Consulta nº 016/2014

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Transcrição:

Consulta nº 016/2014 Referência: Lei Complementar 141/2012. Diferenças entre Assistência Social e Saúde Pública. Violação ao princípio da universalidade. Resolução CNAS 39/2010. 1 Interessado: do Conselho Municipal de Saúde de Santana de Paraíso 1. Relatório Trata-se de solicitação, realizada pelo do Conselho Municipal de Saúde de Santana de Paraíso, para a análise jurídica da Resolução CNAS 39/2010 em face da Lei Complementar nº141/2012, e as competências do SUS Municipal. Passaremos as análises pertinentes. 2. Da Lei Complementar nº 141/2012 A LEI COMPLEMENTAR Nº 141 foi instituída em 13 de janeiro de 2012, e veio regulamentar o 3º do art. 198 da Constituição Federal, para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelecer os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo; e determinar claramente quais são as ações e serviços de saúde que devem ser financiadas com os recursos mínimos aplicados em saúde. Esclarece a lei ainda, quais ações e serviços não podem ser tratados como de saúde, para as finalidades trazidas pela Lei Complementar nº 141/12. Vejamos: Lei Complementar 141/2012: Art. 3º Observadas as disposições do art. 200 da Constituição Federal, do art. 6º da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e do art. 2o desta Lei Complementar, para efeito da apuração da aplicação dos recursos mínimos

aqui estabelecidos, SERÃO CONSIDERADAS DESPESAS COM AÇÕES E SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE AS REFERENTES A: I - vigilância em saúde, incluindo a epidemiológica e a sanitária; II - atenção integral e universal à saúde em todos os níveis de complexidade, incluindo assistência terapêutica e recuperação de deficiências nutricionais; 2 III - capacitação do pessoal de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS); IV - desenvolvimento científico e tecnológico e controle de qualidade promovidos por instituições do SUS; V - produção, aquisição e distribuição de insumos específicos dos serviços de saúde do SUS, tais como: imunobiológicos, sangue e hemoderivados, medicamentos e equipamentos médico-odontológicos; VI - saneamento básico de domicílios ou de pequenas comunidades, desde que seja aprovado pelo Conselho de Saúde do ente da Federação financiador da ação e esteja de acordo com as diretrizes das demais determinações previstas nesta Lei Complementar; VII - saneamento básico dos distritos sanitários especiais indígenas e de comunidades remanescentes de quilombos; VIII - manejo ambiental vinculado diretamente ao controle de vetores de doenças; IX - investimento na rede física do SUS, incluindo a execução de obras de recuperação, reforma, ampliação e construção de estabelecimentos públicos de saúde; X - remuneração do pessoal ativo da área de saúde em atividade nas ações de que trata este artigo, incluindo os encargos sociais; XI - ações de apoio administrativo realizadas pelas instituições públicas do SUS e imprescindíveis à execução das ações e serviços públicos de saúde; e XII - gestão do sistema público de saúde e operação de unidades prestadoras de serviços públicos de saúde.

Todavia, a Lei Complementar 141/2012 também estabelece aquelas ações que não são tratadas como ações e serviços de saúde, e portanto, não podem ser lançadas nos percentuais mínimos contabilizados pela mencionada legislação, conforme abaixo: Art. 4º Não constituirão despesas com ações e serviços públicos de saúde, para fins de apuração dos percentuais mínimos de que trata esta Lei Complementar, aquelas decorrentes de: 3 I - pagamento de aposentadorias e pensões, inclusive dos servidores da saúde; II - pessoal ativo da área de saúde quando em atividade alheia à referida área; III - assistência à saúde que não atenda ao princípio de acesso universal; IV - merenda escolar e outros programas de alimentação, ainda que executados em unidades do SUS, ressalvando-se o disposto no inciso II do art. 3o; V - saneamento básico, inclusive quanto às ações financiadas e mantidas com recursos provenientes de taxas, tarifas ou preços públicos instituídos para essa finalidade; VI - limpeza urbana e remoção de resíduos; VII - preservação e correção do meio ambiente, realizadas pelos órgãos de meio ambiente dos entes da Federação ou por entidades não governamentais; VIII - ações de assistência social; IX - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede de saúde; e X - ações e serviços públicos de saúde custeados com recursos distintos dos especificados na base de cálculo definida nesta Lei Complementar ou vinculados a fundos específicos distintos daqueles da saúde. 2 Da Universalidade O Sistema Único de Saúde instituído pela Constituição Federal de 1988 trouxe como princípio fundamental o PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE, garantido às ações e serviços de saúde para toda a população, em todos os níveis de assistência, sem imposição de qualquer condição, vejamos:

CF/88: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A Lei Federal nº 8.080/1990 corroborou o entendimento constitucional supramencionado em seu artigo 7º, inciso I, dispondo: 4 Lei Federal nº 8.080/1990 : Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; (...) Nada obstante, embora a universalidade esteja ligada ao acesso de usuários as ações e serviços de saúde, não significa a atenção total às necessidades. Significa que a administração pública deve adotar instrumentos de planejamento de tal modo que sejam realizados estudos situacionais e apresentadas propostas concretas de solução dos problemas existentes em cada comunidade. O principio basilar do Sistema Único de Saúde, a Universalidade, não parte do pressuposto que o usuário SUS deve comprovar a sua hipossuficiência financeira, ou que o SUS é destinado aos cidadãos carentes e/ou necessitados. 3. Da Resolução CNAS nº 39/2010 Em 9 de dezembro de 2010, o Conselho Nacional de Assistência Social editou a Resolução nº 39/2010 que trata do processo de Reordenamento de Benefícios Eventuais no âmbito da Política de Assistência Social em relação à Política de Saúde, a qual transcrevemos na integra: Resolução nº 39/2010: Art. 1º Afirmar que não são provisões da política de assistência social os itens referentes a órteses e próteses, tais como aparelhos ortopédicos, dentaduras, dentre outros; cadeiras de roda, muletas, óculos e outros itens inerentes à área de saúde, integrantes do conjunto de recursos de tecnologia assistiva ou ajudas técnicas, bem como medicamentos,

pagamento de exames médicos, apoio financeiro para tratamento de saúde fora do município, transporte de doentes, leites e dietas de prescrição especial e fraldas descartáveis para pessoas que têm necessidades de uso. Art. 2º Recomendar aos órgãos gestores e Conselhos de Assistência Social das três esferas de governo que promovam e aprimorem o reordenamento da prestação dos benefícios eventuais afiançados na assistência social, referentes às provisões da política de saúde citadas no art. 1º. 5 Art. 3º Recomendar aos órgãos gestores e Conselhos de Assistência Social das três esferas de governo que o reordenamento tratado nesta resolução se dê por meio de um processo de transição construído de maneira planejada e articulada com gestores e conselhos de saúde nas respectivas esferas de governo, com definição das necessidades, estratégias, atividades e prazos. Art. 4º Recomendar a observância dos marcos regulatórios quanto às provisões da política de saúde, dentre outras, as abaixo relacionadas: I - POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (Portaria Ministério da Saúde - MS nº 1.060, de 05 de junho de 2002); II - CONCESSÃO DE MEDICAMENTOS (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 art. 6º e Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 art. 20); III - CONCESSÃO DE ÓRTESES E PRÓTESES (Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 arts. 18 e 19; Portaria MS nº 116, de 09 de setembro de 1993; Portaria MS nº 146, de 14 de outubro de 1993; Portaria MS nº 321/2007); IV - ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 art. 17); V - SAÚDE BUCAL (Política Nacional de Saúde Bucal Programa Brasil Sorridente); VI - CONCESSÃO DE ÓCULOS (Portaria Normativa Interministerial Ministério da Educação - MEC/MS nº 15, de 24 de abril de 2007 Projeto Olhar Brasil) e Portaria MS nº 254, de 24 de julho de 2009). Art. 5º Fortalecer a articulação com o Conselho Nacional de Saúde, visando aprofundar o debate e elaborar agenda conjunta para a construção de

