PRONUNCIAMENTO SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DA PETROBRAS Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, Amigos que nos assistem e nos ouvem pela Rádio Senado e pela TV Senado em Mato Grosso e no Brasil inteiro Meus am igos, m in has am igas, vo u t r azer aq ui a m inha p r eocup ação co m um p r ob lem a econôm ico m uit o sér io, q ue af et a a t od os nós. O nosso m und o m od er no é ext r em am ent e d ep end ent e d o p et r óleo. Tod as as at ivid ad es econôm icas, ind ust r iais, d e t r ansp ort es, d ep end em d e d er ivad os d o p et r óleo. É o com b ust ível p ar a o t r ansp ort e e as m áq uinas agr ícolas, p ar a o f uncionam ent o d as inst alações ind ust r iais, d as t er m elét r icas. São os insum os p et r oq uím icos, p lást icos, m at er iais sint ét icos, sem os q uais b oa p ar t e 1
d os p r od ut os q ue consum im os não p od er ia ser f ab r icad a p ela in d úst r ia. A nossa econom ia d ep end e, p ar a f uncionar, d e q ue exist am os m eios f ísicos, a organização social e t écnica, suf icient es p ar a p r od uzir e d ist r ib uir d er ivad os d o p et r óleo, d o álcool, d os out r os b iocom b ust íveis, e p ar a f azer chegar esses p r od ut os at é ond e são necessár ios p ar a m over os veículos, as f áb r icas e as em p r esas em cad a p ont o d o p aís. Qual f oi a escolha q ue o Br asil f ez p ar a cum p r ir essa m issão, d esd e os anos 1950? O nosso p aís escolheu con t ar com um a gr and e em p r esa, a Pet r ob r as, inicialm ent e com o única f orneced ora d esses p r od ut os, e d ep ois d e 1997 concorrend o no m er cad o com out r os p r od ut ores, m as sem p r e com o a m aior e m ais im p ort ant e p ar t icip ant e d esse m er cad o. 2
Ou seja, a Pet r ob r as não é ap enas m ais um a em p r esa d e p et r óleo. A Pet r ob r as cont inua send o um a p eça f und am ent al no m ecanism o d e t od a a nossa econom ia. Pois b em, com o est am os cuid and o hoje d essa p eça im p ort ant e d a nossa m áq uina p r od ut iva? Mal, m uit o m al. Pela m á gest ão, p elo uso p art id ár io ou eleit oral d as d ecisões d e p olít ica econôm ica q ue envolvem a Pet r ob r as, p od em os est ar com p r om et end o ser iam ent e a cap acid ad e d a nossa econom ia no f ut ur o im ed iat o. Mas vocês est ar ão se p er gunt and o: p orq ue o Senad or Taq ues est á d izend o isso? Não t em os t od a a r iq ueza d o p et r óleo d o p r é- sal no m ar? Pois é, m esm o com esses r ecursos nat ur ais, est am os chegand o p ert o d a b eir a d o ab ism o na p olít ica d e com b ust íveis. 3
Com eço p or um único f at o q ue r esum e o p er igo q ue correm os: o valor d e m er cad o d a Pet r ob ras, q ue r ep r esent a o p r eço t ot al d as ações d a em p r esa negociad as nas b olsas d e valores no Br asil e no ext er ior, caiu q uase 60 % (isso m esm o, sessent a p or cent o) d esd e o anúncio d a d escob er t a d o pré-sal em m ano d e 2008. Os m er cad os avaliavam a em p r esa em 510 b ilhões d e r eais, em f ever eir o d e 2013 ap ost avam em 218 b ilhões. É ver d ad e q ue o p r eço d as ações sof r e um a inf luência d e m ovim ent os esp eculat ivos d o sist em a f inanceir o. Mas um m ovim ent o d esses, um a t end ência consist ent e p or m ais d e cinco anos, é im p ossível q ue seja só um a esp eculação: são t od as as em p r esas e invest id ores, no Brasil e no m und o, avaliand o q ue os r esult ad os f ut ur os d a em p r esa são cad a vez p iores. 4
