DIVÓRCIO: NOVAS PERSPECTIVAS PROCEDIMENTAIS APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 E SEUS IMPACTOS. Resumo:



Documentos relacionados
Direito de familia. Separação judicial (?) e divórcio. Arts a 1.582, CC. Art. 226, 6º, CF (nova redação).

O DÍVORCIO E A SEPARAÇÃO JUDICIAL NO BRASIL ATUAL: FACILIDADES E PROBLEMAS RESUMO

Da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal

A MEDIAÇÃO COMO MEIO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIVÓRCIO POR VIA ADMINISTRATIVA

CARTILHA JUSTIÇA E FAMÍLIA

A CONQUISTA DO DIVÓRCIO. BREVES LINHAS APÓS A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Notas técnicas. Introdução

3. SERVIÇOS ATENDIMENTO JURISDICIONAL

Resumo Aula-tema 05: Direito de Família e das Sucessões.

A Guarda Compartilhada

casal nascimento Família casamento mediação separação acolhimento das crianças divórcio puericultura coabitação legal gravidez

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS ALIMENTOS

Estatuto das Familias

Nele também são averbados atos como o reconhecimento de paternidade, a separação, o divórcio, entre outros, além de serem expedidas certidões.

6Estabilidade. 7Justiça. 8Independência. 9Confidencialidade

SENTENÇA ESTRANGEIRA DE DIVÓRCIO CONSENSUAL NÃO MAIS NECESSITA SER HOMOLOGADA PELO STJ APÓS NOVO CPC

OS REFLEXOS CULTURAIS NO NOME CIVIL DO POVO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM SOB A ÓTICA DO ARTIGO º, DO CÓDIGO CIVIL 2002.

DEBATE SOBRE HOMOAFETIVIDADE. Ms. Raquel Schöning; Ms Anna Lúcia Mattoso Camargo; Ms. Gislaine Carpena e Ms. Adriana Bina da Silveira.

CARTA DE SERVIÇOS AO SERVIDOR POLÍCIA FEDERAL

Lei n.º 133/99 de 28 de Agosto

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

18. Convenção sobre o Reconhecimento dos Divórcios e das Separações de Pessoas

A DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO SOB O ENFOQUE DA EMENDA CONSTITUCIONAL 66/2010

Regime de Bens no Casamento. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS PROJETO DE PESQUISA SUBMETIDO AO INGRESSO NO GRUPO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELACIONAMENTO JURÍDICO DO ESTADO BRASILEIRO COM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS, NO QUE CONCERNE À EDUCAÇÃO

NORMATIZAÇÃO GERAL DAS NORMAS DA CORREGEDORIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA NAS ATIVIDADES NOTARIAIS E REGISTRAIS DO BRASIL

Espelho Civil Peça Item Pontuação Fatos fundamentos jurídicos Fundamentos legais

Observações sobre o casamento de cidadãos alemães no Brasil

O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE TAQUARITINGA

AULA 04 - TABELA DE TEMPORALIDADE

TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO SUBSEQUENTE NOÇÕES GERAIS DO DIREITO CONCEITOS BÁSICOS

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

SAÚDE CARTA DE SERVIÇOS AO SERVIDOR POLÍCIA FEDERAL

Palavras chave: Direito Constitucional. Princípio da dignidade da pessoa humana.

SUMÁRIO PREFÁCIO INTRODUÇÃO CONSIDERAÇÕES GERAIS AS ATUAÇÕES DO MAGISTRADO (ESTADO-JUIZ) E DO

INFORMATIVO DA SUBGERÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL SOBRE MUDANÇAS NO PLANSERV

TODAS AS INFORMAÇÕES SÃO EXTREMAMENTE IMPORTANTES!!! CASAMENTO CIVIL (Brasileiros)

SENADO FEDERAL PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 314, DE 2013

III Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí III Jornada Científica 19 a 23 de Outubro de 2010

RESOLUÇÃO Nº, DE DE 2010.

