos lascados em superfície. Nenhum vestígio arqueológico foi encontrado em subsuperfície ou no barranco. Foram escavadas as sondagens nos sentidos norte-sul e lesteoeste e realizada coleta de superfície. Na figura 1 podemos verificar os pontos onde foram escavadas as sondagens e a forma como os líticos estavam dispersos em superfície, nos anos de 1998 e 2006. Figura 1: Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões. Iepê, SP. No ano de 2010, retornamos à área do sítio e verificamos que o barranco sofrera nova erosão de aproximadamente 3,5 metros, tendo

244 chegado à área de plantio de bambu que, em 1998, estava a seis metros do local (Fotos de 2 a 7). Fotos 2 e 3: Área do Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões emersa no ano de 2010. Na foto 29 verificamos que o barranco foi erodido chegando ao limite da plantação de bambu. Na foto 30, verificamos uma linha de pedras, utilizada para conter a erosão do barranco, que em 1998 estava naquela posição. Fotos 4 e 5: Área do Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões emersa no ano de 2010. Na foto 31 verificamos uma linha de pedras, utilizada para conter a erosão do barranco. Em 1998 estas pedras estavam na base do barranco. Na foto 32, verificamos o trabalho de vistoria realizado na área no ano de 2006.

245 Fotos 6 e 7: Área de terraço do Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões emersa no ano de 2010. Na foto 34, verificamos uma linha de pedras, utilizada para conter a erosão do barranco. Analisando as imagens produzidas da área do sítio verificamos um terraço e um barranco com 2,10 metros de altura. Colocamos a hipótese de que o Sítio Roberto Ekman Simões esteja associado a uma ocupação de grupo caçador-coletor e que, antes da formação do lago da UHE da Capivara, estava enterrado a uma profundidade de cerca de 2 metros. Depois, com o avanço e recuo das águas do lago, a área foi sendo solapada, deixando à mostra o material lítico lascado. A ação das águas do lago levou os sedimentos e, junto com eles, prováveis estruturas de fogueiras. Contudo, como os líticos são mais pesados que os sedimentos, a água os levou, deixando os líticos, ainda que em parte, fora da posição original. Colocamos esta hipótese porque observamos a ação da água no período de 1998 a 2010 e verificamos que, nesses 12 anos aproximadamente 7 metros de extensão do barranco de 2 metros de altura foi levado pelo movimento de avanço e recuo das águas do lago da UHE da Capivara, deixando, porém, as pedras que estavam na base do barranco. É certo que essas pedras são maiores e mais pesadas que o lítico produzido pelo grupo indígena. Contudo, muitas pedras pequenas, que haviam sido colocadas para conter o avanço da erosão do barranco, também resistiram à força da água. Consideramos os fragmentos de cerâmica misturados aos líticos na superfície do Sítio Roberto Ekman Simões como exógenos, ou seja, foram

246 transportados pela ação d água, da área do Sítio Arqueológico Lagoa Seca, tendo em vista que o Rio Paranapanema corre no sentido leste oeste, ou seja, da área do Sítio Lagoa Seca para a área do Sítio Roberto Ekman Simões. Dessa forma, esses fragmentos cerâmicos foram estudados junto com os do Sítio Arqueológico Lagoa Seca. Existe também a possibilidade de líticos da área do Sítio Lagoa Seca terem sido carregados para a área do Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões, mas não temos como saber. Portanto, apresentaremos, somente a análise dos líticos lascados, coletados de forma sistemática em superfície, durante a realização das várias campanhas na área do sítio. Analisando a distribuição da indústria lítica pela categoria objeto/tipo/suporte, percebemos a maior ocorrência de resíduos, seguidos pelos núcleos e percutores. Esses três produtos da indústria lítica correspondem a 66,35% do total de peças classificadas nesta categoria de análise. A indústria lítica desse sítio apresentou 40,38% de peças preparatórias, 18,27% de núcleos, 33,65% de acidentais e 19,23% de utilizadas (SILVA, 2002). Com relação ao córtex, pode-se constatar que 90,38% do material lítico analisado possui córtex. O córtex é resultante de alterações físicoquímicas que atingem a superfície dos objetos líticos, demonstrando que a indústria foi elaborada, tendo como matéria-prima os seixos adquiridos na área do assentamento e nas proximidades. O arenito silicificado proveniente de seixos foi a matéria-prima mais utilizada. Isso confirma o fato de o arenito ser uma das melhores rochas para o lascamento, além de mais frequente, quando analisamos a litologia das fontes de matéria-prima do Baixo Paranapanema Paulista. Além do arenito silicificado, foram utilizadas outras duas matérias-primas: quartzo e silexito. Alguns seixos apresentaram, em sua composição, mais de uma rocha (arenito silicificado com intrusões de silexito e silexito com intrusões de quartzo). A maior frequência para as peças utilizadas foi representada pelos percutores de seixo. Os artefatos e as peças utilizadas foram pouco frequentes no Sítio Roberto Eckman Simões. Do total, 73,08% representaram peças brutas e 26,92% peças talhadas ou utilizadas (Tabela 1).

