A INCONSTITUCIONALIDADE DO BANCO DE DADOS DE CRIMINOSOS LEI 12.654/12 (LEI DE COLETA GENÉTICA PARA IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL)



Documentos relacionados
QUESTÕES E PROCESSOS PARTE II

RESOLUÇÃO Nº, DE DE 2010.

DIREITO CONSTITUCIONAL PODER LEGISLATIVO

PROCESSO PENAL COMNENTÁRIOS RECURSOS PREZADOS, SEGUEM OS COMENTÁRIOS E RAZÕES PARA RECURSOS DAS QUESTÕES DE PROCESSO PENAL.

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO PROCESSO PENAL

COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL. MENSAGEM N o 479, DE 2008

O ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO PENAL

PARECERES JURÍDICOS. Para ilustrar algumas questões já analisadas, citamos abaixo apenas as ementas de Pareceres encomendados:

O Novo Regime das Medidas Cautelares no Processo Penal

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº 215, DE 2015 (EM APENSO OS PLS NºS E 1.589, DE 2015)

Autores: Bruno Shimizu, Patrick Lemos Cacicedo, Verônica dos Santos Sionti e Bruno Girade Parise

A CRÍTICA AO ATO DE SUPERIOR E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli

Prescrição da pretensão punitiva

PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

Capítulo 1 Crimes Hediondos Lei 8.072/1990

CÂMARA DOS DEPUTADOS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

Dr. Guilherme Augusto Gonçalves Machado advogado mestrando em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito Milton Campos

Relato de Casos: Comissão Técnica Riscos Pessoais

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

PARAMETROS DO ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL

APOSENTADORIA ESPECIAL DO POLICIAL CIVIL

Conselho da Justiça Federal

Projeto de Lei do Senado Federal nº, de 2005

A PRISÃO PREVENTIVA E AS SUAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 313 DO CPP, CONFORME A LEI Nº , DE 2011.

ADENDO AO RELATÓRIO. RELATOR: Senador EDUARDO BRAGA I RELATÓRIO

autoridade consular brasileira competente, quando homologação de sentença estrangeira: (...) IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e

PROVIMENTO Nº 20, DE 09 DE OUTUBRO DE O CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DE ALAGOAS, no uso de suas atribuições legais e regimentais,

Polícia Federal e a Súmula Vinculante nº 14 do STF 1

PONTO 1: Concurso de Crimes PONTO 2: Concurso Material PONTO 3: Concurso Formal ou Ideal PONTO 4: Crime Continuado PONTO 5: PONTO 6: PONTO 7:

A PENA DE MORTE EM TEMPO DE GUERRA

O Papel do DPP. Escritório do Procurador-Geral. Introdução

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

Doutrina - Omissão de Notificação da Doença

TÍTULO: A FIANÇA CRIMINAL COMO MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS INSTITUIÇÃO: FACULDADE BARRETOS

NA IMPORTAÇÃO POR NÃO CONTRIBUINTE DO IMPOSTO ESTADUAL APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 33 DE , CONTINUA NÃO INCIDINDO O ICMS.

Parte I - Conceitos Fundamentais, 1

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

Excelentíssima Senhora Presidente da Comissão Permanente de Direito Penal do Instituto dos Advogados Brasileiros, Dra.

MATERIAL DE APOIO. *segundo o STF o MP tem poder de investigação, ou seja, pode o MP investigar além da polícia.

PROJETO DE LEI N 4.596/09

POPULAR SEGUROS- COMPANHIA DE SEGUROS, S.A.

CONTRATO DE TRABALHO. Empregado Preso

CONDICIONAR A EXPEDIÇÃO DO CRLV AO PAGAMENTO DE MULTAS É LEGAL?

CRIMES IMPRESCRITÍVEIS

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS ALIMENTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO: momento processual para a aceitação do benefício MARCIO FRANCISCO ESCUDEIRO LEITE

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2015

O MENSALÃO E A PERDA DE MANDATO ELETIVO

Validade, Vigência, Eficácia e Vigor. 38. Validade, vigência, eficácia, vigor

ARTIGO: Efeitos (subjetivos e objetivos) do controle de

Superior Tribunal de Justiça

3.12 Questões comentadas 3.13 Questões Cespe/UNB

Mais uma falha legislativa na tentativa desesperada de retificar o Código de Processo Penal. Análise feita à luz da Lei nº /11.

