LUCRO CESSANTE: CONCEITO



Documentos relacionados
A Perícia contábil e sua importância.

A narrativa do fundo de comércio e o fluxo de caixa na literatura moderna contábil

Ajustes de Avaliação Patrimonial.

Perícia contábil em Ação Civil Pública, relativa a ato de improbidade administrativa e enriquecimento sem causa de Servidor Público.

Acervo técnico, sua valorização e reconhecimento contábil.

TEORIA DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Ciência, Filosofia e Contabilidade

ANEXO F: ANEXO DO PROJETO PEDAGÓGICO VERSÃO 2007.

AJUSTE A VALOR PRESENTE.

Etapas para a elaboração do Balanço Patrimonial e consequentemente, das Demonstrações Financeiras.

Situações especiais em relação ao Fundo de Comércio nas Sociedades Simples

Aspectos essenciais do labor do perito e dos assistentes na arbitragem

BERJ PUBLICA BALANÇO DE 2007 AUDITADO (25/08/2008)

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL SIMPLIFICADA PARA MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE

FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA MÓDULO 9

NBC T Subvenção e Assistência Governamentais Pronunciamento Técnico CPC 07

Perícia Contábil. Prof. Guilherme Luiz Bertoni Pontes 17/5/2013. UNISEB Centro Universitário

FLUXO DE CAIXA BÁSICO E ARRENDAMENTOS PORTUÁRIOS

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CEAP 5º CCN DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

CIÊNCIAS CONTÁBEIS. A importância da profissão contábil para o mundo dos negócios

ANÁLISE DOS CUSTOS DE COMERCIALIZAÇÃO

Conceito de Contabilidade

Lucro e a sua contabilização, distribuição e responsabilidades

Disciplina: PERÍCIA CONTÁBIL

02.10 PROVISÕES, PASSIVOS CONTINGENTES E ATIVOS CONTINGENTES INTRODUÇÃO

INDENIZAÇÃO CONTRATUAL EXIGIDA PELA LEI INTERMUNICIPAL DE PASSAGEIROS

GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2007 e de 2006 e parecer dos auditores independentes

GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2002 e de 2001 e parecer dos auditores independentes

INTERPRETAÇÃO DA RESOLUÇÃO CFC No /12 ITG 2002

ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR E REGIME TRIBUTÁRIO PROF. SERGIO MONELLO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Curso de Ciências Contábeis com Ênfase em Controladoria

1-DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS BÁSICOS 1.1 OBJETIVO E CONTEÚDO

Contabilidade Geral e Avançada Correção da Prova AFRFB 2009 Gabarito 1 Última Parte Prof. Moraes Junior CONTABILIDADE GERAL E AVANÇADA

BALANÇO ESPECIAL PARA APURAÇÃO DE HAVERES E REEMBOLSO DE AÇÕES

ANEXO I PROCEDIMENTOS PREVIAMENTE ACORDADOS PPA SOBRE A PROVISÃO DE EVENTOS/SINISTROS A LIQUIDAR - DIOPS/ANS

GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2006 e de 2005 e parecer dos auditores independentes

CPC 27 - IMOBILIZADO CPC Prof. Ms. Maurício F. Pocopetz

COBERTURA DE PERDA DE LUCRO BRUTO E DESPESAS EXTRAORDINARIAS

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC)

CAP. 4b INFLUÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA

INFORMAÇÃO TÉCNICA N.º 42/2013. FGCT, FCT e ME

Reavaliação: a adoção do valor de mercado ou de consenso entre as partes para bens do ativo, quando esse for superior ao valor líquido contábil.

EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL

ATIVO Explicativa PASSIVO Explicativa

ASSESPRO/NACIONAL DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO - PROJETO DE LEI DE CONVERSÃO DA MP 540/2001

RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS REGULATÓRIAS

DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA 2015 DETALHES A OBSERVAR

ANEXO CAPÍTULO III MANUAL CONTÁBIL DAS OPERAÇÕES DO MERCADO DE SAÚDE

GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas Demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2003 e de 2002 e parecer dos auditores independentes

Teoria da Contabilidade. Prof. Joaquim Mario de Paula Pinto Junior 1

Análise financeira da carteira de recebíveis

IMPOSTOS SOBRE O LUCRO! Imposto de Renda e Contribuição Social! As alterações mais recentes da legislação da Contribuição Social

No concurso de São Paulo, o assunto aparece no item 27 do programa de Contabilidade:

28/06/2012 (Orientação) Fato Gerador das Contribuições Previdenciárias

A atividade contábil e o ISS

NOTAS EXPLICATIVAS ÀS DEMONTRAÇÕES CONTÁBEIS FINDAS EM 31 DE DEZEMBRO DE 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Relatório Perfil Curricular

Contabilidade e os seus sistemas de registros dos atos e fatos patrimoniais

INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1

A excelência em perícia contábil e o poder discricionário do perito.

