Num diálogo tudo é informação: elementos prosódicos (tom da voz, entonação, pausas da fala), elementos gestuais e as palavras.



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Transcrição:

As redes sociais são as estruturas dos agrupamentos humanos, constituídas pelas interações, que constroem os grupos sociais. Tecnologias proporcionam espaços conversacionais, ou seja, espaços onde a interação com outros indivíduos adquire contornos semelhantes àquelas da conversação, buscando estabelecer e/ou manter laços sociais. [os termos interação e conversação nem sempre são sinônimos. Neste livro, interessa-nos as chamadas interações sociais, ou seja, construídas entre atores sociais, com o propósito de negociar, construir e dividir sentidos. A partir desse ponto de vista, a interação entre atores sociais acontece através da conversação.] Comunicação Mediada pelo Computador (CMC) e conversação A pesquisa em CMC tem sido desenvolvida por linguistas e sociólogos. Vertentes importantes: há aqueles que estudam o discurso produzido na CMC e há a perspectiva interacional, focada nas trocas sociais que emergem dessas trocas linguísticas e nos efeitos dessas trocas. O livro organizado por Herring (1996), Computer-Mediated Communication: Linguistic, Social and Cross-Cultural Perspectives, traz abordagem abrangente do conceito, incluindo perspectivas sociais e culturais. Nesse livro, toma-se a conversação como principal forma de CMC, tomando a visão abrangente como ponto de partida. Para os autores que analisam a conversação no ambiente virtual, essa depende de um contexto comum que precisa ser negociado pelos participantes. Embora seja claro que a conversação mediada pelo computador é análoga à conversação oral, não é simples de ser observado. Num diálogo tudo é informação: elementos prosódicos (tom da voz, entonação, pausas da fala), elementos gestuais e as palavras. A ocorrência de uma conversação necessita de que os participantes compreendam e legitimem os enunciados um do outro. A conversação é a porta através da qual as interações sociais acontecem e as relações sociais se estabelecem. O diálogo, enquanto prática falada, implica necessariamente uma alocução, interlocução e um processo de interação. A alocução refere-se à existência de outro participante; a interlocução, à troca de palavras. Para que haja o diálogo, é preciso que alguém esteja falando com outro (alocução), que essas falas aconteçam em turnos (que sejam interlocutórias) e que a situação contextual onde o processo acontece seja demarcada pelos participantes. A conversação é um processo organizado, negociado pelos atores, que segue determinados ritos culturais e que faz parte dos processos de interação social. Defendemos, junto a outros autores, que as ferramentas de CMC são apropriadas com caráter conversacional pelos usuários. As trocas interativas entre os atores nesses ambientes possuem muitas similaridades com a conversação oral rápida e informal. O discurso não precisa ser baseado em som para ter características orais. Convenções são criadas para Notas técnicas 1/10

