Uso de aplicativo móvel na promoção de saúde de pessoas com fissuras labiopalatinas: relato de experiência Use of mobile application in the health promotion of people with cleft lip and palate: experience report Larissa Azeredo da Silva Lessa Nicolau (Nicolau, LASL) Acadêmica curso graduação Odontologia Universidade Federal Fluminense UFF E-mail: larissalessanicolau@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7197-8645 Paola Casali Rocha (Rocha, PC) Acadêmica curso graduação Odontologia Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ E-mail: paolacasalirocha@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7806-9938 Ana Maria Bezerra Bandeira (Bandeira, AMB) Doutora em Biomateriais IME/COPPE/UFRJ. Coordenadora de Ensino e Extensão no CEE/HESFA/UFRJ. Ortodontista Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto HMNSL E-mail: anaband7@gmail.com ORCID: http://orcid.org/0000-0003-2529-8280 Resumo O presente relato de experiência trata da utilização de aplicativo móvel informativo sobre o cuidado multiprofissional realizado em um Centro de Tratamento de Deformidades Craniofaciais Especializado em Fissuras Labiopalatinas, localizado no município do Rio de Janeiro. Objetiva-se descrever e discutir seu uso como ferramenta tecnológica educativa utilizada na promoção de saúde. Concluiu-se que o uso de App móvel como ferramenta tecnológica educativa é um recurso promissor, visto a sua aplicabilidade efetiva devido ao amplo acesso, visibilidade e acessibilidade. Acredita-se que seja oportuno investir no seu desenvolvimento uma vez que surge como uma forma eficiente de propagação de informação em tempo real e de livre acesso. Palavras-chave Ferramenta tecnológica educativa, fissura labiopalatina, promoção da saúde, mídia social Abstract The present report of experience deals with the use of informative mobile application about the multiprofessional care carried out in a Center of Treatment of Craniofacial Deformities Specialized in Fissures Labiopalatinas, located in the city of Rio de Janeiro. It aims to describe and discuss its use as an educational technological tool used in health promotion. It was concluded that the use of mobile App as an educational technology tool is a promising resource, given its effective applicability due to broad access, visibility and accessibility. It is believed that it is opportune to invest in its development since it appears as an efficient way of propagating information in real time and free access. Keywords Educational technology tool, cleft lip and palate, health promotion, social media
Introdução Este estudo objetivou, mediante relato de experiência, descrever e discutir o uso de um App informativo sobre o cuidado multiprofissional de pessoas com fissuras labiopalatinas em um Centro de Tratamento de Fissuras Labiopalatinas, do Hospital Municipal Nossa senhora do Loreto situado no município do Rio de Janeiro. Dessa forma, foi acessado e realizado download para conhecê-lo. Para subsidiar o relato buscou-se o histórico desse tipo de ferramenta tecnológica na literatura estabelecendo um paralelo da informação encontrada com a experiência vivenciada. Contextualização O uso de tecnologia móvel é uma realidade crescente na sociedade, influenciando na busca de informação e interatividade com os usuários. Os dispositivos móveis (smartphones, tablet, notebook) têm sido utilizados em diversos contextos como forma de dinamizar o fluxo de dados e informação para a tomada de decisão, contribuindo para a questão da produção de conhecimento em redes e a ampliação dos canais de comunicação para acesso aos serviços de saúde. 1 Historicamente, o primeiro smartphone, denominado Simon, surgiu no ano de 1992. Desenvolvido pela International Business Machines (IBM), possuía tela touchscreen (sensível ao toque) e um teclado atrelado que permitia ao usuário receber e enviar mensagens de fax e e-mails. 2 O Nokia 9000 Communicator surgiu 8 anos depois e foi considerado o primeiro smartphone de excelência com sucesso nas vendas e críticas. Em 2007, a Apple lançou seu primeiro smartphone, Iphone, que revolucionou o mercado mundial. 3 O número de usuários únicos de smartphones chegou a 46,7 milhões no mundo em 2015. 4 Segundo dados do relatório do Sistema Global para Comunicações Móveis (GSMA), havia 451 milhões de assinantes móveis únicos em toda a América Latina no final de 2016, com 33% do total concentrado no Brasil. Diante dessa ascensão no uso de smartphones, o manejo de aplicativos móveis cresceu exponencialmente. Todos os dias centenas de novos App são criados. Há mais de 1.800.000 considerando as plataformas ios (iphone operating system) e Android (sistema operado pela empresa Google Inc.) e em 2013 haviam mais de 31.000 designados a cuidados com a saúde, como mostra a quadro 1. 5 Quadro 1 - Números quantitativos da ascensão de App de 2013 a 2016 Fonte: The Next Web. The History of the Smartphone, 2011. https://thenextweb.com/mobile/2011/12/06/the-history-of-the-smartphone/