O Novo Divórcio Potestativo Leitura Estritamente Constitucional

INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO

Introdução Funcionalidades por perfil Advogado e Jus Postulandi Adicionar defensoria representante de uma parte Adicionar procuradoria representante

Legislação e tributação comercial

PARECER N.º 81/CITE/2012

HERANÇA. Danilo Santana

REGIME DE BENS NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Validade, Vigência, Eficácia e Vigor. 38. Validade, vigência, eficácia, vigor

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

MODELO DE PROJETO DE PESQUISA

KÇc^iáema Q/Vacío^cUae Qjuótíca

PRÁTICA EXITOSA A EXPERIÊNCIA DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NA TUTELA COLETIVA: A Efetividade do Direito à Saúde dos

AULA 06 DA ADOÇÃO (ART A 1629 CC)

idade da mãe na ocasião do parto Idade, em anos completos, da mãe na ocasião do parto.

O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

ASSISTÊNCIA À SAÚDE SUPLEMENTAR

A PROTEÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS DO IDOSO E A SUA DIGNIDADE

A propositura da ação vincula apenas o autor e o juiz, pois somente com a citação é que o réu passa a integrar a relação jurídica processual.

EFA- TÉCNICO DE CONTABILIDADE UFCD 567 NOÇÕES DE FISCALIDADE

REGISTRO DE CASAMENTO DE MORTO

O NOVO DIVÓRCIO À LUZ DA PROBLEMÁTICA PROCESSUAL

ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLECENTE PROF. GUILHERME MADEIRA DATA AULA 01 e 02

DO USO DO CELULAR DURANTE HORÁRIO DE TRABALHO

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

APOSENTADORIA INTEGRAL X INTEGRALIDADE

Direito Humano à Alimentação Adequada: um tema fora de pauta no Parlamento?

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO - IED AULAS ABRIL E MAIO

Após a confirmação de pagamento de sua inscrição para o congresso, você estará apto a entrar no sistema de submissão de trabalho.

CÂMARA DOS DEPUTADOS CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR

Contratos em língua estrangeira

SEQÜESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS E SUA APLICAÇÃO NO BRASIL. Autoridade Central Administrativa Federal/SDH

PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL

"Só existem dois dias do ano em que não podemos fazer nada. O ontem e o amanhã."

O oficial deve declarar no registro o número da DNV e arquivar essa via no cartório.

Perguntas frequentes Marcas de alto renome

Novas formas de prestação do serviço público: Gestão Associada Convênios e Consórcios Regime de parceria- OS e OSCIPS

CAPíTULO I Ações de Anulação de Casamento

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Excelentíssimo Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, DD. Presidente do Conselho Nacional do Ministério Público:

A importância da Senha. Mas por que as senhas existem?

Transição para a parentalidade após um diagnóstico de anomalia congénita no bebé: Resultados do estudo

CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR: REFLETINDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL

BOLETIM INFORMATIVO 01/2014 PROCESSO N.º ABRAHÃO SADIGURSKY E OUTROS VS. PETROBRÁS

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS: UM ESTUDO DE CASOS RELATADOS EM CONSELHOS TUTELARES DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA.

Pº C.Co.36/2012 SJC-CT

Simpósio sobre a Aplicabilidade da Lei , de

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

RESPONSABILIDADE PESSOAL DOS SÓCIOS ADMINISTRADORES NOS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS QUANDO DA DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE

FEVEREIRO 2015 BRASÍLIA 1ª EDIÇÃO

METODOLOGIA DE PESQUISA CIENTÍFICA. Prof.º Evandro Cardoso do Nascimento

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Transcrição:

