POSICIONAMENTO SOBRE ELETRIFICAÇÃO DO TRANSPORTE Direção Geral de Negócios / Direção Global de Regulação 10 DEZEMBRO 2017
1. CONTEXTO O transporte é o setor que mais gera emissões: Na União Europeia já representa 30% da energia total consumida e 22% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Na Espanha representa 40% do consumo total de energia e 27% das emissões de GEE. Nos Estados Unidos, o transporte implica em 29 1 % da energia final consumida e 26% das emissões. O transporte é um setor que não está se modernizando com a rapidez suficiente e por isso suas emissões, ao contrário dos outros setores econômicos, estão aumentando. Por exemplo, cabe destacar que enquanto a emissão total de gases de efeito estufa na Europa decresceu em 17% entre 1990 e 2012, o setor de transporte aumentou suas emissões em 22% durante o mesmo período 2. Isso se explica porque o setor de transporte atual segue movido a gasolina e a gasóleos e não tem sido capaz de introduzir renováveis de forma significativa. Assim, em 2015, somente 7% da energia final consumida em transporte na Europa vinha de fontes renováveis, enquanto que a entrada de renováveis no setor elétrico superava 29%. ENQUANTO A EMISSÃO TOTAL DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA EUROPA DECRESCEU EM 17% ENTRE 1990 E 2012, O SETOR DE TRANSPORTE AUMENTOU SUAS EMISSÕES EM 22% DURANTE O MESMO PERÍODO 2 Porém, o transporte também impacta gravemente a qualidade do ar, a poluição acústica e a saúde, principalmente nas cidades. O transporte segue sendo o maior poluente do ar (NOx, SO2, partículas em suspensão...), expondo grande parte da população a níveis de emissões que excedem os padrões de qualidade de ar de diversos países 3. Tais poluentes têm efeitos prejudiciais para a saúde e são responsáveis por seus altos custos. 1 De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). 2 Pesquisa para o Comitê Tran Emissões de gases com efeito de estufa e poluentes atmosféricos dos transportes da UE. Parlamento Europeu 2015: http://www.europarl.europa.eu/regdata/etudes/idan/2015/563409/ipol_ida(2015)563409_en.pdf Emissões de CO 2 do transporte em foco. Parlamento Europeu 2015: http://www.europarl.europa.eu/regdata/etudes/atag/2015/571343/eprs_ata(2015)571343_en.pdf 3 Em 2015 na UE, 11 Estados Membros excederam seus limites máximos de emissão de um ou mais poluentes. 2
Portanto, para cumprir os objetivos de descarbonização estabelecidos no Acordo de Paris, é necessário modernizar o setor de transporte, reduzindo substancialmente suas emissões. Dada à sustentabilidade ambiental da eletricidade (é a energia que menos emite, a que mais desenvolveu renováveis e a que mais as desenvolverá no futuro), o veículo elétrico é a forma mais eficiente e viável para transformar o transporte, permitindo reduzir tanto as emissões de CO 2 como a contaminação ambiental nas cidades. 2. POSICIONAMENTO A eletrificação do transporte através de veículos elétricos (VE) e com base em um mix elétrico limpo é o caminho mais efetivo, eficiente e sustentável para descarbonizar este setor e, por tanto, se requer uma estratégia de longo prazo para o desenvolvimento da eletrificação do transporte. O veículo elétrico permanece discriminado frente a outras tecnologias e, por tanto, a Iberdrola defende esforços dirigidos para conseguir um ambiente de igualdade. 2.1. Reduzir as barreiras econômicas e regulatórias que retardam o desenvolvimento do VE Barreiras econômicas Os veículos com motores de combustão interna não estão expostos aos custos ambientais e sanitários causados por suas emissões de GEE e outros poluentes, de modo que o usuário final de um veículo diesel/gasolina não tem benefício econômico por escolher uma opção de transporte mais sustentável. A ELETRIFICAÇÃO DO TRANSPORTE ATRAVÉS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS (VE) E COM BASE EM UM MIX ELÉTRICO LIMPO É O CAMINHO MAIS EFETIVO, EFICIENTE E SUSTENTÁVEL PARA DESCARBONIZAR ESTE SETOR O setor de transporte deve suportar o custo das emissões de CO 2 que emite e incorporar os custos com cuidados de saúde que causam aos cidadãos em cada país 4, o que proporcionaria uma sinalização de preços efetiva aos usuários finais. Uma implantação mais sistemática de ferramentas equitativas e eficientes com base no princípio de poluidor pagador fará com que os usuários avancem para opções de transporte mais sustentáveis com impactos positivos nas emissões. 4 De acordo com o Relatório Bellona: Repensando o custo do transporte rodoviário alimentado convencionalmente (Março de 2017). 3
