A questão da água no Nordeste



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Transcrição:

A questão da água no Nordeste

República Federativa do Brasil Dilma Vana Rousseff Presidenta Ministério do Meio Ambiente Izabella Mônica Vieira Teixeira Ministra Agência Nacional de Águas - ANA Diretoria Colegiada Vicente Andreu Guillo ( Diretor-Presidente) Dalvino Troccoli Franca Paulo Lopes Varella Neto João Gilberto Lotufo Conejo Paulo Rodrigues Vieira Secretaria-Geral (SGE) Mayui Vieira Guimarães Scafuto Procuradoria-Geral (PGE) Emiliano Ribeiro de Souza Corregedoria (COR) Elmar Luis Kichel Auditoria Interna (AUD) Edmar da Costa Barros Chefia de Gabinete (GAB) Horácio da Silva Figueiredo Júnior Coordenação de Articulação e Comunicação (CAC) Antônio Félix Domingues Coordenação de Gestão Estratégica (CGE) Bruno Pagnoccheschi Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR) Ney Maranhão Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica (SGH) Valdemar Santos Guimarães Superintendência de Gestão da Informação (SGI) Sérgio Augusto Barbosa Superintendência de Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (SAG) Rodrigo Flecha Ferreira Alves Superintendência de Implementação de Programas e Projetos (SIP) Ricardo Medeiros de Andrade Superintendência de Regulação (SRE) Francisco Lopes Viana Superintendência de Usos Múltiplos e Eventos Críticos (SUM) Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho Superintendência de Fiscalização (SFI) Flávia Gomes de Barros Superintendência de Administração, Finanças e Gestão de Pessoas (SAF) Luís André Muniz Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antônio Raupp Ministro Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE Presidente Mariano Francisco Laplane Diretor executivo Marcio de Miranda Santos Diretores Antonio Carlos Filgueira Galvão Fernando Cosme Rizzo Assunção Gerson Gomes

A questão da água no Nordeste

Agência Nacional de Águas Ministério do Meio Ambiente Centro de Gestão e Estudos Estratégicos A questão da água no Nordeste Brasília DF 2012

Agência Nacional de Águas (ANA) Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T CEP: 70610-200 - Brasília, DF PABX: (61) 2109 5252 www.ana.gov.br Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) SCN Qd 2, Bl. A, Ed. Corporate Financial Center sala 1102 CEP: 70712-900 - Brasília, DF Telefone: (61) 3424.9600 www.cgee.org.br Edição/Tatiana de Carvalho Pires Capa / Eduardo Oliveira Diagramação/Diogo Moraes Gráficos / Mariana Brito Apoio Bibliográfico / Lilian Thomé Revisão / Anna Cristina de Araújo Rodrigues Projeto Gráfico / Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Contrato do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)/Agência Nacional de Águas (ANA) - 2010. Ação: Organização de um Livro versando sobre a Questão da Água na Região Nordeste - 18.1.1. Todos os direitos reservados pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos nesta publicação poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte. Impresso em 2012 Catalogação na fonte C389q Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (Brasil) A Questão da Água no Nordeste / Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Agência Nacional de Águas. Brasília, DF: CGEE, 2012. p.; il, 24 cm ISBN 978-85-60755-45-5 1. Recursos Hídricos. 2. Qualidade da água. 3. Balanço Hídrico. 4. Brasil, Nordeste I. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos II. Agência Nacional de Águas III. Título. CDU 551.577.38 (812/813)

A questão da água no Nordeste Supervisão Antonio Carlos Filgueira Galvão Coordenação Antonio Rocha Magalhães Consultor José Roberto de Lima Autores Ana Paula Fioreze Anna Paola Michelano Bubel Antonio Édio Pinheiro Callou Bruna Craveiro de Sá Mendonça Carlos Motta Nunes Ciro Garcia Pinto Cristine Ferreira Gomes Viana Dirceu Silveira Reis Junior Eduardo Sávio P. R. Martins Flávia Simões Ferreira Rodrigues Francisco de Assis de Souza Filho Francisco José Coelho Teixeira Francisco Lopes Viana João Carlos de Mendonça Nascentes Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho José Aguiar de Lima Júnior José Nilson B. Campos José Otamar de Carvalho José Yarley de Brito Gonçalves Julien Burte Luciano Meneses Cardoso da Silva Luiz Gabriel T. de Azevedo Marcel Bursztyn Márcia Regina Silva Cerqueira Coimbra Patrick Thomas Paulo Nobre Robson Franklin Vieira Rodrigo Flecha Ferreira Alves Suely Salgueiro Chacon Walt Disney Paulino Os textos apresentados nesta publicação são de responsabilidade dos autores.