DIVÓRCIO: NOVAS PERSPECTIVAS PROCEDIMENTAIS APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 E SEUS IMPACTOS Fausto Amador Alves Neto 1 Resumo: O presente artigo teve o intuito de analisar a atual questão jurídico-social da dissolução do casamento, dando ênfase na nova perspectiva procedimental advinda com a Emenda Constitucional nº. 66/2010, a qual extinguiu o instituto da separação judicial, bem como os prazos que a cerceavam para a transformação em divórcio. Neste prisma, na vigência da autonomia privada sobreposta à intervenção estatal e na liberdade atrelada à dignidade da pessoa humana, são dadas garantias eficazes e ágeis aos casais para que possam se restabelecer emocional e afetivamente quando uma relação conjugal restar-se insustentável. O tema é rodeado de controversas, vez que a família é alvo de proteção religiosa, a qual ainda defende que as relações estabelecidas devem perdurar para sempre, mas que, às vezes, duram muito menos. O estudo em si, analisa de forma expansiva que a nova emenda foi o resultado de grande evolução legal no ordenamento brasileiro, e que, com toda certeza, trará consigo consideráveis outras mudanças. Palavras-chave: Divórcio. Casamento. Emenda Constitutional. Procedimentos. 1 Advogado. Graduado em Direito pela FEIT-UEMG. Experiência em atuação nas áreas Cíveis, Família e Sucessões, Trabalhistas e Juizado Especial. Atuação como Defensor Dativo. Participante de vários eventos jurídicos, inclusive como palestrante. Professor particular. Email: fausto.alvesneto@gmail.com. 1

Sumário: Introdução; 2 Metodologia; 3 A evolução histórica procedimental do divórcio; 4 A contextualização da instituição da nova emenda; 5 O processo de separação judicial em andamento; 6 Conclusões; Referências. Introdução O casamento, desde sempre, foi tido como a forma mais comum e simples de se constituir família dentro dos moldes sociais, sendo considerada a base da sociedade. A Constituição Federal de 1.988 é bastante precisa quando, no bojo de seu Art. 226, dita que a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Desta forma, nos ditames atuais e legais, quando um homem e uma mulher resolvem estabelecer sociedade conjugal, estão colaborando pela existência e a perpetuação da sociedade como um todo. A união legal, assim definido o casamento que seguiu as formalidades exigidas em lei, gera para os nubentes direitos e obrigações, dentre estas, fidelidade recíproca, coabitação, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e consideração, etc., que uma vez não cumpridas podem acarretar na dissolução da referida união (GONÇALVES, 2010). Tem-se observado que a família, enquanto entidade, vem passando por uma enorme crise. Os valores tidos como corretos há poucos anos estão se chocando com uma nova cultura menos conservadora e mais voltada para o bem-estar individual, de forma a agredir os deveres nupciais minimamente exigidos (CAHALI, 2000). Essa evolução de costumes tem provocado cada vez mais desentendimentos no seio familiar, que às vezes não conseguem ser sanados, e as promessas nupciais de amor eterno, acabam sendo substituídas e limitadas pela máxima até que o divórcio os separe. O Direito, enquanto regulador de normas de condutas, traduz e acompanha os anseios da civilização, visto que trata de questões ligadas ao 2

dia-a-dia das pessoas. Com isto, tem-se que o instituto do divórcio nasceu no arcaico Direito Romano, e que dependia de um arsenal incalculável de formalidades para sua realização. Com o tempo, muitas mudanças foram observadas, entre progressos e retrocessos, pelos reiterados pedidos de dissolução, sem fundamentos concisos, e pela necessidade de agilidade nesse tipo de interferência jurídica, o Direito teve de se adaptar e, portanto, dar meios de se efetuar o ato do divórcio com a maior destreza possível (OLIVEIRA, 2010). No Brasil, a evolução jurídica quanto à possibilidade de se divorciar, não foi diferente dos demais lugares, veio paulatinamente, seguindo não apenas o bom senso, mas também as exigências civis, o que a certo modo, fez com que se retardasse consideravelmente a modernização deste procedimento. Não obstante, os grandes avanços que o mundo globalizado tem exigido, trouxeram consigo a modernidade jurídica, que tem tomado as legislações, de forma a facilitar as questões procedimentais, além de deixá-las mais ágeis. Restando, portanto, ditar que a questão da indissolubilidade do vínculo matrimonial restou-se por extinta, já que o divórcio tornou-se meio legal de defesa de uma garantia constitucional, qual seja, a liberdade e, por conseqüência, a dignidade da pessoa humana. 2 METODOLOGIA Este artigo foi realizado por intermédio de pesquisa bibliográfica em que foram observados detalhes objetivos e subjetivos do tema em análise e as várias linhas de pensamento auxiliares para o entendimento deste trabalho. A abordagem deste estudo, por se tratar de atividade meramente teórica, foi realizada através do método hipotético-dedutivo. O método de procedimento utilizado neste estudo foi o dogmático jurídico, aplicável especificamente no Direito, com análise de doutrinas e legislações. 3

