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Transcrição:

Potencial alelopático do extrato aquoso de folhas de eucalipto na germinação e no crescimento inicial de tomate André Pereira Freire Ferraz 1 ; Monalisa Alves Diniz da Silva Camargo Pinto 1 ; Luiz Ferreira Coelho Júnior 1 ; Thiago Bezerra Calado 1 ; Alysson Menezes Sobreira 1 ; Elton Carlos Pereira Vieira de Alencar Teles 1 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, Unidade Acadêmica de Serra Talhada UAST. E-mail: andrepfferraz@gmail.com. RESUMO O eucalipto tem sido citado como produtor de aleloquímicos, os quais podem inibir a germinação ou o crescimento de outras espécies vegetais que estejam no mesmo ambiente. Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito alelopático do extrato aquoso de folhas de eucalipto sobre a cultura do tomate, verificando-se características de germinação e de crescimento inicial da hortaliça. O trabalho foi executado na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foram utilizadas folhas verdes da espécie Corymbia citriodora (Hook.) K.D. Hill & L.A.S. Johnson para a preparação de diferentes concentrações de extratos aquosos [0 (água destilada), 20, 40, 60, 80 e 100%]. Foram avaliadas as seguintes características: Porcentagem de emergência, primeira contagem de emergência, índice de velocidade de emergência, tempo médio de emergência, velocidade e coeficiente de velocidade de emergência, além do número de folhas, altura da planta, comprimento de raízes e massas secas da parte aérea e de raízes. Verificou-se que o extrato aquoso do eucalipto não afetou negativamente a germinação e o vigor das sementes nem o crescimento das mudas de tomate. PALAVRAS-CHAVE: Corymbia citriodora, aleloquímicos, hortaliça, interferência. ABSTRACT Allelopathic potential of aqueous extract of eucalyptus leaves on germination and early growth of tomato Eucalyptus has been identified as producing allelochemicals which can inhibit the germination or growth of other plant species that are in the same environment. Thus, this study aimed to evaluate the allelopathic effect of aqueous extract of eucalyptus leaves on the tomato crop, verifying characteristics of germination and early growth of the vegetable. The work was performed in the Unidade Acadêmina de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco. We used green leaves of the species Corymbia citriodora (Hook.) KD Hill & L.A.S. Johnson for preparing aqueous extracts of different concentrations [0 (distilled water), 20, 40, 60, 80 and 100%]. We evaluated the following characteristics: Percentage of emergency, emergency first count, index of emergency speed, mean emergence time, emergence speed and coefficient of emergence speed, leaf number, plant height, root length and shoot and root dry mass. It was found that the aqueous extract of eucalyptus did not negatively affect germination and vigor of seeds and growth of tomato seedlings. Keywords: Corymbia citriodora, allelochemicals, vegetable, interference. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2253

O gênero Eucalyptus, pertencente à família Myrtaceae, tem sua origem na Austrália. Das folhas, extraem-se óleos essenciais empregados em produtos de limpeza, alimentares, em perfumes e em medicamentos (CI FLORESTAS, 2012), suas flores geram um excelente mel (BRACELPA, 2012) e o caule é utilizado para a extração da celulose, a ser empregada na indústria de papel (ESTANISLAU et al., 2001). Várias espécies de Eucalyptus são cultivadas em diversas partes do mundo e exploradas em grande escala há muitos anos, e no Brasil, ele é encontrado em todas as regiões (ESTANISLAU et al., 2001). A alelopatia é a supressão, por uma espécie vegetal, do crescimento e/ou do estabelecimento de outras plantas no mesmo ambiente através de agentes químicos liberados da planta ou de partes da planta, sendo estes agentes chamados de aleloquímicos (INDERJIT et al., 2011), e o eucalipto tem sido citado como produtor de compostos químicos (AFUBRA & SINDIFUMO, 2001) que inibem a germinação ou o crescimento de outras espécies vegetais através do fenômeno da alelopatia, o qual é muito diferente de uma competição direta por água, nutrientes e luz (POORE & FRIES, 1985). O efeito alelopático dependeria da liberação pela planta de um composto químico no ambiente, enquanto que a competição envolveria a remoção ou redução de um ou mais fatores ambientais, como os já citados água, nutrientes e luz (RICE, 1974), porém, no campo, os efeitos da alelopatia podem ser confundidos com os da competição. Os reflorestamentos tradicionais de eucalipto são representados por densos maciços florestais plantados normalmente com uma única espécie, entretanto, nas propriedades rurais, além dessa possibilidade de plantio, as árvores também podem ser plantadas de forma integrada com as atividades agrícola e pecuária ou, ainda, como prestadoras de serviços como quebra-ventos e cercas vivas (RIBASKI, 2003). Desse modo, por ser uma espécie utilizada em consórcios e que é citado como produtor de aleloquímicos, o eucalipto pode interferir no crescimento inicial e/ou na germinação de outras plantas cultivadas, como as hortaliças, resultando em problemas para a agricultura. Segundo Ferreira & Aquila (2000), todas as plantas produzem metabólitos secundários, que variam em qualidade e quantidade de espécie para espécie, e a resistência ou tolerância a esses metabólitos que funcionam como aleloquímicos é mais ou menos específica, Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2254

