EFEITO ALELOPÁTICO DE Artocarpus Heterophyllus NA GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO DE Lactuca Sativa L.

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1 EFEITO ALELOPÁTICO DE Artocarpus Heterophyllus NA GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO DE Lactuca Sativa L. Andeise Cerqueira Dutra (1) ; Rozimar de Campos Pereira (2) (1) Estudante, UFRB/Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; dutra.andeise@gmail.com; (2) Professor, UFRB/Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, rozimar@ufrb.edu.br. RESUMO A jaqueira (Artocarpus heterophyllus), pertencente à família Moraceae, tem sido considerada uma espécie invasora no Brasil. É possível observar que em áreas onde ocorre a incidência desta espécie há um número inexpressivo de plântulas de outras espécies, supondo que há algum tipo de efeito alelopático. O presente trabalho objetivou avaliar a germinação de sementes e crescimento inicial de plântulas de Lactuca sativa L. (Asteraceae) sob efeito de diferentes extratos de Artocarpus heterophyllus, averiguando seu potencial alelopático. O experimento utilizou o extrato de folhas de jaqueira em concentrações de 100, 50, 25 e 0%, para os tratamentos utilizando folha jovem, madura, senescente e seca. Foi observado que o tratamento utilizando folha senescente apresentou os piores resultados, demonstrando um forte efeito inibitório na germinação. Em contrapartida, os tratamentos utilizando folha jovem na concentração de 25% apresentaram os melhores resultados, inclusive superiores ao da testemunha. Dessa forma, os dados obtidos apresentam características importantes na análise de futuros bioensaios e no controle de invasão desta espécie. Palavras-chave: Alelopatia, germinação, crescimento. INTRODUÇÃO A invasão por espécies exóticas pode ocasionar a substituição de espécies nativas e alterar o funcionamento dos ecossistemas, se tornando uma das principais ameaças à biodiversidade em escala global atualmente (MMA, 2006; PRIEUR-RICHARD & LAVOREL, 2000 apud MAGALHÃES, 2013). Segundo a definição de Rice (1984) Alelopatia é qualquer efeito direto ou indireto danoso ou benéfico que uma planta (incluindo microorganismos) exerce sobre outra pela produção de compostos químicos liberados no ambiente. Os metabólitos primários e secundários liberados no ambiente pelos vegetais podem ocorrer por exsudação, lixiviação, decomposição de resíduos vegetais e volatilização (RICE, 1984), seja através de folhas, raízes e serapilheira. Os estudos realizados sobre os efeitos desses compostos constituem o campo da alelopatia. Se uma planta pode reduzir o crescimento de outras plantas pela liberação de compostos químicos no solo, isso pode ter como consequência a maior chance de acesso à luz, à água e aos nutrientes e, portanto, propiciar, sua maior adaptação evolutiva. Apesar dos estudos na área, a importância da alelopatia em ecossistemas naturais ainda é controversa. Muitos cientistas duvidam de que a alelopatia seja um fator significativo na interação planta-planta, pois as evidências sobre tal fenômeno são de difícil obtenção. Entretanto, apesar da falta de evidências, a alelopatia tem atraído grande interesse devido às suas aplicações potenciais na agricultura. A diminuição da produtividade causada por plantas invasoras ou por resíduos da