Mas essa avaliação negat iva f az sent id o? Inf elizm ent e sim. O p r é-sal é um a gr and e op ort unid ad e. Mas p ar a exp lorar essas novas r eser vas, é p r eciso aind a d esenvolver a t ecnologia d e exp lor ação, q ue est á na f r ont eir a d os conhecim ent os d a engenhar ia. Par a conseguir r et ir ar esse óleo, a em p r esa p r ecisa invest ir valores m uit o alt os, p or m uit os anos a p art ir d e agor a. O novo m od elo d e exp loração d o p r é- sal, q ue o gover no cr iou em 2010, exige aind a m ais invest im ent o, p orq ue ob r iga a Pet r ob r as a ser sócia d e t od os os em p r eend im ent os d e exp loração no p r é-sal. Ent ão, m esm o q ue um a p ar t e d esse óleo p ossa ser licit ad a p ar a out r as em p r esas p r od ut or as, q ualq uer novo p oço ou p lat af or m a vai exigir q ue a Pet r ob r as 5
d esem b olse p elo m enos t r int a p or cent o d os gast os p ar a colocá-lo em f uncionam ent o. A Pet r ob r as r ealm ent e p r ecisa levant ar r ecur sos p ar a o p aís d ar esse salt o d e q ualid ad e na nossa econom ia. Mas o q ue t em f eit o o gover no f ed er al p ar a q ue a em p r esa consiga isso? Par a com eçar, t em ob r igad o a em p r esa a vend er, no Brasil, o com b ust ível a p r eços m ais b aixos d o q ue aq ueles q ue t em q ue p agar no ext er ior p ar a im p ort ar esse com b ust ível. Aí, é p r eciso exp licar q ue u m a gr and e p art e d o nosso p et r óleo não é ad eq uad a p ar a r ef ino d e com b ust íveis, ent ão t em os q ue exp ort ar essa p ar t e d o nosso óleo e im p ort ar out r a gr and e p ar t e d a p r od ução d e com b ust íveis (gasolina e d iesel, p r incip alm ent e). 6
Or a, m eus am igos, a inf lação est á ali, at r ás d a p ort a, am eaçan d o volt ar, p or cont a d e inúm er os er r os d e p olít ica econôm ica d o gover no. Par a f ugir d isso, em lugar d e corrigir a p olít ica econôm ica, o gover no f ed er al t ent a r ep r im ir os p r eços d a Pet rob r as. Faz a em p r esa p agar p or seus er r os, e f or ça a Pet r ob r as a t er p r ejuízo na sua at ivid ad e-f im, p er d end o o d inheir o q ue d ever ia est ar invest ind o na cap acid ad e p r od ut iva. Fiq ue clar o, p ara t od os q ue nos escut am, q ue não é er r ad o usar as em p r esas est at ais p ar a int er vir na econom ia, m od if icar as cond ições d e p r eço e concorrência em m er cad os im p ort ant es. A r ecent e d ecisão d e f orçar um a r ed ução d os jur os cob r ad os p elos b ancos com er ciais f ed er ais f oi corret a. Mas isso t em lim it es: q uand o a p olít ica d e p r eços d ef inid a p elo g over no ult r ap assa cert o lim it e, 7
f orçand o a em p r esa a vend er ab aixo d o cust o, est á inver t end o t od a a lógica d e f uncionam ent o d a em p r esa est at al com o um a em p r esa p r od ut iva e aut o -sust ent ável, m at and o a galinha d os ovos d e our o. Mas não f ica só aí: m esm o sab end o d a necessid ad e d e concent r ar os r ecur sos nos invest im ent os na p r od ução, o p r ogr am a d e invest im ent os d a Pet r ob r as t em sid o cond uzid o d e um a f orm a m uit o, m uit o d uvid osa. Pr im eir o, a em p r esa se lançou a um a enorm e exp ansão d o p ar q ue d e r ef inar ias, incluind o d uas novas r ef inar ias d e gr and e p ort e no Mar anhão e no Cear á, sem t er a cer t eza d e q ue vai p od er d isp or d o óleo p ar a ser r ef inad o p or elas. Dep ois, as ir r egular id ad es na const rução d esses gr and es p r ojet os são d o t am anho d a Pet r ob r as: 8