Tibes 6 relata que há necessidade de uma equipe multiprofissional atuante como conteudistas a fim de potencializar a construção dos App com o perfil do cuidado. Enfatiza a necessidade de ressaltar os pacientes, como fonte de conhecimento sobre suas condições de saúde. Ademais, dentre as novas tecnologias, os App estão em uso crescente pela população o que pode determinar o caráter promissor, a possibilidade de investir e obter resultados positivos para os tratamentos. 6 Além disso, permitem a facilidade de acesso à informação, em qualquer lugar e hora, possibilitando a constante conexão e atualização do conteúdo, fatores fundamentais para subsidiar, por exemplo, a qualificação de profissionais de saúde. Estas tecnologias educativas em saúde são recursos relevantes que podem ser utilizados para implementar ações de promoção da saúde considerando a pluralidade dos seres humanos frente ao processo saúde-doença. 7 Metodologia Esse relato de experiência foi desenvolvido com base no conjunto de informação inerente ao desenvolvimento e uso de App destinado a informar a população a respeito do tratamento de pessoas com deformidades craniofaciais de um Centro Especializado no Tratamento de Fissuras Labiopalatinas situado na cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, foi acessado e realizado download para conhecer o APP. Para subsidiar o relato buscou-se fundamento na literatura através, de buscas realizadas no período de 2000 a 2017, nos idiomas português e inglês, na Biblioteca Virtual em Saúde e no Google Acadêmico com os seguintes descritores: promoção da saúde; material educativo e de divulgação; mídia social; fenda labial; fissura palatina; unidade hospitalar de odontologia. A partir daí foi estabelecido um paralelo com a experiência vivenciada. Relato da experiência Durante o curso de graduação em Odontologia, surgiu a oportunidade de participar do concurso do processo seletivo para estágio não obrigatório como acadêmica bolsista da Prefeitura do Rio de Janeiro, no modo atenção integral à saúde, sob o regime de doze horas semanais. Após a aprovação no concurso, o local de lotação escolhido foi o Hospital Nossa Senhora de Loreto, especializado em pediatria e referência para tratamento de pessoas com fissuras labiopalatinas. A experiência ocorreu de maio a outubro de 2018 e de imediato houve contato com diversas especialidades odontológicas, tais como, odontopediatria, ortodontia, clínica geral e odontologia para bebês, como também, acesso a confecção dos aparelhos protéticos realizados no laboratório de prótese. Além disso, foi possível assistir algumas cirurgias plásticas (queiloplastias e palatoplastias). Foi observada a multiprofissionalidade, multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade atuante, exemplificada pela Consulta de Avaliação Tríplice
(CAT), que conta com fonoaudiólogo, pediatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, assistente social e odontólogo. Pode-se conhecer um App para dispositivos eletrônicos, criado com a finalidade exclusiva de informar a população sobre a temática de fissuras labiopalatinas associando ao cuidado realizado em Centro especializado no atendimento de pessoas com deformidades craniofaciais. Trata-se de uma versão eletrônica para mobile na forma de App, baseado no guia de orientação intitulado: Centro de Tratamento de Fissuras Labiopalatais - Guia de Orientação, que existe na forma de cartilha impressa distribuída aos usuários desse Centro e demais locais que possam atender pacientes pediátricos, como em maternidades, sendo um apoio para dirimir as dúvidas. O App móvel denominado CEFIL LORETO foi criado em 24 de dezembro de 2016, e ao longo de sua criação até os dias atuais (2018) foram sendo incorporados colaboradores que compõem a equipe multiprofissional, e desde então houve ajustes e acréscimos de conteúdo. A descoberta do mesmo se deu através da observação de cartazes disponíveis na unidade com objetivo de divulgação, e após isso, o acesso através do uso de smartphone. 8 Na unidade de saúde, após o contato com este App, houve motivação para pesquisar sobre o assunto e entender o panorama atual sobre quando ocorreu o desenvolvimento para a promoção de saúde integral da pessoa com fissura labiopalatina com enfoque na multiprofissionalidade. Por conta disso, foi acessado seguindo as orientações apresentadas a seguir na Figura 1, para identificar conteúdo e aplicabilidade. A estrutura permite acesso e navegabilidade dinâmica. Dessa forma, foi possível observar a preocupação da equipe do setor odontológico em desenvolver uma forma diferenciada de divulgação da informação tanto para as pessoas que se tratam no Centro, como também a possibilidade de que a mesma seja disseminada na internet. A estrutura do App possui divisões e subdivisões. A primeira informação é o contato, onde constam e-mail, endereço e telefone. Em seguida, encontra-se a finalidade do aplicativo e uma breve apresentação do Centro de Referência que foi inspiração para a criação, e também a tela inicial com o menu de acesso e suas abas (Figura 2 A). As especialidades profissionais encontradas são descritas e ilustradas por fotografias dos pacientes, devidamente autorizadas e selecionadas cuidadosamente pela idealizadora, sendo essas: odontologia, fonoaudiologia, cirurgia plástica, pediatria, otorrinolaringologia, psicologia, nutrição, terapia ocupacional e serviço social. Somando-se a isso, mais especificamente são abordadas as seguintes questões: O que é uma fissura?, Possíveis causas, Quando ocorre? e Diagnóstico. Foi possível identificar que as questões norteadoras são chaves e diretamente ligadas às dúvidas habituais das pessoas que são tratadas no Centro.
