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Transcrição:

Euro-Latin American Parliamentary Assembly Assemblée Parlementaire Euro-Latino Américaine Asamblea Parlamentaria Euro-Latinoamericana Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA Comissão dos Assuntos Sociais, dos Intercâmbios Humanos, do Ambiente, da Educação e da Cultura 7.4.2008 DOCUMENTO DE TRABALHO sobre as questões relacionadas com a água nas relações UE-ALC Co-Relatora do PE: Irena Belohorská DT\706099.doc Tradução Externa AP100.228v01-00

1. Introdução A água é um recurso vital a que todas as pessoas devem ter acesso. Tal como disse o antigo Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, "O acesso à água é uma necessidade humana fundamental e, portanto, um direito humano básico". No entanto, o último relatório do PNUD sobre a água 1 realça que mais de mil milhões de pessoas no mundo, hoje, não têm acesso a água potável e que o consumo de água poluída é a segunda causa de mortalidade infantil no mundo. O relatório afirma que "garantir que todas as pessoas tenham acesso a pelo menos 20 litros de água limpa por dia é uma condição mínima para se respeitar o direito humano à água". Atendendo a que mais de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo inteiro não dispõem de estruturas de água, saneamento ou higiene adequadas, a ONU declarou 2008 o Ano Internacional do Saneamento, a fim de sensibilizar as pessoas e acelerar o avanço em direcção à meta do Objectivo de Desenvolvimento do Milénio de reduzir para metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso ao saneamento básico. Os efeitos das alterações climáticas apenas irão aumentar a importância e o impacto da água como recurso natural, e, também, como fonte de conflitos. As secas e cheias cada vez mais frequentes irão não só aumentar as pressões ao nível do acesso a reservas limitadas de água potável, como também terão um impacto significativo nos fluxos migratórios mundiais, nas necessidades de ajuda humanitária e no desenvolvimento socioeconómico. Existe uma necessidade clara de nos concentrarmos na água como uma prioridade de política pública internacional. Trata-se de uma questão mundial, que transcende as fronteiras nacionais e regionais e que, como tal, necessita de ser considerada a níveis supranacionais. A experiência única da UE em matéria de integração nos últimos 50 anos conduziu à formulação de um conjunto comum de políticas que se ocupam, entre outras coisas, de um vasto leque de questões e preocupações relacionadas com a água. Embora o panorama não seja perfeito nem completo, essa experiência constitui uma base útil para o debate. 2. Situação actual na UE Legislação relativa à água As políticas da UE em matéria de água abrangem toda uma série de domínios, tais como a gestão de cheias, a qualidade das águas balneares, os produtos químicos presentes na água, a água potável, a protecção das águas subterrâneas e as águas residuais urbanas. Em 2000, a UE adoptou uma estratégia abrangente relativa à água que simplifica e racionaliza a sua abordagem: a Directiva-Quadro no domínio da Água 2 (DQA). A DQA impõe um requisito geral de protecção ecológica e um nível mínimo de qualidade para todas as águas de superfície. Uma inovação fundamental da DQA é a introdução de um novo modelo para a gestão da água. Em vez de se concentrar em limites administrativos ou 1 UNDP Human Development Report 2006, Beyond Scarcity: power, poverty and the global water crisis. Para mais informação ver http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2006/. 2 Directiva-Quadro no domínio da água (2000/60/CE), adoptada em 23 de Outubro de 2000. AP100.228v01-00 2/8 DT\706099oc

