ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA UMIDADE RELATIVA NO TRIANGULO MINEIRO



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ANÁLISE EXPLORATÓRIA DAS ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA UMIDADE RELATIVA NO TRIANGULO MINEIRO Érico Anderson de Oliveira 1 CEFET-MG ericoliv@dcsa.cefetmg.br Ruibran Januário dos Reis 2 PUCMINAS ruibrandosreis@gmail.com RESUMO: A umidade relativa (UR) do ar é um parâmetro meteorológico que varia muito ao longo do dia e do ano. A continentalidade é um dos fatores que influencia nesta variação, principalmente no Triângulo Mineiro. Baixos índices de UR tem conseqüências sócio-ambientais que podem se agravar, principalmente no período mais crítico. O objetivo deste trabalho foi de verificar a variação da umidade relativa nesta região ao longo dos últimos 30 anos. A partir de dados coletados nas estações convencionais do INEMET de Uberaba e Capinópolis, e aplicação de métodos estatísticos, foi possível determinar o comportamento da UR ao longo do período. O trabalho pretende ser mais uma contribuição para a discussão sobre o efeito do aquecimento global no planeta e suas conseqüências para o clima da região. Palavras-chave: Umidade Relativa; Continentalidade; Triângulo Mineiro; Aquecimento Global; OMS. O aquecimento global O aquecimento global é um fato incontestável. A temperatura média do planeta tem subido desde meados do séc. XX de forma generalizada no planeta. Embora alguns locais apresentem aumentos maiores do que outros, a exemplo de regiões do hemisfério norte, o aquecimento prossegue, hora em ritmo mais forte, hora em ritmo mais lento, dando a idéia até de um arrefecimento. Embora cientistas tenham divergência sobre as causas deste aquecimento, se origem antrópica, diferença de coleta de dados ou resultante de ciclos naturais, estão de comum acordo sobre sua ocorrência. As evidências do aquecimento podem ser sentidas em várias partes do mundo e de diversas formas. O aumento médio do nível dos oceanos com a ameaça de inundações de cidades costeiras e desaparecimento de algumas ilhas como o arquipélago de Tuvalu, no Oceano Pacífico Sul, estão 1 Doutorando em Geografia: Tratamento da Informação Espacial PUCMINAS. Professor de Geografia CEFET-MG. 2 Professor da Pós-Graduação em Geografia: Tratamento da Informação Espacial PUCMINAS

ligados ao degelo. Por outro lado, satélites que têm monitorado a cobertura da neve no planeta, indicam sua redução em aproximadamente 10% até os dias atuais. De outro lado, informações do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), indicam que a temperatura terrestre irá aumentar entre 1,1ºC a aproximadamente 6º C, a depender do modelo de projeção de cenário utilizado. Com isso, haverá alterações, desde o aumento do nível do mar às mudanças dos padrões de precipitação, causando enchentes e secas, alterações nas intensidades de eventos meteorológicos, extinção de espécies e até mesmo a acidificação oceânica. No Brasil, algumas evidências das alterações climáticas podem ser sentidas nos últimos anos, tais como secas prolongadas no Sul, ventos excessivos no Sul (tempestades extra-tropicais), alterações nos regimes pluviométricos, redução na umidade relativa do ar em alguns trechos do território entre outros. A umidade relativa A umidade relativa do ar é um medida percentual da quantidade de vapor d água existente em 1m 3 de ar. A quantidade de vapor d água no ar pode variar de acordo com a temperatura e esse valor é expresso em porcentagem (%). Porém 1 m 3 de ar não pode ser todo ocupado por vapor d água, há um limite que se restringe a 4% desse volume. A umidade relativa pode ser expressa a partir da relação percentual entre a pressão exercida pelo ar úmido e a pressão do ar saturado. Como quanto mais quente o ar, maior a sua capacidade para reter umidade, para uma quantidade constante de umidade (umidade absoluta) a simples variação diária irá se traduzir em valores diferenciados de umidade relativa. Assim, pela manhã a umidade relativa estará elevada, enquanto que ao longo do dia, com o aquecimento do ar, a umidade relativa tenderá a uma queda (Figura 1). Outro fator que pode influenciar na umidade relativa do ar é a continentalidade, pois quanto mais interior for o local em observação, menores serão as influências de massas marítimas. No nosso caso, a massa marítima, anti-ciclone semi-estacionário do Atlântico Sul, popularmente conhecida como Massa Tropical Atlântica. Nesse caso também, a presença de uma massa continental seca, irá favorecer índices baixos de umidade relativa do ar, como ocorre com a presença da Massa Tropical Continental em meados do ano (Figura 2). 2

