CONHECIMENTO E VISÃO DOS ALUNOS SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE PALMAS/TO Marilísia Mascarenhas Messias 1 ; Talita Buttarello Mucari 2. 1 Aluno do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: marilisiamascarenhas@gmail.com PIBIC/UFT 2 Orientador(a) do Curso de Medicina; Campus de Palmas; e-mail: tmucari@mail.uft.edu.br RESUMO Introdução: A educação sexual recebida por grande parte da população é precária para formar jovens que tenham comportamentos preventivos e hábitos saudáveis em relação ao próprio corpo. Objetivo: investigar o conhecimento sobre sexualidade dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental das escolas municipais de Palmas-TO, bem como a visão sobre educação sexual. Métodos: Estudo quantitativo, descritivo e transversal, cuja coleta de dados foi realizada através da aplicação de questionário semi-estruturado para 399 alunos do 9º ano das 19 escolas municipais de Ensino Fundamental da cidade de Palmas-TO, Brasil. Resultados: A maioria dos alunos foi do sexo feminino, com 14 anos e religião cristã. Dentre os entrevistados, 83,96% revelaram que tiveram sua primeira relação amorosa entre 10 e 14 anos e 73,43% que não tiveram início da vida sexual. Da minoria que declarou ter iniciado a vida sexual, grande parte revelou sempre usar preservativo em suas relações. Escola e Família foram as principais instituições apontadas pelos alunos para aprender sobre sexualidade. O Ensino Fundamental foi considerado o momento ideal em que a escola poderia abordar essa temática. O conhecimento dos alunos sobre o tema foi satisfatório para a maioria, no entanto ainda há alunos que não dominam conceitos básicos. Palavras-chave: Educação Sexual; Sexualidade; Adolescente INTRODUÇÃO Na sociedade atual, como a vida sexual de grande parte dos jovens inicia-se cada vez mais precocemente, propostas com destaque na educação sexual tornam-se mais relevantes no contexto educacional desde os primeiros anos de escolarização (ABRAMOVAY, 2004). Não obstante, a educação sexual recebida por grande parte da população é precária para formar jovens que tenham comportamentos preventivos e hábitos saudáveis em relação ao próprio corpo, e não garante espaço para reflexão e formação de atitudes sobre sua sexualidade (REIS; MAIA, 2012). Página 1
Ao considerar que sexualidade está diretamente associada ao desenvolvimento humano, a investigação relacionada à educação sexual entre adolescentes assume importante papel, haja vista sua relevância para a constituição do indivíduo. O objetivo desse trabalho foi investigar o conhecimento sobre sexualidade dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental das escolas municipais de Palmas-TO, bem como a visão sobre educação sexual. MATERIAL E MÉTODOS A presente pesquisa consistiu em um estudo quantitativo, descritivo e transversal, cuja coleta de dados foi realizada através da aplicação de questionário semiestruturado, adaptado de Rocha (2013), para 399 alunos do 9º ano das 19 escolas municipais de Ensino Fundamental da cidade de Palmas, capital do Estado de Tocantins (TO), Brasil. O cálculo amostral de alunos envolvidos na pesquisa foi baseado na fórmula demonstrada por Barbetta (2003). A amostragem foi aleatória e estratificada por escola. A tabulação e análise estatística descritiva dos dados foram realizadas pelo programa EXCEL 2016 (versão 7). Alguns discentes não responderam a todas as questões e, por esse motivo, o número de respondentes (n) variou nos resultados. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Tocantins sob o protocolo 038/2015. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os 399 alunos do 9º ano das 19 escolas municipais de Ensino Fundamental da cidade de Palmas-TO, que reponderam ao questionário, 57,89% eram do sexo feminino e 42,11% do sexo masculino. A faixa etária dos participantes da pesquisa variou de 12 a 16 anos, tendo a maioria (74,44%) dos alunos 14 anos. Denominaram-se cristãos 304 alunos (76,19%), não-cristãos 10 (2,51%) e 85 (21,3%) afirmaram não possuir religião. Quando questionados sobre a idade em que tiveram sua primeira relação amorosa (beijo na boca, ficada, namoro), a maioria (83,96%) dos alunos assinalou dos 10 aos 14 anos. Com relação ao início da vida sexual, 293 (73,43%) responderam que não iniciaram, enquanto 77 (19,30%) já iniciaram. Dos que responderam que já iniciaram a vida sexual, 63 (81,82%) disseram que iniciaram entre 10 e 14 anos. Página 2
