O Historiador, o Livro Raro e a Internet: novo olhar sobre a pesquisa. Valeria Gauz. Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro 16 de julho de 2014



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Transcrição:

: novo olhar sobre a pesquisa Valeria Gauz Fundação Casa de Rui Barbosa Rio de Janeiro 16 de julho de 2014

A Pesquisa Verificar em que dimensão o uso de livros raros digitalizados na internet, além dos impressos, integrava o processo de comunicação científica de historiadores de Brasil Colonial, no período entre 1995 e 2009, se e como essa prática causava impacto na pesquisa. Motivos: conversa com dois historiadores sobre citação de referências eletrônicas; os primeiros 15 anos dos projetos de digitalização de acervo raro em bibliotecas E uma certa ideia encontrada na literatura da Ciência da Informação de que humanistas, em geral, eram mais lentos na adoção de tecnologias de informação. 2

Caminhos da pesquisa em Ciência da Informação 1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis 2 Historiadores, a Comunicação Científica e estudos de fluxo da informação e uso de coleção 3 Objetivos e procedimentos metodológicos 4 Caracterização dos historiadores de Brasil colonial em seu ambiente de produção científica e tendências para a área - RESULTADOS 5 Considerações 3

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Ciência Corpo organizado de conhecimento sobre um objeto de estudo que existe para ser comunicado, avaliado e legitimado pelos pares e pela sociedade (Meadows, 1990). Comunicação Científica estudos sistemáticos a partir de 1960 Estudos em Comunicação Científica envolvem vários atores e aspectos da produção do conhecimento: o cientista e seu relacionamento formal e informal com a comunidade; como, onde e em quais circunstâncias a interação ocorre; a natureza e o processo de produção de suas publicações; o uso feito dessas pesquisas e em quais canais isso ocorre. A comunicação situa-se no próprio coração da ciência (Meadows, 1999, p. vii) 4

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Século XVII e posteriores Cartas Periódico científico: principal instrumento da comunicação nas ciências até hoje. Academias e sociedades: profissionalização das pesquisas. Século XVIII: especialização Século XIX: migrações = transferência de informação e conhecimento; apoio governamental. 5

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Pesquisa em Ciência da Informação / Comunicação Científica 1808 - Biblioteca Nacional e Pública da Corte, livrarias, criação de escolas e instituições científicas... Mas ainda não se produzia conhecimento de maneira sistemática. Doenças tropicais como fonte de pesquisa científica. 1ª. Fase: 1960s, a CI se firma como Ciência; 2ª. Fase: 1970 a 1989, fase epistemológica, voltada para os princípios, metodologias, desenvolvimento de teorias próprias e influência das novas tecnologias. Nascimento teórico da área (Pinheiro, 2002). 1960s: mercadorização do conhecimento (González de Gómez, 1995) crise dos periódicos científicos. 6

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Periódicos impressos e eletrônicos Cartas, e-mail e outras formas, encontros profissionais e publicações periódicas. Das três, cabe à última a maior transformação, no que tange os atores envolvidos, formatos e suportes utilizados. Avanços tecnológicos influenciam a comunicação nas ciências - na mudança de suporte - no maior acesso ao, e na produção do conhecimento 7

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Periódicos científicos no século XX Saíram do domínio dos cientistas e das sociedades para o controle de outros segmentos da sociedade, como os editores científicos. Com estes, a excelência da pesquisa se transforma em elitismo científico, com a noção de periódicos de elite ou jornaiscentrais, mais citados e caros = prestígio para autores disfunção no sistema de produção, pois bibliotecas não conseguem arcar com os custos das assinaturas desses periódicos. CRISE = Aumentos de mais de 1 mil por cento entre 1998 e 2001 nas assinaturas. Movimento de Acesso Livre à Informação Científica, muito mais nas Ciências Naturais. 8

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Crise na área da Informação Nós, acadêmicos, abastecemos o periódico científico de conteúdo. Nós avaliamos artigos, nós fazemos parte de conselhos editoriais, nós trabalhamos como editores e mesmo assim os periódicos [editores] nos forçam a comprar de volta o nosso trabalho publicado a preços exorbitantes [...] (Darnton, 2008). 9

