REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS MUDANÇAS NO TRABALHO E NA EDUCAÇÃO



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Transcrição:

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS MUDANÇAS NO TRABALHO E NA EDUCAÇÃO Resumo O presente artigo busca demonstrar alguns aspectos de relevância em relação às transformações no mundo do trabalho desde os modelos de produção taylorista, fordista e posteriormente o toyotista, até o desenvolvimento da reestruturação produtiva. Com isso, procura se evidenciar mediações que se constituem entre o trabalho, a formação humana e a educação na lógica capitalista. Para o estudo, contamos com a contribuição teórica de autores como: Marx e Engels, Pinto, Gounet, Antunes, Frigotto, Mello, Tonet, Lessa entre outros. Juliano Marcelino Deitos juliano.deitos@gmail.com Janaína Silvana Sobzinski janainasbk@gmail.com Palavras chave: Reestruturação Produtiva, Trabalho, Educação. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1

Para entender a lógica estrutural que vigorou nos modos de produção taylorista, fordista e toyotista é necessário recorrer ao processo histórico de consolidação dos mesmos, pois, não pode haver nenhuma compreensão verdadeira do movimento histórico em si sem que se apreenda o mesmo tempo as correspondentes determinações materiais estruturais em suas especificidades. (MÉSZÁROS, 2011b, p. 13). Com o advento da reestruturação produtiva algumas transformações na organização do trabalho se constituíram, a partir dos anos de 1970 e 1980, nos Estados Unidos e na Europa, como respostas à crise estrutural que manifestava problemas no modelo fordista de acumulação, já em meados dos anos 1960. Nesse sentido, é possível apreender que a partir do início do século XX, são vigorantes os pressupostos do taylorismo e do fordismo como formas de organização do trabalho, o que traz novos implicativos para a formação humana. No entanto, não é pretensão deste texto fazer aqui uma análise mais detalhada desses processos. Busca se indicar alguns aspectos de maior relevância em relação às transformações no mundo do trabalho 1 em tal período, como estratégias de reprodução e perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra. O taylorismo 2 advém da divisão do trabalho manual e do intelectual, e é marcado pela racionalização do trabalho, pela disjunção de tarefas, entre os que pensam e os que executam. Essa nova organização possibilitou que sobre determinada tarefa se oferecesse [...] a cada responsável o seu cumprimento completo, sem que lhe fosse necessário acumular conhecimentos e habilidades além de um nível mínimo. (PINTO, 2007, p.32). Por isso, os operários eram extremamente especializados em determinadas atividades que realizavam, além de que sua função fosse de acordo com as aptidões apresentadas, porém, no conjunto das operações que um trabalhador efetuava, uma tomava um tempo enorme: procurar a peça certa para colocar no lugar certo, e modificála, adaptá la ao uso. (GOUNET, 1999, p.18). Com tais mudanças na forma de organização 1 Em relação à organização do trabalho ao longo do século XX, são interessantes os trabalhos de Gounet (1999) e Pinto (2007). 2 Para Melo (2010, p.36), as origens do taylorismo ocorreram no século XIX, fato atribuído ao desenvolvimento das máquinas e na necessidade de que tinha o capital de aperfeiçoar o controle sobre o trabalho, melhorar o grau de competitividade e continuar acumulando. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2