Lista de Siglas AL ANA ASA BA BHRSF BNB BNDES Cagece CBHSF C-BT CCCII CCCMA CE CEDAE CEIVAP CERTOH CETESB CHESF CMMAD CNRH Codevasf COGERH COMASP COSIGUA CPATSA CPFL CPRM Estado de Alagoas Agência Nacional de Águas Articulação com o Semiárido Brasileiro Estado da Bahia Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco Banco do Nordeste do Brasil S.A Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Companhia de Água e Esgoto do Ceará Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco Big Thompson Project Centro de Clima Canadense Canadian Centre for Climate Modelling and Analysis Estado do Ceará Companhia Estadual de Águas e Esgoto Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul Certificado de Avaliação da Sustentabilidade da Obra Hídrica Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental Companhia Hidrelétrica do São Francisco Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Conselho Nacional de Recursos Hídricos Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba Companhia de Gestão de Recursos Hídricos Segurança e Produtividade do Sinduscon/SP Companhia Siderúrgica da Guanabara Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido Companhia Paulista de Força e Luz Serviço Geológico do Brasil

CPTEC CTC CTMH CVSF DAEE DASP DBO DNAEE DNOCS Eco-92 EIA EMAE Ematerce Embrapa ENOS ETENE EUA FGV FNE FNMA FUNCATE Funceme Fundaj GFDL GTDN HADCM3 IBAMA IBGE ICID ICMS Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos Coordenação Técnica de Combate à Desertificação Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico Comissão do Vale do São Francisco Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo Departamento Administrativo do Serviço Público Demanda Bioquímica de Oxigênio Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica Departamento Nacional de Obras e Saneamento do Rio de Janeiro Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Estudos de Impacto Ambiental Companhia de Eletricidade responsável Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária El Niño-Oscilação Sul Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste Estados Unidos da América Fundação Getúlio Vargas Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste Fundo Nacional do Meio Ambiente Fundação de Ciências e Tecnologias Espaciais Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos Fundação Joaquim Nabuco Geophysical Fluid Dynamics Laboratory Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste Hadley Centre Coupled Model Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IET IFOCS IICA INGÁ INMET INPE INSA IOCS IPA IPCC IPEA IPECE IQA IRI ITCZ LHWP LHWRF MA MAM MCT MDA MDS MIN Minter MMA MME MW NAO NCEP NCWCD NDJ Índice de Estado Trófico Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura Instituto de Gestão das Águas e Clima-Bahia Instituto Nacional de Meteorologia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituto Nacional do Semiárido Inspetoria de Obras Contra as Secas Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará Índice de Qualidade das Águas International Research Institute for Climate and Society Zona de Convergência Intertropical Lesotho Highlands Water Project Lesotho Highlands Water Revenue Fund Estado do Maranhão Anomalias pluviométricas sobre o Nordeste em março-abril-maio Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Ministério da Integração Nacional Ministério do Interior Ministério do Meio Ambiente Ministério de Minas e Energia Megawatt Ocilação do Atlântico Norte National Centers for Environmental Prediction Northern Colorado Water Conservancy District Oscilação do Atlântico Norte durante novembro-dezembro-janeiro

NE NOAA OECD OMJ OMM ONGs OSC PAM PAN-Brasil PAPP PB PBAs PCJ PE PEC PFPT PI PIB PISF PLANVASF PLIRHINE PNAD PNDR PNLT PNRH PNUD PNUMA PRODHAM Pronaf PRSF Região Nordeste National Oceanic and Atmospheric Administration Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico Ondas de Madden e Julian Organização Meteorológica Mundial Organizações Não Governamentais Organizações da Sociedade Civil Plano de Atividades e Metas Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Seca Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural no Nordeste Estado da Paraíba Projetos Básicos Ambientais Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí Estado de Pernambuco Proposta de Emenda à Constituição Programa de Frentes Produtivas de Trabalho Estado do Piauí Produto Interno Bruto Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional Plano Diretor para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Política Nacional de Desenvolvimento Regional Plano Nacional de Logística e Transportes Plano Nacional de Recursos Hídricos Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental Programa Nacional da Agricultura Familiar Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