O procedimento técnico utilizado neste trabalho consiste no manuseio de obras bibliográficas, cuja leitura permitiu análise de textos doutrinários, fichamentos temáticos e bibliográficos. 2.1 Procedimento metodológico seguintes. Foram utilizados os métodos de abordagem e métodos de procedimento 2.1.1 Método(s) de abordagem Foram adotados alguns métodos de abordagem em relação aos dados que foram obtidos, sendo o primeiro de cunho dedutivo a partir da pesquisa de fontes bibliográficas (legislação, diretrizes, etc.). Outro método utilizado foi o hipotético-dedutivo, considerando a perspectiva epistemológica contemporânea no sentido de que as teorias científicas não têm caráter de definitividade, convertendo-se em novos problemas a serem, de novo, investigados. Assim, foi analisada a questão da inserção da nova Emenda Constitucional nº 66, cujo assunto é o divórcio, dando ênfase aos aspectos relacionados à legislação, bem como verificando o novo procedimento para tanto. 2.2 Procedimento técnico No tocante à vertente bibliográfica foi realizada a leitura analítica dos textos pertinentes, que foram obtidos na biblioteca da Universidade do Estado de Minas Gerais e por via eletrônica. 4

3 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA PROCEDIMENTAL DO DIVÓRCIO A Constituição Federal de 1.967, afirmava ser o casamento indissolúvel, sendo que apenas pela morte de um dos cônjuges acontecia o desfazimento da relação conjugal. No entanto, havia o instituto do desquite, o qual muito se parecia com o conceito de separação judicial, e que possibilitava a separação de corpos do casal, mesmo sem desfazer o vínculo dado pelo casamento, o que significa dizer que o cônjuge desquitado, não poderia contrair nova núpcia (OLIVEIRA, 2010). Alguns anos depois, houve, com o advento da Emenda Constitucional nº 09, uma considerável mudança no mundo jurídico, sendo que foi instaurado o instituto do divórcio no Brasil, mesmo contra os rumores desfavoráveis da Igreja. Com isto, o divórcio passou a ser umas das formas de dissolução da sociedade. A Lei nº. 6.515/77, chamada a Lei do Divórcio, criada logo após a nova Emenda, apontou que o divórcio se daria de suas maneiras: a primeira, através da conversão de separação judicial em divórcio, após um ano da sentença que efetivou a referida separação; ou ainda, havendo dois anos ou mais de separação de fato, comprovadas através de testemunhas, se poderia pleitear o divórcio direto, sendo ambos os procedimentos por meio judicial. A lei supracitada foi recepcionada pela Constituição Federal de 1.988, fazendo menção em seu corpo, a dissolução através da separação e do divórcio. (OLIVEIRA, 2010). Em janeiro de 2.007, buscando-se alcançar os anseios da sociedade em tornar mais célere o divórcio para aqueles que em tudo estavam de comum acordo, foi publicada a Lei nº. 11.441/07, a qual permitia que, para o estabelecimento de separação e divórcio da forma consensual, poder-se-ia, como faculdade, utilizar-se da via administrativa para tanto, podendo se servir dos Cartórios para formalizarem, através de Escritura Pública, a dissolução. Mas alguns requisitos eram exigidos, quais sejam, não poderia ter filhos menores ou incapazes, vez que neste caso o Ministério Público deve intervir nos autos, buscando tutelar os direitos destes; deveriam ser observados os 5

