~-;.;...,. " IMBUZEIRO : ALTERNATIVA DE RENDA PARA A AGRICULTURA FAMILIAR Nilton DE BRITO CA VALCANTI Administração de Empresa, MSc., EMBRAPA-CPATSA Geraldo MILANEZ RESENDE Eng...Q.Agrônomo, MSc., EMBRAPA-CPATSA Luiza TEIXEIRA DE LIMA BRITO Eng2. Agrícola, MSc., EMBRAt'A-CPATSA JoséLuciano SANTOST.IMA Botânico, MSc., EMBRAPA-CPATSA José BARROS LIMA Assistente de Pesquisa, EMBRAPA-CPATSA CarloeAlberto VASCONCELOSm OLIVAlRA Estatístico, EMBRAPA-CPATSA EMBRAPA-CPATSA. c.r, 23, 56.300-000 Petrolina, PE. RESUMO / Os pequenos agricultores da região semi-árida nordestina convivem com uma situação bastante peculiar quanto as fontes alternativas de renda, das quais dependem para sua sobrevivência. Nesta região, os sistemas de produção são constituídos basicamente pela agricultura de subsistência e pela pecuária extensiva. Contudo, algumas plantas nativas da região, entre elas o imbuzeiro ou umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.), têm contribuído como uma fonte de renda alternativa para os pequenos agricultores. O objetivo deste estudo foi identificar a participação do extrativismo do fruto do imbuzeiro, como fonte de renda para melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores da comunidade de Lagoa do Rancho, Uauá, BA. Os resultados obtidos demonstraram que 80% das famílias da comunidade participam do extrativismo do fruto do imbuzeiro, com uma média de quatro pessoas por família. Existem grupos diferenciados de pessoas que participam do extrativismo do imbuzeiro. A renda obtida com a venda do imbu, nesta comunidade é bastante significativa para os agricultores. TERMOS PARA INDEXAÇÃO : Imbu, pequenos agricultores, região semi-árida, Brasil.
1. Introdução OS pequenos agricultores da região semi-árida do Nordeste brasileiro, convivem com uma situação bastante peculiar quanto as fontes de renda, das quais dependem para sua sobrevivência. Nesta região, os sistemas de produção são constituídos basicamente pela agricultura familiar ou de baixa renda e pela pecuária extensiva. Na agricultura, as principais culturas exploradas são o milho e o feijão e, na pecuária, a criação de caprinos e ovinos são as que se destacam. Esses sistemas de exploração apresentam baixos rendimentos, quando comparados com outros sistemas de exploração, devido, principalmente, as conseqüências das secas, tamanho da propriedade, uso e posse da terra. Com isso, os pequenos agricultores desta região têm uma baixa disponibilidade de renda. Por outro lado, diversos fatores de ordem física, biológica e socioeconômica têm contribuído para retardar o desenvolvimento desta região e consequentemente, as condições de renda dos. pequenos agricultores. Junta-se a esses fatores, a escassez e a má distribuição de chuvas, as limitações de solos, o não desenvolvimento de técnicas agrícolas adequadas, espécies e variedades de culturas e raças de animais não adaptadas, constituem-se em aspectos limitantes para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis nesta região (EMBRAPA,1993). Contudo, a natureza foi providencial com os habitantes da regia o semi-árida do Nordeste brasileiro na formação de seu extrato arbóreo-arbustivo. Algumas plantas nativas da região, tais como, a carnaúba (Copernicia cerifera Mart), a oiticica (Pleuragina umbrosissima Arr. Cam.), o cajueiro (Anacardium occidentale L.), a maniçoba (Manihot Glaziovii Muell. Arg.), o licuri (Syagrus coronata) e o imbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.), entre outras, constituem uma fonte de renda alternativa, pelo seu extrativismo. Segundo Duque (1982, 1983), a incrementação do cultivo dessas plantas de forma sistemática, proporcionaria aos pequenos agricultores da região Nordeste maior renda e segurança, diante dos riscos que a agricultura está exposta a grandes perdas imprevisíveis por efeito das secas. Já Guerra (1981)mostra que é chegada a hora de se explorar as vantagens da nossa semi-aridez, apelando para algumas plantas que se desenvolvem e produzem