O ETERNO E O SUBLIME: POESIA, FILOSOFIA E NOSTALGIA



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Transcrição:

O ETERNO E O SUBLIME: POESIA, FILOSOFIA E NOSTALGIA Thais Beatrice Padilha 1 eu senti que não é a duração que faz a primavera, pois há primaveras breves e essenciais que cintilam nos orvalhos do inverno... 2 Na filosofia, talvez tenhamos mais definições para conceitos do que os próprios conceitos em si mesmos. Talvez porque os filósofos, às vezes, sejam mais curiosos e insatisfeitos do que criativos. Ou ainda pela limitação que a linguagem impõe sempre aos nossos sentimentos. Qualquer amante da filosofia se deleita com as inúmeras discussões acerca de diferentes conceitos e ideias defendidas com tanta paixão e energia e, dentre tantos conceitos, temos dois aos quais vale a pena debruçar especial atenção: o eterno e o sublime. Nietzsche diz que temos a arte para que a verdade não nos mate, e ainda que a vida sem música seria um grande erro. Essas duas afirmações vão de encontro ao que o sublime expressa: o belo em seu mais alto grau. Para o filósofo alemão, o homem produz arte para aliviá-lo de seu sofrimento, fazendo-o transcender a dor e encontrar a beleza do caráter trágico da vida. Através de dor intensa, muitos foram os músicos que criaram incríveis melodias, transformando algo terrível em uma ferramenta para se alcançar o sentimento sublime. 1 Thais Padilha tem 24 anos e em 2010 se graduou em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente trabalha com Publicidade, mas nunca abandonou o amor pela filosofia e literatura. Criou o blog letterstotheo.wordpress.com, em que escreve cartas para seu filho. 2 Do poema ASSIM FOMOS NÓS NESSA NOITE de Jorge Luis Gutiérrez. http://revistapandorabrasil.com/pagina_literaria/sera_outra_vez.htm 1

Foi também através de muita dor e sofrimento que o pintor holandês Vincent Van Gogh pintou incríveis quadros, paisagens cheias de vida e luz, mas também de sombras e tristeza. A melancolia presente na obra de Van Gogh está ao mesmo tempo fortemente atrelada a uma furiosa explosão de vida, uma ânsia de superação. Através da dor imortalizada em suas telas, muitos de nós conseguem entender o sentimento do sublime, ao passo que a própria dualidade entre beleza e dor é, por ela mesma, capaz de nos submeter a esta experiência. Talvez seja possível ainda afirmar que a experiência sublime não é apenas momentânea: uma vez em que temos contato com esse sentimento, ele se espalha para sempre em nossa alma e coração. O francês Antoine Artaud encontrou na arte uma razão para não desistir da vida e para não perder a lucidez, mesmo que totalmente revestida de loucura. Para não sucumbir aos 9 anos em que passou confinado em manicômios, Artaud escreveu e pintou dizendo que a maior razão para se produzir arte era fugir do inferno e essa fuga do inferno deixou-nos belos poemas e filmes. Falar sobre o sublime nos leva invariavelmente a discorrer a respeito de algo tão complexo quanto e enredado em inúmeros significados: o eterno. O tema deste artigo não é fortuito, pois o belo e o tempo se relacionam profundamente, porém não é de todo fácil falar de beleza e duração pertencendo a um mundo em que tudo está se desmanchando e a ideia de belo já não remete a uma experiência transcendental, mas tão somente a prazeres rasos. Talvez a arte já não esteja sendo usada para não sucumbir às durezas da vida, mas sim para fugir delas, sem nunca superá-las, mas é claro que essa discussão renderia outro artigo. 2

Resumidamente, eterno é o que não está dentro do tempo, já que nunca muda, não teve um começo e nunca terá um fim. É estável e permanente, perene. O que poderíamos denominar eterno? Ao falar sobre o caos, Aristóteles discorre sobre uma das ideias mais interessantes sobre o que poderíamos entender como um tipo de deus, o motor imóvel: causa primeira de todas as coisas que existem, ato puro que move o mundo sem nunca se mover. O que é aparentemente complexo se faz simples se pensarmos em como somos atraídos o tempo todo por coisas que nunca se movem. Um exemplo disto pode ser um quadro famoso, como a Monalisa: o mundo inteiro move-se até ela, querem vê-la de perto, mas ela, no entanto está lá, sempre imóvel, apenas movendo todos ao redor. Tudo o que existe procura se aproximar daquilo que é belo e bom, somos atraídos pela beleza e movidos por ela. O eterno é o que é sempre igual o que nunca muda, como este motor que fez o movimento se originar nas coisas. Quando Van Gogh pintou suas telas buscando superar a dor, a solidão e a tristeza eternizou sua angústia em pores-do-sol, corvos, rostos e uma orelha que sangrava. Quando Artaud, tentando manter um último fio da boa lucidez, despejou seus versos e glossolalias em papel, imortalizou sua dor e a si mesmo. Após a morte e o passar do tempo, os quadros e textos permaneceram por trás das mudanças, objetos carregados dos sentimentos daqueles que os externaram. Talvez Aristóteles agora se levantasse da mesa e pedisse a palavra para dizer que um dia esses objetos de degenerarão não podendo, assim, carregarem a ideia de eternidade porém, como poderemos ignorar as impressões que o que observamos imprime em nós? Em O Estrangeiro, Camus nos apresenta Mersault, um homem que não se reconhece no mundo, alheio e estranho a si mesmo, nem triste, nem feliz. 3