Fig. 1 Variação da umidade relativa ao longo do dia em Uberlândia MG Fonte: INMET. 15/05/2011 Estação automática de Uberlândia (MG). Fig. 2 Baixa nebulosidade no Triângulo Mineiro Fonte: CEPETEC. 14/05/11 Mas por que razão é importante conhecer a umidade relativa do ar e seus mecanismos de alteração? Embora os estudos da umidade relativa estejam mais ligados à meteorologia, o conhecimento desta quantidade de vapor d água tem grande importância em outras atividades humanas como nos estudos de epidemias. As condições ambientais de temperatura e umidade influenciam no desenvolvimento dos microorganismos patogênicos, que podem desencadear desde uma epidemia nos seres humanos, quanto a destruição de uma lavoura. A umidade relativa também exerce sua influência sobre as taxas de expansão (fecundidade, desenvolvimento e longevidade) de espécies de insetos (Neto et al., 1976). Também não podemos deixar de lado o grau de conforto ambiental, o qual está relacionado à umidade 3

relativa ou ainda, aos valores ótimos necessários que devem ser mantidos na armazenagem de grãos e tantos outros produtos. Do ponto de vista do ser humano, a alteração da umidade relativa pode causar o desconforto ambiental, provocando desde simples desânimo, cansaço, dor de cabeça e mal estar até irritação das vias respiratórias, ressecamento de pele, sangramento no nariz e doenças respiratórias (comuns nos períodos de seca do meio do ano). Nas cidades, a redução da umidade relativa, por sua vez, está relacionada à concentração de névoa seca, poeira em suspensão, atmosfera poluída, fumaça dos automóveis e das queimadas, entre outras. Considerando o fator energético, a água desempenha um papel importante dentro do ciclo hidrológico em sua parte atmosférica, pois o calor latente, adicionado à água quando de sua evaporação ou liquefação, é liberado na condensação ou solidificação. Dessa forma, ela funciona como um elemento distribuidor de energia resultante da liberação do calor latente para a atmosfera. Esse fato ganha maior importância quando consideramos essa distribuição das partes mais aquecidas do Planeta para as mais frias. É portanto o vapor d água e sua circulação na atmosfera, um importante veículo de dispersão de energia pelo Planeta. Objetivos Geral e Específicos Considerando a importância da umidade relativa para as sociedades e o ambiente, foram propostos os seguintes objetivos: Identificar as alterações na umidade relativa do ar em localidades do Triângulo Mineiro; Caracterizar a amplitude da alteração da umidade relativa do ar nos municípios selecionados; Identificar a tendência de alterações da umidade relativa para a região do Triângulo Mineiro. Materiais e Métodos Para a execução dessa investigação foi necessária a identificação de cidades do Triângulo Mineiro, que possuíssem séries históricas as mais longas possíveis e que fossem de estações climáticas convencionais. Não foram utilizados dados de estações climáticas automáticas, visto que suas séries completas são menores do que das estações climáticas convencionais. 4

Foram identificadas, junto ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) os dados das cidades de Capinópolis (MG) e Uberaba (MG), ambas no Triângulo Mineiro (Figura 3). Para a cidade de Capinópolis (MG), os valores obtidos abrangeram o período de 1970 a 2010, enquanto que para Uberaba (MG), o período observado foi um pouco menor, de 1975 a 2005. Fig. 3 Municípios do Triângulo Mineiro selecionados. Fonte: Elaborado pelos autores. Os valores obtidos foram tratados estatisticamente, em um primeiro momento, separando-se os menores valores de umidade relativa de cada ano. Considerando que a menor umidade relativa para a região do Triângulo Mineiro irá ocorrer no período seco (inverno), os menores valores serão encontrados no meio do ano, justamente no período de inverno. Isso permitiu analisar a tendência ao longo dos anos e ajudou a compreender o panorama geral que se apresentava para as duas cidades (Figuras 4 e 5). O município de Capinópolis (MG) exibiu um aumento em suas leituras de menores índices de umidade relativa no período compreendido entre 1977 e 1985. Tal fato se deveu a anomalias provocadas pelo fenômeno El Nino que atuou com maior força neste intervalo de tempo. O mesmo ocorreu nas leituras exibidas no município de Uberaba (MG) para o mesmo período. El Niño El Niño Fig. 4 Variação e tendência da umidade relativa para a cidade de Capinópolis (MG). Fig. 5 Variação e tendência da umidade relativa para a cidade de Uberaba (MG). 5