NOTA RESUMO SOBRE A OBRIGATORIEDADE DE INSCRIÇÃO NO CNPJ DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO- SCP

AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS EM RELAÇÃO AO PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA PRESUMIDA

NORMA PENAL EM BRANCO

MATERIAL DE AULA LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996.

BOLETIM INFORMATIVO 01/2014 PROCESSO N.º ABRAHÃO SADIGURSKY E OUTROS VS. PETROBRÁS

DIREITO PROCESSUAL PENAL IV

MODELO QUEIXA-CRIME. (especificar a Vara de acordo com o problema)

PARECER N.º, DE 2009

CONSELHO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR PROCESSO Nº. 17/2005. (REPRESENTAÇÃO 54, de 2005)

PROJETO DE LEI Nº DE 2011

INTERVENÇÃO FEDERAL ARTIGO 34 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

TÍTULO VII DA PROVA CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS


Direito Processual Penal - Inquérito Policial

TEORIAS DA CONDUTA DIREITO PENAL. Cléber Masson + Rogério Sanches + Rogério Greco

12/08/2012 PROCESSO PENAL II PROCESSO PENAL II

CAPÍTULO I - FUNÇÃO E CARREIRA DO ADVOGADO...

O COLÉGIO DE PROCURADORES DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições legais; e

Súmulas em matéria penal e processual penal.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

CONTROLE CONCENTRADO

PROCEDIMENTO DA DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS ART. 6º E 7º

Processo nº EMBDO: ELEKTRO, ANEEL E UNIÃO.

Processo PGT/CCR/ICP/Nº 7698/2014

13º. Como organizar os estudos ELISABETE VIDO. Como resolver questões objetivas MARCO ANTONIO ARAUJO JUNIOR

CONTROLE DE ACESSO À INTERNET PELAS EMPRESAS X DIREITO DE PRIVACIDADE

Espelho Penal Peça. Endereçamento correto da interposição 1ª Vara Criminal do Município X 0 / 0,25

TURMA RECURSAL ÚNICA J. S. Fagundes Cunha Presidente Relator

ROTEIRO DE AULA TEORIA GERAL DAS PRISÕES CAUTELARES.

PROJETO DE LEI Nº, DE 2003

PESQUISA MAIORIDADE PENAL

TRATADOS INTERNACIONAIS E SUA INCORPORAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO 1. DIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS

1. Em relação aos crimes contra a violência doméstica, analise as afirmações e em seguida assinale a alternativa correta.

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E CIDADANIA

Questões de Processo Penal

SUMÁRIO. UNIDADE 10 Prescrição ou ministração culposa de drogas; UNIDADE 11 Condução de embarcação ou aeronave sob o efeito de drogas;

DIREITO PROCESSUAL PENAL COMPETÊNCIAS

LC 114/ Só fazer qualquer procedimento mediante Ordem de Serviço (OS) investigar, intimar, cumprir mandado de prisão etc.

NOVOS INSTRUMENTOS PERMITEM CONCRETIZAR DIREITOS HUMANOS NO STF E STJ

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

LAI e PAD OGU MAIO

Marcel Brasil F. Capiberibe. Subprocurador do Ministério Público Especial Junto ao Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul

Transcrição:

A INCONSTITUCIONALIDADE DO BANCO DE DADOS DE CRIMINOSOS LEI 12.654/12 (LEI DE COLETA GENÉTICA PARA IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL) Marcelo Augusto de Freitas Graduando em Direito / UNILAGO Daniela Galvão de Araujo Mestre em Teoria do Direito e do Estado pelo UNIVEN-Marília Especialista em Processual Civil, Penal e Trabalhista pela UNILAGO Docente e Coordenadora do Curso de Direito da UNILAGO RESUMO

INTRODUÇÃO A lei de coleta genética é embasada no pressuposto da tentativa de se equiparar a Polícia Brasileira, a um dos mais importantes, renomados e reconhecidos órgãos de investigação criminal do mundo, o FBI, que possui dezena de milhões de perfis genéticos cadastrados em seus bancos de dados, sendo que estes, contribuem diariamente com a resolução de casos de difíceis elucidações, como também, são imprescindíveis no alicerçamento de condenações, que em circunstâncias de não haverem estas provas cabais, levariam à prováveis absolvições, por falta de meios probatórios, incidindo o in dubio pro reo. Porém, o modo como a lei trata do tema, produz uma flagrante inconstitucionalidade, ferindo vários princípios fundamentais. MUDANÇAS TRAZIDAS PELA LEI 12.654 DE 28 DE MAIO DE 2.012 Na Lei 12.037/09, que dispõe sobre a Identificação Criminal, houve a inclusão dos seguintes termos:

