Projeto inovador. Por Renata Nogueira Capeto Tupicanskas e Valquiria Ribeiro Barbosa

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Transcrição:

Autismo Projeto inovador A aplicabilidade teórica e prática da integração sensorial e da ampliação de ofertas de atendimento para as crianças com transtorno do espectro autista tem sido um sucesso no tratamento continuado Por Renata Nogueira Capeto Tupicanskas e Valquiria Ribeiro Barbosa Renata Nogueira Capeto Tupicanskas é pós-graduada em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica aplicada à neurologia; pós-graduada em Tecnologia Assistiva, curso completo pela Artevidade de Intervenções no Processamento Sensorial e Integração Sensorial. Possui experiência na área de educação há 10 anos, como membro de equipe no Serviço de Apoio à Inclusão Escolar, no Atendimento Educacional Especializado (AEE) de alunos com deficiência intelectual da APAE DE SÃO PAULO. Valquiria Ribeiro Barbosa é psicóloga e psicopedagoga formada pela Universidade Metodista de Ensino Superior. Com atuação há mais de 25 anos no terceiro setor, em programas de inclusão da pessoa com deficiência nas áreas de Educação, Capacitação e Inclusão Profissional. Atualmente gerencia a área de Inclusão da APAE DE SÃO PAULO. SHUTTERSTOCK 74 psique ciência&vida

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Autismo O objetivo do trabalho é apresentar os conceitos da abordagem de integração sensorial de Anna Jean Ayres, utilizados como base para a abertura de uma sala de atendimento na APAE DE SÃO PAULO, que amplia seu panorama de atendimento à criança com transtorno do espectro autista e síndrome de Down, e, por fim, a aplicação da abordagem. Desde 1961, a APAE DE SÃO PAULO possui a missão de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com deficiência intelectual, produzindo e difundindo conhecimento. A organização atua do diagnóstico no nascimento, por meio do Teste do Pezinho, até o envelhecimento, propiciando o desenvolvimento de habilidades e potencialidades que favoreçam a escolaridade, a empregabilidade, a inclusão social e a defesa de direitos. Além disso, está sempre em busca de formas de atuação que possam contribuir com a prática. Assim, diante do interesse pela aplicabilidade teórica e prática da integração sensorial e da ampliação de ofertas de atendimento para as crianças com transtorno do espectro autista, implantou-se o recurso. Para compreendermos o que é a abordagem da integração sensorial precisamos, inicialmente, entender alguns aspectos do desenvolvimento infantil. Desde a vida intrauterina, recebemos muitos estímulos advindos do mundo externo em que a primeira descoberta inconsciente é a sensação, que vai desde o toque no ventre da mãe até o som da batida do coração (Serrano, 2016; Durão, 2014). Após o nascimento, o bebê continua recebendo novos e variados estímulos motores e sensoriais por todos os canais receptores como tato, visão, audição, paladar e olfato, e essas sensações vão se aprimorando ao longo de seu desenvolvimento e maturação do sistema nervoso. Com isso, o bebê vai aprendendo a regular as sensações Na vida intrauterina, há estímulos externos, em que a primeira descoberta inconsciente é a sensação, que vai desde o toque no ventre da mãe ao som do coração Em cada interação com o meio, a criança recebe inúmeras informações que são encaminhadas para o sistema nervoso, onde são discriminadas e correlacionadas para que possam fazer sentido e consequentemente dando respostas adaptativas aos estímulos recebidos (Serrano, 2016). Segundo Serrano (2016), em cada interação com o meio a criança recebe inúmeras informações que são encaminhadas para o sistema nervoso, onde são discriminadas e correlacionadas para que possam fazer sentido. O sistema nervoso é responsável em organizar as informações visuais, auditivas, táteis, olfativas, gravitacionais e de movimento, e organizá-las em um plano de ação. É assim que ocorre o aprendizado. Dependendo do tipo de experiência que esse estímulo proporciona, que vai do prazer ao medo ou desconforto, a criança responde de forma compatível ou incompatível com a situação (Dionisio, 2013). Portanto, a integração sensorial é a organização das sensações para uso no dia a dia. Quando nosso cérebro envia informações organizadas e adequadas, somos capazes de realizar qualquer tarefa de forma eficaz, porém quando essas informações chegam de forma desorganizada, temos dificuldades de sentir e ordenar nossas sensações. Para Serrano (2016), essa desorganização pode produzir vários graus de comprometimento no desenvolvimento, no processamento da informação, no planejamento, no comportamento e na aprendizagem, tanto motora quanto conceitual, causando, assim, grandes impactos e prejuízos na vida cotidiana das crianças e adolescentes. Essas dificuldades são nomeadas de disfunção de processamento sensorial (Associação, 2016). Em meados da década de 1950, a terapeuta ocupacional e psicóloga edu- 76 psique ciência&vida