políticos, este novo modelo concentra-se nas "bacias hidrográficas" como características geográficas transnacionais. A Directiva estabelece, também, objectivos claros: todos os Estados-Membros devem alcançar um "bom estado" até 2015 e a utilização dos recursos hídricos deve ser sustentável em toda a Europa. A fim de garantir a consecução destes objectivos ambiciosos, a execução é planeada ciclicamente, num processo em três fases. A primeira fase consiste na identificação e classificação das massas de água ( em risco, "possivelmente em risco", "não consideradas em risco"). Na segunda fase, procede-se à concepção da rede de monitorização da compatibilidade com a DQA, e, na última fase, à elaboração de um plano de gestão da bacia hidrográfica para todas as "bacias hidrográfica", incluindo programas específicos de medidas a adoptar 1. A DQA estipula igualmente que os Estados-Membros devem adoptar uma política de estabelecimento de preços da água até 2010. Com esta medida pretende-se incentivar os consumidores a utilizarem os recursos hídricos mais eficientemente 2. Contudo, é importante frisar que a DQA prevê derrogações para as zonas menos favorecidas ou para assegurar a prestação de serviços básicos a preços comportáveis. Embora a DQA defina o fornecimento de água como um "serviço de interesse geral" 3, segundo a definição da Comunicação da Comissão sobre os serviços de interesse geral 4, a água não foi incluída na Directiva "Serviços" 5. No seu artigo 17.º, a Directiva "Serviços" estabelece os serviços que devem ser excluídos da livre prestação. O fornecimento de água e o saneamento são definidos como "serviços de interesse económico geral", estando, portanto, excluídos. Por último, é importante referir que, para além da DQA, existem várias outras directivas que se ocupam de forma aprofundada de diferentes questões relacionadas com a água: as águas subterrâneas 6, as águas balneares 7, a água destinada ao consumo humano 8 e as águas residuais urbanas 9. Água: um recurso vital A água encontra-se, porém, desigualmente distribuída pela Europa, e a situação varia muito de uma região para outra. Esta desigualdade de distribuição da água enquadra-se num contexto mais geral de grandes 1 Para mais informação, ver Agência Europeia do Ambiente, The Water Framework Directive: structure and key principles em www.eea.europa.eu. 2 Artigo 9.º da DQA. 3 JO L 327, 22.12.2000, p. 2, ponto (15). 4 JO C 281, 26.09.1996, p. 3. 5 Directiva relativa aos serviços no mercado interno (2006/123/CE), adoptada em 12 de Dezembro de 2006. 6 Directiva relativa à protecção das águas subterrâneas contra a poluição e a deterioração (2006/118/CE), adoptada em 12 de Dezembro de 2006. 7 Directiva relativa à gestão da qualidade das águas balneares (2006/7/CE), adoptada em 15 de Fevereiro de 2006. 8 Directiva relativa à qualidade da água destinada ao consumo humano (98/83/CE), adoptada em 3 de Outubro de 1998. 9 Directiva relativa ao tratamento de águas residuais urbanas (91/271/CEE e 98/15/CEE). DT\706099EN.doc 3/8 AP100.228v01-00

disparidades socioeconómicas no seio da UE, que prejudica a sua coesão. A fim de superar estes problemas e reduzir as disparidades, a UE lançou uma "política de coesão", financiada por quatro Fundos Estruturais 1, com vista a reduzir as disparidades entre as regiões a um mínimo absoluto e superar os desafios a nível regional. A política de coesão toma em consideração estas variações territoriais apoiando a utilização sustentável da água. Os vários Fundos Estruturais financiam projectos nas regiões menos favorecidos, por exemplo, nos domínios do acesso à água ou do saneamento 2. Apesar de ser uma necessidade básica, a água também pode representar uma grave ameaça para o ambiente e o desenvolvimento. As catástrofes naturais estão a tornar-se cada vez mais frequentes, e as recentes cheias na Europa demonstraram o poder dramático e destrutivo da água. A água pode pôr a vida das pessoas em risco, mas também pode causar graves danos ao ambiente e ter consequências desastrosas para o desenvolvimento regional. Para evitar esse tipo de danos, foi adoptada no ano passado uma directiva relativa à avaliação e gestão dos riscos de inundações 3. A água e as alterações climáticas As alterações climáticas estão a tornar-se uma prioridade cada vez mais importante na formulação de políticas públicas. O aquecimento global representa uma ameaça para os ecossistemas à escala mundial. Estudos realizados 4 mostram que um aumento de temperatura de poucos graus é suficiente para modificar completamente o ambiente e tem um impacto directo no desenvolvimento socioeconómico. A abundância de água, sob a forma de cheias, é um perigo, mas a