existindo espécies mais sensíveis do que outras, a exemplo do tomate, que por este motivo é bastante utilizado em biotestes de laboratório. Além da consorciação de culturas, outra importância dos estudos em alelopatia são os casos em que se trata da rotação de culturas, tendo em vista que os resíduos da espécie anterior são potenciais liberadores de substâncias químicas. Nesse sentido, Jacobi & Ferreira (1991) afirmam que os mecanismos a que são submetidos os cultivos podem não ser somente provenientes da competição, mas causados por outras plantas cultivadas ou silvestres anteriormente presentes. O tomate pode ser produzido para mesa (consumo in natura) ou para indústria. Sua versatilidade contribui para sua importância, pois o fruto pode ser consumido cru ou processado na forma de suco, molho, pasta ou desidratado, sendo boa fonte de ácido fólico, vitamina C e potássio. Dos fitonutrientes, os mais abundantes são os carotenóides, destacando-se o licopeno (antioxidante) (FONTES & SILVA, 2005). Pelo exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito alelopático do extrato aquoso de folhas de eucalipto sobre a cultura do tomate, verificando-se características de germinação e de crescimento inicial da hortaliça. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi executado na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, localizada no sertão pernambucano. Foram utilizadas folhas verdes da espécie Corymbia citriodora (Hook.) K.D. Hill & L.A.S. Johnson (antigo Eucalyptus citriodora Hook.) (ARAÚJO et al., 2012) coletadas de plantas do campus da Unidade Acadêmica. As folhas foram separadas dos ramos manualmente, removendo-se a folha inteira, inclusive com o pecíolo. Em seguida, o material coletado, juntamente com água destilada na proporção de 100 g.l -1, foi triturado em um liquidificador, resultando no extrato bruto, correspondente à concentração de 100%, que foi coado com um auxílio de uma peneira. A partir do extrato bruto foram feitas várias diluições para a obtenção de diferentes concentrações (tratamentos), 20, 40, 60 e 80% de extrato aquoso, além de 0% (somente água destilada como testemunha) e do extrato bruto, totalizando seis tratamentos. As diferentes concentrações foram colocadas em béqueres de vidro e as sementes de tomate, variedade Super Marmande (gaúcho/maçã) da Isla Sementes, foram imersas Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2255

por um período de três minutos. A semeadura foi feita em bandejas de poliestireno expandido de 200 células, colocandose uma semente por célula. Como substrato foi utilizada uma mistura de esterco caprino curtido e solo, sendo este último coletado a uma profundidade de até 20 cm no campus da universidade, na proporção de 2:1 (duas partes de esterco para uma de solo), ambos autoclavados separadamente durante uma hora a 120 ºC. Após a semeadura, as bandejas foram alocadas em viveiro, dotado de sombrite (50%), e ficaram dispostas sobre uma bancada de madeira a 1,00 m do solo. A irrigação foi realizada manualmente uma vez ao dia com regador. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com cinco repetições de 20 sementes. Para as características de germinação foram consideradas todas as células de cada repetição. Já para as características de crescimento inicial, foram coletadas e avaliadas 12 mudas, de cada repetição, da seguinte forma: cada repetição na bandeja ficou com duas fileiras de 10 células, e no momento da avaliação, iniciou-se por uma das fileiras, recomeçando em seguida na outra, até contabilizar as 12 mudas. Para avaliação do potencial alelopático do extrato aquoso de folhas de eucalipto sobre a germinação das sementes de tomate, foram analisadas as seguintes características: a) Porcentagem de Emergência (%E): computaram-se as plântulas emersas no 14º dia após a semeadura (DAS) (BRASIL, 2009), considerando como plântula emersa aquela que apresentava as folhas cotiledonares expandidas; b) Primeira contagem de emergência, conduzida conjuntamente com o teste de emergência, registrando-se a porcentagem de plântulas emersas no quinto dia após a semeadura, segundo as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009); c) Índice de velocidade de emergência, conduzido conjuntamente com o teste de emergência, registrando-se diariamente o número de plântulas emersas até a última contagem (14º dia), sendo este índice calculado conforme Maguire (1962); d) Tempo médio de emergência, conforme a fórmula apresentada por Labouriau & Valadares (1976); e) Velocidade de emergência, segundo a fórmula proposta por Edmond & Drapala (1958); e f) Coeficiente de velocidade de emergência, de acordo com Roos & Moore (1975). Quanto ao crescimento inicial, foram avaliadas, aos 35 dias após a semeadura, as variáveis: Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2256