prazos da mesma forma que na via judicial; e ainda, por fim, deveria constar no Instrumento Público, a partilha dos bens, pensão alimentícia e da retomada ou não do uso do nome de solteiro por parte do cônjuge que teve seu sobrenome modificado pela união (OLIVEIRA, 2010). O ano de 2.010, de uma maneira geral, foi tido com o ano do avanço para a questão procedimental da dissolução do matrimônio. A Emenda Constitucional nº. 66/2010, alterou o texto constitucional que previa a prévia separação judicial por mais de um ano, ou ainda a separação de fato por mais de dois anos, extinguindo este preceito. Com a nova Emenda, a redação do 6º do Art. 226 da Carta Magna passou a rezar que o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, o que implica dizer que a qualquer momento, o homem e/ou a mulher que esteja insatisfeito com a união poderá fazer o pedido de divórcio, tanto judicial, quanto administrativamente, obedecidos os mesmos requisitos da Lei 11.441/07 anteriormente citados para este último, podendo, inclusive, contrair novo casamento logo após a averbação do divórcio. Nas sábias palavras de Maria Berenice Dias: A nova ordem constitucional veio para atender ao anseio de todos e acabar com uma excrescência que só se manteve durante anos pela histórica resistência à adoção do divórcio. Mas, passados mais de 30 anos nada, absolutamente nada justifica manter uma dupla via para assegurar o direito à felicidade, que nem sempre está na manutenção coacta de um casamento já roto (DIAS, 2010) 4 A CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DA NOVA EMENDA O divórcio no Brasil foi marcado por muitos anos, de várias formas, pela burocracia, demora e desgaste físico e emocional. Mesmo com a modernização da sociedade, os ditames jurídicos ainda não permitiam que esta mesma modernidade evitasse este tamanho transtorno para os casais que não suportavam mais a vida em comum. Sylvia Maria Mendonça do Amaral afirma que: 6

A separação judicial foi mantida, após o Brasil ter se tornado um país divorcista, por uma questão meramente psicológica. Por ser um país basicamente católico houve, à época dos estudos a respeito da aprovação do divórcio, uma intensa pressão de representantes da Igreja e seus fiéis que se mostravam radicalmente contrários a uma figura jurídica que pudesse dissolver o matrimônio. Assim, sob tais pressões, foi mantida a figura da separação como um degrau se chegasse ao divórcio. Seria como se o divórcio estivesse longe dos casais separados. Mas nossa sociedade evoluiu, os costumes são outros e o divórcio é quase sempre buscado, seja para que se estabeleça um novo casamento, seja para colocar um "ponto final" no matrimônio por questões emocionais e psicológicas daqueles que um dia já formaram um casal. (AMARAL apud PRETEL, 2010) Fator outro de bastante relevância é a questão do duplo gasto financeiro que se tinha com a necessidade de dois procedimentos para o mesmo fim. Portanto, além do sofrimento, o gasto financeiro acabava por piorar ainda mais a situação do casal separando. A nova Emenda Constitucional não poderia ter vindo em momento mais adequado. Hoje se tem a dignidade da pessoa humana como pedra fundamental da Lei Maior, e, com este avanço, nada mais se busca senão a efetividade deste princípio constitucional, que garante à pessoa uma vida saudável, livre, feliz etc. Neste sentido, Pablo Stolze assevera: O que estamos a defender é que o ordenamento jurídico, numa perspectiva de promoção da dignidade da pessoa humana, garanta meios diretos, eficazes e não-burocráticos para que, diante da derrocada emocional do matrimônio, os seus partícipes possam se libertar do vínculo falido, partindo para outros projetos pessoais de felicidade e de vida. (GAGLIANO, 2010) Anteriormente a promulgação revolucionária da EC nº 66/2010, havia a necessidade inútil de se imputar a culpa da separação ou divórcio a um dos nubentes. Deveria-se atribuir a causa da desavença ao descumprimento de algum ou alguns dos deveres do casamento, sendo, fidelidade, respeito e consideração, coabitação etc. E tinha-se dificuldade em atribuir o fim do relacionamento ao óbvio, o desamor (GAGLIANO, 2010). 7