RIMA RM RMSP RN SABESP SE SEMADS SEPLAN-PR SEPRE SHR-BA SHRE SIN SINGREH SIRAC Sisar SMHS SNIS SOHIDRA SRH Sudene Suvale TR TSA TSM UHE UKHI UNCCD UNESCO UNFCCC USBR Relatório de Impacto Ambiental Região Metropolitana Região Metropolitana São Paulo Estado do Rio Grande do Norte Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Estado de Sergipe Secretaria de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Urbano do Estado Secretaria de Planejamento da Presidência da República Secretaria Especial de Políticas Regionais Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia Snowy Hydro Renewable Energy Sistema Interligado Nacional Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos Serviços Integrados de Assessoria e Consultoria Sistema Integrado de Saneamento Rural Snowy Mountains Hydroelectric Scheme Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Superintendência de Obras Hidráulicas Secretaria de Recursos Hídricos Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste Superintendência do Vale do São Francisco Tempo de Retorno Trópico Semiárido do Nordeste Temperatura da Superfície do Mar Usina Hidrelétrica Serviço Meteorológico da Inglaterra Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas United States Bureau of Reclamation

USDI USGS UTE VCAN WBG WWTP ZCAS ZCIT ZCITS United States Department of the Interior United States Geological Survey Usina Termelétrica de Santa Cruz Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis World Bank Group Wanjiazhai Water Transfer Project Zonas de Convergência Intertropical do Atlântico Sul Zona de Convergência Intertropical Zonas de Convergência Intertropical do Atlântico Sul e do Ramo Sul da ITCZ

Sumário Apresentação 17 Agradecimentos 19 Introdução 21 Resumo executivo 22 Capítulo 1 As origens das águas no Nordeste 31 Introdução 31 O ciclo anual das precipitações e da evaporação 33 Variabilidade interanual das precipitações sazonais 36 Mudanças climáticas globais e disponibilidade hídrica sobre o Nordeste: 39 Conclusões 43 Capítulo 2 As secas e seus impactos 45 Introdução 45 Dimensões e manifestações das secas 49 As áreas de ocorrência de secas no Nordeste 57 Mudanças climáticas, desertificação e secas 65 Impactos das secas 67 Redes de infraestrutura hídrica e de proteção social 90 Considerações finais 97 Capítulo 3 As águas do Nordeste e o balanço hídrico 101 Introdução 101 Os eventos extremos 115 Perspectivas futuras 119 Capítulo 4 Os usos da água e o desenvolvimento regional 123 Os aspectos envolvidos na diversidade do Nordeste que condicionam os recursos hídricos 123 As disponibilidades hídricas do Nordeste 128 Os usos, as demandas hídricas atuais e a infraestrutura para o desenvolvimento regional 140

Síntese das disponibilidades hídricas 146 Perspectivas de atendimento das demandas urbanas futuras 148 Inserção do planejamento dos recursos hídricos no desenvolvimento regional 150 Capítulo 5 A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco: usos, balanço hídrico, gestão e desafios 157 Caracterização geral da bacia 157 Usos múltiplos da água 164 Balanço hídrico 173 Gestão dos recursos hídricos e desafios para sua implementação 175 Considerações finais 179 Capítulo 6 Águas do futuro e o futuro das águas 181 Introdução 181 Águas do futuro: desafios e cenários 183 Veredas e caminhos das águas (análise e diretrizes) 200 Agenda para o futuro das águas 208 Observações finais 217 Capítulo 7 A questão ambiental e a qualidade da água nas bacias hidrográficas do Nordeste 219 Condições ambientais do Nordeste e sua relação com a quantidade e qualidade das águas 220 Efeitos das condições ambientais sobre os aspectos quantitativos e qualitativos dos corpos hídricos 236 A qualidade da água nos principais corpos hídricos do Nordeste 241 Os desafios da gestão da qualidade da água 245 Capítulo 8 Recuperação ambiental e revitalização de bacias 247 Introdução 247 A recuperação de bacias hidrográficas como vetor de sustentabilidade 248 A constatação da degradação nas bacias hidrográficas 251 A degradação de bacias hidrográficas no Nordeste brasileiro 254 A revitalização de bacias hidrográficas no Nordeste 255 Revitalização de bacias hidrográficas: um espaço de possibilidade à integração de políticas 259 Considerações finais 261

