UNIDADE DE APRENDIZAGEM 4 BASE LEGAL PARA A INCLUSÃO DO/A ALUNO/A COM DEFICIÊNCIA Docente responsável: Profa. Dra. Neiza de Lourdes Frederico Fumes CEDU/UFAL Objetivo Conhecer os diferentes instrumentos legais que garantem a educação a todos os/as brasileiros/os, independentemente de seu gênero, etnia, idade, condição de deficiência, entre outros aspectos. 4.1. Documentos Internacionais Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Como um ideal a ser alcançado por todas as nações e todos os povos, esta Declaração é promulgada. Deste modo, em seu artigo 1, afirma que: todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Mais particularmente, toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (artigo 2 ). No artigo 26, dedicado à educação, a Declaração assevera que toda a pessoa tem direito à instrução gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A educação elementar é considerada como obrigatória. A instrução orientar-se-à para o desenvolvimento pleno da personalidade humana e fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Declaração de Direitos da Pessoa com Deficiência Mental (1971) Esta é uma Declaração da Organização das Nações Unidas, de dezembro de 1971, dirigida especificamente às pessoas com deficiência mental, em virtude da profunda situação de exclusão e estigmatização vivenciada por aqueles até então. Desta maneira, direitos presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos são reconhecidos como sendo também pertinentes à pessoa com deficiência mental, ainda que sejam com
ressalvas. Assim, o seu artigo 1º. indica que a pessoa com deficiência mental deve gozar, no máximo grau possível, os mesmos direitos dos demais seres humanos. Também mereceram destaques na Declaração o direito à assistência médica, à educação, à reabilitação, ao trabalho (dentro de suas possibilidades), à proteção contra o abuso e a exploração, a viver com a sua família ou em lares que a substitua, ao tratamento justo e qualificado na justiça, entre outros. Declaração de Educação para Todos, de Jomtiem (1990) Esta Declaração foi aprovada na conferência mundial sobre educação para todos e vem reafirmar o direito de todos à educação, consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, visto que até então muitos grupos continuavam excluídos da escola, como as meninas e mulheres de uma forma geral, ou então acabavam por ser expulsos da escola antes de conseguirem ter sido eficientemente alfabetizados/as. Ainda estabelece que as pessoas pobres e com deficiência devam ser alvos de ações prioritárias que levem ao acesso à educação. Mediante a este quadro, a Declaração estabelece, entre outros objetivos, que cada pessoa (criança, jovem e adulto) deve estar em condições para aproveitar as oportunidades educacionais voltadas para satisfazer as suas necessidades básicas de aprendizagem. Cabe ainda destacar que neste documento a educação é pensada como a base para o desenvolvimento humano permanente e como fator de enriquecimento dos valores culturais e morais comuns. Assim, de um modo muito sintético, são também objetivos da Declaração concentrar a atenção na aprendizagem; ampliar dos meios e o raio de ação da educação básica; propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; e, fortalecer as alianças. Para que estes objetivos sejam efetivados, são estabelecidos como requisitos: o desenvolvimento de uma política contextualizada de apoio; a mobilização de recursos; e, o fortalecimento da solidariedade internacional.
Os países signatários desta Declaração, entre eles o Brasil, comprometem-se com as seguintes metas a serem realizadas na década de 1990; Expansão dos cuidados básicos e atividades de desenvolvimento infantil, principalmente àqueles direcionados às crianças pobres, desassistidas e com deficiência Acesso universal e conclusão da educação fundamental até o ano 2000 Melhoria dos resultados de aprendizagem Redução da taxa de analfabetismo adulto à metade, com preocupação especial a condição da mulher Ampliação dos serviços de educação básica e capacitação em outras habilidades essenciais necessárias aos jovens e adultos Aumento da aquisição, por parte dos indivíduos e famílias, dos conhecimentos, habilidades e valores necessários a uma vida melhor e um desenvolvimento racional e constante, através de todos os canais da educação Sempre que possível, deve-se estabelecer níveis de desempenho para os aspectos anteriormente indicados. Declaração de Salamanca (1994) Esta Declaração representa um divisor de águas no que diz respeito ao modo de se pensar a escola e mais particularmente a educação de grupos que historicamente estavam excluídos deste espaço, como as pessoas com deficiência, as meninas e mulheres, as minorias lingüísticas, entre outros. Em particular, a Declaração proclama ainda que: Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem, reafirmando assim o que já havia sido indicado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948; Toda criança é única e isto não é diferente em termos de características, interesses, necessidades e estilos de aprendizagens; Os sistemas e programas educacionais devem considerar a diversidade de características, interesses e necessidades do alunado;
Os/as alunos/as com necessidades educacionais especiais devem ter direito à escola regular e esta deve adequar-se de modo a ser capaz de atender tais necessidades, ou seja, não basta garantir o acesso à escola, como também deve se ter o compromisso de viabilizar a permanência e o sucesso da aprendizagem a todas as crianças; As escolas com orientação inclusiva são percebidas como os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e capazes de criar comunidades acolhedoras. Também estas escolas são concebidas como capazes de prover uma educação efetiva para a maioria das crianças e ainda capazes de aprimorar a eficiência e reduzir o custo da eficácia de todo o sistema educacional. Tendo estes princípios em conta, é feito um apelo aos governos em relação aos seguintes pontos: Dar maior prioridade, em suas políticas e orçamentos, ao desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos, capazes de atender a todas as crianças, independentemente de suas diferencias ou dificuldades individuais; Adotar o princípio de educação inclusiva como matéria de lei ou política, admitindo todas as crianças nas escolas regulares; Desenvolver projetos de demonstração e encorajar o intercâmbio com países com experiências em educação inclusiva; Estabelecer mecanismos descentralizados e participativos para o planejamento, a supervisão e a avaliação educacional para crianças e adultos com necessidades educacionais especiais; Encorajar e facilitar a participação de pais, comunidades e organizações de pessoas com deficiência no planejamento e na tomada de decisões sobre a provisão de serviços relacionados às necessidades educacionais especiais; Investir maiores esforços na identificação, na intervenção precoce e nos aspectos vocacionais da educação inclusiva; Garantir que, no contexto da mudança sistêmica, os programas de formação de professores (inicial e em serviço) incluam as respostas às necessidades educacionais especiais na educação inclusiva.