g) Número de folhas, com base em Fontes & Silva (2005), os quais consideram como uma muda de tomate que pode ser transplantada aquela que apresenta de 4 a 6 folhas definitivas. Dessa forma, a avaliação foi realizada ao se perceber a presença de quatro ou mais folhas nas mudas; h) Altura da planta, considerando a distância a partir da superfície do substrato até o ápice da folha mais alta, em cm; i) Comprimento de raízes, em cm; j) Massas secas da parte aérea e de raízes, ambas em g.planta -1. Para isso, as mudas foram lavadas com água para remoção do substrato. Em seguida, raízes e parte aérea foram separadas com o auxílio de uma tesoura e colocadas em embalagens de papel devidamente identificadas, para então serem levadas à estufa a 65 C por 72 horas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05) por meio do software estatístico SISVAR 5.3 (FERREIRA, 2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferença significativa (P<0,05) entre os tratamentos para as variáveis de germinação estudadas (Tabela 1). Portanto, não houve efeito alelopático do extrato sobre a germinação da hortaliça, apesar de o tomate ser, segundo Wandscheer & Pastorini (2008), uma das espécies consideradas indicadoras de atividade alelopática. Porém, Ferreira et al. (2007), avaliando o efeito de extratos etanólicos de Eucalyptus citriodora Hook. sobre a germinação de alface (Lactuca sativa), verificaram que a aplicação do extrato na concentração de 2,00% promoveu redução significativa da velocidade de germinação quando comparada com os demais tratamentos (0; 0,25; 0,50 e 1,0%), devendo-se salientar que os referidos autores submeteram as folhas do eucalipto a secagem em estufa e posteriormente as trituraram e as expuseram a três extrações sucessivas com etanol, o que pode ter aumentado a liberação de possíveis compostos químicos os quais afetaram negativamente a velocidade de germinação. Isso leva a concluir que a ação alelopática também está relacionada a fatores como: modo de preparo do extrato, forma de aplicação, tempo de exposição das sementes ao extrato e a concentração do extrato, além de os resultados variarem de espécie para espécie, pois algumas apresentam maior sensibilidade aos compostos alelopáticos, como já citado. Para Ferreira & Aquila (2000), muitas vezes não se percebe o efeito alelopático sobre a Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2257