Um assunto muito importante abordado no conteúdo são os tipos de fissuras e suas classificações (Figura 2 - B), além do primeiro cuidado na maternidade, que é essencial no tratamento. Temas como qualidade de vida, primeiro atendimento, abertura do prontuário e documentos necessários, fases do tratamento, consulta de avaliação tríplice e reunião pré-operatória são itens descritos no aplicativo. Durante a primeira consulta, o profissional descreve todas as orientações dadas verbalmente para o responsável e as mesmas podem ser revisadas através do App em caso de dúvida ou esquecimento. Além disso, mais especificamente sobre a odontologia, explica-se a respeito da placa obturadora (recomendações e marcas comerciais de creme adesivo), fitas para o lábio (objetivo e marcas comerciais) e sobre escovação diferenciada para os dentes que nascem na fenda. Um ponto chave da ferramenta é a interface de ligação com o Google Maps e Facebook institucional do Centro assim como o link de acesso a uma playlist de vídeos relacionados à temática fissura labiopalatina. Também estão disponíveis ferramentas de geolocalização, acesso a postagens no Facebook institucional, uma playlist no Youtube com vídeos previamente selecionados sobre o assunto e um local para publicação de depoimentos pessoais. Foi possível observar que o atendimento nesse Centro em questão se dá não apenas as pessoas do Estado do Rio de Janeiro. Um aspecto positivo do App é a lista de outros centros, o que favorece a disseminação da informação de onde são realizados os atendimentos pelo país e que pode influenciar na descentralização, aproximando os usuários dos locais que residem. Dentre eles estão: CAIF - Paraná, Centrinho - São Paulo, Centrare Belo Horizonte, Sobrapar - São Paulo, HMI Menino Jesus - SP, Projeto Fendas - RJ e Afissore - Sorocaba. Esses são os citados até o momento, pois os dados são confirmados antes de disponibilizar, visto a necessidade de verificar o funcionamento dos mesmos (Figura 2 C). A ferramenta é gratuita, não possui financiamento ou patrocínio. Não está disponível em lojas de App, mas sim em um link de uma página na internet que pode ser encontrada no Google utilizando as palavras aplicativo cefil loreto. Os meios de divulgação deste aplicativo são através de cartazes fixados no Centro, via internet através de redes sociais, vídeos no Youtube e via comunicação oral interpessoal. A maior motivação da idealizadora foi diversificar o veículo de informação, pois até então, estava apenas sendo disponibilizada em meio físico como cartilha (impresso) ou digital no formato PDF 9, que não possuem a versatilidade de navegação do App e a modificação dinâmica. Atualmente está em fase de atualização e ampliação de conteúdos, reformulação de fotos, com o objetivo alcançar mais efetivamente as necessidades
no que tange a informação para o tratamento das pessoas com fissuras labiopalatinas. Conforme encontrado durante consulta a literatura pertinente, pode-se perceber que a criação e a utilização de App é uma ótima alternativa para o alcance da população visto a facilidade de acesso e navegabilidade. Tal fato é reafirmado visto a disseminação do uso de smartphones e o crescente desenvolvimento de App de diversas áreas que alcançam o público específico, como visto em Formangini 4 e Arrais 5. No entanto, o alcance ainda não é ampliado o suficiente como se desejaria, visto a necessidade de acesso à internet. Além disso, sabe-se da necessidade de desenvolver App para pacientes e não somente para os profissionais, a fim de promover o conhecimento sobre o autocuidado, sendo assim, reforça a importância da criação do App abordado neste trabalho, tal como relatado por Tibes. 6 Entende-se, portanto, a necessidade de melhor divulgação e investimento na ferramenta, devido aos benefícios que a mesma fornece quanto a informatização do conteúdo através de um dispositivo móvel, quase que indispensável, principalmente para a comunicação interpessoal. Figura 1 - Passo a passo para acessar o App CEFIL LORETO. (A) Busca em site (Google) por App cefil ; (B) Fazer cadastro ou entrar com o Facebook; (C) Acesso ao App; (D) Opções de compartilhamento e como adicionar o App à tela inicial; (E) Adicionando o App à tela inicial do smartphone; (F) Tela inicial do App no smartphone. Fonte: Aplicativo CEFIL Loreto. Website na Internet, https://app.vc/cefil_loreto