Art. 5º, Parágrafo Único, dita que a identificação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para obtenção do perfil genético; Art. 5º-A, que prega sobre o armazenamento em banco de dados de perfis genéticos, gerenciados pela unidade de perícia criminal, sendo estes dados estritamente sigilosos, devendo serem apostos por perito oficial devidamente habilitado para tal procedimento; Art. 7º-A, ditando que a exclusão destes perfis genéticos dos bancos de dados, ocorrerá com o escoamento do prazo prescricional do delito; Art. 7º-B, dizendo que o regulamento que tratará sobre o sigilo do banco de dados, será expedido pelo poder executivo; Na Lei 7.210/84, Lei de Execução Fiscal, incluiu os seguintes termos: Art. 9º-A, manda fazer a extração de material genético, para os condenados por crimes dolosos, com natureza de violência grave contra a pessoa, ou cometimento de crimes hediondos; Lembramos ainda, que a Lei 8.072/90, dispõe sobre os crimes hediondos e equiparados, sendo que o rol números claustros pode ser enriquecido pelo crime do colarinho branco, que tratam sobre crimes de corrupção. Grifo que este último, ainda não foi aprovado, estando ainda à beira do clamor público.

Art. 9º, 1º, que remete novamente ao sigilo do banco de dados; Art. 9º, 2º, que reza sobre a autoridade policial federal ou estadual, poder requerer ao juiz competente, no caso de inquérito policial instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético. A INCONSTITUCIONALIDADE DA ROTULAÇÃO DO CRIMINOSO OU INDICIADO É fato que o DNA, trouxe uma verdadeira revolução ao mundo jurídico. Temos como exemplo a investigação da paternidade, chegando ao ponto de nosso Tribunal defensor da Constituição, o STF, relativizar a garantia da coisa julgada, em razão da possibilidade de se retificar um julgado, depois da implantação da utilização do exame de DNA, pela busca à verdade. Para a República Federativa do Brasil, os Direitos Fundamentais, são de suma importância, dando limites a soberania do Estado, prevenindo um Estado totalitário, que afaste esse abuso em sua forma de governar nosso país, como nos ensina o mestre, J.J.Gomes Canotilho: Cumpre a função de direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva: I-Constituem, num plano jurídico-objetivo, normas de

competência negativa para os poderes públicos, proibindo fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica; II-Implicam, num plano jurídicosubjetivo, o poder de exercer positivamente direitos fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes públicos, de forma a evitar agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa) (CANOTILHO, 1993, p.143). Todos são iguais perante a lei, é o que dita o art. 5º da CRFB, sem distinção de qualquer natureza, pregando ainda, que é inviolável o direito à igualdade de todos perante a lei. Esta nova lei, de forma clara, contribui excessivamente para a maior estigmatização do criminoso, ex-criminoso (leia-se como ex-condenado), ou até mesmo ao indiciado. Cito especificamente este último, pelo motivo do mesmo ainda não ter sido condenado e muito menos ser o efetivo responsável pelo delito de sua inquisição, sobrepesando apenas a sua suposta autoria, que segundo a lei supracitada, este seria obrigado a dispor de modo coercitivo, se necessário, de retirada de material genético, para equiparação aos dados contidos no banco de dados de criminosos, já indo de encontro ao que prega a CRFB, de que o acusado não pode, ou entenda como, tem o direito de não oferecer prova contra si mesmo. E findo o inquérito, mesmo sendo provado sua não-autoria, este seria ressarcido de seu prejuízo experimentado, ou seria apenas mais uma vítima do totalitarismo do Estado-Juízo em desvendar o cometimento criminoso.

Comungamos das palavras de Rogério Tadeu Romano, que enfoca sobre o tema, com as lentes do pensamento LOMBROSIANO: Assombra a possibilidade de identificação criminal pelo DNA, introduzida pela lei 12.654/12, bem como a manutenção de banco destinado a armazenar perfis genéticos dos criminosos. Sendo assim a identificação criminal, a teor do artigo 5 daquele diploma legal, é Direito Penal do Inimigo, algo de forte inspiração repressiva e etiquetante. Algo próprio de um Estado Totalitário (ROMANO, 2013). Outro aspecto a ser considerado é que a pena seria aumentada sobremaneira, pois, o condenado iria ter pesando sobre sua pessoa, a rotulação de criminoso, mesmo já tendo cumprido sua condenação na totalidade, pelo motivo deste prazo ocorrer conquanto na reabilitação criminal, oportunamente transcorrido com a prescrição do crime cometido. Não seria uma duplicação da responsabilização do criminoso? Não seria a punição do crime/delito suspeito? Estes estariam concretamente incidindo na efetiva violação das garantias processuais, ou seja, estamos diante de um claro retrocesso do Direito Penal. Tomemos ainda como apoio, o que diz o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais: O desaviso e o açodamento são tamanhos, que se sujeitarão à providência constritiva, por exemplo, autores de falsificação de cosméticos, mas ficarão de fora os sujeitos ativos dos crimes