Capítulo 9 A evolução das políticas públicas no Nordeste 263 Introdução 263 Definições 265 A seca de 1877-1879 como geradora das políticas públicas 268 As políticas públicas relativas às secas 269 As políticas relacionadas com o desenvolvimento regional 277 O gerenciamento das águas 278 As políticas do futuro 281 Síntese final 287 Capítulo 10 Gerenciamento integrado de recursos hídricos no Nordeste 291 Antecedentes históricos e primeiras iniciativas de gerenciamento de recursos hídricos no Nordeste período de 1500 a 1960 291 A implementação do gerenciamento integrado de recursos hídricos no Nordeste (1960 2010) 298 Perspectivas futuras para o gerenciamento integrado de recursos hídicos no Nordeste 328 Capítulo 11 Integração de bacias hidrográficas 333 Introdução 333 Experiências internacionais 335 Experiências brasileiras 352 Lições aprendidas 361 Conclusões e recomendações 371 Capítulo 12 Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional PISF 375 Introdução 375 Histórico e concepção 376 Descrição do projeto 377 O processo de discussão e licenciamento 380 O início das obras 383 A gestão das águas do PISF 383 Histórico do processo de montagem do sistema de gestão do PISF 384 Um olhar crítico sobre o projeto 387

Considerações finais 391 Referências 393 Anexo 1 Série de Debates sobre A QUESTÃO DA ÁGUA NO NORDESTE 421

A questão da água no Nordeste Apresentação Este livro é fruto de trabalho colaborativo entre a Agência Nacional de Água (ANA) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), e visa colocar à disposição da sociedade brasileira uma série de informações sobre a dinâmica dos recursos hídricos no Nordeste, seus avanços, fragilidades e desafios, de forma a subsidiar análises e processos decisórios pertinentes. O livro destina-se a todos aqueles que têm interesse na questão da água no Semiárido e no desenvolvimento regional nordestino. O trabalho teve início com uma série de debates em 2008 sobre A Questão da Água no Nordeste, e contou com a participação de especialistas, técnicos de governos, tanto federal como estaduais, e também representantes de organizações da sociedade civil (os resultados encontram-se publicados em CD-Rom, e disponíveis em www.cgee.org.br e www.ana.gov.br). Numa segunda fase, com base nessas discussões, um grupo de especialistas elaborou Notas Técnicas sobre os principais temas considerados estratégicos tais como clima, balanço hídrico, qualidade da água, gestão integrada de recursos hídricos e integração de bacias hidrográficas que agora subsidiam os capítulos seguintes desta publicação. A gestão das águas no Nordeste representa um desafio a ser enfrentado. É preciso que, tratando-se de fator escasso na Região, a água seja administrada de forma eficiente e eficaz. Assegurar que a água esteja disponível para as diferentes formas de consumo implica viabilizar investimentos de distintas naturezas e, sobretudo, gerenciar cuidadosamente sua oferta e o uso. Isso se torna mais complexo diante da realidade climática da Região e dos vários interesses que envolvem desde as instâncias de governo até as diversas categorias de usuários. O desenvolvimento sustentável do Semiárido é uma questão estratégica para o país. Como elemento inprescindível ao desenvolvimento, a água precisa ser administrada de forma a permitir que os diversos usos ligados ao bem-estar da população e ao crescimento econômico sejam adequadamente atendidos. Nesse quadro abrangente da questão dos recursos hídricos no Nordeste, os progressos realizados nos últimos anos em matéria de infraestrutura e de gestão integrada foram positivos, mas ainda há muito o que se fazer para aperfeiçoar o sistema de gestão e para enfrentar as ameaças advindas das mudanças climáticas. Vicente Andreu Guillo Presidente da ANA Mariano Francisco Laplane Presidente do CGEE 17