na produção, pode se atentar também para o fato de que, o avanço científico e tecnológico é ordenado e apropriado pelos detentores do capital em detrimento das mínimas condições de vida de mais de dois terço dos seres humano. (FRIGOTTO, 2001, p. 72). Nesse sentido, segundo Pinto (2007, p.36), a ideia fundamental desse sistema de organização é o de uma especialização extrema de todas as funções e atividades, além da disposição e distribuição do tempo que se constituem também como fundamentais no novo processo, já que exigiam do operário trabalhar em ritmo mais intenso para garantir a produtividade. O trabalhador mais experiente da empresa exercia as atividades como coordenação e estudo do tempo gasto para sua execução, no final, os resultados eram aplicados como normas para os trabalhadores na sua execução. Para Melo (2010, p.36), a partir da análise de Braverman (1977), o taylorismo baseou se em três princípios: a) a dissociação do trabalho especializado; b) a separação da execução e concepção, no sentido da deterioração com relação aos antigos ofícios, às tradições e conhecimentos dos trabalhadores; e também c) na exclusividade da gerência quanto ao planejamento. Para Mello, essa forma de produção é fragmentada, mãos e cérebro distanciam se entre si e, por isso, há uma desumanização do trabalhador. Portanto, o que acontece nesse sistema é de fato provedor de [...] uma hierarquização rígida em que o processo de trabalho é dominado pela gerência, que impõe aos trabalhadores modos, regras, tempos e normas de trabalhar, às quais basta obedecer (MELO, 2010, p.37). Dessa forma, o que diferenciava o sistema taylorista de organização dos seus precedentes, é o fato de que toda essa complexa análise e planejamento que envolve ficam, após sua implementação, a cargo da administração da empresa, e somente dela. (PINTO, 2007, p.37). Embora tenha sido associado ao desenvolvimento dos pressupostos tayloristas, o fordismo apresentava algumas transformações relevantes. Por meio disso, para Antunes (2002, p.25, grifo do autor), o fordismo pode ser entendido [...] fundamentalmente como a forma pela qual a indústria e o processo de trabalho X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3

consolidaram se ao longo deste século, de onde alguns aspectos básicos desse modo de produção podem ser evidenciados: a) a produção em massa através da linha de montagem e de uma produção homogênea; b) o controle pelo cronômetro taylorista; c) a produção em série e; d) o trabalho parcelar e a fragmentação das funções, que são apenas alguns aspectos característicos e fundamentais do seu desenvolvimento. Gounet (1999) também comenta sobre alguns pontos essenciais e necessários para caracterizar a transformação no sistema fordista: a) o combate aos custos e desperdícios, principalmente de tempo, gerados pela produção em massa; b) parcelamento das tarefas e, consequentemente, a desqualificação do trabalhador; c) criação da linha de produção na forma da esteira rolante e; d) adaptação dos componentes na produção a partir da padronização das peças. Porém o sistema fordista não representou a superação do taylorismo, pois continuou desenvolvendo a produção em massa, a organização do trabalho e a padronização dos processos de produção. O sistema taylorista/fordista possuía como objetivo a especialização das atividades de trabalho a um nível de limitação e simplificação tão extremo que, a partir de certo momento, o operário torna se efetivamente um apêndice da máquina. (PINTO, 2007, p.45). A atividade laboral, cada vez mais rápida e repetitiva exercida em curtos períodos de tempo, retirava do trabalhador sua capacidade de criação, tornando o submisso ao processo repetitivo e constante da produção. Assim, suas capacidades intelectuais, seus conhecimentos escolares e suas experiências pessoas eram praticamente dispensáveis nesse sistema, fazendo se necessário apenas o domínio da técnica para o trabalho. Antunes (2002, p.180), alega que como resposta do capital à sua crise estrutural, várias mudanças vêm acontecendo em função das transformações ocorridas do século XX para o XXI. De acordo com o autor, uma dessas transformações diz respeito à metamorfose no processo de produção do capital e suas repercussões no trabalho, que nos últimos anos, como respostas do capital à crise dos anos 70, intensificaram se as transformações no próprio processo produtivo, por meio do avanço tecnológico, da constituição das formas de acumulação flexível e dos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4

modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, onde se destaca, para o capital, especialmente o toyotismo. (ANTUNES, 2002, p.180 181). No sistema toyotista, o ordenamento na produção se dá através da mecanização flexível, a qual consiste em produzir somente o necessário, com o objetivo se atender à demanda do mercado, contrapondo se assim ao modelo fordista. De acordo com Pinto (2007), o sistema de organização toyotista surgiu num período em que a economia estava em lentidão, visava se o consumo dos bens de produção e também a diversificação da produção. Com desmedidas transformações no mundo do trabalho, exigia se muito mais dos trabalhadores, nesse sentido, Marx (2004, p. 82), explicita que quanto mais desenvolvidos cientifica e tecnologicamente as formas de trabalho, o trabalhador se torna cada vez mais alienado: O estranhamento do trabalhador em seu objeto se expressa, pelas leis nacional econômicas, em que quanto mais o trabalhador produz, menos tem para consumir; que quanto mais valores cria, mais sem valor e indigno ele se torna; quanto mais bem formado o seu produto, tanto mais deformado ele fica; quanto mais civilizado seu objeto, mais bárbaro o trabalhador; que quanto mais poderoso o trabalho, mais impotente o trabalhador se torna; quanto mais rico de espírito o trabalho, mais pobre de espírito e servo da natureza se torna o trabalhador. Antunes (2002, 2003, p. 13) enfatiza que a reestruturação produtiva trouxe uma série de consequências para a organização do trabalho, dentre elas a do redesenho da divisão internacional do trabalho e do capital, um conjunto de transformações no plano da organização sócio técnica da produção, deu se um processo de reterritorialização, incremento de tecnologias, atendimento ao just in time, baixos salários, maior jornada e intensidade de trabalho. Nesse novo sistema, Pinto (2007) comenta que se colocam novas exigências são para os trabalhadores, uma vez que estes precisam ter uma formação multifuncional, para desempenharem diversas funções, aperfeiçoando suas técnicas e conhecimentos próprios da produção e, portanto, aumentando sua produtividade. Tal forma de organização foi atribuída rigorosamente aos trabalhadores, e sua aceitação era X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5

imperativa para que não houvesse exoneração dos mesmos e/ou falência da empresa. Isso repercutiu em dois aspectos: na submissão por parte dos trabalhadores e na busca de uma qualificação por todos. Para que nenhum operário detivesse maior conhecimento sobre o outro e este exigisse maiores salários ou direitos em consequência do seu maior conhecimento propôs se uma desespecialização e, ao exigir de todos os trabalhadores a polivalência, desautorizou o poder de negociação detido pelos mais qualificados, obtendo por essa via o aumento do controle e a intensificação do trabalho. (PINTO, 2007, p. 58). É possível perceber que, novas formas de organização do trabalho que envolvem técnicas e métodos próprios na produção, bem como a formação dos trabalhadores, acabam tornando se fundamentais para o enriquecimento da classe dominante e para tornar os trabalhadores alienados de sua verdadeira humanidade ao não realizar mais o trabalho em seu plano ontológico. (LESSA; TONET, 2011), há uma descaracterização do homem em seu processo de autoconstrução. Portanto, o trabalho é o fundamento do ser social, pois possibilita que ao transformar a natureza o homem transforme a si mesmo. Neste sentido, Tonet e Nascimento (2009) destacam que é a partir do trabalho que são produzidos os bens necessários para a existência humana e, em consequência disso, o trabalho sempre será a base estrutural de qualquer forma de sociabilidade. No entanto, o trabalho pode assumir formas necessariamente contraditórias e alienadoras, dependendo da sociedade em que o indivíduo faça parte. Assim, a sociedade sobre a qual vivemos é essencialmente desigual, formada pela divisão de classes, o que determina a produção e a reprodução da vida real, sendo que desta forma, o capital exerce controle sobre o trabalho. De acordo com esses autores, A exploração e a opressão fazem com que o trabalho que cria riqueza, a arte, a beleza (que nada mais são do que a manifestação da potência humana) seja o mesmo que produz a pobreza, a miséria a degradação e a desumanização. Contudo, essa natureza contraditória não lhe é conatural. É uma determinação histórica que surgiu com a sociedade de classes e desaparecerá quando esta for eliminada. (TONET; NASCIMENTO, 2009, p.4). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6

