Padrões de Casamento entre os Imigrantes



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Transcrição:

Padrões de Casamento entre os Imigrantes Ana Cristina Ferreira cristina.ferreira@iscte.pt Madalena Ramos madalena.ramos@iscte.pt Congresso Português de Demografia

Contextualização O fenómeno da imigração assumiu em Portugal, no pós 25 de Abril de 1974, uma importância crescente, tendo passado de um país de emigração para um país de imigração. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) o número de estrangeiros residentes em Portugal passou de 50.750 em 1980 para 409.185 em 2006 (acréscimo de 706,3%). Este crescimento do número de imigrantes em Portugal tem, consequências no âmbito da nupcialidade. Dados do INE relativos aos casamentos ocorridos entre 2001 e 2005, indicam que nas uniões em que pelo menos um dos cônjuges nasceu fora de Portugal, se registou um aumento de 107,8%, passando de 2063 para 4287 no quinquénio. 2

Com este trabalho pretende-se fazer uma análise quantitativa deste fenómeno com base nos dados disponibilizados pelo INE para 2005. Pretende-se responder às seguintes questões: i) Os imigrantes tendem a casar com indivíduos da mesma naturalidade (endogamia)? ii) Existem níveis de endogamia semelhantes entre os vários grupos de naturalidade? iii) Pode falar-se numa prevalência da homogamia educacional e etária nos casamentos entre os imigrantes? Assistir-se-á a uma tendência para casamentos entre iguais, quer seja em idade quer seja em termos de recursos educacionais? iv) Sendo a educação uma possível via para a integração dos imigrantes, pois possibilita contacto com indivíduos oriundos de outros meios socioculturais, potenciará ela as uniões exogâmicas? 3

Dada a sua importância no total de imigrantes em Portugal, escolhemos cinco colectivos de estrangeiros como representantes dos antigos e dos novos fluxos de imigração: Cabo-Verde, Angola e Guiné-Bissau, como exemplo das comunidades imigrantes mais antigas; Brasil, que corresponde a um fluxo de imigração mais recente do que os anteriores; Ucrânia, como exemplo das novas correntes imigratórias. 4

Quem casa com quem? Mulheres Atendendo aos países de onde são originários os cônjuges, verificamos que as mulheres vindas dos países africanos de língua oficial portuguesa são mais endogâmicas do que as restantes. A maioria casa com homens da mesma naturalidade. Esta situação é particularmente acentuada no caso das guineenses (81,4%). As mulheres africanas que não casam dentro do grupo da mesma origem, privilegiam o casamento com portugueses. Quanto às brasileiras e ucranianas, a situação é distinta e casam maioritariamente com portugueses, seguindo-se aquelas que escolhem para cônjuge um indivíduo da sua naturalidade. 5

Homens Nos homens africanos encontramos uma situação é idêntica à das mulheres, sendo também aqui o casamento dentro do mesmo grupo a situação mais frequente (no entanto com valores mais baixos do que os registados nas mulheres); Os angolanos que não casam dentro do grupo de origem, casam preferencialmente com brasileiras e só depois com portuguesas; os cabo-verdianos e os guineenses privilegiam o casamento com portuguesas. Os brasileiros, tal como as suas conterrâneas, casam mais com portuguesas. Os ucranianos dividem-se entre uma parceira da mesma naturalidade e uma portuguesa, com um pequeno predomínio da primeira situação. Quanto aos portugueses envolvidos em casamentos com cônjuges destas naturalidades em estudo, preferencialmente unem-se a brasileiros (87,4% no caso dos homens e 71,3% no caso das mulheres). 6

Em que medida estas diferenças encontradas na propensão para a exogamia podem ser explicadas por características individuais, como a naturalidade, a nacionalidade, as habilitações literárias ou a idade ou por características do casal, como sejam a homogamia educacional ou etária? Foram aplicados modelos de regressão logística para responder a esta questão: VD exogamia: variável dicotómica que corresponde à formação de um casal cujos membros não têm o mesmo país de naturalidade, com duas categorias (1=Sim; 2=Não); VIs Naturalidade, nacionalidade, habilitações, escalão etário, homogamia educacional e etária. 7