est arr eced oras. Nós levant am os aq ui, ano ap ós ano, as ir r egular id ad es q ue o Tr ib unal d e Cont as d a União ver if ica nos cont r at os d e ob r as d as Ref inar ias Ab r eu e Lim a, em Per nam b uco, e COMPERJ, no Rio d e Janeir o. Só nessas d uas, o sup er f at ur am ent o exaust ivam ent e com p r ovad o alcança 135 m ilhões d e r eais; out r os ind ícios d e ir r egular id ad es nelas d et ect ad os som am um b ilhão e set ecent os m il r eais i. A gest ão d esses invest im ent os é assust ad ora: a Ref inar ia Ab r eu e Lim a f oi anunciad a p ela Pet r ob r as em 2007 co m o um a socied ad e com a est at al venezuelana Ped evesa (PDV S.A.) q ue cust ar ia oit o b ilhões e m eio d e r eais. Hoje, os sup ost os sócios venezuelanos não colocar am um cent avo n a ob r a, e o seu cust o t ot al segund o a p r óp r ia 9
Pet r ob r as ser á vint e e seis b ilhões e m eio d e r eais, t r ês vezes m ais ii. Já n a ob r a d o COMPERJ d o Rio d e Janeir o, um cont r at o d e ob r as f oi lançad o p ar a licit ação com or çam ent o d e seiscent os e sessent a e d ois (662) m ilhõ es d e r eais. Em seguid a, com um a d if er ença d e p oucas sem anas, esse m esm o cont r at o, r ef er ent e à m esm íssim a ob r a, f oi sucessivam ent e of er ecid o em licit ações p ost er iores p or set ecent os e vint e e cinco (725) m ilhões, p or novecent os e vint e (920) m ilhões e t er m inou cont r at ad o p or oit ocent os e t r int a e set e (837) m ilhões iii. Or a, m eus am igos, q ue em p r esa é est a q ue não sab e q uant o aceit a p agar p or um a ob r a d esse t am anho, d e q uase um b ilhão d e r eais? Eu p od er ia d ar m ais e m ais exem p los. Nesse enorm e p r ogr am a d e invest im ent os d e 10
alt a t ecnologia, cr ít ico p ara a em p r esa e p ar a o Br asil, o gover no f ed er al exige q ue um a p ar cela f ixa seja co m p r ad a no p aís com p r om et end o o cust o e a p r óp r ia p ossib ilid ad e d e const ruir as inst alações q ue o p r é-sal exige. As sucessivas op erações d e cap it alização q ue o gover no f ed er al f ez p ar a a Pet r ob r as t er m inar am com p r at icam ent e nenhum d inheir o ingr essand o no caixa d a em p r esa t end o ap enas ef eit os cont áb eis. A d ívid a f inanceir a d a Pet r ob r as cr esceu oit o vezes d e 2006 p ar a cá, salt ou d e d ezoit o p ar a cent o e q uar ent a e oit o b ilhões d e r eais. E p or aí vai a list a. Meus am igos, q uand o olham os p ar a o f ut ur o im ed iat o, p ar a os p r óxim os anos, acend e o sinal ver m elho: a Pet r ob r as, esse 11
inst r um ent o ind isp ensável d a econom ia b r asileir a, est á em r isco. Est á em r isco a sua exist ência com o um a m áq uina p r od ut iva viável, cap az d e gar ant ir os int er esses nacionais no m er cad o d e p et r óleo. A em p r esa p r ecisa levant ar m uit o d inheir o p ar a conseguir const r uir as p lat af or m as e out r as inst alações q ue p er m it am cum p r ir as m et as d e p r od ução d e p et r óleo q ue o p aís necessit a. No ent ant o, t od os os at os d e gest ão d o gover no, com o cont r olad or e p r op r iet ár io d essa m esm a em p r esa est ão sab ot and o a sua cap acid ad e d e ger ar os r ecur sos q ue p r ecisa d isp or p ar a invest ir. Mas o q ue nós, Senad ores, p od em os f azer sob r e isso? Muit a coisa. A p r im eir a coisa a f azer é m ant er esse aler t a na agend a d o p aís, na lem b r ança d as 12
p essoas. É cr iar no p aís a consciên cia d e q ue esse é um p r ob lem a p ara enf r ent ar já, um a p r eocup ação d e hoje, d e ont em. Pod em os q uest ionar d ir et am ent e o gover no, convocand o aq ui os seus d ir igent es r esp onsáveis p or cad a um d os p r ob lem as q ue eu levant ei. Forçand o o gover no f ed er al a exp licit ar o q ue p r et end e, d eixand o clar o o q ue est á hoje sem r esp ost a. Já exist e um r eq uer im ent o na Com issão d e Assunt os Econô m icos p ar a convid ar a p r esid ent e d a Pet r ob r as a um a aud iência p úb lica na Com issão. É um b om com eço, m as é p r eciso d iscut ir vár ias e vár ias vezes com esses d ir igent es, é p r eciso convocar o Minist r o d as Minas e Ener gia, o Min ist r o d a Fazend a, p ar a d em onst r ar clar am ent e à p op ulação o q ue é q ue se p r et end e d a Pet r ob r as. 13