Atualmente, o Direito de Família atrelado ao princípio da intervenção mínima por parte do Estado, se desfaz das retrógradas e exageradas formalidades que eram exigidas, para dar espaço ao um sistema de não exclusão, e sim inclusão, para facilitar o reconhecimento da formação de novas famílias no seio social, e por conseguinte, garantir a felicidade dos envolvidos nesta dolorosa batalha (GAGLIANO, 2010). 5 O PROCESSO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL EM ANDAMENTO Questão interessante é quanto aos processos que antes da entrada em vigor da Emenda Constitucional nº. 66 já se encontravam em trâmite na Justiça e que ainda perduram até hoje. Uma vez que foram excluídas, por omissão no texto constitucional, as formas de separação judicial, deverá o juiz dar oportunidade à parte autora ou aos interessados, mediante concessão de prazo, para adaptação do seu pedido ao novo sistema, convertendo-o em requerimento de divórcio (GAGLIANO, 2010). Entendimento outro, dita que por ser a matéria alterada, de base constitucional, deverá o juiz, de ofício, determinar a retificação da ação, ou extinguir o processo por carência de ação, ante a superveniência de impossibilidade jurídica do pedido, bem como determinar os novos rumos para seu curso, sob pena de afronta ao princípio do devido processo civil constitucional (BRANQUI- NHO, 2010). Na ceara administrativa, Pablo Stolze é categórico ao afirmar que no âmbito dos divórcios e separações consensuais administrativos, disciplinados pela Lei n. 11. 441 de 2007, os tabeliães precisarão ficar atentos ao novo sistema, pois não deverão mais lavrar escrituras públicas de separação, mantendo-se, obviamente, pelas razões expostas, aquelas já formalizadas antes do advento da Emenda (GAGLIANO, 2010). 8

Mas, se por ignorância ou distração por parte do cartório, for lavrada Escritura Pública de separação, esta não terá validade jurídica, por ser um instituto morto no ordenamento brasileiro, sendo que pela impossibilidade jurídica, gerar-se-á nulidade absoluta (GAGLIANO, 2010). 6 CONCLUSÕES Sob o ponto de vista das normas brasileiras, a questão do divórcio teve grande demora para o seu digno aperfeiçoamento. A burocracia na ceara jurídica ainda é um grande tormento de muitos procedimentos legais adotados e, com isto, a ligeireza dos processos judiciais é prejudicada de uma forma abrangente, tanto para as partes litigantes, quanto para o próprio judiciário que se veem sem saída diante desta problemática. Se para algumas pessoas, a Emenda Constitucional nº. 66/2010 foi tida como grande evolução, sendo considerada por alguns doutrinadores como a Emenda do Amor, em contrapartida, para algumas ela veio como prova da legalização da banalização da família. Como dito no decorrer deste artigo, questões ligadas à instituição família demandam enormes controversas, mas que, para um bem comum, militam talvez, no famoso sistema de freios e contrapesos. No tocante ao tema exposto, opina-se no sentido de que, de fato, a presente Emenda veio no sentido de fortalecer vínculos, e não destruí-los, além de garantir a felicidade das pessoas cuja vida conjugal não mais dará frutos e tão-somente dará desgosto e tristeza. Acredita-se que enquanto o Estado detenha em suas mãos o dever de proteger a família, deverá, portanto, sem intervir nela, trabalhar no sentido de que as mesmas tenham suas garantias fundamentais defendidas num contexto geral e também no contexto de intimidade de cada lar. Foi neste princípio e diretriz que a nova Emenda Constitucional se pautou para realizar, pode-se dizer, umas das maiores revoluções procedimentais no ordenamento jurídico nacional. 9

REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 44ª edição. São Paulo: Saraiva, 2010. BRANQUINHO, Wesley Marques. O novo divórcio: Emenda Constitucional n 66, [Internet]. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/16997/onovo-divorcio-emenda-constitucional-n-66>. Acesso em: 22 set. 2010. CAHALI, YUSSEF SAID. Divórcio e Separação. 9ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. DIAS, Maria Berenice. EC 66/10 e agora?, [Internet]. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2287526/artigo-ec-66-10-e-agora-pormaria-berenice-dias>. Acesso em: 22 set. 2010. GAGLIANO, Pablo Stolze. A nova emenda do divórcio: Primeiras reflexões, [Internet]. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/16969/anova-emenda-do-divorcio>. Acesso em: 21 set. 2010. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família: Sinopses Jurídicas. 14ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1983. OLIVEIRA, Alessandro Martins (2010), O Divórcio e a Sociedade. Revista Impacto Pontal, Ituiutaba, n. 5, p. 120, set. 2010. PRETEL, Mariana Pretel e. Comentários acerca da Emenda Constitucional nº 66, [Internet], Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/17062>. Acesso em: 22 set. 2010. 10