247 O sítio era um local de produção, haja vista o grande número de percutores, núcleos e resíduos nele encontrados. Acreditamos que a utilização dos artefatos produzidos era efetivada, com grande frequência, fora do perímetro desse sítio, onde também estavam presentes: a lesma, a reentrância, a ponta de projétil e o chopper. A lesma, com 3,85% do total da indústria, é definida, segundo Laming-Emperaire (1967) como utensílio de bloco (ou lasca) de forma alongada, lembrando uma lesma. Tipicamente, comporta duas pontas e dois bordos ativos longitudinais, sendo que o retoque afeta toda a periferia da ferramenta. Por suas dimensões, as lesmas formam um conjunto intermediário entre as plainas e os raspadores. Os artefatos apresentaram dimensões, no comprimento, variando de 60 a 140 milímetros, com largura de 20 a 80 milímetros e de espessura 0 a 60 milímetros, o que demonstra uma certa uniformidade no tamanho dos artefatos produzidos. As peças mais pesadas, em relação aos itens da primeira triagem, são os seixos, os núcleos, os resíduos e as lascas, respectivamente (Figuras de 2 a 5 e foto 8). Objeto/Tipo/Suporte N o peças % Fragmento de lasca 1 0,95 Lasca cortical muito larga utilizada 1 0,95 Lasca muito larga 4 3,81 Lasca quase longa utilizada 1 0,95 Lasca quase longa 2 1,90 Lasca Siret 1 0,95 Lamina 2 1,90 Núcleo Esgotado 1 0,95 Núcleo 19 18,10 Percutor 14 13,33 Percutor Fragmentado 2 1,90 Fragmento de Percutor 3 2,86

248 Seixo 7 6,67 Fragmento de seixo 2 1,90 Resíduo 36 34,29 Chopper 1 0,95 Lesma 4 3,81 Reentrância 3 2,86 Ponta de projétil 1 0,95 Total: Indústria Lítica 105 100 Tabela 1: Sítio Ekman Simões, Iepê, São Paulo, Distribuição da Indústria Lítica segundo a Categoria da Análise Objeto/Tipo/Suporte. Figura 2: Peça lítica lascada (instrumento) do Sítio Roberto Ekman Simões, Iepê SP (Desenho: SILVA, 2002).

249 Figura 3: Peça lítica lascada (instrumento) do Sítio Roberto Ekman Simões, Iepê SP. Figura 4: Peça lítica lascada (instrumento) do Sítio Roberto Ekman Simões, Iepê SP.

250 Figura 5: Peça lítica lascada (instrumento) do Sítio Roberto Ekman Simões, Iepê SP. Foto 8: Ponta de projétil fragmentada. Sítio Arqueológico Roberto Ekman Simões. Iepê, SP.

251 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O sítio caracteriza-se pelo grande número de resíduos, núcleos e percutores. A quantidade de artefatos é pequena (7,69% do total de peças da indústria). A quantidade de percutores, núcleos e resíduos sugere uma grande produção lítica, que, entretanto, não aparece na área do sítio. Como relatamos anteriormente, ao que tudo indica a área pesquisada do Sítio Roberto Eckman Simões, está relacionada a uma área de produção de peças. Essas, depois de prontas, provavelmente, foram utilizadas em outro local. Dessa forma, pode-se relacionar a área estudada com uma oficina, ou seja, elegeram a área do sítio para a elaboração de artefatos, mas não para a sua utilização. É certo que peças talhadas ou utilizadas não foram encontradas em grande número no sítio; elas podem estar no entorno. Considerando a possibilidade da inundação da área ter ocasionado a retirada das peças talhadas e utilizadas da posição original, surge um questionamento: por que a inundação não retirou da mesma forma, por exemplo, os resíduos? Se considerarmos as correntes das águas do lago da UHE da Capivara trabalhando e removendo peças de suas posições iniciais, os resíduos, que possuem menor tamanho e peso seriam os primeiros a ser levados pela força das correntes, durante o período de chuvas, que é quando as comportas da usina são abertas. No entanto, os resíduos são as peças que se apresentam com maior frequência no Sítio Eckman Simões. Desta forma, a hipótese é a de que o sítio em estudo foi utilizado como oficina para produção de artefatos, os quais foram utilizados fora da área de confecção. Nessa oficina de produção o grupo utilizou para o lascamento, preferencialmente seixos de arenito silicificado. Cumpre ressaltar o uso do fogo como técnica auxiliar no lascamento da pedra. A grande maioria da peças da indústria (55,77%) apresentou marcas de fogo. Os seixos era m pré-aquecidos em fogueiras a céu aberto e depois lascados, haja vista que o fogo facilita o lascamento da rocha. Algumas vezes, o seixo foi deixado no fogo até estourar, sendo suas partes usadas pelo grupo.

252 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTRAND, G. Uma geografia transversal e de travessias: o meio ambiente através dos territórios e das temporalidades. Org.: Messias Modesto dos Passos. Maringá: ED. Massoni, 2007. FACCIO, N. B. Estudo do Sítio Arqueológico Alvim no Contexto do Projeto Paranapanema. 1992. 154 f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Ciências Área de concentração: Arqueologia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.. Arqueologia dos cenários das ocupações horticulturas da capivara, Baixo Paranapanema. 1998. 295 f. Tese de Doutorado (Doutorado em Ciências Área de concentração: Arqueologia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. MORAIS, J. L. Aerofotoarqueologia: Um Estudo de Caso no Paranapanema. Revista do Museu Paulista, (Nova Série), V.30, pág. 99-114, 1985.. A arqueologia e a fator geo. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo: MAE/USP, N 9, p. 3-22, 1999.. Perspectivas geoambientais da arqueologia do Paranapanema Paulista. Tese de Livre Docência Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade de São Paulo, 1999.

253. Piraju Guarani. Artigo de Divulgação [4 de janeiro de 1998]. Piraju, Folha de Piraju, 1998.. Arqueologia da região Sudeste. Revista da USP, São Paulo, 44: 1999/2000,