Segundo Tonet (2005, p.58), em Marx, a alienação consiste em uma força social estranha aos homens, [...] passando a dominar a vida destes e, deste modo, a transformar se em obstáculo à sua autoconstrução como seres plenamente humanos. Para Marx e Engels (1998, p.11, grifo dos autores), a forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete precisamente o que são, o que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos produzem depende, portanto, das condições materiais da sua produção. Além disso, a produção das ideias, da consciência e representações está ligada intimamente à atividade material, ou seja, é a forma como os homens organizam a produção de sua vida material, através do desenvolvimento das forças produtivas e das relações aí compreendidas que condicionam (em última instância) a forma de pensar e de se relacionar dos homens. Marx e Engels (1998, p.19) enfatizam essa questão ao diferenciarem a sua concepção da filosofia alemã: Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui é da terra que se sobe ao céu. Em outras palavras, não partimos dos homens dizem, imaginam e representam, tampouco do que eles são nas palavras, no pensamento, na imaginação e na representação dos outros, para depois se chegar aos homens de carne e osso; mas partimos do que os homens em sua atividade real, é a partir de seu processo de vida real que representamos também o desenvolvimento dos reflexos e das repercussões ideológicas desse processo vital. O processo de reprodução, ampliação e perpetuação do capital é expresso na medida em que o trabalhador é importante enquanto força de trabalho, assim [...] todas as atividades voltadas para o indivíduo não visarão, na verdade, o seu desenvolvimento omnilateral, harmonioso, integral, mas adequá lo, da melhor forma possível, à produção de mercadorias. Essa complexidade resultante do próprio trabalho fez com que [...] a reprodução do ser social exigisse o surgimento de esferas de atividade, como uma especificidade e uma legalidade próprias, tais como arte, religião, política, ciência, direito, educação, etc. que cumprem, cada uma, determinadas funções nesta reprodução. (TONET, 2007, p.13). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7

Tonet (2012, p. 13 14) comenta que o trabalho nos últimos anos tem passados por várias mudanças, e o novo modelo de produção instaurado tem incorporado cada vez mais a ciência, a tecnologia, a produção, a flexibilidade e a descentralização, determinados pela necessidade de uma giro muito rápido dos produtos e por uma produção voltada para o atendimento de uma demanda mais individualizada. Dessa forma, é necessário que examinemos alguns aspectos do trabalho em relação à formação humana, bem como à educação. O exame dessas questões nos permite aprofundar a maneira pela qual as mudanças na organização do trabalho, a partir do antagonismo entre capital e trabalho, mediados pelo Estado, incidem na educação. Mediações entre trabalho, formação humana e educação Ao analisar a mudança na forma de organização do trabalho, também é possível observar alterações com relação à educação e à formação dos trabalhadores. A educação assume centralidade por ser uma relevante mediação para a legitimação do capital. Destaca, também, que as transformações na forma de organização do trabalho, para a recomposição dos patamares de acumulação do capital, promovem alterações no campo educacional. Sendo assim, é importante considerarmos que, a partir de todas as mudanças ocorridas nos processos de trabalho, faz se necessário o estabelecimento de novos objetivos e finalidades para diferentes aspectos da formação humana. Portanto, também, as mudanças nas concepções educacionais estão intrinsecamente associadas às mudanças na sociedade, ou seja, qualquer alteração no contexto da materialidade social, bem como nos campos filosóficos e científicos traz implicações para o contexto educacional. Para Frigotto e Ciavatta (2003, p. 102), o que é um problema da cultura da sociedade se torna, consequentemente mais um problema de aprendizagem escolar. Por isso, destacamos que a educação não se constitui como algo separado da totalidade social, ela deve ser entendida como um aspecto da dimensão social que se X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8

desenvolve, a partir das contradições procedidas no interior de um modo de produção determinado e do processo de luta de classes. Diante disso, também não se pode desconsiderar o papel do Estado que últimos anos tem expressado suas intervenções no âmbito de uma correlação de forças sociais (PERONI, 2003). Estado esse, que é mínimo, funcional ao mercado (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003), ou seja, pouco atende às demandas sociais, porém, serve à lógica capitalista. Para Marx e Engels (2001, p. 95), [...] esse Estado não é mais do que a forma de organização que os burgueses constituem pela necessidade de garantirem mutuamente a sua propriedade e os seus interesses, seu domínio sobre a classe trabalhadora, explorando a e extraindo cada vez mais trabalho excedente. Com isso, o Estado moderno constitui se, para Mészáros, como estrutura de comando político do capital, a qual deve assegurar a coesão na organização social, para proteger e garantir a produtividade do sistema, podendo exercer somente uma função corretiva frente aos desajustes e desentendimentos nos microcosmos do sistema. (MÉSZÁROS, 2011a). Peroni avalia como o Estado tem se portado nos últimos anos em relação ao capitalismo, ao mercado, à Terceira Via e quais são suas ações destinadas à área educacional. Na tentativa de superar a sua crise, o capitalismo estabeleceu algumas estratégias, como o neoliberalismo, a globalização financeira e produtiva, a reestruturação produtiva e a Terceira Via, que acabaram redefinindo as fronteiras entre o público e o privado. As mudanças ocorreram não apenas na alteração da propriedade, mas principalmente em relação ao que permanece na propriedade estatal, passando a ter a lógica do mercado e reorganizando os processos educacionais. (PERONI, 2013, p.3). Além das estratégias elencadas por Peroni, o capitalismo tem atuado através dos organismos internacionais, que têm nos últimos anos, exercido influência nos países periféricos. Frigotto e Ciavatta (2003, p. 97) afirmam que no Brasil, os anos de 1990 registram a presença dos organismos internacionais que entram em cena em termos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9