alguma coisa, com chuva mínima. Para Bayma (1957), as vantagens de passar uma planta de exploração extrativista para a cultura organizada, não estão só nas possibilidades de melhorar o rendimento, o controle de pragas e doenças, o grau de adaptação desta planta às condições adversas do meio, mas também, na possibilidade de maior aproveitamento da mesma. O imbuzeiro é uma das plantas que se destaca quanto ao extrativismo vegetal na região semi-árida do Nordeste e que tem contribuído substancialmente como fonte alternativa de renda para os pequenos agricultores, principalmente, nos períodos de seca, quando as chuvas não são suficientes para a exploração das culturas tradicionais. Conforme Cunha (1957), o imbuzeiro é a "árvore sagrada do sertão", pois sem ela, o sertão tão estéril estaria despovoado. E ainda, esta planta representa o maior exemplo de adaptação à flora sertaneja. A importância do imbuzeiro para a região semi-árida do Nordeste brasileiro foi também reconhecida por Spix e Martius (1938) que mostram em seu trabalho "Viagem pelo Brasil 1817-1820" que naquela época o imbuzeiro já era de vital importância para os habitantes e os animais da região semi-árida. O extrativismo do fruto do imbuzeiro tem apresentado resultados bastante significativos em seis estados do Nordeste (Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí e Sergipe) e no Norte do Estado de Minas Gerais, com destaque para o Estado da Bahia que é o ---- 49 -----
maior produtor de imbu, com uma produção de 16.430toneladas e 17.477toneladas nos anos de 1989e 1990, respectivamente (ffige, 1991, 1993). o objetivo deste estudo foi identificar a participação do extrativismo do fruto do imbuzeiro, como fonte de renda alternativa para melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores da comunidade de Lagoa do Rancho, Uauá (BA). 2. Material e métodos o estudo constou de duas etapas de investigação: a primeira etapa foi realizada uma visita no período da safra do imbuzeiro ao município de Uauá (BA), para identificar as comunidades que faziam o extrativismo do fruto do imbuzeiro e selecionar uma comunidade. A comunidade selecionada foi a de Lagoa do Rancho, pois, esta apresentou um número maior de pessoas envolvidas. A segunda etapa aconteceu logo após o encerramento da colheita de imbu, quando foi realizada uma entrevista com as 40 pessoas da comunidade que participaram ou não da colheita do imbuo As informações foram obtidas por meio das seguintes variáveis: 1) número de famílias que compõem a comunidade; 2) número de pessoas por família que participaram da colheita do imbu; 3) tempo dedicado por cada pessoa à colheita; 4) quantidade de frutos colhida por dia; 5) período de colheita por pessoa e; 6) renda obtida por cada pessoa com a venda dos frutos do imbuzeiro. A análise estatística dos dados coletados foi realizada através de técnicas de análise multivariada, utilizando o procedimento "Cluster analisys" que compõe o "SAS" (SAS Institute Inc.,) SAS INSTITUTE (1990) e Everrit (1977). 3. Resultados e discussão Em relação as famílias da comunidade que tiveram pessoas envolvidas no extrativismo do fruto do imbuzeiro, a Tabela 1 mostra que das 10 famílias que compõem a comunidade de Lagoa do Rancho, 80% tiveram pessoas envolvidas na colheita do imbuo As famílias que não tiveram pessoas envolvidas nesta atividade (20%), são constituídas, principalmente, por pessoas idosas, as quais tem dificuldade para deslocamento até a área dos imbuzeiros, como também para realizarem a colheita. TABELA 1. Distribuição absoluta e relativa das famílias da comunidade que tiveram pessoas envolvidas no extrativismo do fruto do imbuzeiro. Lagoa do Rancho, Uauá (BA), 1995. Famílias que compõem a Famílias que tiveram Famílias que não tiveram comunidade de Lagoa do pessoas envolvidas na pessoas envolvidas na Rancho colheita do imbu colheita do imbu (n) (n) (%) (n) (%) 10 8 SO,OO 2 20,00 FONTE: Dados da pesqulsa. Quanto ao número de pessoas por família que participaram da colheita do imbu na comunidade, a Tabela 2 mostra que a comunidade é composta por 40 pessoas, das quais 80% participaram da colheita do imbuzeiro, com uma média de quatro pessoas por família. ---- 50 -----