escassez de água também o é. A fim de fazer face a estes desafios, a Comissão Europeia apresentou recentemente várias propostas sobre as alterações climáticas 5, a escassez de água 6, e a necessidade de limitar as alterações climáticas a nível mundial a 2 graus Celsius 7. Estas medidas visam, por um lado, limitar o impacto do aquecimento global e, por outro lado, dar cumprimento aos compromissos assumidos pela UE nas conferências de Quioto e de Bali. 3. A água nas relações UE-ALC 1 Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) - Fundo Social Europeu (FSE) - Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA - Secção Garantia) - Instrumento Financeiro de Orientação das Pescas (IFOP). 2 Para mais informação sobre os projectos financiados pelos Fundos Estruturais da UE, consultar http://ec.europa.eu/regional_policy/. 3 Directiva relativa à avaliação e gestão dos riscos de inundações (2007/60/CE), adoptada em 23 de Outubro de 2007. 4 Climate Change in 2007, Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), 4.º Relatório de Avaliação; para mais informação consultar http://www.ipcc.ch/. Impact on Europe's changing Climate, Agência Europeia do Ambiente; para mais informação consultar http://reports.eea.europa.eu/climate_report_2_2004/en/. Climate Change-Induced water stress and its impact on natural and managed ecosystem, European Parliament, Policy Department - Economic and Scientific Policy, PE 393.522 5 Livro Verde - Adaptação às alterações climáticas na Europa possibilidades de acção da União Europeia, JO C 191, 17.8.2007. 6 Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho, Enfrentar o desafio da escassez de água e das secas na União Europeia, COM(2007)414 final, 18.7.2007. 7 Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, Limitação das alterações climáticas globais a 2 graus Celsius - Trajectória até 2020 e para além desta data, COM(2007) 2 final. AP100.228v01-00 4/8 DT\706099oc

Na última década, a UE e a América Latina comprometeram-se a consolidar os seus laços através de uma forte parceria estratégica. A questão específica da água já foi abordada várias vezes desde a Declaração de Guadalajara 1, de Maio de 2004, até à Declaração de Viena 2, de Maio de 2006. Durante o 4.º Fórum Mundial da Água, realizado no México (16 a 22 de Março de 2006), foi assinado um compromisso mais explícito, a Declaração Conjunta sobre a Implementação da Parceria Estratégica UE-AL para os Recursos Hídricos e o Saneamento. Esta declaração reitera os compromissos assumidos em relação aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), bem como os que foram assumidos na Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que teve lugar em Joanesburgo, em 2002. Indica igualmente os domínios em que deve haver programas de acção a funcionar: fornecimento de água e saneamento; gestão integrada dos recursos hídricos, incluindo recursos hídricos transnacionais; questões transversais, tais como financiamento, investigação e monitorização; medidas para combater eventos extremos; utilização sustentável da água na agricultura. A Declaração apoiou vigorosamente uma iniciativa existente lançada pela UE durante a Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Iniciativa da UE para a Água (EUWI). Esta Iniciativa da UE é a principal ferramenta para promover a consecução dos objectivos da comunidade internacional no domínio da água e do saneamento. Conta com o apoio político dos Estados-Membros e da Comissão Europeia que, colectivamente, despendem cerca de 1,5 mil milhões de euros por ano em projectos relacionados com a água no mundo inteiro, e baseia-se no estabelecimento de associações estratégicas entre os governos, a sociedade civil e outras partes interessadas. A EUWI está dividida em componentes de natureza regional, uma das quais, encabeçada pela Espanha, México e Portugal, corresponde à região da América Latina. Alguns dos projectos introduzidos através da componente latino-americana da EUWI recebem apoio financeiro do Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD). Este instrumento não se destina especificamente à água, podendo abranger uma série de domínios, tais como o desenvolvimento humano e