As variáveis explicativas (VIs) entraram todas na regressão como variáveis dicotómicas ou dummy de forma a que a obtenção dos odds ratio para cada uma dessas variáveis permitisse a comparação directa com o grupo de referência, mas também entre elas pela comparação da magnitude das diferenças face ao grupo de referência. Entraram na regressão progressivamente, em três blocos: num primeiro bloco incluímos apenas as variáveis explicativas que diziam respeito às características individuais, país de naturalidade e nacionalidade (modelo 1); num segundo bloco entraram as variáveis habilitações e escalão etário (modelo 2); e, por fim, num terceiro bloco as variáveis referentes ao casal, homogamia educacional e homogamia etária (modelo 3). Construíram-se modelos independentes por sexo, dada a percepção de que os comportamentos eram distintos. 8

O primeiro bloco de modelos permite analisar diferenças na propensão para realizar um casamento exogâmico tendo em conta apenas características individuais que se prendem com a naturalidade e nacionalidade; o segundo bloco de modelos, permite analisar essas diferenças controlando outras características individuais, de carácter mais sócio-demográfico, como a idade e as habilitações; o terceiro bloco de modelos permite analisar essas diferenças controlando características dos casais (homogamia educacional e etária). Os odds ratio interpretam-se como a mudança na propensão para casar fora do grupo de origem associada a cada variável independente; valores superiores a 1 significam uma tendência crescente para a exogamia, enquanto que os valores inferiores a 1 remetem para uma tendência decrescente - menor propensão para estar numa união exogâmica. 9

Tabela 1 Propensão para o casamento exogâmico nas mulheres Variáveis explicativas Características individuais M1 (odds ratio) Mulheres M2 (odds ratio) M3 (odds ratio) País origem Guiné-Bissau (ref.) - - - Angola 7,37 *** 7,60 *** 8,27 *** Brasil 26,09 *** 27,55 *** 29,82 *** Cabo-Verde 3,22 *** 3,63 *** 3,72 *** Ucrânia 14,39 *** 12,88 *** 13,56 *** Nacionalidade Portuguesa (ref.) - - - Estrangeira 2,86 *** 3,22 *** 2,93 *** Habilitações Até Básico 1º ciclo (ref.) - - Básico 2º ciclo 1,90 ** 1,82 * Básico 3º ciclo 2,20 ** 1,97 ** Secundário 1,67 ** 1,42 Superior 2,48 *** 1,93 * Escalão etário < 30 anos (ref.) - - 30-39 anos 1,49 ** 1,54 ** 40-49 anos 2,29 *** 2,36 *** >= 50 anos 1,75 1,70 Características do casal Homogamia educacional Habilit.Homem = Habilit.Mulher (ref.) - Habilit.Homem > Habilit.Mulher 1,80 ** Habilit.Homem < Habilit.Mulher 2,70 *** Homogamia etária Idade Homem = Idade Mulher (ref.) - Idade Homem > Idade Mulher 1,20 Idade Homem < Idade Mulher 0,94 10

Modelo 1: Mulheres Em qualquer um dos grupos de naturalidade analisados as mulheres têm associadas maiores possibilidades de realizarem um casamento exogâmico do que as mulheres guineenses (odds ratios superiores a 1 em todos os casos), sendo particularmente elevadas as diferenças no caso das brasileiras e das ucranianas, que registam uma propensão para o casamento exogâmico, respectivamente, 26,09 vezes e 14,39 vezes mais elevada dos que as guineenses. As mulheres cabo-verdianas são as mais semelhantes às guineenses. Todavia, apresentam 3,22 vezes mais chances de casar fora do grupo de origem do que estas. A propensão para casar fora do grupo das mulheres que não têm nacionalidade portuguesa é 2,86 vezes maior do que para aquelas que têm nacionalidade portuguesa. 11