A questão da água no Nordeste Agradecimentos Várias pessoas e instituições contribuíram para a realização deste livro. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos dirigentes da ANA, na pessoa do ex-presidente José Machado, do atual presidente Vicente Andreu, do diretor Dalvino Trocolli Franca e do ex-diretor e atual coordenador de Gestão Estratégica Bruno Pagnoccheschi, e do CGEE, na pessoa da ex-presidenta Lúcia Carvalho Pinto de Melo, do atual presidente Mariano Francisco Laplane, do diretor Antonio Carlos Filgueira Galvão e da assessora Carmem Silvia Corrêa Bueno, os quais não apenas asseguraram as condições para a realização da série de debates sobre "A Questão da Água no Nordeste" e para a preparação do livro, como participaram diretamente em diversas ocasiões, acompanhando todo o processo e contribuindo com valiosas orientações, informações e sugestões. Da mesma forma, os agradecimentos vão para as equipes técnicas da ANA e do CGEE, pela sua participação nos debates e pelas inúmeras sugestões. Um agradecimento especial é dirigido aos participantes dos seis debates realizados em 2008, por suas contribuições técnicas para o entendimento da questão da água no Nordeste. Vários desses participantes concordaram em escrever os capítulos que fazem parte deste livro. Gostaria também de agradecer pelo apoio administrativo e financeiro recebido tanto no âmbito da ANA quanto do CGEE. Durante o processo de preparação do livro, foi importante o papel desempenhado pelo consultor José Roberto de Lima, do CGEE, durante todas as etapas. Também quero agradecer às equipes de contratos e de eventos do CGEE, nas pessoas de Alexandra Kruger da Silva, Elaine Michon, Silvana Rolon e Solange Figueiredo, e da ANA, na pessoa de Magaly Vasconcelos Arantes de Lima, pela organização dos dois workshops de autores, realizados em 2011. Finalmente, agradeço a Tatiana Pires, Eduardo de Oliveira e Diogo Alves, da equipe de editoração do CGEE, pelo importante apoio para a editoração e publicação deste livro. Antonio Rocha Magalhães Coordenador 19

A questão da água no Nordeste Introdução Antonio Rocha Magalhães 1 Em 2008, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) realizaram uma série de debates sobre a questão da água no Nordeste. Os debates ocorreram alternativamente nas sedes da ANA e do CGEE, em Brasília, e envolveram eminentes especialistas e tomadores de decisão sobre a questão regional e os diversos aspectos da política de recursos hídricos. Os temas debatidos e os nomes dos especialistas estão referidos no final deste livro. Os debates foram organizados em um relatório, disponível em forma eletrônica (ANA, CGEE). Concluído o projeto, os anos de 2009 e 2010 foram dedicados à realização da Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID+18), organizada pelo CGEE, com o patrocínio do Governo do Ceará, do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Ministério da Integração Nacional e do Banco do Nordeste do Brasil, e com apoio e participação da ANA e muitas outras instituições brasileiras e internacionais. De novo, a temática dos recursos hídricos em regiões secas foi debatida, dessa vez não só em relação ao Nordeste do Brasil, mas também das regiões semiáridas de outras partes do mundo (ICID+18, 2010). Em 2011, em face da repercussão positiva alcançada com a realização da série de debates e das discussões na ICID+18, a ANA e o CGEE resolveram organizar e publicar um livro sobre o tema, com vistas a uma disponibilização mais ampla, sobretudo para interessados não especialistas, como estudantes, tomadores de decisão do governo, do setor privado e da sociedade civil, e para estudiosos em geral. Considerou-se que o livro seria útil e que, embora muito se fale sobre a problemática da água no Nordeste, não existe uma fonte de informação atualizada e facilmente disponível que ajude a esclarecer dúvidas e mesmo preconceitos que muitas vezes são expostos quando o assunto é a discussão das alternativas para o desenvolvimento regional. Há temas que geram controvérsias, como, por exemplo, a discussão sobre política de acumulação versus uso da água; a questão dos grandes projetos versus os pequenos aproveitamentos; a morte de rios (por causa do desmatamento e da degradação ambiental) e as possibilidades de revitalização de bacias; o gerenciamento da água; as implicações da variabilidade e das mudanças climáticas; as soluções para o enfrentamento das secas; e a ideia de integração entre bacias hidrográficas. 1 Líder de Projeto, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) 21