organizacionais e pedagógicos, marcados por grandes eventos, assessorias técnicas e farta produção documental. A educação é para Lombardi (2011, p.347), a partir de Marx, determinada, em última instância, pela forma como os homens produzem sua vida material, [...] bem como as relações aí implicadas, quais sejam, as relações de produção e as forças produtivas são fundamentais para apreender o modo como os homens vivem, pensam e transmitem as ideias e os conhecimentos que têm sobre a vida e sobre a realidade [...]. Tonet (2007, p.65) também descreve em que consiste a atividade educativa que tem por fundamento a apropriação de conhecimentos, valores e também no desenvolvimento de determinadas habilidades e comportamentos comuns ao grupo: [...] podemos dizer que a natureza essencial da atividade educativa consiste em propiciar ao indivíduo a apropriação de conhecimentos, habilidades, valores, comportamentos, etc. que se constituem em patrimônio acumulado e decantado ao longo da história da humanidade, contribuindo, assim, para que o indivíduo se construa como membro do gênero humano e se torne apto a reagir face ao novo de um modo que contribua para a reprodução do ser social, que se apresenta sempre sob uma determinada forma particular. (TONET, 2007, p.65). Tal atividade educativa, segundo Mészáros (2008), pode ser, potencialmente, considerada como um mecanismo de apreensão de conhecimentos que remetam à uma postura revolucionária de transformação social, como também, contraditoriamente, servir para a reprodução e perpetuação da forma capitalista de sociabilidade, na medida em que não possibilita, à classe trabalhadora, uma formação integral. Segundo Kuenzer (2003), podemos considerar que o taylorismo/fordismo se caracterizou pela valorização de um conhecimento parcial e prático, o que ilustra a simplificação em relação às exigências de escolaridade e, em decorrência, a valorização de um conhecimento empírico, condição fundamental para a entrada dos trabalhadores no mundo do trabalho: Daí a primazia do saber tácito sobre o conhecimento científico, da prática sobre a teoria, da parte sobre a totalidade, do descaso com a formação do profissional da educação, que também não mais fazia do que apresentar a sua prática para ser imitada. No âmbito do trabalho, o X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10

processo educativo se reduzia ao desenvolvimento dos conhecimentos tácitos sobre determinadas partes do processo de trabalho, através da repetição dos procedimentos levados a efeito pelos trabalhadores mais antigos e pela própria experiência. (KUENZER, 2003, p.48 49). Também, segundo Kuenzer (2003), a partir de um confronto direto com a rigidez do fordismo, a acumulação flexível se apoia na flexibilização dos processos de trabalho a partir das mudanças trazidas pela implementação da microeletrônica. Passa se a exigir, diferentemente do taylorismo/fordismo, uma nova forma de conhecimento ou competência, como é tratada pela autora, que [...] deixa de priorizar os modos de fazer para contemplar a articulação entre as diferentes formas e intensidades de conhecimento, tácito e científico com foco no enfrentamento de situações não previstas. (KUENZER, 2003, p.50). A partir dessas transformações se exige um conhecimento maior por parte do trabalhador, e não apenas tácito. Kuenzer (2003, p.51) afirma que se passa a exigir: [...] o desenvolvimento de competências cognitivas complexas e de relacionamento, tais como análise, síntese, estabelecimento de relações, criação de soluções inovadoras, rapidez de resposta, comunicação clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem, capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos para atingir metas, trabalhar com prioridades, avaliar, lidar com as diferenças, enfrentar os desafios das mudanças permanentes, resistir a pressões, desenvolver o raciocínio lógico formal aliado à intuição criadora, buscar aprender permanentemente, e assim por diante. Nesse sentido, Pinto (2007) comenta que as mudanças ocorridas na implementação do modelo de organização flexível, denominado toyotismo, assim como o anterior taylorismo/fordismo, fizeram com que houvesse significativas mudanças para a formação e educação do trabalhador. Tais processos ampliaram ainda mais os graus de exploração do trabalhador, em que a estabilidade trabalhista não era mais tida como benefício e era aplicada a poucos trabalhadores, isso, devido à grande intensificação do trabalho e o grande número de desempregados. Gomes (2012, p. 190 191) atenta para o problema que se apresenta a partir disso, um esvaziamento do conteúdo colocado à disposição do trabalhador, além da negação do conhecimento que possibilita revelar as determinações do real em suas múltiplas dimensões. Portanto, como destaca Frigotto X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11