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis O Movimento de Acesso Livre à Informação Científica De Oldenburg ao Movimento de Acesso Livre (Guédon, 2001) Desde o século XVII há controle sobre as publicações (Igreja, Estado), há noção de propriedade intelectual (tipógrafos) e há desejo de lucro. No século XX há controle sobre as publicações (editores comerciais), há noção de propriedade intelectual (editores comerciais) e há desejo de lucro (editores comerciais). Alguns títulos se tornaram tão importantes que *tinham* de ser adquiridos custo de aquisição desconectado do custo de produção. Lei de Bradford (1934): produtividade de periódicos por área de conhecimento: autores que publicam o maior número de artigos sobre determinado assunto formam um núcleo dos mais devotados - 1960, com o hipertexto, gigantesca rede de conhecimento. Ao fundir os núcleos, sem querer passou a ideia de que periódicos essenciais significavam Ciência essencial... 10

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis O Movimento de Acesso Livre à Informação Científica CENÁRIO Somente os ricos e inteligentes têm acesso à informação de qualidade. Distorção: favorecimento dos periódicos, artigos e citações Subversão do jogo científico: conhecimento de pesquisas em andamento, planejamento, rumo de projetos em mãos de editores comerciais. Iniciativas norte-americanas e de outros países rumo ao Movimento de Acesso Livre à Informação Científica e reação dos editores: novos modelos de negócio. 11

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis O Movimento de Acesso Livre à Informação Científica O Movimento tem por objetivo sanar a dificuldade ou total falta de acesso à informação científica a partir da disponibilização online gratuita de pesquisas avaliadas. Via dourada: periódicos científicos impressos e eletrônicos Via verde: repositórios institucionais e temáticos / autoarquivamento Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à Informação Científica do IBICT, 2005. 12

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação A História é a descrição, narração das coisas, ou das ações como ocorreram ou como podiam ocorrer (Dicionário de Furetière, 1690) Qualifico a História de estudo cientificamente orientado e não de ciência (Lucien Febvre, 1941) A melhor prova de que a História é e deve ser uma ciência é o fato de precisar de técnicas, de métodos e de ser ensinada (Le Goff em História e Memória, 1988) 13

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação A História A História continua sendo uma ciência interpretativa e não possui linhas de demarcação do tipo supostamente existente em algumas ciências sociais (Darnton, 2002, p. 390) Ziman: História como zona fronteiriça entre atividades científicas e não científicas, pois não pode ser explicada em termos de causa e efeito; não é aceita de forma universal e o principal objetivo *não* é alcançar um consenso científico. 14

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação A História No Brasil Época da construção do pensamento brasileiro - nacionalismo - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, é um exemplo do gosto pela pesquisa com uma roupagem mais pragmática, reunindo, pela primeira vez, as pessoas que pensavam a História do Brasil (Iglésias, 2000). Varnhagen, História Geral do Brasil Capistrano de Abreu, renovando métodos de investigação e interpretação historiográfica rompimento com a história portuguesa voz à diversidade étnica. 1980 e 1990 novo diálogo Cursos de pós-graduação na década de 1970: História e Ciência da Informação pesquisas interdisciplinares e projetos colaborativos. Área madura: aumento de cursos, de periódicos científicos e, a partir de 1990, projetos de digitalização em bibliotecas. 15

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Pesquisa em CI aplicada à História Pesquisas da Ciência da Informação / Comunicação Científica aplicadas à História Estudos de comportamento do historiador, fluxo da informação, padrão de publicação. Pesquisas de 1970 e 1980: estudos de usuários e uso de coleção, comuns em bibliotecas. Lentidão na adoção de computadores para ensino e pesquisa (Allen, 2005 apud Costa, 2006) Falta de padronização nos primeiros sistemas automatizados e de treinamento (Harley, 2010) Até 1970s: todos os cientistas são iguais = mesmos padrões de comunicação, MAS a natureza de uma área determina padrões singulares de pesquisa, comportamentos, preferências etc. 16

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Pesquisa em CI aplicada à História Pesquisa de Cohen (2005) detectou que apenas 6% dos professores de História Norte- Americana colocavam links eletrônicos em suas bibliografias de curso. 17

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Pesquisa em CI aplicada à História Estudos de uso de coleção e estudos de fluxo da informação: mais antigos e numerosos Estudos de comunicação científica: mais atuais e menos numerosos McCrank (1995): historiadores céticos com relação aos novos serviços de informação que surgiram em bibliotecas especializadas e centros de documentação, como indexação. Década de 1990: digitalização de acervos: multiplica potencialmente o acesso remoto à enorme quantidade de informação. 18