Modelo 2: Controlando a idade e as habilitações, os odds ratio aumentam um pouco em todas as naturalidades, com excepção da Ucrânia, onde apesar de se manter elevado passa a ser de 12,88. Em contrapartida, aumenta a possibilidade de casar fora do grupo para as mulheres que têm nacionalidade estrangeira (3,22 vezes mais do que para as que têm nacionalidade portuguesa). As mulheres mais habilitadas têm maior propensão para o casamento exogâmico do que as que têm habilitações de nível mais baixo, com valores que variam entre 1,67 vezes mais no caso daquelas que têm habilitações de nível secundário a 2,48 vezes mais para que possui habilitações de nível superior. 12

Quanto às idades, são as mais jovens que tendem a casar mais dentro do próprio grupo. Em todos os casos os odds ratio são superiores a 1 o que significa que, comparativamente com o escalão etário mais baixo (< 30anos), em todos os outros grupos de idade existe uma maior chance de casar com alguém que não tem a mesma naturalidade, sendo as mulheres com idades entre os 40 e os 49 anos aquelas que apresentam uma maior propensão para o casamento exogâmico (2,29 vezes mais do que as mais jovens). 13

Modelo 3 (controlando as características do casal): Regista-se novamente um aumento dos odds ratio em todas as naturalidades. Ou seja, é maior a propensão para casar fora do grupo de origem, mantendo-se a hierarquia anteriormente estabelecida, com as brasileiras e ucranianas claramente destacadas das restantes. Já a propensão para um casamento exogâmico daquelas que têm nacionalidade estrangeira relativamente às que têm nacionalidade portuguesa, diminui quando controladas as características do casal (passa de 3,22 para 2,93). 14

Diminuem as diferenças dos vários níveis de habilitações relativamente ao grupo menos habilitado, deixando de ser significativa a diferença entre as mulheres menos habilitadas e aquelas que têm habilitações de nível secundário. Continuam, todavia, a ser as mulheres que têm habilitações ao nível do ensino superior as que apresentam uma maior propensão para o casamento exogâmico, tal como acontecia anteriormente. Os resultados do modelo 3 mostram ainda que a possibilidade de casar fora do grupo de origem é maior quando as habilitações dos cônjuges são distintas, sendo mais acentuada quando o homem tem um nível de habilitações inferior à mulher (2,7 vezes mais do que quando têm habilitações iguais). Quanto à homogamia etária, ela não é importante enquanto factor explicativo para a exogamia. 15

Tabela 2 Propensão para o casamento exogâmico nos homens Variáveis explicativas Homens Características individuais M1 M2 M3 (odds ratio) (odds ratio) (odds ratio) País origem Guiné-Bissau (ref.) - - - Angola 6,75 *** 6,87 *** 7,38 *** Brasil 3,80 *** 3,92 *** 4,11 *** Cabo-Verde 1,67 * 1,76 * 1,83 * Ucrânia 2,70 ** 2,69 ** 3,04 ** Nacionalidade Portuguesa (ref.) - - - Estrangeira 2,72 *** 2,70 *** 2,68 *** Habilitações Até Básico 1º ciclo (ref.) - - Básico 2º ciclo,90,85 Básico 3º ciclo,99,95 Secundário,93,98 Superior 1,13 1,28 Escalão etário < 30 anos (ref.) - - 30-39 anos 1,10 1,12 40-49 anos 1,05 1,14 >= 50 anos,71,73 Características do casal Homogamia educacional Habilit.Homem = Habilit.Mulher (ref.) - Habilit.Homem > Habilit.Mulher 1,90 *** Habilit.Homem < Habilit.Mulher 2,24 *** Homogamia etária Idade Homem = Idade Mulher (ref.) - Idade Homem > Idade Mulher 1,06 Idade Homem < Idade Mulher 1,29 16