Note-se que, apesar da descontinuidade dos valores entre os anos de 1986 e 1990 e entre os anos de 1991 e 1993 para o município de Capinópolis, o resultado com um todo não ficou comprometido. O que poderia varia seria a inclinação da linha de tendência. A seleção do menor valor de umidade relativa no ano poderia conduzir a um erro de interpretação, indicando que houvesse sido feito o aproveitamento de uma leitura momentânea, que não representaria todo o período ou sua maior parte. Essa observação estaria correta, caso a massa de dados fosse menor, um intervalo de tempo menor. Porém, o comportamento médio verificado foi semelhante nos dois municípios. A representação gráfica, neste caso, não permitiria identificar um comportamento semelhante, e a variação dos resultados apresentaria um grau de dispersão que não permitiria vislumbrar uma tendência. Ainda sim, é possível identificar uma redução contínua dos valores mais baixos da umidade relativa ao longo do período considerado. Para efetuar uma análise mais adequada à situação, recorreu-se ao cálculo da tendência a partir da aplicação de regressão linear. Foi inserida uma regressão linear, a qual demonstrou um comportamento de redução dos valores da umidade relativa ao longo do período em ambos os municípios estudados. Como os valores que foram utilizados foram os menores em cada ano, recorreu-se a um intervalo mais detalhado. Por conta disso, tomou-se os menores valores mensais, ou seja, uma amostragem de 30 anos, totalizando 360 leituras. O resultado confirmou a redução contínua da umidade relativa do ar no período de 1975-2005, conforme resultado abaixo para o município de Uberaba (MG) (Figura 6) Fig. 6 Redução da umidade relativa em Uberaba no período de 30 anos. Não satisfeitos com os resultados, efetuou-se, nesse caso, o processamento das médias térmicas anuais, do município de Uberaba (MG), o qual apresentava uma série contínua mais estável do que a do outro município e que revelou um aumento contínuo da temperatura ao longo dos 30 anos. 6

O resultado encontrado, a partir do estudo das médias térmicas indicou uma tendência de aumento da temperatura (Figura 7). Fig. 7 Médias Térmicas Anuais em Uberaba Outras cidades próximas exibiram resultados semelhantes quanto às suas médias térmicas mensais. As cidades de Araxá e de Iuiutaba, ambas no Triângulo Mineiro, apresentaram aumento das temperaturas máximas mensais nos últimos 11 anos, o que pode explicar a queda da umidade relativa por conta do aumento da temperatura ao longo dos últimos 11 anos (Figuras 8 e 9). ( o C) ARAXÁ (MG) - Média das Temperaturas Máximas Mensais (2000-2010) 35 30 25 20 15 10 5 0 1 9 17 25 33 41 49 57 65 73 81 89 97 105 113 121 129 (Meses) Temperaturas Tendência Fig. 8 Comportamento das médias das temperaturas máximas mensais de Araxá (MG). ( o C) ITUIUTABA (MG) - Média das Temperaturas Máximas Mensais (2000-2010) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1 9 17 25 33 41 49 57 65 73 81 89 97 105 113 121 129 Fig. 9 Comportamento das médias das temperaturas máximas mensais de Ituiutaba (MG). (Meses) Temperaturas Tendência 7