suplementar, textualmente, os elementos da linguagem oral e da interação, gerando uma nova esrita oralizada. É uma conversação em rede, múltipla, espalhada, com a participação de muitos e que permanece gerando novas apropriações e migrando entre diversas ferramentas. Para boyd (2007) os públicos em rede (networked publics) compreendem espaços e audiências que são mediados através da tecnologia digital (e cuja noção é também reconstruída por essa tecnologia). Para a autora esses públicos mediados possuem características diferenciadas: persistência, replicabilidade, audiências invisíveis e buscabilidade. A mediação acrescenta a persistência ao espaço público. Esses públicos em rede constituem-se no ambiente da conversação. Há um distanciamento físico, e essa não-proximidade está relacionada ao descolamento do processo conversacional da copresença. Assim é comum que a linguagem e os contextos utilizados para a comunicação nesses ambientes sejam apropriados pelos autores como elementos de construção da identidade. Essa construção, necessária para a visibilidade daquele com quem se fala, é fundamental na interlocução (p. 44). Signos criados a partir de convenções de uso da linguagem fornecem o contexto para o diálogo, bem como transformam a linguagem em ação. (O usuário não apenas manda um beijo, mas dá um beijo.) A informalidade da linguagem também é uma característica dessa oralização. Como espaço simbólico, essas ferramentas vão oferecer espaços de construção de práticas que vão ampliar a negociação de sentido, criar convenções e ajustar contextos que vão permitir a conversação. Ferramentas diferentes vão oferecer contextos de apropriação diferentes da linguagem. A linguagem é adaptada, convencionada e alterada para dar à conversação dimensões de oralidade. Talvez por conta dessas características a convesação no ciberespaço seja tão relacionada à construção de relações sociais e agrupamentos. *** A conversação síncrona é aquela caracterizada pelo compartilhamento do contexto temporal e midiático, cuja expectativa de resposta dos interagentes é imediata. A conversação assíncrona se estende no tempo, muitas vezes migrando através de vários softwares. Com isso o sequenciamento da conversação é diferente. Nela, a reconstrução dos pares conversacionais é dificultada. Os atores envolvidos precisam de mais envolvimento para relacionar as mensagens com seus pares e compreender o sequenciamento das mesmas. Embora o e-mail seja tradicionalmente apontado como um meio assíncrono, ele pode adquirir características síncronas em seu uso diário. Diríamos, portanto, que a sincronicidade é mais uma característica da apropriação do meio e menos uma característica da tecnologia (p. 53). A conversação síncrona acontece porque o ambiente registra as mensagens e as representações, permitindo que indivíduos que visitem o ambiente em momentos diferentes possam dar continuidade à conversação. Ou seja, o que permanece é o ambiente da conversação e não os interagentes. Essa divisão entre tipos de interação é apenas didática. No ciberespaço raramente as conversações são puramente síncronas ou puramente assíncronas. No ciberespaço a presença é construída através de atos performáticos e identitários, tais como representações do eu, as quais têm características semelhantes às explicitadas por Goffman (1967). Essa Notas técnicas 2/10

personalização e individualização é essencial para a conversação pois fornece informações cruciais a respeito dos interagentes e dos contextos criados. A organização da CMC Com relação à organização dos pares na conversação mediada, parcialmente é apropriação dos atores que utilizam as ferramentas técnicas, parte é resultado dessas ferramentas (like no Facebook e @ no Twitter formam pares adjacentes). Com relação aos rituais, nessas conversações a abertura e o fechamento funcionam também como elementos de marcação de presença online. Há também outras formas de construir presença, como o uso do Foursquare para demarcar a presença em dado lugar offline. São rituais de marcação onde se coloca não apenas uma localidade na conversa, mas também anuncia-se e descreve-se o lugar físico (onde estou). Essas práticas fornecem elementos essenciais para o contexto da conversação. Entre os marcadores conversacionais (que guiam a conversação) mais frequentemente observados na literatura estão: Uso de onomatopeias e emoticons: onomatopeias são utilizadas para simular sons da linguagem oral e para marcar elementos verbais e não verbais das conversações orais; os emoticons são elementos gráficos utilizados para simular expressões faciais são usados normalmente para indicar humor, ações, ironia e sarcasmo. Oralização e pontuação: a entonação é conseguida através da oralização da linguagem escrita onde as palavras são escritas pelo modo como soam e pelo uso da pontuação. Abreviações: para agilizar a escrita. Indicadores de direcionamento: direcionar a fala nominalmente ao ator é uma forma de direcionar os turnos numa conversação síncrona com vários participantes. Indicadores de persistência: necessária na comunicação assíncrona, permitem aos interagentes reconhecerem o espaço temporal que se estabelece entre suas trocas de mensagens. Por exemplo, pode-se recuperar uma referência a uma mensagem antiga. Também o dia e horário em que o comentário foi realizado, auxiliar a situar o interagente em relação ao momento da conversação. Indicadores de assunto: links, trackbacks (usados por blogs para mostrar outros blogs que fazem referência ao que foi discutido), comentários em blogs; marcador assunto da mensagem enviada. O contexto na CMC Debates a respeito do contexto em diversas áreas do conhecimento, inicialmente a partir da Antropologia (Malinowski e o debate sobre a compreensão da cultura em seu contexto), mas também na Linguistica e em outras áreas. O contexto é essencial para a compreensão e recuperação da conversação. O contexto precisa ser construído, reconstruído e recuperado a cada nova interação. A oralização da escrita é uma forma de tentar construir elementos contextuais; a indicação da presença dos interagentes também é necessária para que o contexto da conversação seja estabelecido. Para o estudo dos processos de interação o contexto é elemento fundamental, pois especifica a situação Notas técnicas 3/10