ações intersetoriais, resguardando o campo específico de atuação e as responsabilidades de cada política. Art. 6º Apoiar os Conselhos Estaduais, Municipais e do Distrito Federal de Assistência Social na promoção do reordenamento normativo dos benefícios eventuais de que trata o art. 2º desta Resolução. Art. 7º Dar continuidade, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ao processo de discussão sobre as provisões referentes aos benefícios eventuais da assistência social, visando delimitar o campo de proteções da assistência social, aprofundando o debate sobre outros itens da saúde e das demais políticas públicas, de modo a qualificar e consolidar o processo de reordenamento definido nesta resolução. 6 Sendo assim, eventuais gastos com medicamentos, tratamento fora do domicílio, exames, próteses e vale-transporte para Transporte Fora de Domicilio - TFD, não poderiam ser caracterizados como gastos da Assistência Social. 4. Da Hierarquia das Normas Sob a órbita normativa, o Sistema Único de Saúde e a Assistência Social, são órgão diversos e por óbvio, são regrados por leis próprias, a saber: Saúde: Lei 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e Lei 8.142/90,Decreto 7.508/2011; Lei Complementar nº 141/2012, Assistência Social: Lei 8742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social). Assim, além de normativas próprias, fica claro também que o Sistema Único de Saúde tem como beneficiário todo e qualquer brasileiro e/ou estrangeiro residente no Brasil. Já a Assistência Social, tem como beneficiário toda e qualquer pessoa que se enquadre nos parâmetros da Lei Orgânica da Assistência Social, através da análise prévia da sua condição sócio-econômica. Como já mencionado, o princípio constitucional da universalidade traduz a necessidade de atendimento a todo cidadão que ingressar no Sistema Único de Saúde por uma das portas de acesso, mencionadas nas legislações específicas do SUS, indistintamente. A teoria da hierarquia das normas jurídicas é um sistema de escalonamento das normas, proposto por Hans Kelsen, de fácil visualização: CF; Leis complementares; Leis ordinárias; Medidas Provisórias e leis delegadas. Resoluções.

A estrutura criada por Kelsen consagra a supremacia da Norma Constitucional e estabelece uma dependência entre as normas escalonadas, já que a norma de grau inferior sempre será válida se, e somente se, fundar-se nas normas superiores. Resumidamente, encontra hierarquia entre os grupos de normas constitucionais que são superiores ao grupo de normas infraconstitucionais (que detalham a Constituição) que são superiores ao grupo de normas infralegais (detalham a lei). 7 Observamos o entendimento no quadro abaixo: Com isso, qualquer normatização (federal, estadual ou municipal) que trate diferentemente do que reza a normatização superior estaria traindo a teoria da hierarquia das normas. Verifica-se então, que a Lei Complementar seria hierarquicamente superior a uma Resolução, se fosse o caso. 5. Da Distinção Constitucional A Constituição de 1988, no art. 194 dispõe a respeito da Seguridade Social e relaciona um conjunto integrado de ações para garantir aos indivíduos seus direitos. Este é o dispositivo: Art. 194 A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Posteriormente, a Constituição traz capítulos específicos inerentes a saúde e a assistência social, corroborando mais uma vez o entendimento que as políticas que visam a garantia dos direitos dos cidadãos, quanto a saúde e a assistência social não se confundem. 6. Lei Complementar nº141/2012 x Resolução CNAS nº39/2010

A Lei Complementar nº141/2012 traz em seu bojo as ações e serviços de saúde que são computadas no percentual mínimo que deve ser aplicado - neste caso dos 15% (quinze por cento) relativos ao município. E consequentemente quais são as ações e serviços de saúde. Já a Resolução CNAS 39/10 dispõe o que não são provisões da política de assistência social. Frise-se que estamos tratando de normas diferentes, políticas diferentes para Sistemas diferentes. 8 Contudo, a própria Resolução CNAS menciona em seu art.4º a recomendação de observância dos marcos regulatórios quanto às provisões da política de saúde (...). Nesse diapasão, entendemos que, apesar de serem políticas diversas, cada uma com seu papel, e que as normativas não se confundem, e não podem ser impostas umas as outras, apesar de indicarem áreas afetas, as políticas devem atuar conjuntamente, todavia, cada uma em sua área de atuação, dada a previsão constitucional, e respeitando as normatizações vigentes. 7. Conclusão A Resolução da Assistência Social não pode traçar políticas de saúde, normatizando medicamentos, serviços, órteses, próteses, etc..., pelo Sistema de Saúde, pois não se trata de sua competência constitucional, e nem de sua área de atuação. Pode sim, traçar políticas internas, dede que não atinjam ou interfiram diretamente em outras normas vigentes como já explicitado, no item Hierarquia das Normas. Inobstante, a mencionada Resolução faz menção que a Assistência Social deve recomendar a observância das normatizações do SUS existentes, no tocante às fraldas, leite, órteses, óculos. E assim, portanto, no caso de encaminhamentos à Secretaria Municipal de Saúde, devem ser observados os protocolos guia da saúde existentes para cada caso requisitado, lembrando sempre das disposições contidas na Lei Complementar nº 141/2012. E finalmente, deve ser considerada a atuação da Assistência Social, conforme disposto também no art. 5º da Resolução 039/2010. Belo Horizonte, 14 de outubro de 2014.