de tráfico de drogas e de tortura, na modalidade em que perpetrada apenas com grave ameaça, dado que não se encontram normativamente abrangidos. Igualmente, ficou de fora o agente do roubo perpetrado sem violência grave. Fica clara a disparidade de tratamento dado a certos crimes, quando comparados a outros supostamente menos graves. PRECEITOS FUNDAMENTAIS DESRESPEITADOS PELA LEI 12.654/12 O art. 5º de nossa CRFB, dita como garantias fundamentais de todo cidadão: I. Inciso X assegura o direito à intimidade do indivíduo; II. Inciso LVII dispõe que não será considerado culpado o suspeito, até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; III. Inciso LVIII dispõe que o civilmente identificado, não se submeta à identificação criminal, a não ser em casos previstos em lei (reza sobre informações imprecisas de identificação, ou, suposta falsidade de documentação, mas não dispõe sobre consulta de seus dados em de cadastro de criminosos);

IV. Inciso LXIII dispõe que ao preso, será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado (para não produzir provas contra sí mesmo) nemo tenetur se detegere ; V. O art. 8 da Convenção Americana de Direitos Humanos, o qual o Brasil é signatário, diz que toda pessoa tem direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada, prevendo explicitamente o contrário ao que prega a lei supracitada, que seria o direito de se defender contra toda e qualquer acusação que sobre sua pessoa paira. VI. Recentemente o STJ decidiu (seguindo precedentes do STF) que sobre a Lei Seca, o motorista não pode ser obrigado a participar do teste do bafômetro ou fornecer material para exame de sangue, sob pena de violar a garantia da não auto-acusação, ou seja, pela aplicação do princípio constitucional da equiparação, o condenado (ou investigado ou acusado) pode se recusar a fornecer o material para a identificação do seu perfil genético, sendo provável seu julgamento pelos tribunais superiores neste sentido. Portanto, para a Constituição da República Federativa do Brasil e demais ordenamentos jurídicos que dispõem sobre os direitos humanos, aos quais o Brasil se faz signatário, consideram a coleta de material genético de sindicados, ou demais pessoas já comentadas anteriormente, como sendo prática abusiva, que acarretava constrangimento

desnecessário ao acusado. Abafado por esta nova lei, o princípio da presunção da inocência fica reduzido a nada. A LEI 12.654/12, PELA VISÃO DE GUILHERME DE SOUZA NUCCI Data venia, descordamos do nobre autor, no ponto que este renomado considera que a referida norma não é inconstitucional, mas o saudamos, no ponto em que nos filiamos outrossim, com a visão de que a identificação genética deveria ser para todas os cidadãos, juntamente com o cadastro das digitais. Compartilhemos de suas brilhantes palavras: Dado ensejo ao certeiro exame de DNA, não vislumbro inconstitucionalidade. Ao contraio, todos deveríamos ser identificados civilmente não somente pela foto e impressão digital, como ocorre hoje, mas também com dados genéticos. Na área criminal, com maior razão, evitando-se o erro judiciário de troca de identidade nos processos criminais. Não se ofende o princípio contra a autoincriminação, pois identificação se faz antes do crime e não se obriga, depois do delito que o suspeito forneça material genético comparativo (NUCCi, 2012).