IMAGENS: SHUTTERSTOCK e divulgação O sistema nervoso é responsável em organizar as informações visuais, auditivas, táteis, olfativas, gravitacionais e de movimento, e organizá-las em um plano de ação. É assim que ocorre o aprendizado Após o nascimento, o bebê continua recebendo novos e variados estímulos motores e sensoriais por todos os canais receptores, como tato, visão, audição, paladar e olfato A sala deve oferecer equipamentos que permitem diferentes direções e movimentos, plataformas para subir, redes, trapézio, rampas, cilindros, túneis etc. der de maneira apropriada ao ambiente (Associação, 2016). Diante dos sinais sugestivos de mau processamento sensorial (ver Pílula), Dionisio (2013) enfatiza a existência de três respostas adaptativas inadequadas na disfunção do processamento sensorial. Falha no registro sensorial a criança parece não prestar atenção a estímulos relevantes no ambiente, nem sempre reagindo à dor, movimentos, som, cheiros, sabores ou estímulos visuais; tendência à procura de estímulos são crianças mui- cacional dra. Anna Jean Ayres iniciou seus estudos na especialidade de integração sensorial. Durante toda sua trajetória profissional pesquisou um novo paradigma para a explicação de uma variedade de problemas neurológicos e de aprendizagem em crianças e adolescentes que até então não eram compreendidos (Associação, 2016). A teoria da integração sensorial trata da relação entre o cérebro e o comportamento em um processo que ocorre no sistema nervoso central, ou seja, é um processo neurobiológico que promove a capacidade de processar, organizar, interpretar sensações e responto ativas motoramente, que parecem estar em constante procura por estímulos intensos ou outras modalidades sensoriais... que desafiam o perigo; hiper-reação a estímulos as manifestações mais comuns são defensividade tátil, insegurança gravitacional e resposta aversiva ou intolerância a movimentos (p. 1). A disfunção, ou transtorno, de processamento sensorial, como é comumente nomeada por estudiosos da área de integração sensorial, pode ocorrer em qualquer período do desenvolvimento e não está necessariamente associada a outra patologia ou deficiência, mas invade o desenvolvimento e incapacita a aquisição de diversas habilidades necessárias à aprendizagem (Momo, 2011). Originalmente, a abordagem de integração sensorial descrita por Ayres é destinada a crianças em idade pré-escolar e escolar, mas em estudos atuais os conceitos podem ser aplicáveis em adolescentes e adultos (Associação, 2016). Quanto ao diagnóstico clínico, a abordagem é destinada a pessoas com transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, dificuldade de apren- psique ciência&vida 77

Autismo A disfunção, ou transtorno, de processamento sensorial pode ocorrer em qualquer período do desenvolvimento e não está necessariamente associada a outra patologia, mas invade o desenvolvimento e incapacita a aquisição de diversas habilidades dizado, distúrbios de fala e linguagem, desordens neuromotoras, síndrome de Down e deficiência intelectual (Watanabe, 2007). Para a aplicação dessa abordagem, o setting terapêutico deve ocorrer em uma sala ampla, com a existência de equipamentos suspensos, que permitem diferentes direções e movimentos, plataformas para subir, redes, trapézio para balançar, rampas, cilindros, túneis para passar, skate, lycra, cordas, almofadas, brinquedos e matérias atraentes (Associação, 2016). A promoção de uma oferta sensorial adequada às possibilidades e necessidades da criança é o principal objetivo de uma sala de integração sensorial, que estimula os sistemas sensoriais, os reflexos e o sistema vestibular e proprioceptivo (Carvalho, 2015). Como o objetivo da sala é intervir nas atividades de vida diária, acadêmica e social e estamos falando de inter- A prescrição de uma dieta sensorial por parte do terapeuta diz respeito a um programa de atividades, para que a família ou a escola possam realizar com a criança venção com crianças, isso nos remete à reflexão quanto ao brincar e ao desempenho ocupacional das atividades do cotidiano. O terapeuta ocupacional é um profissional qualificado que detém os conhecimentos teóricos e práticos de análise das atividades para promoção da autonomia e brincar. O terapeuta ocupacional que atua com a abordagem da integração sensorial deve ter qualificação técnica e utilizar avaliações padronizadas para favorecer intervenções de acordo com a medida de fidelidade de intervenção de integração sensorial de Ayres. Existe atualmente no Brasil o Programa de Certificação Internacional em Integração Sensorial, autorizado e reconhecido pela University of Southern California Department of Occupational Science (USC) e Western Psychological Services (WPS). Vale ressaltar que esse curso é oferecido exclusivamente para terapeutas ocupacionais (Carvalho, 2015). Criança atendida na sala de integração sensorial utilizando o rolo, com o objetivo de trabalhar o sistema vestibular (estabilização do olhar e ajuste postural) Estruturação A sala de integração sensorial na APAE DE SÃO PAULO foi inaugurada em 2016. Os critérios para avaliação e realização da terapia de integração sensorial na organização contemplam a faixa etária dos 3 aos 12 anos de idade e os seguintes diagnósticos: transtorno do espectro autista, síndrome de Down, desordens neuromotoras, além de crianças sem diagnóstico prévio que apresentem transtornos sensoriais e que estejam interferindo no desempenho das atividades de vida diária, escolar e no convívio social. FAIXA ETÁRIA NÚMERO DE CRIANÇAS ATENDIDAS 3 a 4 anos 4 5 a 6 anos 2 7 a 8 anos 3 9 a 10 anos 4 11 a 12 anos 3 TOTAL 16 Atualmente a sala de integração sensorial está realizando atendimento com 15 crianças dentro da faixa etária estabelecida. MASCULINO FEMININO 12 3 Como critério de avaliação, é utilizada a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, frequente- IMAGENS: SHUTTERSTOCK e divulgação 78 psique ciência&vida

