O TRATAMENTO DA CAPACIDADE e DA CURATELA A experiência da Defensoria Pública

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O TRATAMENTO DA CAPACIDADE e DA CURATELA A experiência da Defensoria Pública Renata Flores Tibyriçá Defensora Pública do Estado de São Paulo Doutoranda e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento - Mackenzie

Curatela pela LBI Medida protetiva extraordinária(art. 84, 3.º).: proporcional às necessidades e às circunstância de cada caso durará o menor tempo possível Afeta TÃO SOMENTE atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial (art. 85 da LBI). Não alcança direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.

Hipótese de cabimento da curatela Quando não for possível a expressão da vontade, por causa transitória ou permanente, para realização de atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial IMPORTANTE: * Deve-se garantir a expressão da vontade por meio de tecnologia assistiva e por comunicação alternativa. Não restringindo a capacidade se houver esta possibilidade. Ou seja, se houver possibilidade de apoios garantir a expressão da vontade não há cabimento da curatela * Deve-se verificar a relação da pessoa com deficiência com o pretenso curador

Hipótese de NÃO cabimento da curatela Não basta haver déficit de capacidade mental Capacidade mental, de acordo com o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU não se confunde com capacidade jurídica, sendo conceitos distintos (Comentário Geral n.º 1) Os déficits da capacidade mental, sejam presumidos ou reais, não devem ser utilizados como justificação para negar a capacidade jurídica O conceito de capacidade mental é, por si, muito controvertido. A capacidade mental não é, como se pretende normalmente, um fenômeno objetivo, cientifico e natural, mas que depende dos contextos sociais e políticos, assim como das disciplinas, profissões e práticas que desempenham um papel predominante na sua análise Não basta a expressão genérica incapaz para os atos da vida civil

Questões a serem analisadas A pessoa tem condições de manifestar sua vontade? Para manifestar sua vontade a pessoa necessita de uso de alguma tecnologia ou forma alternativa de comunicação? Se sim, qual? Caso não tenha condições de manifestar sua vontade, mesmo com uso de tecnologia ou forma alternativa de comunicação, qual é a causa (indicar CID)? A causa é transitória ou permanente? Se transitória, qual o período estimado de sua duração? A impossibilidade de manifestação da vontade abrange a gestão de patrimônio (locação, venda e compra de imóveis etc) e/ou realização de negócios jurídicos (abertura de conta corrente e/ou poupança, assinatura de contratos em geral)? Se sim, exemplifique os atos patrimoniais e negociais que não consegue manifestar a vontade.

Algumas Conclusões Curatela vista como APOIO e AUXÍLIO a manifestação de vontade da pessoas e não como medida de substituição da vontade; Importância de debatermos cada vez mais este tema e as mudanças para superar o modelo anterior de incapacidades tão arraigado; Reafirmar SEMPRE que deficiência não é sinônimo de incapacidade jurídica e a inclusão da deficiência no rol das incapacidades é discriminação. Reforçar a IMPORTÂNCIA de respeitarmos as DIVERSIDADES FUNCIONAIS Desenvolvimento de instrumentos de avaliação multidisciplinar para avaliação da incapacidade jurídica com base na CIF, superando por completo o modelo patológico baseado na CID

...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. (Santos, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 56).

Obrigada! Defensoria Pública do Estado de São Paulo Av. Liberdade, 32 6.º andar Centro São Paulo SP Telefone: 11-3105-5799 www.defensoria.sp.def.br rtibyrica@defensoria.sp.def.br rtibyric@gmail.com

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