2 agricultura anterior pode, em alguns casos, ser resultado da alelopatia. Uma perspectiva interessante é o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para serem alelopáticas às invasoras (TAIZ & ZEIGER,2004). A jaqueira (Artocarpus hererophyllus) pertence à família Moraceae, originária da Índia. Ela foi trazida para o Brasil durante o período de colonização e se adaptou as condições climáticas e ambientais, sendo facilmente encontrada principalmente no sul da Bahia. No entanto, a espécie tem sido considerada invasora e segundo Abreu (2003), algumas espécies nativas podem estar sendo excluídas por esta invasão, na região da Mata Atlântica. Observa-se muito comumente que em áreas de incidência de jaqueira, há um número inexpressivo de plântulas de outras espécies, levando a supor que há algum efeito de ação alelopática (ABREU, 2003). A Lactuca sativa L. (alface), é considerada uma planta indicadora de atividade alelopática, por apresentar germinação rápida e uniforme, e um grau de sensibilidade que permite expressar os resultados sob baixas concentrações das substâncias alelopáticas (GABOR & VEATCH, 1981 apud ALVES et al., 2004). O presente estudo teve como objetivo avaliar a germinação de sementes e crescimento inicial de plântulas de Lactuca sativa L. (Asteraceae) sob efeito de diferentes extratos de Artocarpus heterophyllus, averiguando seu potencial alelopático, por meio de bioensaios laboratoriais. MATERIAL E MÉTODOS O material utilizado para os extratos foi coletado de árvores de Jaqueira, localizados no campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), no município de Cruz das Almas, BA, sendo utilizadas folhas jovens, maduras e em estágio de senescência da espécie em estudo, já as folhas secas foram coletadas no solo sob a copa das árvores. Tratamentos e amostragens Para a formulação dos extratos, foi utilizado água destilada como solvente em uma concentração de 100 ml para cada 25 e 50 gramas de folhas jovens, secas e senescentes na proporção de 1:4 ou 25% e 1:2 ou 50%, respectivamente; e 100 ml para cada 50 e 100 gramas de folha madura, na proporção de 1:1 ou 100% e 1:2 ou 50%, respectivamente. Sendo assim, foram obtidos dez tratamentos: Folha jovem, senescente e seca nas concentrações de 1:4 e 1:2, folha madura nas concentrações de 1:2 e 1:1 e duas testemunhas, no qual só utilizou água destilada. Foram instalados quatro repetições para os tratamentos, com exceção da testemunha que obteve duas repetições com e sem aplicação de água destilada. O experimento foi instalado em bandejas de alumínio, utilizando-se areia previamente autoclavada, sendo utilizadas 500 gramas de areia para cada 100 ml de extrato em cada bandeja, contendo 25 sementes de alface em cada repetição. O experimento manteve-se em laboratório, sendo regadas diariamente. Análise Três dias após a semeadura, foi iniciada a contagem das sementes germinadas, durante um período de onze dias da germinação, totalizando-se quatorze dias do experimento. As sementes foram avaliadas por meio dos seguintes testes: Primeira contagem de germinação conduzida juntamente com o teste de germinação, computando-se a porcentagem de plântulas normais no terceiro dia após a instalação do ensaio, conforme recomendado por Brasil (1992). Germinação realizado no décimo quarto dia após a semeadura, por ocasião do final do tratamento, considerando-se germinadas as sementes que emitiram raiz primária. Os resultados foram expressos em porcentagem média com base no número de plântulas normais (BRASIL, 1992). Índice de velocidade de germinação calculado pelo somatório do número de sementes

3 germinadas a cada dia, dividido pelo número de dias decorridos entre a semeadura e germinação, de acordo com a fórmula de Maguire (1962). Tempo médio de germinação obtido através de contagens diárias das sementes germinadas até o décimo dia após a semeadura e calculado através da formula proposta por Labouriau & Valadares (1976) apud Oliveira & Gomes-Filho (2010), sendo os resultados expressos em dias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após o terceiro dia da semeadura, as primeiras plântulas começaram a emergir, tendo a germinação estendendo-se até o 14º dia. Alguns acessos apresentaram germinação mais acelerada, como os tratamentos com folha jovem (TRAT I) com concentração de 50% e folha seca (TRAT IV) com proporção de 1:4, que no primeiro dia de contagem já apresentaram as primeiras plantas emergidas (Figura 1). Outros tratamentos só apresentaram germinação no 5º dia após a semeadura, como o caso do tratamento utilizando folhas senescentes (TRAT II) e as testemunhas. Figura 1 - Germinação de sementes de Lactuca sativa no primeiro dia de contagem (%). O comportamento germinativo das sementes de Lactuca sativa, sob os diferentes tipos de tratamentos, ao longo dos 14 dias de semeadura, é apresentado na Figura 2. É possível observar, que o tratamento com folhas jovens (TRAT I) na concentração de 25% de extrato, apresentou o melhor grau de germinação próximo ao atingido pela testemunha, enquanto todos os tratamentos utilizando folhas senescentes obtiveram baixos resultados. Figura 2 Germinação de sementes de Lactuca sativa no décimo quarto dia após semeadura (%).