Figura 2 - Abas do App CEFIL LORETO. (A) Tela inicial do App; (B) Aba referente aos tipos de fissuras; (C) Outros centros de atendimento a pessoas com fissuras labiopalatinas. Fonte: Aplicativo CEFIL Loreto. Website na Internet, https://app.vc/cefil_loreto Considerações finais A partir da experiência vivenciada e o fundamento na literatura, pode-se concluir que o uso de App móvel como ferramenta tecnológica educativa na promoção de saúde de pessoas com fissuras labiopalatinas é um recurso promissor visto a sua aplicabilidade efetiva. Em virtude tanto do amplo acesso aos smartphones quanto à internet móvel, a visibilidade e acessibilidade dessa ferramenta encontram-se em um cenário de progresso a ser observado na sociedade atual. Em contrapartida, são necessários mais investimentos para o desenvolvimento, visto ser um meio eficiente de divulgação de informação em tempo real e de livre acesso. Referência bibliográfica 1- Souza RC, Alves LAC, Haddad AE, Macedo MCS, Ciamponi AL. Processo de criação de um aplicativo móvel na área de odontologia para pacientes com necessidades especiais, Revista da ABENO, 2013;13(2):58-61. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://revodonto.bvsalud.org/pdf/abeno/v13n2/a08v13n2.pdf 2- The Next Web [homepage na internet]. The History of the Smartphone. 2011. [acesso em: 09 de ago de 2018]. Disponível em: https://thenextweb.com/mobile/2011/12/06/the-history-of-the-smartphone/ 3- Coutinho GL. A Era dos Smartphones: Um estudo Exploratório sobre o uso dos Smartphones no Brasil. Brasília DF. Tese [monografia de obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda]. Universidade de Brasília - UnB, 2014. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/9405/1/2014_gustavoleuzingercoutinho.pdf
4- Formangini TDB, Ervilha RR, Machado NM, Andrade BABB, Gomide HP, Ronzani TM. Revisão de aplicativos de smartphone para cessação do tabagismo disponíveis em língua portuguesa. Cad. Saúde Pública 2017; 33(2):e00178215. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v33n2/1678-4464-csp-33-02- e00178215.pdf 5- Arrais RF, Crotti PLR. Revisão: aplicativos para dispositivos móveis ( Apps ) na automonitorização em pacientes diabéticos: J. Health Inform. 2015;7(4):127-33. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://www.jhi-sbis.saude.ws/ojsjhi/index.php/jhi-sbis/article/view/359/245 6- Tibes CMS, Dias JD, Mascarenhas SHZM. Aplicativos móveis desenvolvidos para a área da saúde no Brasil: revisão integrativa da literatura. Revista Mineira de Enfermagem. 2014; 18(2):471-478. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/940 7- Santos ZMSA, Frota MA, Martins ABT. Tecnologias em saúde: da abordagem teórica a construção e aplicação no cenário do cuidado. Fortaleza: EdUECE; 2016 [acesso em: 05 ago de 2018]. Disponível em: http://www.uece.br/eduece/dmdocuments/ebook%20- %20Tecnologia%20em%20Saude%20-%20EBOOK.pdf 8- Aplicativo CEFIL Loreto [website na internet]. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: https://app.vc/cefil_loreto 9- Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. Subsecretaria de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência. Superintendência de Hospitais Pediátricos. Direção do Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto. Guia de Serviço do Centro de Tratamento de Fissuras Labiopalatais. Coordenação CEFIL. Rio de Janeiro, RJ: SMSDC; 2012. [acesso em: 01 de jul de 2018]. Disponível em: http://www.soperj.org.br/novo/imagebank/cartilhacefil.pdf