Em ausência de tais medidas, e enquanto se produz a eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis, deveriam se aplicar soluções alternativas imediatas, como programas específicos de apoio para a compra de VE. Esta medida compensaria os custos de emissão dos veículos convencionais e garantiria igualdade de condições entre os convencionais e os VE, ao mesmo tempo em que incentivará a transição para um modo de transporte mais sustentável. Simultaneamente, devem-se programar ambiciosas normas de emissões de CO 2 e NOx para os veículos de passageiros, veículos leves e pesados, transporte marítimo e linhas aéreas, assim como um sistema de vigilância para que o dieselgate não se repita no futuro. Os VE tem a maior eficiência energética de todos os sistemas de propulsão de veículos, convertendo 80% ou mais da energia armazenada na bateria em movimento (nos veículos convencionais esta eficiência é somente de 18 a 25%). Apesar das melhorias tecnológicas nos motores de combustão interna, os VE são e seguirão sendo mais eficientes. Por isso, a penetração do VE no setor de transporte deveria ser considerada como uma medida de eficiência, podendo receber fundos que se dediquem aos objetivos de eficiência energética. Barreiras regulatórias O progresso do Veículo Elétrico deve ocorrer no sentido de facilitar a implantação de pontos de recarga em edifícios privados, em shoppings, vias públicas, etc. Com caráter geral, a instalação dos pontos de recarga deve ser uma atividade livre, devendo-se evitar trâmites administrativos que dificultem a instalação dos mesmos. Qualquer pessoa deve poder instalar um ponto de recarga em sua casa ou comunidade sem cargas regulatórias que dificultem desnecessariamente tal instalação. Os edifícios novos devem contar com uma pré-instalação de pontos de recarga que facilite a posterior instalação pelos inquilinos/proprietários. Da mesma forma, a instalação de pontos de recarga em shoppings, garagens de acesso público e vias públicas, não deve ser acompanhada de barreira regulatória. O PROGRESSO DO VEÍCULO ELÉTRICO DEVE OCORRER NO SENTIDO DE FACILITAR A IMPLANTAÇÃO DE PONTOS DE RECARGA EM EDIFÍCIOS PRIVADOS, EM SHOPPINGS, VIAS PÚBLICAS, ETC. 4
2.2. Assegurar que os veículos elétricos representem uma quota razoável do total de novos veículos que são comprados A implantação massiva do VE no transporte requer a existência de uma oferta de VE suficiente e que responda as necessidades dos usuários. Com o objetivo de acelerar a transformação da indústria de fabricantes de automação se requer: Estabelecer um caminho de conformidade obrigatória que garanta uma crescente porcentagem de vendas da VE em relação às vendas totais, dando um grande impulso à implantação antecipada e oferecendo aos investidores e as cadeias de valor um sinal claro na direção adequada. Estabelecer uma porcentagem obrigatória e gradualmente crescente de eletrificação renovável para o setor de transporte. 2.3. Assegurar a implantação de uma infraestrutura de recarga em via pública, que permita a decolagem do mercado Em complemento a existência de uma oferta suficiente e razoável de veículos elétricos por parte dos fabricantes, é necessário assegurar que exista uma rede de recarga que assegure a mobilidade dos clientes de veículo elétrico. Por isso, a implantação de pontos de recarga em via pública, incluídos pontos de carga rápida, é necessária para aumentar a confiança do cliente e, portanto, a demanda de VE. Assim, a recarga do VE não deve colocar esta tecnologia em desvantagem frente a outras, devendo assegurar que os proprietários de VE podem carregar seus carros quando considerarem conveniente sem limitação alguma. Embora a instalação de pontos de recarga deva ser em caráter geral uma atividade livre, em curto prazo, devido aos baixos níveis de penetração do VE, não existe interesse da iniciativa privada para desenvolver uma infraestrutura de recarga básica de confiança suficiente aos cidadãos que estão pensando em trocar de veículo (caso contrário, já estaria progredindo). Portanto, é necessário que uma Rede Básica de Recarga Pública se promova a partir das instituições. A RECARGA DO VEÍCULO ELÉTRICO (VE) NÃO DEVE COLOCAR ESTA TECNOLOGIA EM DESVANTAGEM FRENTE A OUTRAS, DEVENDO ASSEGURAR QUE OS PROPRIETÁRIOS DE VE PODEM CARREGAR SEUS CARROS QUANDO CONSIDERAREM CONVENIENTE SEM LIMITAÇÃO ALGUMA. 5
Esta Rede de Recarga Básica não requer investimento elevado. Por exemplo, para o caso da Espanha, a Deloitte em seu informe "Um modelo de transporte descarbonizado para a Espanha em 2050" determina ser necessário um investimento inicial de 170 milhões de euros no período 2017-2020 para impulsar uma infraestrutura de recarga na Espanha que seja confiável e suficiente aos compradores de veículos. Por isso, a alternativa mais viável para que as instituições assegurem a implantação da Rede de Recarga Básica de acesso universal é que esta seja desenvolvida pelas distribuidoras de energia elétrica (que já contam com redes elétricas que cobrem todo o território) e que esse investimento seja considerado como um ativo de distribuição regulado (como uma linha ou subestação), sempre supervisionados pelo regulador nacional competente. O investimento adicional por parte dos operadores de redes não é significativo de uma perspectiva macroeconômica e assegura, de uma forma rápida, uma Rede Básica de Recarga que proporciona segurança ao usuário e ao potencial comprador do VE, possibilitando e acelerando a modernização e descarbonização do setor de transporte. 6