A LEI 12.654/12, PELA VISÃO DE AURY LOPES JUNIOR Enfático é o doutrinador Aury Lopes, ao comparar a criação desta supracitada lei, com o final do direito de não produzir provas contra si mesmo (nemo tenetur se detegere). Veja-mos o que nos ensina este ilustre: A identificação criminal cria uma abertura que salvo melhor juízo fulmina mortalmente o direito de não produzir provas contra si mesmo. Vários problemas brotam desta disciplina. Inicia por recorrer a fórmula genérica e indeterminada de essencial às investigações policiais, sem sequer definir em que tipos de crimes isso seria possível. Dessarte, basta uma boa retórica policial e uma dose de decisionismo judicial... Como se não bastasse, poderá o juiz atuar de ofício, rasgando tudo o que se sabe acerca de sistema acusatório e imparcialidade (LOPES JR, 2012). São ainda palavras de Lopes Jr, que com grande pesar diz que esta lei é um grande retrocesso civilizatório, rumo à coisificação do imputado. Deixando como direito ao imputado, o da garantia de ser empregado na extração, técnica adequada e indolor.

CONCLUSÃO A identificação do criminoso por meio da coleta de DNA, para arquivamento em Bancos de Dados específico afronta vários princípios fundamentais, previstos na CRFB, desrespeitando o princípio basilar de nossa Lei Maior, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Sobrepesa a duplicidade de punição ao condenado pelo mesmo delito, também veemente combatida pela nossa Carta Magma. A citada lei, seria mais eficaz e menos incisiva nos direitos do cidadão brasileiro, se fosse aplicada de modo a prevenir e coagir crimes futuros, e não tentando combater de forma pretérita os crimes já praticados. Seria de maior efetividade esta lei, se tivesse como escopo o pressuposto basilar, de se ocupar com a maior vigência, ou seja, se institui-se que todos os cidadãos ao comparecerem às delegacias e centrais de serviços da Secretaria de Segurança Pública, fizessem a coleta do material genético, juntamente com a retirada dos dados dactiloscópicos, para confecção do Registro Geral da Pessoa. Dessa forma não se estaria discriminando o criminoso, pelo simples fato da lei ser de pretensão geral, aplicada erga omnes, que implicaria numa maior efetividade da lei, pois seria conhecida a autoria criminosa do delito, ao se comparar os dados coletados da

sena do crime, com o banco de DNAs, mesmo este suspeito não sendo praticante de crime pretérito, a informação estaria disponível para elucidação do caso. Dentro de curto espaço de tempo, esta lei será alvo de Representação de Inconstitucionalidade, ou seja, recairá sobre a mesma uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade), pelo motivo da mesma ferir vários Princípios Constitucionais, tornando-se assim letra morta em nosso ordenamento jurídico, que apenas desperdiçou muita energia pública e bastante tempo precioso de nosso Congresso, para sair da imaginação de excepcionais doutrinadores e virar iniciativa da lei, ser discutida, votada, aprovada, sancionada, promulgada, publicada, para depois vir a falecer (leia-se, ser revogada).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Direitos Fundamentais, J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1993. 2. http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2012/06/04/lei-12-65412- dentificacao-genetica-nova-inconstitucionalidade/ - Acesso em 20 de julho de 2013. 3. http://blog.justica.gov.br/inicio/entra-em-vigorlei-que-determina-criacao-de-banco-de-dna-parainvestigacoes-criminais/ - Acesso em 23 de julho de 2013. 4. http://www.capitalteresina.com.br/noticias/piaui/falta-debanco-de-dna-criminal-atrapalha-atrasa-investigacoes-nopiaui-1046.html#.ue_4pm0-11s Acesso em 20 de julho de 2013. 5. http://www.cidadeverde.com/seminariodebatera-criacao-do-banco-de-dna-criminal-do-piaui-133823 - Acesso em 20 de julho de 2013. 6. http://discursoracional.blogspot.com.br/ 2012/06/lei-n-1265412-identificacao-criminal.html - A Lei n. 12.543/12 (Identificação Criminal via DNA) é (In)Costitucional?: Entre Nucci e Lopes Jr., Duas Visões. Acesso em 24 de julho de 2013. 7. http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/exibir_ artigos.php?id=4688 - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Acesso em 25 de julho de 2013. 8. http://www.jfrn.gov.br/ jfrn/institucional/biblioteca/ doutrina/ Doutrina305- identificacao-criminal-pelo-dna.pdf - Identificação Criminal

pelo DNA: Uma Experiência Lombrosiana, Rogério Tadeu Romano, 2012. Acesso em 24 de julho de 2013. 9. http://jus.com.br/artigos/23022/identificacaocriminal-banco-de-dados-de-dna-lei-no-12-654-2012/1 - Acesso em 23 de julho de 2013. 10. http://participacao.mj.gov.br/pensandoodireito/em-vigor-leique-cria-banco-de-dna-vai-auxiliar-investigacoes-criminais/ - Acesso em 25 de julho de 2013.