comunicativa. O conhecimento dessa situação é chave para que os interagentes consigam estabelecer diálogos que compartilhem, criem e negociem sentido (p. 96). A situação, para Goffman (2001), é o contexto da interação, que é negociado pelos participantes e acatado pelo grupo. Essa negociação acarreta um consenso operacional, um acordo estabelecido pelos atores envolvidos. O processo de consenso contextual é essencial para a interação. Através dele as regras são estabelecidas e acordadas pelos participantes. Através dele é que serão interpretadas as ações comunicativas dos interagentes. Quais são os elementos do contexto? Para Kerbrat-Orecchioni (2006) são: O lugar: quadro espaço-temporal da conversação, momento no qual a interação está inserida, composto de suas particularidades, que podem ser associadas à cultura, aos signos divididos pelos participantes e por suas experiências anteriores. O objetivo da interação: aquilo que os participantes desejam atingir, também negociado pelas suas expectativas com relação ao processo. Os participantes: com suas ações, expectativas e experiências anteriores. O contexto é construído na interação entre os atores envolvidos no processo de comunicação, mas vai além desse processo está inserido em um campo de ação que se constitui enquanto interdependente deste. Informações a respeito da situação de interação são elementos comuns aos participantes, que vão auxiliálos na interpretação do sentido daquilo que é dito. O contexto pode, assim, ser constituído de linguagem comum, backgrounds semelhantes, etc. Portanto haveria um micro e um macrocontexto. Todo contexto é construído a partir de pistas ou informações que são acrescentadas às falas dos atores, de modo a direcionar a compreensão daquilo que é dito. A construção da situação comunicativa provém também das impressões que os interagentes constroem uns dos outros, de suas intenções, de seus objetivos. A interação é dessa forma um evento performático, cujo contexto é construído de forma negociada pelos envolvidos e pelas audiências. As informações a respeito dos participantes são essenciais para a compreensão das expectativas e dos acordos a respeito das situações de interação. O contexto é assim construído e reconstruído a cada ação comunicativa dos participantes. Oferta de elementos para a criação do contexto: links, hashtags... A construção e recuperação dos contextos A conversação em sua forma assincrona só é possível através da construção de contexto que possibilite sua recuperação tanto em seus micro quanto macroaspectos. Ajudam a recuperar o microcontexto: emoticons, imagens utilizadas, a própria organização da conversação proporcionada pela ferramenta. Ajudam a recuperar o macrocontexto: referências feitas a publicação de informações por outros meios, o histórico das convesações do grupo e demais ações em outros ambientes também podem contribuir para delimitar o macrocontexto. No Twitter, a referência ao usuário (@) e RT para citar uma mensagem. O uso do RT pode ser uma forma de Notas técnicas 4/10

concordância ou mesmo contexto para emitir uma opinião. O uso de hashtag (#) também é uma forma de criar contexto. Entretanto o uso de uma hashtag pode mobilizar macrocontextos diferentes. O histórico online e offlinde do grupo ajuda a montar um repertório contextual que auxilia na compreensão das interações. Em algumas ferramentas a recuperação do contexto é proporcionada pela própria ferramenta. A estrutura de gravação das mensagens como o Orkut e Facebook também permite que as informações sejam recuperadas pois permanecem na ferramenta. Links para perfis também oferecem possibilidade de seguir uma conversação e de reconstruir o contexto da informação. É no contexto que reside a chave da conversação, pois é ele que dá o setting, o espaço de regras e os elementos que vão ser utilizados pelos atores para trocar as informações. Finalmente é o contexto que proporciona o surgimento da conversação em rede. Sua construção coletiva, negociada e apropriada pelos atores no ciberespaço é o que proporciona a emergência dessas conversações. É preciso compreender o contexto para que o mapeamento dessas conversações seja eficiente. É preciso entender suas particularidades para que se perceba seus efeitos na conversação. A conversação em rede Conversações em rede constituem-se em conversações coletivas, públicas, permanentes e que permitem a recuperação de partes dos contextos. São diferenciadas dentro daquelas que existem no espaço online pois emergem do espaço coletiva e publicamente dividido por centenas ou milhares de indivíduos, seja ele constituído de uma hashtag, comunidade no Orkut, no debate em torno de uma notícia no Facebook. São fundamentalmente conversações amplificadas, emergentes e complexas, nascidas da interconexão dos atores. Os sites de redes sociais criaram novas formas de circulação das informações, propiciaram o advento de novas formas de conversação: conversações coletivas, assíncronas ou síncronas, públicas e capazes de envolver uma grande quantidade de atores, que chamamos aqui conversação em rede (p. 123). Constituídas dentro das redes sociais online, são capazes de navegar pelas conexões dessas redes, espalhando-se por outros grupos sociais e outros espaços, adquirindo novos contornos e por vezes novos contextos. Extrapolam os limites dos grupos, ampliando o seu alcance, sendo republicadas por diversos grupos, que assim ganham acesso à informação e participam da conversação. A conversção também tem por efeito publicizar as relações sociais construídas entre os interagentes, fornecendo contexto social para a interpretação dos grupos e das relações entre os indivíduos. Pelo seu caráter público a conversação em rede tambem referencia um determinado grupo social, os contextos criados e divididos por esse grupo. A característica mais importante da conversação é o espalhamento entre grupos sociais pelas conexões entre os indivíduos. As representações dos atores envolvidos nas trocas comunicacionais, como os perfis, são normalmente Notas técnicas 5/10