Outros Tópicos Importantes na Elaboração do Fluxo de Caixa

CAPÍTULO II TRATAMENTO TRIBUTÁRIO APLICÁVEL

Ciência e Tecnologia Contábil

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO - DVA

NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE NBC TE ENTIDADE SEM FINALIDADE DE LUCROS

CONTABILIDADE GERAL E GERENCIAL

Breves Considerações sobre o Superendividamento

Contmatic - Escrita Fiscal

A RELEVÂNCIA DA EVIDENCIAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO DECORRENTE DE ADIÇÕES INTERTEMPORAIS E DE PREJUÍZO FISCAL NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Painel 4 - Lucros no Exterior Tributação em Bases Universais Desafios e Oportunidades (Foco na IN- 1520)

1. a. Preencha os balancetes: 1.01.x1: Formação do Capital, com $ 400 em dinheiro e uma perua no valor de $ 200

Ágio: Apresentação das Regras Gerais do Novo Regime Fiscal

Ementário e Bibliografia do curso de. Ciências Contábeis. Fase: II Carga Horária: 60h/a Créditos: 04

LISTA DE CONFERÊNCIA DOS REQUISITOS PARA QUALIFICAÇÃO COMO OSCIP

CONTABILIDADE GERAL E GERENCIAL

Reunião Extraordinária GEDEC 2015 Tributação das Receitas Financeiras pelo PIS/COFINS

Fornecedores. Fornecedores de Serviços (passivo. circulante) Salários e ordenados a pagar. Pró-labore (resultado) Caixa

RESENHA TRIBUTÁRIA ATUALIZADA

DEPARTAMENTO JURÍDICO TRABALHISTA BOLETIM 091/2015

ASPECTOS GERAIS NA ELABORAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DAS EMPRESAS

Seguro de. Responsabilidade. Civil Profissional. Agências e Operadoras de Turismo

Princípios Fundamentais Contabilidade

INSTRUÇÕES NORMATIVAS - DNRC

COMO ANALISAR E TOMAR DECISÕES ESTRATÉGICAS COM BASE NA ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL DAS EMPRESAS

Vamos, então, à nossa aula de hoje! Demonstração de Fluxo de Caixa (2.ª parte) Método Indireto

Extinção dos contratos de. Camila Aguiar

MBA Executivo Contabilidade e Finanças

1. O que é ECF? 2. Obrigatoriedade; 3. Prazo de Entrega; 4. Informações e Estrutura; 5. Penalidades; 6. Considerações Finais.

ITG 2002: Os principais desafios na implementação das novas práticas na visão da Auditoria Independente.

OS EFEITOS DOS CUSTOS NA INDÚSTRIA

O QUE É PPP? O QUE É CONCESSÃO PLENA?

Perícia Contábil e os Métodos: Experimental e do Raciocínio Contábil

Aula de Apuração do Resultado (ARE) Prof. Pedro A. Silva (67)

PARECER DOS AUDITORES INDEPENDENTES. Aos Sócios, Conselheiros e Diretores da INSTITUIÇÃO COMUNITÁRIA DE CRÉDITO BLUMENAU-SOLIDARIEDADE ICC BLUSOL

Lei /2014 Receita Bruta

APURAÇÃO DO RESULTADO (1)

PROCESSOS DE REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA 1

Cartilha Contábil de apoio

Niterói Administradora de Imóveis S/A. Demonstrações Contábeis acompanhadas do Parecer dos Auditores Independentes

Transcrição:

LUCRO CESSANTE: CONCEITO Prof. MSc. Wilson Alberto Zappa Hoog i Resumo: Apresentamos um breve comentário sobre o sentido e alcance da categoria contábil lucro cessante, com ênfase nos postulados da teoria pura da contabilidade. Tem como referente o fato de que o cálculo do lucro cessante a indenizar deve partir do que razoavelmente a vítima deixou de ganhar, com base nos seus rendimentos anteriores ao evento danoso e, nunca, em miragens de ganhos posteriores ao evento. E, ainda, que não há lucros cessantes quando, efetivamente, não ocorra a paralisação dos lucros esperados. Assim, os peritos em contabilidade devem afastar as ilusões de lucros cessantes, em decorrência dos princípios constitucionais da impessoalidade e moralidade, que regem a função do perito judicial. Palavras-chave: Lucros cessantes; teoria pura da contabilidade; perícia contábil.