social, o apoio económico, a segurança e os conflitos, os recursos naturais e os transportes. O ICD pode financiar projectos especificamente relacionados com a água e o saneamento através de programas regionais ou nacionais, ou através do Programa Temático para o Ambiente e a Gestão Sustentável dos Recursos Naturais (ENRTP). Um dos projectos que a UE irá financiar nos próximos anos será um projecto-piloto na América Central, mais especificamente na bacia transnacional do rio Coco, entre as Honduras e a Nicarágua. Este projecto, que terá uma duração de três anos, será apoiado por vários organismos de cooperação, incluindo a UE, e será realizado em coordenação com a componente latino-americana da EUWI. Os seus objectivos são reforçar o controlo local da 1 3.ª Cimeira UE-ALC, Guadalajara, México, Maio de 2004. 2 4.ª Cimeira UE-ALC, Viena, Áustria, 12 de Maio de 2006. DT\706099EN.doc 5/8 AP100.228v01-00

gestão dos recursos hídricos e apoiar a cooperação e coordenação intergovernamentais neste domínio. As relações UE-ALC no domínio da água não visam apenas a cooperação para o desenvolvimento e possuem, também, uma importante dimensão de cooperação científica. A UE pretende reforçar os seus laços com a América Latina no domínio da ciência e da tecnologia através de uma forte parceria de investigação destinada a superar desafios globais. Uma das acções específicas de apoio prevista no 6.º Programa-Quadro de Investigação da UE (PQ6-2002-2006) era uma acção relacionada com a água, o projecto WAFLA 1. Este projecto de investigação com orientação específica visava a integração da gestão dos recursos hídricos através da implementação de conceitos agroflorestais aperfeiçoados em zonas áridas e semi-áridas da América Latina. Além disso, a Conferência Ministerial União Europeia - América Latina e Caraíbas sobre o Ambiente, que teve lugar em Março de 2008, proporcionou uma oportunidade de trocar impressões sobre questões actuais de interesse comum e foi um primeiro passo num processo destinado a conferir maior peso às questões ambientais, com vista a promover, nomeadamente, a gestão integrada dos recursos hídricos e das bacias hidrográficas, no âmbito de programas bilaterais e da iniciativa EUWI. Durante a sua primeira sessão plenária ordinária, que teve lugar em Dezembro de 2007, a Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana realizou uma série de debates bastante intensos, sobretudo quando eram levantadas questões relacionadas com a água. Dois dos três relatórios aprovados mencionavam questões relacionadas com a água nas suas versões finais. O relatório sobre "As relações entre a União Europeia e a América Latina na perspectiva da V Cimeira de Lima, com particular incidência sobre a governabilidade democrática" 2 mencionava a importância de se proceder a consultas antes das cimeiras, especialmente, nos domínios das alterações climáticas e da gestão adequada dos recursos hídricos 3. Recomendava igualmente a criação de um Centro Birregional de Prevenção de Catástrofes encarregado de formular estratégias comuns e medidas de contingência, de alerta e de preparação destinadas a reduzir a vulnerabilidade mútua face aos desastres naturais causados pelas alterações climáticas. O relatório sobre "Desenvolvimento sustentável e equilíbrio ambiental nas relações entre os países da União Europeia e da América Latina na perspectiva do aquecimento global" 4, contém um parágrafo inteiro dedicado às questões relacionadas com a água que solicita, explicitamente, "a todos os países europeus e da América Latina e Caraíbas que garantam o acesso universal à água, fomentem as captações e o abastecimento, considerando-o um serviço público essencial, sem prejuízo de que a sua gestão possa ser solicitada, mediante concessão administrativa, à iniciativa privada" 5. 4. Conclusões As questões relacionadas com a água são complexas e estão interligadas, transcendendo limites e fronteiras. A melhor maneira de as resolver eficazmente consiste em adoptar uma 1 Para mais informação, ver www.wafla.com 2 TA EUROLAT_(2007)001, aprovado em 20 de Dezembro de 2007, em Bruxelas. 3 TA EUROLAT_(2007)001, ponto 18. 4 TA EUROLAT_(2007)003, aprovado em 20 de Dezembro de 2007, em Bruxelas. 5 TA EUROLAT_(2007)003, ponto 17. AP100.228v01-00 6/8 DT\706099oc