4 Para o índice de velocidade de germinação (IVG), foram observadas diferenças entre os tratamentos, sendo o valor médio para o IVG foi de 3.39, variando entre 0.82 para o tratamento II à 1:2 e a 5.64 para o tratamento IV à 1:2 obtendo os melhores resultados, aproximando-se do tratamento I, com 5.36 de IVG. A média foi de 0.77 para o desvio padrão (Tabela 1). Tabela 1 Índice de Velocidade de Germinação (IVG), Tempo Médio de Germinação (TMG) e Desvio Padrão do IVG (DP IVG) verificados em sementes de Lactuca sativa no período de 14 dias da semeadura. Tratamentos IVG TMG DP IVG Testemunha Testemunha TRAT I - 25% R TRAT I - 25% R TRAT I - 50% R TRAT I - 50% R TRAT II - 25% R TRAT II - 25% R TRAT II - 50% R TRAT II - 50% R TRAT III - 50% R TRAT III - 50% R TRAT III - 100% R TRAT III - 100% R TRAT IV - 25% R TRAT IV - 25% R TRAT IV - 50% R TRAT IV - 50% R Média Entre o número de plântulas germinadas, o tratamento I à 1:4, foi o que obteve resultados superiores ao da testemunha, totalizando 20 sementes germinadas de 25 para a repetição dois, enquanto o tratamento II apresentou os piores resultados, com no máximo oito semente germinadas na repetição dois (Figura 3). Figura 3 - Plântulas de Lactuca sativa germinadas ao final do tratamento.

5 Os resultados indicam que os compostos presentes nas folhas da Artocarpus heterophyllus apresentam potencial efeito alelopático na germinação das sementes de Lactuca sativa L. Esses resultados foram similares às análises de outros autores, que detectaram efeitos semelhantes em Dalbergia nigra, Tabebuia chrysotricha, Cordia superba e Lactuca sativa (MAGALHÃES, 2006). Favorecendo a teoria de invasão desta espécie, através da influencia de sua ação alelopática. CONCLUSÕES Concluiu-se que o extrato aquoso das folhas da Jaqueira possui efeito alelopático uma vez que provocou diminuição na germinação de sementes de alface, assim como o índice de velocidade de germinação também foi afetado pelos extratos testados. Entretanto, a fim de obter maiores informações a respeito dos efeitos alelopáticos da espécie em estudo, são necessários amplos estudos em condições naturais e considerando uma maior variedade de espécies sensíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, R.C.R. Estrutura de populações de uma espécie exótica na Mata Atlântica: o caso da potencial invasora Artocarpus heterophyllus L. (jaqueira) no Parque Nacional da Tijuca RJ. Departamento de Historia Natural, UNIRIO, f. Monografia (Bacharel em Ciências Biológicas). ALVES, M.D.C.S., MEDEIROS-FILHO, S., INNECCO, R., & TORRES, S. B. Alelopatia de extratos voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. Pesquisa agropecuária brasileira, 39(11), BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, p. FABRICANTE, J.R., ARAÚJO, K.C.T., ANDRADE, L.A., FERREIRA, J.V.A. Invasão biológica de Artocarpus heterophyllus Lam. (Moraceae) em um fragmento de Mata Atlântica no Nordeste do Brasil: impactos sobre a fitodiversidade e os solos dos sítios invadidos. Acta Bot. Bras., Feira de Santana, v.26, n.2, p MAGALHÃES, L.M.S.; BRAGA, J.M.A.; MORAES, L. F. D.. Espécies invasoras em unidades de conservação: ação alelopática de jaqueiras em três espécies arbóreas da Mata Atlântica. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais e Florestais). MAGUIRE, J.D. Speeds of germination-aid selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, Madison, v.2, p , OLIVEIRA, A.B., & GOMES-FILHO, E. Efeito do condicionamento osmótico na germinação e vigor de sementes de sorgo com diferentes qualidades fisiológicas. Revista Brasileira de Sementes, Londrina, 32(3), RICE, E.L. Allelopathy. London, Academic Press, TAIZ, L. & ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3.ed. Porto Alegre, Artmed, 2004.