Desenvolvimento: O lucro cessante é o lucro líquido remanescente, depois de deduzidos os custos, as despesas, os tributos, as contribuições sociais e as participações, que deixou de ser realizado por ato alheio à vontade da administração de uma célula social e passou a fluir em outra direção. É diferente de renda cessante, que é o valor total das vendas entre comerciantes, num dado período, que deixa de ser realizado por motivo alheio à vontade da empresa. Assim, todo e qualquer lucro cessante a ser indenizado deve partir do que razoavelmente a vítima deixou de ganhar com base nos seus rendimentos anteriores ao evento danoso e, nunca, em supostos ganhos posteriores ao acontecimento. Alguns juristas têm entendimento divergente, pois apontam como sendo todo tipo de dano, seja indireto ou direto e imediato de um ato, incluindo as perdas, prejuízos de qualquer tipo. Mas, à luz da ciência da contabilidade, dano não quer dizer lucro cessante e sim, uma forma de perda. Já o lucro cessante no sentido jurídico de um pedido, pode buscar o faturamento cessante em decorrência do prejuízo, relativa às parcelas de despesas e custos fixos, bem como a distribuição das variáveis à comunidade ou qualquer tipo de dano econômico. 2

Está pacificado, ou seja, é um fato notório, o entendimento de que a Justiça não alberga dano relativo ao lucro cessante potencial, ilusório ou hipotético. Para a mensuração de indenização de perdas, separada da indenização dos lucros cessantes, deve ser considerada a receita cessante que flui em outra direção, via demonstrativo fundamentado no conceito contábil da margem de contribuição. Pois o lucro líquido cessante não contempla o ressarcimento relativo aos gastos fixos; como exemplo: a depreciação, pessoal administrativo, prólabore, segurança e propaganda. Assim, o potencial de receita cessante inclui valores relativos aos gastos variáveis que não existem quando as vendas deixam de ser realizadas. Considera-se que, pelo viés da ciência da contabilidade, a receita não quer dizer lucro e sim, uma forma de encaixe e que isto significa: mesmo não existindo lucro, parcelas relativas aos encaixes oriundas das receitas, são destinadas a cobrir os desencaixes ou à criação de fundo de reintegração de ativos, relativos aos gastos fixos. Diante disso, utilizando-se das informações constantes da escrituração contábil (balanços, balancetes e demais relatórios contábeis) é perfeitamente possível demonstrar a parcela de perdas não remuneradas pelas receitas ou lucros cessantes, que compreendem: depreciação, pessoal administrativo, pró-labore, segurança, propaganda e demais gastos fixos. Por este 3

motivo, defendemos que, mesmo existindo prejuízo, é possível que uma diminuição das receitas, por ato de terceiro, gere indenização por perdas, em decorrência de provável aumento dos prejuízos por consequência da ausência de cobertura dos gastos fixos pela receita cessante. Por extensão, ou seja, ao considerarmos em uma linguagem coloquial, e não científica contabilística, o a expressão lucro cessante representa toda vantagem, proveito, interesse, ganho ou utilidade que foi cessada, sendo que este benefício cessante é o que se obteria de alguma coisa ou com uma atividade qualquer, inclusive, benefícios de registro como empregado, de assistência médico-hospitalar, religiosos, de educação, intelectuais, espirituais ou morais. Logo, é perfeitamente possível e admissível que uma indenização por lucro cessante tenha como referente o valor de uma carteira de fregueses perdida por rescisão de um contrato de distribuição de representação comercial ou de concessão de venda de veículos automotores. Ou, ainda, quando alguém causa danos patrimoniais, incluindose as anulações de negócios jurídicos por dolo ou culpa. Considera-se que a amplitude deste artigo é restrita e linear ao sentido e alcance do conceito de lucros cessante. Sugere-se que para os procedimentos de investigações periciais, tais como: atos de diligência e fundamentação doutrinária de laudo, sejam feitas leituras no meu livro: Perdas, Danos e Lucros Cessantes em 4

Perícias Judiciais, 2. ed., Juruá 2010. Esta obra pode ser folheada eletronicamente no sítio da Juruá: www.jurua.com.br. i Informações sobre o autor e o seu currículo, podem ser obtidas no seu sítio eletrônico: www.zappahoog.com.br. 5