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Estudos de fluxo da informação Até 1991, Case (1991) detectou oito estudos realizados nos Estados Unidos (um na Inglaterra) sobre necessidade e uso da informação com foco em historiadores, embora outros vinte, classificados como estudos humanistas, possam ter incluído pesquisa na área de História e, ainda, outros poucos possam ser encontrados dentro da categoria cientista social Outros estudos: Case (1991); Andersen (1998; 2003 e 2004); Wiberley, Jr; Jones (2000); Duff; Craig; Cherry (2004); Harley et al (2010). A área de História vem cada vez mais utilizando recursos eletrônicos = comunicação científica. 19

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Estudos de fluxo da informação No Brasil Ferrez (1981): estudou quatro periódicos da área e concluiu que o periódico não era o principal instrumento de disseminação da informação desses cientistas. Brasil (1992): pesquisou a produção científica dos historiadores da Fundação Casa de Rui Barbosa. Na comparação com os estudos de Ferrez, houve predominância de autoria única nos textos, baixo uso de periódicos e diversidade de documentos. Barbatho (2011): analisou, também por meio da Bibliometria, entre outros aspectos, a literatura produzida por historiadores nos últimos 25 anos, com vistas a verificar os impactos das mudanças na Historiografia. Como resultados obteve, entre outros, que a área está em crescimento, que o livro é importante canal de comunicação (assim como as pesquisas de Ferrez e de Brasil haviam encontrado) e que outros canais surgem, como capítulos de livros e artigos de periódicos. 20

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Estudos de fluxo da informação Monografias no cenário científico São responsáveis por estabelecer fatos e narrativas em vários campos do conhecimento (principalmente na área de Ciências Humanas), fatos e narrativas esses difíceis de se estabelecer de outra forma. As monografias provêm a base geral de um campo, ao contrário do que ocorre nas outras Ciências, onde os artigos atuam dessa forma (Chodorow, [1997]). Leva-se anos para a formação de um argumento (Harley et al, 2010, p. 393). As Humanidades não possuem um consenso em sua estrutura paradigmática, o que aumenta as questões metodológicas - daí serem amplamente discorridas e publicadas em monografias (Meadows, 1999). 21

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Livros raros em bibliotecas Aspectos da digitalização de livros raros em bibliotecas Todos os livros de todas as bibliotecas do mundo não serão digitalizados; Os livros raros e os pertencentes às coleções especiais não fazem parte dos grandes projetos de digitalização comerciais; Mesmo o grande projeto do Google, que envolve parte das mais importantes bibliotecas de pesquisa de países desenvolvidos, não tem o comprometimento de preservar os textos indefinidamente, ou seja, não se preocupa com a preservação dos arquivos digitais; Grandes projetos de digitalização têm maior margem de erro no controle de qualidade (páginas digitalizadas duas vezes ou não digitalizadas e imagens distorcidas ou com perda de texto, como ocorria nos processos de microfilmagem); 22

2 Historiadores, a Comunicação Científica e Estudos de Informação Livros raros em bibliotecas (cont.) Nos textos impressos pode haver variação, entre diferentes tiragens ou edições. Ainda que projetos como o Google digitalizem todos os exemplares, não há garantia de que irão disponibilizá-los e quais estarão no topo da lista, isto é, quais aparecerão em primeiro lugar ao se realizar uma busca. [engenheiros, mas nenhum bibliógrafo]; Também sobre exemplares de um mesmo livro: segundo o historiador, nenhum exemplar de um best-seller do século XVIII é melhor do que qualquer outro, em suas várias edições. Pesquisadores comparam edições de livros nas versões originais, não nas escolhidas por critérios que, provavelmente, não estão relacionados com a erudição bibliográfica (Darnton, 2008) 23

3 Objetivos e procedimentos metodológicos traçar o perfil dos historiadores; verificar o uso de citações eletrônicas; conhecer questões relacionadas aos seus canais de comunicação, uso de TICs, fluxo de informação e uso de coleção, além de possíveis barreiras encontradas durante a pesquisa; e investigar o conhecimento desses historiadores sobre o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica Pesquisa de natureza exploratória contendo pesquisa empírica realizada por meio de questionário. 24

Procedimentos metodológicos 1. seleção de nomes de pesquisadores; 2. verificação de citação de fonte bibliográfica eletrônica da internet a partir de periódicos científicos de História de 1995 a 2009; 3. verificação de nomes de pesquisadores na Plataforma Lattes; e 4. busca de e-mails em sites de departamentos de universidades e demais instituições. Questionário enviado para 113 pesquisadores: 1a. fase (20-21 de novembro de 2010): 33 respondidos 2a. fase (27-29 de dezembro de 2010): seis respondidos Total: 39, pouco mais de 30%. 25