Mersault assassina a tiros um estranho na praia apenas porque levava uma arma em suas mãos e o sol estava em seus olhos. Como poderíamos dizer que a angústia que nos assola quando Mersault experimenta sozinho em sua cela o sentimento absurdo de compreender que na vida não existem motivos que nos preencham que às vezes o sol batendo nos olhos e o calor pesando acima da cabeça são razões suficientes para fazer algo que não planejávamos não cria raízes dentro de nós? Como ignorar o sentimento de assombro que invade Mersault quando ele aceita de braços abertos seu destino, pronto a reviver tudo em um intenso amor fati? Talvez um dia esta história se perca para sempre, mas estando impressa na alma dos que já a leram um dia, eternizou-se. De que valeria ter um coração se não possuíssemos memória? Pessoas e quadros podem não ser eternos, porém quando experimentamos o sentimento do sublime, somos tomados de tal forma que já não somos capazes de localizar o berço e o túmulo do que sentimos. Nossos sentimentos são sempiternos a partir do momento em que perdemos as delimitações do tempo. Como disse um dia Saramago: Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo. Em seu poema Assim fomos nós nessa noite o chileno Jorge Luis Gutiérrez expressa de maneira grandiosa o sublime e a eternidade. O amor nos eterniza mesmo diante de nossa efemeridade, mesmo quando o objeto de nosso amor já não está ao nosso alcance. Em alguns versos do poema, captamos a nostalgia de alguém que não pode ignorar que muitas vezes o tempo é cruel com aqueles que amam: E depois te perdeste no nada... nos palácios adjacentes à memória; nos jardins sem luz da lembrança; nas avenidas intermináveis do que falta; e na amarga estrada que termina na desconsolada saudade de teu corpo. 4

A saudade só existe pelo fato de que, antes dela, existem inúmeros pontos de eternidade de estórias que aconteceram um dia e nós sabemos bem que não pode haver amor sem saudades. Apesar da sútil tristeza contida em alguns de seus versos, Jorge finalmente se dá conta que o sentimento sublime encontra-se em meio a esta mesma nostalgia ao compreender que essa noite voltará inflexivelmente: porque ainda que ela já não exista, como passado sempre está presente... e continuamente poderia ir melhorando, já que é bom ou ruim o acontecido, dependendo de como eu te pense. A mágica do passado consiste em que ele está fora do tempo e, portanto, é eterno. Podemos sempre voltar nosso olhar para trás e revisitar o que já vivemos e apesar de o passado ser imutável, ele sempre poderá ser diferente de acordo com as nossas percepções e experiências futuras. O que poderia ser mais sublime do que a capacidade de revisitar situações ou pessoas que já não existem mais, ainda que isso se dê em nosso íntimo? Fechar os olhos e nos aconchegar na lembrança daqueles que um dia amamos. O poeta sentiu que não é a duração que faz a primavera, pois há primaveras breves e essenciais que cintilam nos orvalhos do inverno.... Segundo Unamuno, o amor pode viver de recordações, mas o ódio requer realidades presentes. Quando morremos, nossa existência é encerrada ao mesmo tempo em que somos colocados para fora da ação do tempo. Não podemos imaginar um morto diferente do que ele foi em vida, pois ele eternizou-se naquilo em que era: aqueles que morreram jovens serão jovens para sempre, por exemplo. O passar do tempo nos atinge com o peso da irreversibilidade ao mesmo tempo em que eterniza presente e futuro. Entre o horror do tempo que não perdoa e a beleza da vida que se imortaliza, estamos nós perdidos. O sublime e o eterno nos movem e nos paralisam sem que nada possamos fazer a não ser abraçar o irreparável, como o fez Mersault minutos antes de sua morte e aceitar com paixão a ideia de reviver 5

tudo novamente, nos afirmando em nossa efemeridade, aceitando a memória mesmo quando ela tem mau cheiro. Segundo Miguel de Unamuno, se a mortalidade da alma pode ser terrível, não menos terrível pode ser a sua imortalidade. A vida não nos oferece nada, não nos dá garantia alguma e não nos pergunta por preferências. O escritor Alejandro Jodorowsky aconselha: Não busques, permite que te encontrem. Não peças para ser amado, ame sem limites. Se queres vencer, não lute consigo mesmo. Enquanto o belo se caracteriza por ser finito e o sublime por sua eternidade, se faz necessário que abracemos ambos em aceitação daquilo que amamos e termina e daquilo que sempre permanece por detrás das mudanças. Um homem abre sua janela e encontra um corvo em seu umbral, um corvo de nome nunca mais : é assim que se inicia o famoso poema O corvo de Edgar Allan Poe. Nos inúmeros versos escritos por Poe, somos levados a entender que efemeridade e eternidade estão sempre a nos espreitar. O homem tenta espantar o corvo, implora a ele que parta, faz perguntas, quer acreditar que está a imaginar coisas, mas o corvo responde apenas nunca mais. Por fim, o corvo permanece parado nos umbrais, sempre lembrando aquele homem de que existe um nunca mais em sua vida, sem que ele nada possa fazer: E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda no alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha, e a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais, libertar-se-á... nunca mais!. Talvez para alguns o poema de Poe seja trágico e sombrio, porém a maior qualidade de tudo aquilo que é sublime, é o conflito entre a angústia e a alegria de entendermos e aceitarmos aquilo que não podemos modificar, sem que isso, no entanto, se torne uma resignação covarde, mas sim o amor fati nietzschiano, o eterno retorno. 6

Como humana que sou, também eu experimento diariamente o sentimento do absurdo e gostaria de encerrar esse turbilhão de pensamentos com um texto de minha autoria: Entre distâncias de argila e nossos corações de areia, códigos idênticos beijando nossos nomes sem alcançar nunca qualquer essência que diga a nós quem somos. Veneno antigo que não mostra cura fervendo sempre em nosso sangue, fazendo arder os olhos, queimando alto, mas sem fumaça... O eterno e o sublime são venenos antigos, mas que nos alimentam e colorem nossa existência... 7