TABELA 2. Distribuição absoluta e relativa das pessoas da comunidade que participaram do extrativismo do fruto do imbuzeiro. Lagoa do Rancho, Uauá (BA), 1995. Total de Pessoas que Pessoas que não Média de pessoas por família pessoas da participaram da participaram da que participaram da colheita comunidade colheita do imbu colheita do imbu doimbu (n) (n) (%) (n) (%) (n) 40 32 80,00 8 20,00 4 FONTE: Dados da pesquisa. Quanto as pessoas que participaram do extrativismo do fruto do imbuzeiro no período e o tempo dedicado por cada pessoa a colheita, a Tabela 3 mostra três grupos distintos de pessoas envolvidos nesta atividade. O primeiro grupo, composto por 62,50% do total das pessoas da comunidade, participaram da colheita no período de fevereiro a abril, com uma média de 76 dias de colheita. Quanto as horas dedicadas a colheita por pessoa por dia, 80% das pessoas desse grupo trabalharam, em média, 8 horas / dia e 20% das pessoas trabalharam, em média,4 horas/dia. O segundo grupo, com 25% do total das pessoas, participou da colheita no período de fevereiro a março com um tempo médio de 51 dias de colheita para cada pessoa e uma média de oito e quatro horas/dia de colheita para 75% e 25% do total das pessoas, respectivamente. O terceiro grupo, composto por 12,5% das pessoas desta comunidade, participou da colheita no período de março a abril, com uma média de oito horas de colheita para 75% das pessoas e quatro horas para 25% das pessoas. As pessoas desse grupo se dedicaram em média 50 dias ao extrativismo do imbuzeiro. Como a época de colheita do fruto do imbuzeiro ocorre na mesma época das culturas tradicionais e na maioria das vezes a escassez de precipitação não possibilitam os cultivos, a maior parte dos agricultores se dedicam a colheita do imbuono entanto, há outras pessoas que deixam a colheita do imbu para fazerem o plantio de lavouras alimentícias, isto devido, principalmente, a recursos obtidos no período que participaram da colheita do imbuo Por outro lado, um grupo menor de pessoas que estavam cultivando as lavouras tradicionais, passam a participar do extrativismo do imbuzeiro, mesmo que a safra já esteja na sua fase final. TABELA 3. Distribuição absoluta e relativa das pessoas que participaram do extrativismo do fruto do imbuzeiro, quanto o período e o tempo dedicado por cada pessoa à colheita. Lagoa do Rancho, Uauá (BA), 1995. Período de Pessoas que Pessoas que se Pessoas que se dedicaram colheita do participaram da dedicaram em média 4 em média 8 horas por imbu colheita do imbu horas por dia a colheita dia a colheita do imbu por período doimbu (n) (%) (Mês) (n) (%) (n) (%) Fev.fabr. 20 62~ 4 20j)O 16 80,00 Fev.fmar. 8 25,00 2 25j)O 6 75,00 Mar./abr. 4 12~ 1 25,00 3 75,00 FONTE: Dados da pesquisa. Na Tabela 4, observa-se quanto ao extrativismo do fruto do imbuzeiro. Isto em relação a quantidade total de frutos colhidos por dia, o período de colheita e a renda obtida com a venda de imbu pelos agricultores, que há quatro grupos distintos de pessoas que participaram do extrativismo do fruto do imbuzeiro. O primeiro grupo com 16 pessoas (50%),se dedicou, em média, 76 dias ao extrativismo, com uma média de oito horas/dia, colhendo em média de ---- 51 -----