referidos como os nodos ou nós da rede. Grosso modo um laço social representa uma conexão que é estabelecida entre dois indivíduos e da qual decorrem determinados valores e deveres sociais. É resultado de uma construção relacional e uma sedimentação de valores, como intimidade e confiança social. Granoveter (1973) defendeu que os laços seriam essencialmente fortes e fracos. Os fortes são aqueles que compreendem mais intimidade, relacionados a uma maior quantidade de valores construídos entre os interagentes. Os laços fracos são importantes porque conectam entre si os grupos, constituídos de laços fortes. Laços não apenas conectam os atores na rede social, mas tambem são importantes vias de circulação de informações nessas ferramentas. No espaço de mediação do computador, os laços sociais são um pouco diferentes. Há dois tipos de laços: laços associativos e os relacionais. Os últimos se referem àqueles laços construídos através da interação. Os laços associativos são aqueles construídos pelo mero pertencimento. As ferramentas disponibilizariam assim redes de filiação ou associação ou redes que são emergentes pela conversação, que aqui chamaremos de redes emergentes. Estas últimas mostram efetivamente com quem um determinado ator interage. Sites de rede social representam o grande diferencial na comunicação mediada pelo computador hoje. Caracterizam-se pela publicização ds redes sociais dos atores e pela possibilidade de construir um perfil individualizado. Sites de rede social sustentam laços relacionais, que são aqueles derivados da interação entre os atores, e laços associativos, que são aqueles provenientes da associação entre os atores (por interesses comuns ou ideias semelhantes) sem necessariamente interagir depois de adicionados à sua rede. Facebook e Orkut trazem conexões sempre recíprocas e simétricas, uma vez que para que alguém adicione outra pessoa à sua rede é necessária a concordância desta. O Twitter e o Google+ permitem também a montagem de redes sociais assitmétricas, ou seja, de conexões onde não existe reciprocidade na criação da conexão. O fato de estar conectado de forma assimétrica a um ator permite ao usuário que participe da convesação, divida o contexto e que possa receber benefícios dessa conexão. Consideramos esses laços sociais como associativos, uma vez que os atores associam-se a outros, recebendo informações desses e contribuindo para gerar valor para a conexão. Esses diferentes tipos de conexão são relevantes porque são essas novas formas de estar conectado que transformam as conversações. Tradicionalmente os laços relacionais são aqueles que contemplam a conversação. Entretanto na conversação em rede, essas interações trafegam pelos laços associativos e pelas redes assimétricas, trazendo contato entre atores que não estão conectados. Em uma dada sociedade ou grupo social são as trocas conversacionais que constroem os elementos da estrutura social, os valores coletivamente compartilhados e mesmo as características normativas desses grupos. Sites de rede social (SRS) têm elementos comuns e característicos: são compostos por formas de individualização como por exemplo perfis e pelas conexões que tornam públicas as redes sociais anexas a cada perfil. Os modos de representação dos atores variam de acordo com a ferramenta utilizada. Essas representações Notas técnicas 6/10