Apesar dos dados de alguns meses não estarem disponíveis, a configuração geral do comportamento da temperatura nas cidades de Araxá e Ituiutaba não seria tão afetada pela suas ausências. Considerações Finais Foi constatada uma redução contínua da umidade relativa nos dois municípios selecionados ao longo de suas séries históricas, demonstrada pela linha de tendência estabelecida ao logo dos anos, principalmente no município de Capinópolis (MG). Neste município, a redução tem sido maior do que no município de Uberaba (MG). Uma das razões que podem explicar esse fato, talvez seja por quê este município ser ainda mais interiorano do que o município de Uberaba (MG). Por outro lado, a redução da umidade relativa parece estar ligada a um aumento contínuo das temperaturas médias anuais, para a região, mesmo com uma variação positiva de, aproximadamente, 0,1ºC ao longo dos últimos 30 anos. Ainda que tivéssemos uma manutenção da umidade absoluta para a região, o aumento da temperatura, por si só, já seria o suficiente para provocar a redução da umidade relativa. Como a tendência das médias térmicas tem sido de aumento, podemos esperar uma redução contínua da umidade relativa para a região pelos próximos anos. A curto prazo, teremos o agravamento dos problemas de saúde relacionados à redução da umidade relativa, principalmente das doenças respiratórias. A médio e longo prazo, teremos modificações na paisagem, e a redução da produção agrícola e pecuária, com a conseqüente perda de receita econômica e o agravamento das condições sócioeconômicas na região. Embora o aumento da temperatura seja um fato de alcance mundial, é possível se tomar providências para tentar minimizar os impactos sócio-econômicos, principalmente aqueles que irão ocorrer a partir da degradação ambiental. Como tudo estará ligado à disponibilidade de água, a recuperação e a preservação das matas em nascentes e cursos de rios, bem como nos topos de morros será uma providência bem vinda. Outra medida positiva será a recuperação das matas devastadas, com o plantio de espécies nativas. Do ponto de vista da população, campanhas de conscientização, sensibilização e orientação poderão ser desencadeadas para atuarem em algumas vertentes do problema. Uma delas, relativa ao uso racional da água, evitando o desperdício, a poluição dos cursos fluviais e reservas hídricas existentes. 8

Uma outra, como ingestão de maior quantidade de líquidos em períodos de baixa umidade relativa, associada à umidificação do ar nos ambientes fechados (casa, trabalho, escola) além do uso de cremes hidratantes para a pele e o uso de soro fisiológico nas vias respiratórias e olhos. Pelos poucos indícios do que se avizinha, podemos, até certo ponto, reduzir a velocidade ou o desconforto da contínua redução da umidade relativa, mas não poderemos evitá-la. Referências bibliográficas ALVES. A. R., Efeito Estufa e Mudanças Climáticas. Revista Ação Ambiental: Minas Gerais/ UFV. Junho/Julho. Ano IV, Nº 18. 2001, p. 7-15. AYOADE. J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. Trad. Maria Juraci Zani dos Santos. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. EPSTEIN, Isaac. Aquecimento Global. Revista Comciência, 10/08/2002. Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/clima/clima11.htm> Acesso em 10 maio 2011. MARCUS & DETWYLER IN MOVIER, G. A poluição atmosférica. 1ª edição, Série Domínio, Ática, São Paulo, SP, 1997. HOPP. M., Clima e Saúde Pública. Revista Ação Ambiental: Minas Gerais/UFV. Agosto/Setembro. Ano II, Nº. 07, 1999, p.31. INMET. 5 o Distrito Meteorológico. Dados meteorológicos das cidades mineiras de Araxá, Capinópolis, Ituiutaba e Uberaba. 1970 a 2010. MARTINS & SALES, Poluição atmosférica e doenças respiratórias: O caso de Juiz de Fora MG. Anais do VI Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, Aracaju, SE, 2004. FOLHA. Umidade relativa do ar fica abaixo de 20% em seis capitais do país. São Paulo: SP, Folha de São Paulo, 24/08/2010. Caderno Cotidiano. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/788098-umidade-relativa-do-ar-fica-abaixo-de-20-em-seiscapitais-do-pais.shtml> Acesso em 05 maio 2011. www.ibge.gov.br MOURA, Rui G. Mitos Climáticos. (Blog) Disponível em: <http://mitosclimaticos.blogspot.com/2008_06_01_archive.html> Acesso em 25 abril 2011 Imagem do satélite GOES de 14/05/2001 (14:30h) Disponível em: <http://pyata.cptec.inpe.br/repositorio5/goes12/goes12_web/se_vis_alta/2011/05/s11219796_201105 141430.jpg>. Acesso em 02 maio 2011. 9

Agradecimentos: Michelle Aparecida da Silva Cunha Estagiária de Geografia Lab. De Mudanças Climáticas - PUCMINAS (extração dos dados). 10