4 Resultados Perfil dos 39 Pesquisadores Gráfico 1: Pesquisadores por faixa etária e sexo 12 11 10 8 6 4 2 0 8 5 5 4 3 2 1 0 0 0 0-30 30-40 41-50 51-60 61-70 +70 Feminino Masculino 26

4 Resultados Informações sobre os Pesquisadores 29 pesquisadores na Região Sudeste; 33 com titulação em História, três em Ciências Sociais e três outros em Direito, Economia e Filosofia. Outras universidades Instituição de titulação Universidade de São Paulo: 12 Universidade Federal Fluminense: 5 Universidade Estadual de Campinas: 5 Universidade Federal do Rio de Janeiro: 3 École des Hautes Études en Sciences Sociales: 3 27

4 Resultados Aspectos e práticas da produção científica 36 pesquisadores escreveram artigos sozinhos/autoria única. 28 já publicaram artigos com outros pesquisadores/autoria múltipla. Ferrez (1981), Brasil (1992), Barbatho (2011), Meadows (1999), Kronick (1985), Ziman (1979), Vickery (2000), Harley et all (2010) e muitos outros. Incomum para Meadows (1999), Wiberley Jr.; Jones (2000) e Harley et all (2010). 36 participa(ra)m de projetos colaborativos. 35 pesquisadores publicam artigos em periódicos impressos e eletrônicos. 25 publicariam monografia somente em formato eletrônico. Tendência em 1961 (E. Costa) e Harley et all (2010). 28

4 Resultados Gráfico 2: Publicação de monografia eletrônica por faixa etária de pesquisador 12 12 10 8 6 4 2 0 0000 5 2 00 5 11 6 4 0 2 1 0 000-30 30-40 41-50 51-60 61-70 +70 Monogr. eletrônica Não monogr. eletrônica Outra resposta Sem resposta 29

4 Resultados Movimento de Acesso Livre à Informação Científica 34 pesquisadores são a favor de acesso à informação científica irrestrito. 20 desconhecem o Movimento de Acesso Livre à Informação. 24 não pagariam nenhuma taxa para publicar em revista de acesso livre (existem vários modelos de negócio). A implementação de repositórios institucionais e/ou temáticos no Brasil parece ser a melhor alternativa para o registro de pesquisa nas Humanidades (plágio, visibilidade). 30

4 Resultados Tendências do uso de TICs em História Ordem de importância Menos visitas a bibliotecas Mais monografias eletrônicas Maior colab. entre pares Mais blogs 1o. 2 9 9 3 2o. 5 8 8 4 3o. 5 6 3 8 4o. 4 1 4 7 5o. 3 0 0 0 31

4 Resultados Tendências Harley et al (2010): alguns pesquisadores acreditavam que o campo mudaria com as novas gerações e as monografias eletrônicas seriam mais aceitas; para outros, a primazia do livro permaneceria. Outras tendências: maior acesso a documentos raros; dispersão regional dos grupos de pesquisa com a formação de redes; instrumentos de busca mais eficientes; risco maior de plágio. 32

4 Resultados Uso de livro raro impresso por historiadores de Brasil colonial 31 pesquisadores utilizam instituições no exterior 30 pesquisadores utilizam instituições no país Andersen (1998): 90% viajam para concluir pesquisa. Biblioteca como instrumento básico de pesquisa. 33

4 Resultados Barreiras no uso de livro raro impresso Vinte e cinco (25) pesquisadores assinalaram que existem barreiras no uso de livros raros impressos: - Normas institucionais: 17 - Condições físicas do livro: 13 - Inexistência de coleções em sua cidade: 5 - Dificuldade para fazer cópias: 2 - Catálogos pouco claros na caracterização do livro raro: 1 - Sem identificação de barreira: 1 34

4 Resultados Uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs) e outras Catálogos de bibliotecas na internet: 36 pesquisadores Cópia digital de livro raro: 36 Web site na área de História: 32 Submissão de artigos e outros para trabalhos na internet: 31 E-mail: 28 Escaner: 27 Fotocópias: 26 Uso da internet para fins didáticos: 24 Serviço de referência eletrônico no exterior: 24 Serviço de referência eletrônico no Brasil: 22 (cont.) 35

4 Resultados Uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs) Microfilme: 19 Blogs de historiadores: 13 Listas de discussão em História: 9 Fax: 5 Uso de listas de discussão, e-mails, blogs, são citados por Pinheiro (2003), Andersen (1998 e 2003), Wiberley Jr.; Jones (2000) e Case (1991). Uso concomitante de impresso e digital é evidente Chartier 36