O Brasil como um dos signatários da Declaração de Salamanca corrobora estes princípios, como ainda se obriga desenvolver um sistema educacional que esteja aberto a todos/as os/as alunos/as e mais do que isto que esteja comprometido em assegurar a efetividade dos processos educacionais para todos/as. Convenção de Quatelama (1999) O mote da Convenção Interamericana é a eliminação de toda a forma de preconceito contra as pessoas com deficiência e, mais uma vez, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é retomada, com os direitos da pessoa com deficiência sendo reafirmados, dentre os quais o de não ser discriminada com base na sua condição. A Convenção entende como discriminação contra as pessoas com deficiência "toda a diferenciação, exclusão e restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou o propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas com deficiência dos seus direitos humanos e de suas liberdades fundamentais". Desta forma, o objetivo primeiro desta Convenção, expresso em seu artigo II, é "prevenir e eliminar todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade". Os Estados Parte, por sua vez, comprometem-se a: Tomar medidas no âmbito do legislativo, social, educacional, trabalhista ou de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas com deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade Trabalhar prioritariamente nas áreas de prevenção de deficiências; detecção e intervenção precoce, tratamento, reabilitação, educação, formação ocupacional e prestação de serviços para pessoas com deficiências; e, sensibilização da população em geral.
Esta Convenção foi promulgada pelo governo brasileiro através do decreto n 3956, de 8 de outubro de 2001 e assegura em seu artigo 1 que àquela será executada e cumprida inteiramente. Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão (2001) Esta Declaração foi aprovada no Congresso Internacional Sociedade Inclusiva", realizado em Montreal/Canadá e tem como ponto de partida a Declaração Universal dos Direitos Humanos, nomeadamente o seu artigo 1º. em que é asseverado que todos os seres humanos nascem livres e são iguais em dignidades e direitos. No entanto, para a efetivação dos direitos humanos demanda-se o acesso igualitário a todos os espaços da vida, além disso, é apontado que a construção de uma sociedade para todos passa pelo desenvolvimento social sustentável. De modo geral, esta Declaração conclama governantes e diferentes segmentos da sociedade civil organizada para envidarem esforços no sentido de desenvolver o desenho inclusivo em todos ambientes, produtos e serviços e com isto tornar possível a participação de todos na sociedade, de forma sustentável, segura, acessível e útil. Por fim, é apontado que os benefícios da inclusão são de todos, assim como o são as responsabilidades pelo seu desenvolvimento. Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (2006) Esta Convenção incisivamente reconhece e reafirma os direitos das pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que rechaça qualquer forma de discriminação que estas pessoas possam sofrer por conta de sua deficiência. Destaca-se ainda nesta Convenção o reconhecimento da importância para as pessoas com deficiência da sua autonomia individual e independência, incluindo as liberdades para tomar as suas próprias decisões, e a necessidade de dar-lhes oportunidade de participar nos processos que lhes dizem respeito diretamente. Sendo assim, o propósito desta Convenção, expresso em seu artigo 1, é promover, proteger e assegurar o gozo completo e igual de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência e promover o respeito da sua dignidade inerente. A Convenção destina o artigo 24 para tratar especificamente da educação da pessoa com deficiência. Nele, os Estados-Parte reconhecem o direito destas pessoas à educação, a ser realizado em um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e com o aprendizado ao longo da vida, além de garantir que este ensino seja de qualidade e gratuito e realizada na comunidade onde a pessoa com deficiência vive. Ainda em termos educacionais, a Convenção prevê que as adaptações necessárias devam ser asseguradas, assim como o suporte para a educação efetiva, quando necessário, seja ofertado dentro do sistema geral de educação. Vale salientar que a Convenção não deixa de lado os professores, sendo indicado que os Estados-Parte deverão tomar medidas necessárias para contratar professores, inclusive os com deficiência, e treiná-los. O Brasil assinou o Protocolo facultativo da Convenção em 30 de março de 2007 e no dia 13 de maio de 2008 a Câmara dos Deputados aprovou a Convenção, em primeiro turno. A Assessoria de Comunicação, do Ministério da Educação, destaca que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos ao serem aprovados por 3/5 dos votos, em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional ganham o estatuto de emenda constitucional, conforme o artigo 5 o da Constituição Brasileira. Depois desta ratificação, o país compromete-se em eliminar todos e quaisquer instrumentos legais, práticas e costumes que apresentem algum tipo de discriminação da pessoa com deficiência. Depois da ratificação, o país compromete-se em eliminar todos e quaisquer instrumentos legais, práticas e costumes que apresentem algum tipo de discriminação da pessoa com deficiência. Conheça na íntegra a Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência fazendo o seu download no endereço abaixo: http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/sicorde/convenção%20onu/cartilha %20Convenção%20sobre%20os%20Direitos%20das%20Pessoas%20com%20 Deficiência.pdf