Agência Nacional de Águas Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Na verdade, há necessidade de mais estudos e mais divulgação sobre o tema das águas do Nordeste e do Semiárido. No ano de 1980, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) publicou o que se pode dizer que foi o estudo mais importante até hoje: o Plano Integrado de Recursos Hídricos do Nordeste (PLIRHINE), com dados de balanço hídrico sobre 24 grandes bacias de dez estados da região. Esse estudo, embora agora desatualizado, continua sendo uma referência importante. Quinze anos depois, nos anos de 1994 e 1995, o Projeto Áridas, por meio do seu Grupo de Recursos Hídricos, produziu uma série de trabalhos seminais e introduziu a ideia de sustentabilidade nas ações referentes a otimização da oferta e gerenciamento dos usos da água (Projeto Áridas). Foram definidos indicadores de sustentabilidade, construídos cenários tendenciais e desejados, analisadas as vulnerabilidades às variações e mudanças climáticas e sugeridas diretrizes para uma política de desenvolvimento sustentável (MCKAUGHAN, 2008). Os estudos do Projeto Áridas influenciaram na formulação de políticas de recursos hídricos tanto em nível federal quanto de alguns estados 2. A coletânea de estudos do Projeto Áridas está disponível por via eletrônica (http://www.mi.gov.br/infraestruturahidrica/publicacoes /projeto_aridas.asp) e também em forma de livro (VIEIRA, 2000). Resumo executivo Nas últimas duas décadas, aconteceram importantes mudanças sobre a questão dos recursos hídricos no país e no Nordeste em particular. A partir de 1997, o Brasil passou a contar com uma Lei das Águas, em substituição ao antigo Código das Águas. Já antes disso, dois Estados (São Paulo e Ceará) haviam promulgado suas respectivas leis estaduais de recursos hídricos. Avanços significativos foram alcançados nos aspectos institucionais, tanto no Governo Federal quanto em vários estados, com a criação de secretarias para cuidar da política de recursos hídricos. Em 2000, foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA). Nesse contexto, uma nova síntese que resumisse o conhecimento e atualizasse a discussão sobre a política de gerenciamento dos recursos hídricos no Nordeste mostrou-se necessária, e este livro se coloca como uma resposta a essa necessidade. O livro está organizado em 12 capítulos (ver o sumário), acrescidos de introdução e conclusões. Para cada capítulo, foram convidados um ou mais especialistas, entre os que participaram da série de debates ANA/CGEE. Um trabalho desses, escrito a múltiplas mãos, corre o risco de resultar em um todo heterogêneo, com diferentes estilos e enfoques em cada capítulo. Isso é até certo ponto inevitável. Neste trabalho, para diminuir essa possibilidade, começamos por definir um escopo geral e realizar um workshop inicial com os autores, para construir a ideia de um projeto comum. 2 Ramon Rodrigues, secretário de Irrigação do Ministério de Integração Nacional. Apresentação durante a ICID+18 em Fortaleza de 16 a 20 de agosto de 2010. 22

A questão da água no Nordeste Um segundo workshop foi realizado com base em uma primeira versão dos diversos documentos, quando pontos de superposição foram identificados e compatibilizados. Além disso, um processo de revisão interativo, entre autores e entre estes e a coordenação do projeto, no CGEE, foi realizado em múltiplas rodadas de comentários e novas versões. O relatório da série de debates deveria ser o ponto de partida para cada autor. A qualidade técnica de cada capítulo é garantida pela qualificação dos respectivos autores. Foram eliminadas algumas áreas de superposição, mas ainda assim há temas, como a questão das secas e a política de águas, que são tratados em mais de um capítulo. Nestes casos, trata-se de visões diferentes e complementares, de modo que enriquecem o tratamento do tema, por isso há recorrência quanto ao tratamento de alguns temas em diferentes partes do livro. O capítulo 1 versa sobre a origem das águas do Nordeste. A região depende de chuvas que anualmente caem sobre o seu território com exceção do Rio São Francisco, que recebe significativa contribuição da água da Região Sudeste, e do Rio Parnaíba, com uma contribuição menor oriunda de Tocantins, na Região Amazônica. As chuvas do Nordeste são causadas por movimentos de nuvens influenciados, principalmente, pelas temperaturas da superfície do mar no Atlântico Tropical e no Pacífico Equatorial (neste caso, graças aos fenômenos El Niño e La Niña). Na verdade, o Nordeste tem três principais regimes de chuvas. Um que abrange os estados do sul da região (Bahia, parte norte de Minas Gerais, sul do Piauí e do Maranhão), que é influenciado por frentes frias vindas do sul. O segundo, abrangendo o norte do Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, partes de Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia), é influenciado pelos deslocamentos da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), por sua vez influenciada pela oscilação das temperaturas de superfície entre o Atlântico Sul e Norte. E o terceiro, na zona costeira a leste (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia), influenciado por ventos alísios do Sudeste e distúrbios atmosféricos vindos do Atlântico. O capítulo ainda introduz o problema da variabilidade anual e interanual, refletida nos episódios de secas e veranicos, bem como as perspectivas de clima futuro, diante do problema das mudanças climáticas e do risco de que os processos de desertificação avencem sobre a região. O capítulo 2 retoma o tema da variabilidade climática e detalha o problema das secas que historicamente marcaram a sociedade nordestina. A seca se caracteriza, sob o aspecto meteorológico, como uma redução na precipitação anual, em relação à média de precipitação em anos considerados normais. Em um ano de grande seca, a redução de precipitação pode ser superior a 50%. Além da redução na quantidade de chuva, a intensidade da seca também depende da sua distribuição no tempo e no espaço. Em anos de seca, o período com superávit hídrico, que é de quatro meses em anos normais, pode reduzir-se para um, dois ou três meses, tempo insuficiente para o cultivo agrícola. A primeira seca de que se tem notícia no Nordeste data de 1558. Desde então, foram registrados 112 23