germinabilidade (ou porcentagem de germinação), mas sobre a velocidade de germinação ou outro parâmetro do processo. Em relação à primeira contagem de emergência, ao quinto dia após a semeadura, não houve germinação (Tabela 1). Os efeitos alelopáticos podem ser observados tanto sobre a germinação quanto sobre o crescimento da plântula, entretanto, a germinação é menos sensível aos aleloquímicos do que o crescimento inicial (JACOBI & FERREIRA, 1991; FERREIRA & AQUILA, 2000; FERREIRA & BORGUETTI, 2004), desse modo, no presente trabalho, também foram avaliadas características de crescimento inicial. Porém, também não houve interferência do extrato aquoso das folhas do eucalipto sobre o crescimento das plântulas de tomate (Tabela 2). Já Yamagushi et al. (2011), estudando o potencial alelopático de folhas secas de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) sobre a germinação de sementes e o crescimento inicial de plântulas de tomate (Lycopersicum esculentum Miller), entre outras espécies, verificaram que o eucalipto é potencialmente alelopático, por reduzir e/ou inibir a germinação, o IVG e o crescimento inicial do sistema radicular e da parte aérea. Portanto, uma possível explicação para a não ocorrência de efeito alelopático sobre a germinação e o crescimento inicial do tomate seria o tempo de exposição a que foram submetidas as sementes às diferentes concentrações dos extratos (apenas 3 minutos). Nas condições em que foi realizado este trabalho, o extrato aquoso do eucalipto (Corymbia citriodora (Hook.) K.D. Hill & L.A.S. Johnson) não afeta negativamente a germinação e o vigor das sementes nem o crescimento das mudas de tomate. REFERÊNCIAS AFUBRA & SINDIFUMO. 2001. Manual de reflorestamento: Preservar o meio ambiente é compromisso de todos. Santa Cruz do Sul, 20p. (Boletim Técnico, 20). ARAÚJO HJB; MAGALHÃES WLE; OLIVEIRA LC. 2012. Durabilidade de madeira de eucalipto citriodora (Corymbia citriodora (Hook.) K.D. Hill & L.A.S. Johnson) tratada com CCA em ambiente amazônico. Acta Amazonica 42: 49-58. BRACELPA (Associação Brasileira de Celulose e Papel). 2012. 22 de maio. Florestas Plantadas de Eucalipto e Pinus: a solução verde. Disponível em http://www.bracelpa.org.br/bra/saibamais/florestas/index.html/. BRASIL. 2009. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, 399p. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2258

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Tabela 1. Dados médios* para emergência (%), primeira contagem (PC), índice de velocidade de emergência (IVE), tempo médio de emergência (TME), velocidade de emergência (VE) e coeficiente de velocidade de emergência (CVE) de sementes de tomate submetidas a diferentes concentrações do extrato aquoso de eucalipto (Corymbia citriodora) (Average data for the emergency (%), first count, index of emergence speed, mean emergence time, emergence speed and coefficient of emergence speed of tomato seeds exposed to different concentrations of aqueous extract of eucalyptus (Corymbia citriodora)). Serra Talhada PE, UAST/UFRPE, 2012 Concentrações Emergência PC IVE TME VE CVE % % - Dias - - 0% 39 a 0,00 a 0,67 a 2,58 a 11,75 a 8,51 a 20% 34 a 0,00 a 0,59 a 2,31 a 11,43 a 8,76 a 40% 38 a 0,00 a 0,65 a 2,35 a 11,71 a 8,55 a 60% 40 a 0,00 a 0,67 a 2,41 a 12,01 a 8,34 a 80% 39 a 0,00 a 0,68 a 2,30 a 11,56 a 8,65 a 100% 39 a 0,00 a 0,67 a 2,34 a 9,47 a 8,58 a CV (%) 29,58 0,00 28,83 30,16 19,41 3,63 *Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Means followed by the same letter in the column do not differ significantly according to Tukey s test at 5% probability). Tabela 2. Dados médios* do número de folhas, altura de planta, comprimento de raízes, massa seca da parte aérea e de raízes de mudas de tomate após submissão das sementes a diferentes concentrações do extrato aquoso de eucalipto (Corymbia citriodora) (Average data of the number of leaves, plant height, root length, shoot dry mass and root of tomato seedlings after submitting seeds to different concentrations of aqueous extract of eucalyptus (Corymbia citriodora)). Serra Talhada PE, UAST/UFRPE, 2012 Concentrações Número de folhas Altura de planta Comprimento de raízes Massa seca da parte aérea Massa seca de raízes - cm cm g.planta -1 g.planta -1 0% 2,33 a 5,55 a 5,69 a 0,044 a 0,012 a 20% 2,68 a 6,14 a 5,56 a 0,049 a 0,013 a 40% 2,70 a 5,86 a 5,30 a 0,049 a 0,010 a 60% 2,64 a 6,32 a 5,25 a 0,053 a 0,013 a 80% 2,44 a 6,03 a 5,29 a 0,049 a 0,011 a 100% 2,50 a 5,86 a 5,79 a 0,047 a 0,012 a CV (%) 23,14 13,91 12,51 24,89 31,40 *Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Means followed by the same letter in the column do not differ significantly according to Tukey s test at 5% probability). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2260