(2001, p. 80), a educação se atrela a uma perspectiva de acomodação, mesmo que se utilizem noções como as de educação polivalente e abstrata. Trata se de conformar um cidadão mínimo, que pensa minimamente e que reaja minimamente. Tais mudanças não ocorreram unicamente pela implementação de um ou outro modelo de produção, mas também pela necessidade, em meio à crise do estrutural do capital, de reprodução e perpetuação do antagonismo de classe existente na sociedade capitalista, o qual exacerba ainda mais a divisão classista e as desigualdades sociais. Pode se perceber a questão no que se refere à reprodução da desigualdade de classes, quando Marx (2003, p.669) comenta que: A reprodução da classe trabalhadora envolve ao mesmo tempo a transferência e acumulação da habilidade, de uma geração para a outra. O capitalista considera a existência de uma classe trabalhadora dotada de habilidade entre as condições de produção que lhe pertencem; vê nela a existência real de seu capital variável. É o que se comprova quando uma crise traz lhe ameaça de perdê la. Podemos analisar em tais contribuições que a reprodução e a perpetuação da exploração de uma classe sobre outra é mediada por inúmeros fatores, dentre eles a educação. Segundo Gomes (2012, p. 190 191), para seguir em sentido contrário ao da crise, o sistema do capital busca arrego numa educação que nega o conhecimento que revela o real, que contribua para manipular cada vez mais as consciências, que aprofunde mais a exploração dos trabalhadores e que amplie os espaços sociais de privatização e mercantilização. A reprodução da desigualdade de classes requer a disseminação da ideologia dominante. O conceito de ideologia, na concepção marxiana, não está proposto num sentido unilateral. Porém, no sentido proposto para essa condição de opressão e exploração, ela é tida num sentido negativo, [...] como uma força mistificadora e contraproducente, que, em grande medida, impede o desenvolvimento social. (MÉSZÁROS, 2011b, p.141). Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p. 1104 1105), avaliaram as políticas do governo Lula para a educação profissional, as quais haviam inserido a formação técnica para uma X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12

população tradicionalmente excluída dos benefícios sociais, formação que é mínima, e ora articulada ora desarticulada da educação geral. Assim os autores problematizam: em que bases o projeto de desenvolvimento econômico e social do Brasil de hoje supera ou se acomoda à lógica da divisão internacional do trabalho que, historicamente, reduz os trabalhadores a fatores de produção e, em razão disso, torna sua formação um investimento em capital humano, psicofísica e socialmente adequado à e produção ampliada do capital. Em que medida o projeto nacional democrático popular não se dissolveu pela inserção subordinada do Brasil na economia internacional globalizada e A educação pode ser assim, um dos meios pelo qual ocorre a reprodução e a perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra. Segundo Mészáros (2008), é preciso romper com a lógica do capital se queremos contemplar a criação de uma alternativa educativa significativamente diferente. De acordo com Tonet (2007, p.31), [...] os homens serão efetivamente (plenamente) livres quando puderem, de fato, ser senhores do seu destino. Isto nada tem a ver com liberdade absoluta, anárquica ou irrestrita. Tem a ver apenas (e isto é essencial) com a possibilidade de os homens estarem em condições a partir de uma base material capaz de criar riquezas suficientes para satisfazer as necessidades de todos de serem efetivamente sujeitos de sua história. (TONET, 2007, p.31). A propósito disso, Marx e Engels (1998, p.21) esclarecem que o primeiro pressuposto para a existência humana é necessário que [...] todos os homens devem ter condições de viver para poder fazer a história. Mas, para viver, é preciso antes de tudo beber, comer, morar, vestir se e algumas outras coisas mais. Nesse sentido, Tonet (2005; 2007) comenta sobre a necessidade de uma forma de educação que proporcione um desenvolvimento integral do homem, o qual pressupõe uma nova forma de organização da sociedade, ou seja, uma nova forma de organização do trabalho, o trabalho associado. A partir da concepção pressuposto marxiana, podemos afirmar que o trabalho associado representa a forma mais livre possível do trabalho humano (TONET, 2007). No entanto, essa forma de organização do trabalho não se constitui como uma forma de X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13