são o primeiro elemento essencial da conversação. Para boyd e Herr (2006) as performances de identidade realizadas nos SRS modificaram as representações dos atores, que deixam de ser estáticas e passam a ser constituídas de um corpo comunicativo em conversação com outros corpos representativos (2006, p. 1). Perfis seriam assim representações conversacionais constituídos pelas interpretações coletivas dos signos apresentados. Ao construir um perfil, os atores precisam reconstruir indícios que dêem pistas aos demais interagentes a respeito de quem são. boyd e Herr (2006) também apontam que esses indícios são construídos parar uma audiência imaginada pelos atores. Desse modo, perfis são conversações nas redes sociais na Internet. São representações dinâmicas, coletivas e individuais, construídas para audiências invisíveis e imaginadas pelos atores, numa relação dialógica com as percepções e expressões dos outros atores (p. 142). As conexões também são elementos conversacionais. Embora as conversações possam incluir indivíduos que não estão conectados através da ferramenta, é através da rede associativa ou de filiação que essas conversações são espalhadas e transitam para as demais redes. O contexto representa o maior problema para a conversação em rede. Mesmo na ausência dos interagentes, as interações permanecem ali. Com o crescimento das ferramentas o aparecimento de indivíduos com quem normalmente as pessoas não estariam conectadas em ambientes sociais passa a forçar os atores a negociar suas falas dentro de contextos e audiências diferentes. Isso decorre da intersecção entre as diversas redes sociais dos atores e de suas conexões-pontes (as conexões fracas). Cada nova conexão aceita por determinado ator influencia a rede como um todo. Através dessa conexão passa-se a se ter acesso àquilo que é dito pela rede. Por isso é difícil negociar contextos públicos e privados nos sites de rede social. Redes sociais estruturam-se em clusters interconectados por atores com laços mais fracos, mas estão muito mais interconectadas do que se pensa. Indivíduos mais distantes do ator acabam tendo acesso ou participação em conversações que eram originalmente privadas. A intersecção das redes pública e privada, a presença de audiências não imaginadas e a permanência são assim problemas característicos do contexto da conversação mediada nas redes sociais (p. 150). A conversação em rede entretanto é por definição pública. A visibilidade na rede também constitui uma reordenação dos modos de conversar. Para que se possa participar da conversação é preciso não apenas ser visível mas é preciso que a conversação esteja visível. As convesações precisam ser divididas, publicadas e reconstituídas para que outros sujeitos tenham ali a oportunidade de participar. O botão share do Facebook e do Google+, o retweet publicizam a conversação dando visibilidade ao que é dito e que permite que grupos diferentes participem da conversa. A prática do que se pode ou não tornar visível precisa ser negociada com as redes e com os atores. Assim é característico de cada grupo apropriar ferramentas determinadas para a conversação e determinar de forma coletiva as normas que seguirão para criar os elementos contextuais da conversação. Nos laços fracos não há uma percepção tão clara das normas que governam as interações. Quanto mais distantes os indivíduos no grafo social, menor o compromisso de cooperação que possuem uns com os outros. Os laços fracos tendem a conectar indivíduos que não necessariamente dividem os mesmos contextos de interação offline. Notas técnicas 7/10