Segundo ROCHA (2013), a vida sexual dos adolescentes tem início cada vez mais cedo, e a precocidade está associada ao sexo desprotegido, muitas vezes por não conhecerem os métodos de prevenção de DST s, causando maior risco à saúde dos adolescentes. Nesta pesquisa, dos que responderam que já iniciaram a vida sexual, 47 (61,04%) alunos afirmaram que sempre usavam preservativo, 10 (12,99%) não usavam, 17 (22,08%) usavam às vezes e 3 (3,89%) não se sentiram à vontade para responder. A sociabilização do indivíduo com seus parentes, colegas, amigos, professores e mídia contribuem para a construção de sua sexualidade (RAMIRO; MATOS, 2008). Neste estudo, Escola (278; 69,67%) e Família (217; 54,39%) foram as principais instituições apontadas pelos alunos para aprender sobre sexualidade, enquanto Igreja (31; 7,77%) foi a menos considerada. Ressalta-se que nesta questão as respostas não foram exclusivas, podendo ser assinalada mais de uma opção. Com relação à busca de informações sobre sexualidade, família (204; 51,13%) e amigos (203; 50,88%) foram as fontes mais mencionadas. Nesta questão, as respostas também não foram exclusivas. Ao solicitar que apenas uma opção fosse assinalada, a maioria dos alunos considerou Família como a principal instituição responsável pela Educação Sexual (61,15%); em segundo lugar ficou a Escola (27,07%). Grande parte dos alunos revelou que conversava com seus pais e/ou responsáveis sobre sexualidade (245; 61,40%), entretanto, 130 (32,58%) alunos declararam não fazer o mesmo. Os pais devem ter a consciência de que são os principais educadores no que diz respeito a essa temática, devendo ser encorajados para que continuem falando com seus filhos (ZAGURY, 1999). A escola também se destaca entre os grupos de referência que proporcionam educação sexual por ser um espaço pedagógico, cuja função precípua é informar, cabendo a ela uma formação integral dos seus discentes (FIGUEIRÓ, 2006). Ao opinarem sobre o momento em que a escola poderia abordar essa temática, 62,41% dos alunos escolheram o Ensino Fundamental. A educação sexual deve começar quando a criança entra na escola, e se desenvolver durante todo o período escolar, pois a sexualidade infantil pode estabelecer Página 3
as bases para o desenvolvimento da sexualidade nas outras etapas de vida do indivíduo (ARAÚJO, 2005). Ao apresentar a seguinte afirmação: A minha escola oferece Educação Sexual, 148 (44,05%) alunos concordaram em parte; 118 (35,12%) discordaram e 56 (16,67%) concordaram totalmente. Visto que a escola possui papel fundamental no processo de educar sexualmente adolescentes, nota-se que ainda há grande resistência em abordar o tema sexualidade (MATOS et al., 2016), corroborando com os resultados deste trabalho em que apenas 16,67% afirmaram que a escola que frequentam oferece educação sexual e 12,20% responderam que a escola atende às suas necessidades relacionadas ao tema. Segundo os participantes, os temas sobre Educação Sexual mais discutidos na escola foram prevenção à AIDS e às DST s e reprodução humana e órgãos sexuais, com 323 (80,95%) e 241(60,40%) menções, respectivamente. Os Parâmetros Curriculares Nacionais recomendam a orientação sexual como tema transversal, devendo ser abordadas dimensões sociológica, psicológica e fisiológica da sexualidade (BRASIL, 1997). Entretanto, a educação sexual que é implementada nas escolas, em sua maioria, é baseada apenas em um enfoque biológico (ALTMANN, 2013), o que também se observa no estudo das escolas municipais de Palmas/TO. O tema de maior interesse apontado pelos participantes foi Prevenção ao Abuso, Violência Sexual e Pedofilia, com 62,41%; em segundo lugar ficou Prevenção às DST s e à AIDS, com 56,89%. Quando indagados sobre o que são DST s, a maior parte dos alunos (70,43%) respondeu que são doenças transmitidas através do relacionamento sexual, 24,31% não sabiam o que significa a sigla, 1,75% acreditam serem tratamentos para doenças adquiridas no relacionamento sexual, 1,25% novos métodos de tratamento para AIDS, 0,75% novos métodos anticoncepcionais e 1,50% não responderam a questão. Em relação ao conhecimento sobre AIDS, 338 alunos (84,71%) afirmaram que se trata de uma doença sexualmente transmissível capaz de levar à morte, 34 (8,52%) disseram saber o que é AIDS, mas não sabiam explicar, 10 (2,51%) já ouviram falar de AIDS, porém não sabiam do que se trata, 7 (1,75%) sabiam que é um tipo de doença transmissível, mas não sabiam como se prevenir, 5 (1,25%) pensavam que é um desvio Página 4