cooperativa, ela se caracteriza pelo controle livre, consciente, coletivo e universal dos trabalhadores sobre o processo de produção e distribuição de riqueza 3. (TONET, 2007, p.46). No entanto, essa forma de organização do trabalho só é possível a partir de um alto grau de desenvolvimento das forças produtivas, um nível que possibilite a produção necessária de bens que supram as necessidades de todos. Isso possibilitará que a produção perca o caráter de mercadoria e o fundamento de valor de troca, para ter como objetivo o valor de uso e possa atender as necessidades humanas. Por sua vez, essa transformação como não se trata da passagem a um novo patamar histórico da sociedade de classes, mas da transição a uma sociedade inteiramente nova [...] (LESSA; TONET, 2012, p.58), necessita, portanto, de uma tarefa histórica que envolva o desenvolvimento das condições objetivas e das condições subjetivas e, nesse processo, a educação possui um papel importante. Na visão de Mészáros (2008, p.65, grifo do autor), [...] o papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica radicalmente diferente. É isto que se quer dizer com a visão de uma "sociedade de produtores livremente associados." Dessa forma, a educação necessita caminhar no sentido do desenvolvimento de uma ordem social qualitativamente distinta (MÉSZÁROS, 2008), pois o mero desenvolvimento do capitalismo não conduzirá a nada mais do que ainda mais capitalismo. (LESSA;TONET, 2012, p.58). Nesse sentido, é evidente que as incorrigíveis determinações destrutivas da ordem existente tornam imperativo contrapor aos antagonismos estruturais e irreconciliáveis do sistema capitalista, assim, é necessário uma alternativa positiva sustentável para a regulação da reprodução metabólica social, se quisermos assegurar as 3 Sobre trabalho associado é interessante o texto de Lessa e Tonet, 2012. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14

condições elementares da sobrevivência humana (MÉSZÁROS, 2008, p.71 72). Por isso, Lessa e Tonet (2012, p.59) destacam que: O desenvolvimento do capitalismo pode até mesmo extinguir a humanidade ou produzir uma crise de proporções tão elevadas que assistamos a um recuo das capacidades produtivas da humanidade a patamares muito inferiores ao atual, sem que o capital venha a ser superado. Não importa a crise, não importa o nível de alienação e desumanidade, não importa quão destrutivo tenha se tornado o sistema do capital, ele não enterrará a si próprio. Em outras palavras, o desenvolvimento das relações de produção capitalistas não conduz automaticamente ao comunismo. A partir disso, o papel da educação, orientado por uma perspectiva positivamente viável de ir para além do capital, é absolutamente crucial a este propósito. (MÉSZÁROS, 2008, p.72, grifo nosso). Mészáros defende uma educação escolar aliada à educação no geral, a que ocorre em âmbitos fora da escola. Portanto, o papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica radicalmente diferente. É isso que se quer dizer com a concebida "sociedade de produtores livremente associados". Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a "efetiva transcendência da auto alienação do trabalho" seja caracterizada como uma tarefa inevitavelmente educacional. (MÉSZÁROS, 2008, p. 65, grifos do original). Neste sentido Tonet (2012) afirma que não é possível desenvolver uma educação emancipadora nesta sociedade, porém atividades educativas emancipadoras. Também considera que a formação humana é histórica e social. Não há a possibilidade de uma definição perene para ela. É processo, hora contínuo, hora descontínuo, que guardará certa identidade ao longo da história. Assim, pode se dizer, partindo dos fundamentos onto metodológicos elaborados por Marx, que o processo de o indivíduo singular tornar se membro do gênero humano passa pela necessária apropriação do patrimônio material e espiritual acumulado pela humanidade em cada momento histórico. É através dessa apropriação que este indivíduo singular vai se constituindo como membro do gênero humano. Por isso mesmo, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15