4 Resultados Fonte de informação Pares, como a mais importante fonte de informação (redes de comunicação informal): 17 pesquisadores, confirmando tendência, conforme Uva (1977) e Case (1991). Pesquisa na internet (13), Web sites de catálogos de bibliotecas, arquivos, museus e livrarias (10), Google Books (4), Google (4) e Google Scholar (1) Nenhum historiador identificou o bibliotecário como fonte de informação, como a pesquisa de Stieg (1981). 37

4 Resultados Uso de livro raro digitalizado na internet 38 pesquisadores utilizam livro raro na internet. 31 utilizam citação de livro raro digitalizado na internet em seus artigos e livros. Fonte de informação: pares (17), pesquisa na internet (13), catálogos de instituições (10), Google Books/Google (4), citações eletrônicas em teses, livros etc (3) Sites de livros raros digitalizados, Internet Archive e Hathi Trust: apenas um pesquisador utiliza. 38

4 Resultados Uso de livro raro digitalizado na internet OBS: Somente 15 pesquisadores citaram algum recurso eletrônico nos periódicos analisados durante o processo metodológico. Desses, somente um pesquisador citou livro raro digitalizado na internet, nos 458 artigos analisados. Possíveis razões: muitos pesquisadores são céticos quanto à qualidade do livro eletrônico, por o acharem insatisfatório, efêmero (Harley et al, 2010) ou pode não parecer aceitável para a comunidade. 39

4 Resultados Gráfico 5: Pesquisador por faixa etária e citação da internet 16 14 12 10 8 6 4 2 0 15 8 6 4 2 2 1 1 0 0 0 0-30 30-40 41-50 51-60 61-70 +70 Cita ref. online Cita ref. online 40

4 Resultados Barreiras no uso de livro raro digitalizado 21 pesquisadores enfrentam barreiras na internet 8 pesquisadores têm necessidade de informação sobre a localização de livros raros na internet 8 registraram que às vezes faltam páginas no documento digitalizado. 7 assinalaram a baixa qualidade das imagens 2: cópia digital não parece confiável. 41

4 Resultados Impacto na pesquisa A grande maioria (37 pesquisadores) reconhece que houve impacto em suas pesquisas a partir do uso de livros raros na internet. Facilidade de acesso: 21 pesquisadores; Melhores resultados na pesquisa: 7 pesquisadores; Democratização da informação; e Redução nos custos de viagem: (2) pesquisadores, etc. Maior acessibilidade Maior uso Maior fator de impacto Maior recompensa Maior produção ( a partir de Costa, 2006) 42

4 Resultados Objeto digitalizado substitui o impresso? Apesar do impacto na pesquisa que a digitalização traz, não substitui o impresso para 25 pesquisadores. Vários autores apontam para a coexistência de suportes. 26 pesquisadores não se sentem pressionados para utilizar tecnologia, independentemente da faixa etária. 43

4 Resultados Considerações Há barreiras para uso de livro raro impresso e digitalizado; Uso de livro raro digitalizado traz inovação e avanço social/impacto, ainda que não substitua o impresso = consenso, legitimidade no uso, ainda que não na prática/barreira; Uso de ambos os formatos, impresso e eletrônico; Pesquisadores de livros raros são semelhantes, independentemente de seus países de origem; Adesão ao Movimento de Acesso Livre à Informação Científica = conscientização de administradores implantação de repositórios de pesquisadores registro intelectual 44

4 Resultados Considerações O historiador não gosta de dispender o seu tempo tentando saber como uma determinada tecnologia funciona. Interfaces de sistemas automatizados + diversidades de layouts de web sites e conteúdos em repositórios; Novas funções e novos desafios para o bibliotecário; Questões com relação à Biblioteconomia e à Ciência da Informação no Brasil. : novos olhares sobre a pesquisa em História, em Biblioteconomia e em Ciência da Informação 45

1 Ciência e Comunicação Científica: elos históricos indissociáveis Sobrevivência da Informação O armazenamento eletrônico elimina (ou diminui consideravelmente) a necessidade de reprodução da informação. Historicamente, a informação registrada sobreviveu graças às suas múltiplas cópias (Neavill apud Kronick, 1985).? 46

Obrigada, Valeria Gauz www.valeriagauz.net valeriagauz@gmail.com Museu da República Rua do Catete, 153 Biblioteca Tel: (5521) 2127 0339 47