Pod em os, e p r ecisam os, levar a sér io os p od er es q ue o Congr esso t em d e im p ed ir, ao ap r ovar o or çam ent o, q ue se gast e d inheir o com ob r as sup er f at ur ad as q ue ger am p r ejuízo à Pet r ob r as. Eu t enho p ar t icip ad o int ensam ent e d esse t r ab alho d e f iscalização, em b ora não seja m em b ro d a Com issão Mist a d e Or çam ent o. Ano ap ós ano, o TCU vem r elat and o d et alhad am ent e as ir r egular id ad es. No ent ant o, f orçad o p elo r olo com p r essor d o gover no, cont r a a nossa p osição e os nossos ar gum ent os, o Congr esso e a sua Com issão Mist a d e Or çam ent o t em var r id o p ar a b aixo d o t ap et e a exp r essão é essa m esm a - essas ir r egular id ad es, ignorand o a sua r esp onsab ilid ad e d e int er vir, d e exigir p elos m eios m ais cont und ent es a correção d o q ue est á irr egular e p r ejud icand o a em p r esa. 14
Hoje, não há co m o evit ar as susp eit as d e q ue est eja ocorrend o um p ossível ab uso d o p od er d e cont r ole q ue o gover no f ed er al e exer ce sob r e a Pet r ob r as. Mas, n ós p od em os aind a m elhorar o m ar co legal d as r elações ent r e a União, com o acionist a cont r olad ora, e as suas em p r esas est at ais q ue con correm nos m er cad os p r od ut ivos. Par a isso, ap resent ei na Com issão d e Const it uição e Just iça d o Senad o o r elat ório ao Pr ojet o d e Lei 207, d e 2009, q ue r egulam ent a o ar t. 173, 1º, d a Const it uição Fed er al, est ab elecend o o est at ut o jur íd ico nacional d as em p r esas est at ais q ue exp loram at ivid ad es econôm icas em cond ições d e m er cad o. Resolver esse enorm e leq ue d e p r ob lem as, af ast ar essa am eaça ao b em -est ar m at er ial d os b r asileir os, exige m uit a conver sa, 15
m uit o esf orço, m uit o t r ab alho. Essa r esp onsab ilid ad e é nossa, d e t od os os cid ad ãos, m as p r incip alm ent e d est a Casa, d os Senad ores, q ue p r ecisam t om ar a f r ent e nessa d iscussão. É o q ue o p ovo esp er a d e nós, é p ar a enf r ent ar p r ob lem as d essa gr avid ad e q ue os m at o -gr ossenses m e m and ar am p ar a cá, é p ar a t r at ar d isso q ue t od os os b r asileir os m and ar am os colegas Senad ores p ar a est e Plenár io. Senhores Senad ores, Senhoras Senad oras vam os m ost r ar ao p aís q ue est am os à alt ura d essa m issão. Vam os d ef end er a nossa econom ia, os nossos cid ad ãos. Vam os encar ar d e f r ent e os p r ob lem as q ue hoje est á sof r end o a Pet r ob r as, um p at r im ônio d e t od os nós. Am igos d e Mat o Gr osso, cid ad ãos b r asileir os, cont em com igo nest a lut a, q ue é 16
um a lut a d e t od os nós em f avor d o p aís e d a nossa gent e. i Com p erj Sup erf at uram ent o com p rovad o R$ 76,5 m ilhões (Acórd ão 3077/2010 TCU Plenário); ind ícios d e d ano ao Erário não t ransit ad os em julgad o - R$ 162.966.305,20 (Acórd ão 3344/2012 TCU Plenário). Ab reu e Lim a: Sup erf at uram ent o com p rovad o - R$ 59.000.000,00 (Acórd ão 1780/2008 TCU Plenário); ind ícios d e d ano ao Erário não t ransit ad os em julgad o R$ 1.544.443.935,85, )Acórd ão 1780/2012-TCU-P). ii Dad os d e cust o d a ref inaria: Tribunal d e Cont as d a União - Relat ório d e f iscalização r esum id o - Fiscalização 227/2012 TC 006.583/2012-1; iii Acórd ão nº 3344/2012 TCU Plenário. 17