Críticas que, em um contexto de grupo (laços fortes), podem ser toleradas, comentadas e aceitas, em um contexto de rede pode adquirir traços mais fortes. As interações reformulam a conversação oferecendo um novo contexto. Primo (2006) explica que as tensões seriam naturais no processo de interação. Há na conversação uma perene disputa de sentido. As características dos sites de rede social na Internet dão origem ao que chamamos de conversação em rede. Essas conversações, públicas e acessadas por milhares de pessoas são um fenômeno novo, que traz a emergência de outras formas de conversar, interagir e construir impressões e movimentos coletivos (p. 169). Estudando a conversação em rede Mapear a conversação é um processo complexo porque é difícil recortar uma única conversação, porque é difícil inferir o contexto dessas conversações. O que chamaremos mapas de conversação são retratos de trocas conversacionais, são representações do que chamamos redes emergentes, ou seja, redes sociais que emergem das conversações estabelecidas. A Análise de Redes Sociais (ARS) é usada para analisar a estrutura das redes de conversação. Para esse trabalho interessam-nos algumas medidas, em especial, focando os diferentes graus de centralidade. O grau de centralidade refere-se a quão central determinado nó é na estrutura da rede. A partir de Freeman (2004), há três tipos de centralidade: grau de conexão: quantidade de conexões que dado nó possui. Indegree (grau in) refere-se à quantidade de conexões recebidas e o outdegree (grau out), à quantidade de conexões enviadas. Indegree mostra portanto os nós mais citados, que são desse modo tornados bastantes visíveis na conversação; outegree representa as citações, menções e respostas dirigidas a outros atores grau de intermediação (betweeness): medida do grau de valor de intermediário de um nó em um grafo, ou seja, o quanto ele aparece em meio a outros. Refere-se assim à posição do nó na rede, Quanto maior o grau de intermediação maior o papel do nó em conectar grupos diferentes grau de proximidade: refere-se a quão próximo um nó está dos demais. Para fins de estudo é preciso delimitar a conversação que será recolhida; é preciso delimitar quais interações serão consideradas constituintes de uma conversação e quais não serão; finalmente é preciso determinar quais elementos de análise são relevantes para o estudo que se está fazendo. O mapa da conversação mostra o grau de conexão do ator quantas vezes ele enviou mensagens ao grupo ou recebeu menções/direcionamento de outras mensagens. Os graus in e out indicam a participação dos atores na conversação. Quanto mais próximo os dois graus, mais o ator esta engajado na conversação. Os atores mais centrais na medida de grau de conexão apesar de não necessariamente engajados na conversação são capazes de deixá-la visível para outras redes. Eles publicizam o assunto. E, ao citar outros, eles os convida a participarem da conversação. O grau de intermediação (betweness) indica nós que não necessariamente participaram mais da conversação mas cuja participação termina por conectar outros grupos reduzindo a distância entre seus Notas técnicas 8/10

participantes. O que importa aqui é seu papel na manutenção e na inclusão dos demais na conversação em rede. Eles desempenham um papel inclusivo na rede, de forma a dar visibilidade a interações de grupos diferentes, conectando-as à conversação em rede. Um nó com grande valor de intermediação pode conectar grupos que estão distantes entre si, mas pode ter uma proximidade muito grande com outros nós. O grau de proximidade indica quais nós estão mais próximos de outros nós pela sua participação ou citações recebidas. Suas conversações e suas menções os colocam em uma posição mais central com relação aos outros nós. Os graus de conexão indicam os indivíduos que são capazes não apenas de integrar pessoas, mas de igualmente espalhar a informação. Essa conversação mapeada também nos mostra quais interações são recíprocas e quais não são. Mostra quais são os atores mais citados, portanto centrais para o contexto, cujas interações reverberam mais por sua posição no debate. Os que possuem um alto outdegree são aqueles que falam, que respondem e que conferem dinamismo à rede através da conversação. Os nós que possuem um grande outdegree têm, assim, um papel mais ativo na manutenção e na criação de contextos da conversação em rede (p. 192). Os links publicados também têm importância fundamental por serem elementos contextuais que direcionam a informação e ajudam a construir o resto de mensagem, além de serem elementos que acrescentam sentido àquilo que é dito. Além do aspecto estrutural da conversação, onde é possível depreender a estrutura social da rede, a conversação é constituída de um sentido construído entre os interagentes o aspecto semântico/discursivo de onde é possível depreender o conteúdo dos laços sociais. Os aspectos semânticos/discursivos a serem mapeados são: o conteúdo e sequenciamento das interações, a identificação dos pares conversacionais, negociação e organização dos turnos de fala, reciprocidade e persistência, multiplexidade e migração. Em resumo, na conversação mediada delineiam-se 3 grandes desafios: a compreensão da sua estrutura, sua organização e seu contexto. A conversação em rede não é apenas uma prática de conversação mas é uma conversação emergente gerida no âmbito do suporte às redes sociais. É composta de diálogos coletivos, cujos participantes constituem-se em indivíduos de uma audiência invisível. Nao é uma conversação fechada onde o contexto está estabelecido. Como se configuram os modos de ver e concordar ou discordar nessas conversações amplificadas? Notas técnicas 9/10

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