46,99 kg/ dia e 3.571,24kg de frutos colhidos por pessoa no período, o que proporcionou uma renda média de R$ 357,12 (o kg de imbu foi comercializado a R$ 0,10) para cada pessoa desse grupo. O segundo grupo composto por nove pessoas (28,13%),se dedicou, em média oito horas/ dia a colheita, num período médio de 51 dias, com uma média de 47,04 e 2.399,04 kg de frutos colhidos por pessoa no dia e no período, respectivamente, o que proporcionou uma renda média de R$ 239,90 por pessoa. Sendo o terceiro grupo composto por quatro pessoas (12,50%) que participaram do extrativismo do fruto do imbuzeiro nesta comunidade, se dedicou, em média, 75 dias a colheita, com uma média diária de quatro horas de colheita por pessoa e uma média de 41,72 e 3.129 kg de frutos colhidos por pessoa no dia e no período, respectivamente, o que proporcionou uma renda média de R$ 312,90 para cada pessoa. Já o quarto grupo formado por três pessoas (9,37%)que colheram os frutos do imbuzeiro, se dedicaram em média 50 dias a esta atividade, com uma média de quatro horas diárias de colheita e uma produção média de 41,94 e 2.097 kg de frutos colhidos por pessoa no dia e no período, respectivamente. Para este grupo a renda média foi de R$ 209,70 por pessoa, o que eqüivale a 2,99 salários mínimos vigentes na época (1). No total, as pessoas se dedicaram, em média 63 dias ao extrativismo do fruto do imbuzeiro, com um tempo médio de seis horas/ dia de colheita, e uma produção de 44,43 e 2.799,09 kg de frutos colhidos por pessoa no dia e no período, respectivamente. A renda média para as pessoas da comunidade que participaram desta atividade foi de R$ 279,90 por pessoa, o que eqüivalia a USA 305,24 (2). TABELA 4. Distribuição absoluta e relativa das pessoas que participaram da colheita do imbu, quanto a quantidade média colhida por dia e no período e a renda obtida com a venda. Lagoa do Rancho, Uauá (BA), 1995. Total de pessoas Período médio de Média de frutos (kg) Renda média colheita por pessoa colhidos por pessoa por pessoa (n) (%) (dias) (horas / dia) (kg Zdía) (kg Zperíodo) (R$) 16 50,00 76 8 46,99 3.571,24 357,12 9 28,13 51 8 47,04 2.399,04 239,90 4 12,50 75 4 41,72 3.129 312,90 3 9,37 50 4 41,94 2.097 209,70 FONTE: Dados da pesquisa. ----- 52 -----
4. Conclusões a) 80% das famílias da comunidade participam do extrativismo do fruto do imbuzeiro, com uma média de quatro pessoas por família. Assim, 80% das pessoas da comunidade estão envolvidas nesta atividade, o que demonstra a importância socioeconômica desta exploração alternativa para os pequenos agricultores da região semi-árida nordestina. b) Existem grupos diferenciados de pessoas que participam do extrativismo do imbuzeiro, quanto o período e o tempo dedicado a esta atividade e, principalmente, quanto à renda obtida com a venda do imbuo c) Diante da incerteza das chuvas que ocorrem na região, dificultando o cultivo das culturas tradicionais e a formação de pastagens para os rebanhos, o extrativismo vegetal nesta região, se apresenta como uma fonte de renda alternativa muito importante para os pequenos agricultores. (1) Valor do salário mínimo em 20/04/95 1 salário=r$ 70,00. (2) Valor do Dólar comercial em 20/04/95 USA 1,00 = R$ 0,917. 5. Referências bibliográficas - BAYMA, A. C. (1957): Oiticica. Rio de Janeiro. p.139. (Produtores Rurais - N 1). - CUNHA, E. (1957): Os sertões-campanha de Canudos. 25a. ed. Rio de Janeiro, p. 42. - DUQUE, J. G. (1980): O Nordeste e as lavouras xerófilas. Mossoró: Fundação Guimarães Duque (Coleção Mossoroense, 143),pp. 316-238. - DUQUE, J. G. (1982): Perspectivas nordestinas. Obra póstuma. Fortaleza: BNB- ETENE, p. 188. - EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (1993): Relatório Técnico do Centro de Pesquisa Agropecuâria do Trópico Semi-Arido, CPATSA 1979-1990. Petrolina, 175 pp. - EVERRIT, B. S.: "Cluster Analisys", OMVTRCHEARTAIGH, C. A. & PAYNE, C. (eds.): The analisys of survey data: exploring data structures. Chiclester: J. Wiley, 1977. vol. 1, capo3, pp. 63-88. - GUERRA, P. B. (1981): A civilização da seca: o Nordeste é uma história mal contada. Fortaleza: DNOCS, p. 184. - IBGE (1991): Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro. Vol. 51, p. 1024-523. - IBGE (1993): Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro. Vol. 53, pp. 3-4l. - SAS INSTITUTE (1990): SAS guide to macro processing: version 6.2 a ed. Cary, N.C., 319 pp. - PIX, J. B. & MARTIUS, C. F. P. (1938):Viagem pelo Brasil 1817-1820. 2 ã ed. São Paulo: Melhoramentos. Vol. 2, p. 332. ----53----