da sexualidade humana, 4 (1,00%) não responderam e 1 (0,25%) resposta foi anulada, pelo fato do aluno ter assinalado mais de uma opção. Coelho et al. (2014), em um estudo realizado com escolares entre 12 e 19 anos de uma escola pública em Goiânia/GO, apresentaram resultado similar ao desta pesquisa; em que dados revelaram conhecimento geral insatisfatório acerca do tema DST/AIDS. Em relação à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, 324 (87,57%) alunos consideraram o uso de preservativo o método mais eficiente. A maioria dos estudantes tem o preservativo como o método mais eficiente, o que infere conhecimento acerca de como prevenir o risco de transmissão/contaminação de DST/AIDS. Porém, Oliveira et al. (2015) apontaram que embora os adolescentes tenham noção dos meios de manter uma relação sexual segura, tal conhecimento não os coloca em um grupo menos vulnerável para contrair DST s; ao contrário, seu comportamento os coloca em situação de risco diante dos comportamentos sexuais, em geral, o seu uso está associado à prevenção de gravidez mais do que de DST s. Dos entrevistados, 184 (46,12%) conhecem alguém de sua faixa etária que enfrentou algum problema ligado à sexualidade. Problemas relacionados à gravidez indesejada foram os mais citados (65,76%), ficando a violência sexual em segundo lugar (34,24%). Todo esse contexto problemático que envolve a adolescência no Brasil, somado às mudanças sociais vividas nas últimas décadas relacionadas à maior liberdade para o comportamento sexual, tem interferido diretamente nas relações de saúde dessa população. LITERATURA CITADA ABRAMOVAY, M. Juventude e sexualidade. 1 ed. Brasília: UNESCO Brasil, 2004. ALTMANN, H. Diversidad sexual y educación: desafíos para la formación docente. Sexualidad, Salud y Sociedad, n. 13, p. 69-82, 2013. ARAÚJO, S. S. M. M. Educação sexual: para além dos tabus. Abceducatio, v. 6, p. 10/44-14, 2005. BARBETTA, P. A. Estatística Aplicada às Ciências Sociais (5ª edição revisada). Editora da UFSC. Florianópolis (SC), 2003. Página 5
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Brasília, v.8, 1997. COELHO, R.F. et al. Conhecimentos e Crenças sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hiv/Aids entre Adolescentes e Jovens de Escolas Públicas Estaduais da Região Oeste de Goiânia. Revista de Patologia Tropical, v. 40, n. 1, p. 56-66, 2014. FIGUEIRÓ, M. N. D. Educação Sexual: como ensinar no espaço da escola. Linhas (UDESC), v. 7, n. 1, p. 1-21, 2006. MATOS, J. et al. Atuação da escola na educação sexual de adolescentes: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Gestão & Saúde, v. 7, n. 2, s. 1, p. 773-792, 2016. OLIVEIRA, L.F.R.; NASCIMENTO, E.G.C.; PESSOA JUNIOR, J.M. et al. Use of male condom in adolescents. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v.7, n.1, p.1765-1773, 2015. RAMIRO, L; MATOS, M. G. Percepções de professores portugueses sobre educação sexual. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 4, p. 684-692, 2008. REIS, V.; MAIA, A.C.B. Educação Sexual na Escola com a Participação da Família e o uso de Novas Tecnologias da Educação: Um Levantamento Bibliográfico. Cadernos de educação. Pelotas-RS, 2012. ROCHA, V.V. Educação Sexual nas Escolas: Concepções dos Professores e Percepções de Pais e Alunos. Lisboa, 2013. (Dissertação). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Instituto de Educação, 210p. ZAGURY, T. Encurtando a adolescência orientação para pais e educadores: dúvidas que angustiam e reflexões que aliviam. São Paulo, Record, 1999. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus, que me deu sabedoria para concluir este estudo. Agradeço aos meus pais por todo apoio durante as atividades da faculdade. Agradeço aos meus mestres professores, em nome da minha orientadora Talita Buttarello Mucari, por todo conhecimento compartilhado. O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT, a qual tenho imensa gratidão. Página 6