mente designada pela sigla CID, e que está na décima edição. Esse processo de avaliação é realizado pela área de ambulatório da APAE DE SÃO PAULO. NÚMERO DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS 7 F84.0 - autismo infantil 1 Q90 - síndrome de Down 1 F83 - transtornos específicos mistos do desenvolvimento 1 Q851 - esclerose tuberosa e F84.0 - autismo infantil 5 Em investigação diagnóstica Os atendimentos na sala de integração sensorial na APAE DE SÃO PAULO ocorrem semanalmente, com a presença da terapeuta ocupacional. É feita uma entrevista inicial com a família e há preenchimento de um questionário padronizado chamado de perfil sensorial e observação clínica. Em seguida, são traçado o perfil das respostas sensoriais e verificado se existe a presença de transtorno do processamento sensorial. Após essa avaliação inicial, são estabelecidas metas e estratégias de intervenção e inicia-se a terapia. O questionário é reaplicado anualmente, pois é um instrumental que ajuda a mensurar as evoluções. Importância da família Vale ressaltar que o papel da família é fundamental em todo esse processo. O terapeuta ocupacional realiza muitas intervenções e a prescrição de uma dieta sensorial, que nesse caso não está associada à restrição de determinados alimentos ou calorias, mas diz respeito a um programa de atividades planejadas para que a família ou a escola possam realizar com a criança. Uma criança com transtorno de processamento sensorial, mesmo com o tratamento adequado, precisa continuar um acompanhamento periódico para evitar que os sistemas sensoriais se desorganizem. Para isso, o terapeuta ocupacional planeja uma combinação de atividades lúdicas com estímulos que podem acalmar ou acionar o sinal de alerta, de acordo com a necessidade específica de cada criança. Essas atividades têm efeito direto no sistema nervoso por um período de tempo limitado e, portanto, devem ser repetidas diariamente. A cada evolução, essas práticas vão se adequando às novas necessidades (Berlin, 2017). Planejamento e evolução De acordo com o planejamento dos atendimentos, a organização tem como meta para 2018 a reavaliação de Originalmente, a abordagem de integração sensorial descrita por Ayres é destinada a crianças em idade pré-escolar e escolar, mas em estudos atuais os conceitos podem ser aplicáveis em adolescentes e adultos Quando o cérebro envia informações organizadas, todos podem realizar tarefas, mas quando são desorganizadas, surgem dificuldades de sentir e ordenar as sensações 100% das crianças que estão em atendimento. Serão utilizados os mesmos protocolos iniciais, nomeados de perfil sensorial e observação clínica, objetivando a comparação dos resultados e as evoluções alcançadas. Com essa reavaliação, espera-se atingir 60% de evolução com dados quantitativos e qualitativos na melhora significativa em relação ao transtorno de processamento sensorial, interação com o meio, organização, planejamento e respostas adaptativas adequadas quanto ao aprendizado e desenvolvimento. Sabe-se que essa abordagem é eficaz, porém no Brasil existem poucas publicações sobre a temática. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO Brasileira de Integração Sensorial ABIS. O que é integração sensorial, 2016. Disponível em: <https://www.integracaosensorialbrasil.com.br/integracao-sensorial> Acesso em: 21 nov. 2017. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Integração Sensorial ABIS. Quem precisa, 2016. Disponível em: <https:// www.integracaosensorialbrasil.com.br/quem-precisa avaliacao-e-intervenca> Acesso em: 21 nov. 2017. BERLIN, l. Dieta sensorial para transtorno de processamento sensorial, 2017. Disponível em: < http:// superspectro.com.br/noticia/dieta-sensorial-para-transtorno-de-processamento-sensorial> Acesso em: 21 nov. 2017. CARVALHO, T. Integração sensorial de Ayres: história e teoria, 2015. Disponível em: <http:// integracaosensorial.com.br/clinicaludens/blog-ludens/2015/07/terapia-ocupacional-com-base-naintegracao-sensorial> Acesso em: 22 nov. 2017. DIONISIO et al. Brincar e integração sensorial: possibilidades de intervenção da terapia ocupacional. Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/enex/ psique ciência&vida 79