Agência Nacional de Águas Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação anos de seca até 2010. As secas variam segundo a intensidade dos seus impactos, que podem ser de natureza econômica, ambiental e social. Tradicionalmente, a primeira consequência da seca é a falta d água, que afeta o abastecimento de pessoas e de animais, bem como as atividades agrícolas. Os impactos da seca dependem da vulnerabilidade das pessoas, das atividades econômicas e do meio ambiente. As pessoas pobres são, naturalmente, as mais vulneráveis, porque não dispõem de meios para enfrentar crises de qualquer natureza. O Semiárido, como se sabe, tem a maior parte da sua população em condição de pobreza, portanto, de alta vulnerabilidade. Entre as atividades econômicas, as que dependem diretamente do clima são mais vulneráveis, de modo especial a agricultura de sequeiro e a pecuária. Em conjunto, a pequena agricultura de subsistência, praticada por trabalhadores rurais e pequenos produtores, forma o conjunto econômico e social mais vulnerável à seca. No Nordeste, tradicionalmente, os impactos sobre a agricultura de subsistência têm sido devastadores. Sem chuva não há produção de sequeiro. Assim, essa atividade pode cessar completamente e afetar milhões de pessoas, incluindo trabalhadores rurais, meeiros e pequenos e médios proprietários. De repente, milhões de pessoas ficam sem a sua subsistência, o que acarreta uma calamidade social. Em episódios paradigmáticos de grandes secas, como em 1887-89, 1915, 1932, 1958, 1983, milhões de pessoas foram afetadas e tiveram sua sobrevivência comprometida. Nas secas mais antigas, a quantidade de pessoas que morriam de fome, sede e doenças ligadas à desnutrição provocada pela seca podia chegar a várias centenas de milhares. Por isso a seca no Nordeste se caracteriza, sobretudo, como um grave problema social. O impacto efetivo sobre as pessoas e suas atividades varia também com o resultado de políticas públicas e estratégias de resposta às secas. No Nordeste, ao longo do último século e meio, foi criada insfraestrutura de acumulação de água em açudes e infraestrutura de transportes, que tem se mostrado capaz de assegurar o abastecimento de água para a maioria da população em anos de secas. O desenvolvimento econômico, nos últimos 50 anos, reduziu a participação da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB), o que se refletiu em menor impacto econômico da redução de chuvas. E as recentes políticas de proteção social têm criado uma rede de proteção para as pessoas mais pobres. Em consequência, uma grande seca meteorológica em 2010 não repetiu a experiência de calamidade social, como ocorrido há um par de décadas. O capítulo 3 discute o balanço hídrico no Nordeste. O balanço hídrico compara oferta e demanda de água para um determinado período. Do lado da oferta, a maior parte da precipitação que acontece é evaporada. Segundo o Projeto Áridas (VIEIRA, 2000), com base em dados do PLIRHINE, o total de precipitação em um ano normal chega a 1.730 bilhões de metros cúbicos, dos quais 1.523 bilhões são evaporados ou evapotranspirados, enquanto 149 bilhões se escoam superficialmente e 24