Exposição Inundações em SãoPaulo
As sistemáticas inundações em São Paulo são frequentemente associadas ao processo de urbanização da cidade e, mais recentemente, às questões climáticas e do meio-ambiente. Apresentamos nesta exposição um conjunto de fotografias que registram as enchentes em diferentes momentos e situações. Todas as imagens são provenientes do Acervo Iconográfico do Museu da Cidade de São Paulo/Departamento do Patrimônio Histórico, coleção voltada à documentação fotográfica do desenvolvimento urbanístico da cidade. As fotografias selecionadas narram a extensão dos alagamentos, a perplexidade e curiosidade frente à situação emergencial, e o resgate da população. Talvez devido ao impacto que teve em sua época, a grande enchente de 1929 encontra-se especialmente documentada no acervo. A exposição também apresenta um conjunto de imagens que demonstram a incorporação de rios e várzeas no circuito urbano, além das obras de retificação e canalização do rio Tietê. Esta exposição integra a política de difusão do Acervo Iconográfico. Resgata documentos visuais há muito tempo tombados, catalogados e arquivados, e propõe a articulação de diversos períodos, recuperando a memória das inundações e das ações desenvolvidas na cidade. Henrique Siqueira
O Tamanduateí manteve uma estreita relação com São Paulo até o século XIX, quando uma série de fatores econômicos deslocou o centro produtivo para outras direções e, por consequência, para outros rios. Militão Augusto de Azevedo Ladeira do Carmo, 1862 Militão Augusto de Azevedo Várzea do Carmo, 1887 Militão Augusto de Azevedo Várzea do Carmo, 1887 Apesar da relevância do rio na fase colonial da cidade, diversos relatos apontam a insalubridade da Várzea do Carmo na temporada das cheias, como eram chamadas as inundações causadas por chuvas. A intervenção do poder público tornou-se premente, como observa Morse: Prosseguiram as inundações periódicas do rio. Em 1835 a Assembleia pedia aflita se sabia se existe alguma planta ou esclarecimento sobre a possibilidade ou vantagem de se encanar ou mudar o rio Tamanduatehy pelo Brás ou outro lugar. (RICHARD MORSE. De comunidade à metrópole, 1954). Há cerca de 150 anos, Militão Augusto de Azevedo testemunhou o represamento das águas do rio Tamanduateí na altura do Carmo, realizando as primeiras fotografias conhecidas de inundação na cidade. A elevação do Caminho do Brás, nesta época, era cortada por três pontes Ponte do Carmo, Ponte do Meio e Ponte do Ferrão insuficientes à vazão de chuvas mais fortes. A cena de alagamento na Várzea do Carmo se repete em duas outras tomadas de 1887, quando a margem leste já se encontrava ocupada por imóveis comerciais, destacando-se a Usina do Gasômetro e o armazém da Estação Central.
O leito natural do Tamanduateí margeava a encosta da cidade:... o rio passava pela atual Rua Vinte e Cinco de Março, desde a Ponte do Carmo até a rampa e gradil da Rua Florêncio de Abreu, no lugar chamado das Sete Voltas. (ANTÔNIO EGÍDIO MARTINS. São Paulo Antigo, 1911). No final século XIX a ideia de correção da sinuosidade do Tamanduateí ganhou impulso. Na gestão João Teodoro (1872-75) foi executada a canalização do primeiro trecho do rio, tornando-o mais retilíneo entre o Brás e a Luz. Várzea do Glicério, 1915 Várzea do Glicério, 1915 Várzea do Carmo, 1918 Aurélio Becherini Várzea do Carmo, 1918
Nas décadas seguintes, outras intervenções públicas visaram o melhoramento da região, como a construção da Ilha dos Amores e o ajardinamento que modificaram a área próxima ao antigo mercado. Paulatinamente a Várzea do Carmo se transformou em Parque Dom Pedro II. A ocupação com construções fabris, ao longo das linhas férreas, provocou o estreitamento das margens do Tamanduateí, ampliando no século XX a dimensão das inundações na região. Aurélio Becherini Várzea de Santa Rosa, 1918 Aurélio Becherini Várzea de Santa Rosa, 1918 Várzea de Santa Rosa, 1918 Parque Dom Pedro II, 1922
A grande enchente de 1929 prenunciou as dificuldades econômicas e sociais daquele ano traumático. As chuvas de fevereiro fizeram os córregos e rios transbordarem, inundando as ruas situadas nas áreas baixas. A ocupação urbana, nesta época já se estendia entorno dos rios Pinheiros e Tietê, amplificou a dimensão das enchentes demandando uma nova escala de resgate e atendimento às vítimas. Vila Economizadora, 1929 Vila Economizadora, 1929 Vila Economizadora, 1929
Duas primeiras fotos Sebastião Ferreira Construção da Ponte das Bandeiras, 1941 O plano embrionário da retificação e canalização do Rio Tietê, desenvolvido pela Comissão de Saneamento das Várzeas, surgiu no século XIX, sendo posteriormente assumido pela Comissão de Saneamento do Estado. Sucederam vários estudos e projetos até 1923, quando foi criada a Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê. Após 1940, o projeto de retificação do Tietê foi associado ao plano viário de Prestes Maia, que previa a interligação das regiões norte e sul por meio de grandes avenidas. A construção da Ponte das Bandeiras, retratada neste núcleo, marca o início da implantação do projeto de retificação que se estendeu até a década de 1960, com a abertura das vias expressas marginais. Duas fotos seguintes Benedito Junqueira Duarte Enchente no Bom Retiro, 1943 Os bairros situados na confluência dos rios Tamanduateí e Tietê tornaram-se alvo de atenção em dias de chuva, como neste de 1943, quando Benedito Junqueira Duarte flagrou a inundação nas ruas mais baixas do bairro do Bom Retiro. Última foto Benedito Junqueira Duarte Rua da Cantareira, 1940
Os registros fotográficos de enchentes no Rio Tietê confirmam seu fluxo natural, lento e de baixa vazão, potencializando os transtornos nestas situações. A construção de áreas industriais, comerciais e residenciais em terrenos inundáveis fez a cidade perder a relação de convivência pacífica que manteve com seus rios no passado. Alagamento no rio Tietê, c.1946
Exposição Inundações em SãoPaulo 18 de agosto a 3 de outubro Terça a domingo, das 13 às 20h Galeria Olido Av São João, 473 www.museudacidade.sp.gov.br Prefeito Gilberto Kassab Secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil Secretário Adjunto José Roberto Sadek Chefe de Gabinete Paulo Rodrigues Departamento do Patrimônio Histórico Walter Pires Museu da Cidade de São Paulo Inês Raphaelian Departamento de Expansão Cultural Branca Ruiz GALERIA OLIDO Diretora de programação Nany Semicek Diretora de produção Sulla Andreato Produtores Bel Carvalho Fernanda Balian Nathália Gabriel Nezito Reis Iluminação Edson de Souza Produção Realização FICHA TÉCNICA Curadoria Henrique Siqueira Projeto expográfico Douglas de Freitas Pesquisa iconográfica João de Pontes Junior Website Nelson Ramalho Digitalização Átila Benevides Anderson Bandeira Estagiária Leila Antero Produção Madai Produções Angela Madalena Daniele Carvalho Projeto gráfico Móbile Estúdio Tratamento e impressão fineart Luiz Aureliano Assistentes Ricardo Villa Isabel Cavalcanti