Homens Modelo 1: Os valores dos odds ratio, todos superiores a 1, revelam que, também entre os homens, existe uma maior propensão para o casamento exogâmico nos vários grupos de naturalidade por comparação com a Guiné-Bissau. Contrariamente ao que acontecia com as mulheres, é entre os angolanos que esta tendência é mais notória, com um valor 6,75 vezes mais elevado do que o dos guineenses. Os brasileiros aparecem em segundo lugar, vindo depois os ucranianos e por fim os cabo-verdianos. De salientar ainda que, apesar de termos em todos os casos odds ratio superiores a 1, comparando com os valores observados nas mulheres eles são bastante inferiores. Enquanto que nos homens os odds ratio variam entre 1,67 e 6,75, nas mulheres os valores encontram-se entre 3,22 e 26,09. Ou seja, são elas que revelam uma maior disponibilidade para a exogamia. 17

Quanto à nacionalidade, é também um factor diferenciador, registando os homens com nacionalidade estrangeira 2,72 vezes maior propensão para o casamento exogâmico do que os que têm já a nacionalidade portuguesa, valor bastante próximo do registado para as mulheres (odds ratio de 2,86). Modelo 2: Controlando a idade e as habilitações, os odds ratio aumentam ligeiramente em todas as naturalidades, com excepção da Ucrânia. Em contrapartida, a possibilidade de casar fora do grupo para os homens que têm nacionalidade estrangeira mantém-se num valor praticamente idêntico (passa de 2,72 para 2,70 vezes mais do que para os que têm nacionalidade portuguesa). As diferenças por habilitações ou por escalões etários não são importantes. Mais uma vez, também aqui encontramos diferenças relativamente às mulheres, onde estas diferenças são mais acentuadas. 18

Modelo 3: Controlando as características do casal, regista-se novamente um aumento da propensão para casar fora do grupo de origem (agora em todas as naturalidades), mantendo-se a hierarquia anteriormente estabelecida. A propensão para um casamento exogâmico daqueles que têm nacionalidade estrangeira relativamente aos que têm nacionalidade portuguesa continua a registar uma tendência para diminuir quando controladas as características do casal, apesar de se manter em valores muito próximos dos anteriores (o odds ratio passa de 2,70 para 2,68). Continuam a não ser significativas as diferenças dos vários níveis de habilitações relativamente ao grupo menos habilitado, bem como entre os indivíduos pertencentes aos escalões etários mais elevados comparativamente com os indivíduos com menos de 30 anos. 19

Tal como acontecia com as mulheres, a possibilidade de casar fora do grupo de origem é maior quando as habilitações dos cônjuges são distintas, sendo mais acentuada quando o homem tem um nível de habilitações inferior à mulher (2,24 vezes mais do que quando têm habilitações iguais). Quanto à homogamia etária, também nos homens, não é importante enquanto factor explicativo para a exogamia. 20

Bibliografia Cortina, Carlos, Albert Esteve e Andreu Domingo (2007), Nupcialidad y Características de los Matrimonios de la Personas de Nacionalidad Extranjera en Espana, 1989-2004, Papers de Demografia 312 : 1-14, Centre d Estudis Demogràfics. Cortina, Carlos, Albert Esteve e Andreu Domingo (2006), Pautas de Endogamia y Cohabitación de la Poblacion Extrangera en Espana, 2001, Papers de Demografia 305 : 1-35, Centre d Estudis Demogràfics. Esteve, A. E McCaa, R. (2007) Homogamia Educacional en México y Brasil, 1970-2000: Pautas y Tendencias, Latin American Research Review, 42(2):56-88. Grassi, Marzia, (2005), Casar com o passaporte no espaço Schengen: uma introdução ao caso de Portugal, Working Paper, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa. Rosa, Maria João Valente, Hugo de Seabra e Tiago Santos (2004), Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa. O Papel das Populações de Nacionalidade Estrangeira, Lisboa, Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Relatório de Actividades, 2006. 21