ampla abordagem global entre parceiros internacionais. A UE e a América Latina terão grande vantagem em trabalhar juntas no que se refere a esta questão. Têm sido desenvolvidos esforços intensos na UE e nos países da América Latina no sentido de definir uma abordagem global para as questões relacionadas com a água, mais concretamente através de importantes inovações institucionais e legislativas no domínio da água. No entanto, em alguns países, a legislação ainda não corresponde à evolução recente, sendo necessária revê-la e actualizá-la. Parte do problema reside, portanto, nos quadros jurídicos obsoletos, instituições inadequadas e políticas pouco claras, que afectam o desenvolvimento, utilização e gestão correctos dos recursos hídricos na região da América Latina e Caraíbas. Além disso, é importante referir os baixos níveis de consciência dos problemas relacionados com os recursos hídricos entre o público em geral, o que, por sua vez, se traduz num reduzido empenhamento político por parte dos decisores em adoptar medidas relativamente a estes assuntos. Por conseguinte, o diálogo entre as autoridades e a população local em todo o processo de tomada de decisões relativas aos recursos hídricos é um dos aspectos principais a ter em conta, com vista a promover a participação de todas as partes interessadas, mas também para assegurar que as necessidades reais dos utilizadores finais sejam tomadas em consideração. Os políticos e os decisores devem igualmente manter uma forte coordenação entre si, de modo a evitar ou reduzir os conflitos entre os diferentes consumidores e utilizações da água, definindo regras claras para a afectação, utilização e distribuição de recursos hídricos. É necessário dedicar especial atenção aos países onde a indústria, a desflorestação, a extracção mineira e a utilização extensiva de biocidas na agricultura estão a aumentar, a fim de resolver a questão da contaminação alarmante dos rios por substâncias químicas tóxicas e metais pesados, que são importantes causas de poluição da água. Há que realizar mais acções para assegurar o acesso seguro a água limpa e a correcta eliminação de águas residuais, bem como o tratamento de águas, que são condições necessárias importantes para proteger a saúde pública, e, especialmente, reduzir as taxas de mortalidade (particularmente entre as crianças) causada por doenças transmitidas pela água. A participação e a presença comercial de empresas estrangeiras na prestação de serviços relacionados com o ambiente, juntamente com a aplicação de uma política de concorrência adequada poderão ser benéficas em termos de um maior investimento, transferência de tecnologias e melhoramento das condições de saneamento. Ao mesmo tempo, a regulamentação dos serviços de fornecimento de água potável e saneamento deve ser universal e não discriminatória. Além disso, a inexistência de uma avaliação adequada dos benefícios económicos de utilizações alternativas da água pode conduzir a ineficiências no consumo de água e ao desperdício de água, e, mais grave ainda, pode impedir a consecução de benefícios importantes para a economia e melhorias das condições de vida da população, pelo que é fundamental que haja uma maior consciência do valor económico da água ao proceder-se a reformas neste domínio. Embora já existam sinergias importantes entre os países europeus e da América Latina no que se refere às questões relacionadas com a água, especialmente devido ao facto de a UE ser dos principais doadores no domínio do desenvolvimento dos recursos hídricos, é necessário que DT\706099EN.doc 7/8 AP100.228v01-00

haja uma intensificação de acções concretas, sobretudo (mas não exclusivamente) nos seguintes domínios: educação reforço de capacidades investigação e desenvolvimento tecnológicos hidroenergia saúde e saneamento básico pesca navegação Adoptando um processo de troca de experiências e boas práticas entre as duas regiões, a UE e a América Latina poderão enfrentar mais eficazmente os desafios no domínio da água e realizar progressos a nível internacional. AP100.228v01-00 8/8 DT\706099oc