todo obstáculo a essa apropriação é um impedimento para o pleno desenvolvimento do indivíduo como ser integralmente humano. (TONET, 2012, p.77, grifo nosso). Obviamente que, a partir das contradições e antagonismos presentes na forma de sociabilidade capitalista, tanto a educação em geral, quanto as políticas que regulam a educação escolar, são organizadas de modo a atender a determinados interesses da classe dominante. Impedem, portanto, a formação integral do indivíduo, isto é, o acesso aos bens materiais e espirituais, necessários para sua autoconstrução e pertencimento ao gênero humano. Para tanto, há a necessidade da superação do capital, uma vez que, como apontado anteriormente, seria necessária uma nova forma de organização da produção da riqueza social, o trabalho associado, para que houvesse uma formação verdadeiramente humana. Considerações Finais De fato, a educação escolar se constitui como uma importante mediação para a formação dos indivíduos. No entanto, como ressalta Tonet (2012, p.83), ela serve à reprodução do capital. Defende se uma formação de qualidade e acessível a todos, porém na sua essência serve apenas para atender aos interesses da classe dominante. O discurso de igualdade, democratização e garantia do acesso está muito presente nas políticas educacionais brasileiras desconsideram a realidade objetiva e as desigualdades sociais, enquanto atribuem à educação uma característica salvacionista e emancipatória, uma espécie de hipocondrismo à educação, ou seja, achar que por meio da educação todos os problemas da totalidade social seriam resolvidos. Por isso, concordamos com a afirmação de Tumolo (2012, p.161, grifo do autor), que [...] no capitalismo a construção do gênero humano se dá pela sua destruição, sua emancipação se efetiva pela sua degradação, sua liberdade ocorre pela sua escravidão, a produção de sua vida se realiza pela produção de sua morte Nesse contexto, a lógica que permeia tanto a educação mais ampla, quanto a produção do conhecimento e as políticas educacionais, apesar das conquistas e avanços X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16

em seus campos, servem predominantemente para manter a reprodução da forma de sociabilidade do capital. Desse modo, para que a educação e também a produção do conhecimento científico sejam, necessariamente, voltados para a formação humana, para a emancipação humana, apenas a superação do capital e do capitalismo é o ponto no horizonte a ser alcançado, com a possibilidade de construção de uma sociedade para além do capital. (TUMOLO, 2012). Procuramos discutir as mudanças ocorridas na forma de organização do trabalho advindas da lógica de reestruturação produtiva e o papel da educação no contexto da sociedade capitalista. Com isso buscamos demonstrar a importância de desenvolver atividades educativas emancipadoras 4, mesmo que existam incontáveis limites para a educação escolar, além disso, vivemos num momento em que, a educação é tratada como mercadoria quando não considerada como a salvadora. Há muitas ações a serem concretizadas ainda, porém, os passos precisam ser dados, independentemente se longos ou curtos, conduzam a avanços significativos. Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002.. Os caminhos da liofilização organizacional: As formas diferenciadas da reestruturação Produtiva no Brasil. Ideias, Campinas,9(2)/10(l): 13 24, 2002 2003. FRIGOTTO, G. Educação e Trabalho: bases para debater a Educação Profissional Emancipadora. Perspectiva, Florianópolis, v.19, n.1, p.71 87, jan./jun. 2001. FRIGOTTO, G; CIAVATTA, M. Educação Básica no Brasil na década de 1990: Subordinação ativa e consentida à lógica do mercado. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 24, n. 82, p. 93 130, abril 2003. 4 Sobre isso são interessantes as contribuições de Tonet (2012; 2005). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.17

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