APLICAÇÃO HIPERPRECOCE DE CLORETO DE MEPIQUAT NO ALGODOEIRO HERBÁCEO, CULTIVAR BRS 187 8H, EM CONDIÇÕES DE CASA DE VEGETAÇÃO. I. EFEITOS NA QUALIDADE INTRÍNSECA DA FIBRA Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão 1, José Gomes de Souza 2, Gleibson Dionízio Cardoso 3, José Wellington dos Santos 4. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, 58107-720, Campina Grande, PB. e-mail: nbeltrao@cnpa.embrapa.br, (2) Embrapa Algodão, e-mail: gomes@cnpa.embrapa.br, (3) Embrapa Algodão, e-mail: gleibson@cnpa.embrapa.br, (4) Embrapa Algodão, e-mail: jwsantos@cnpa.embrapa.br RESUMO Com o fito de verificar e quantificar os possíveis efeitos do regulador de crescimento, cloreto de mepiquat, aplicações hiperprecoces na planta do algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L. raça latifolium hucth.), cultivar BRS 187 8H um experimento em condições controladas (casa de vegetação) foi conduzido da sede da Embrapa Algodão, localizada em Campina Grande, Paraíba, no ano de 2002. Foram testados seis tratamentos (épocas de aplicação do cloreto de mepiquat, na dosagem 50 g/ha, do produto técnico), mais um tratamento testemunha, sem regulador de crescimento, para cada época, para se poder comparar na mesma base. Foram computadas oito variáveis da fibra determinadas em laboratório no instrumento de elevado volume, HVI. As aplicações foram realizadas de 10 em 10 dias da emergência das plântulas até os 60 dias. Foi verificado que aplicações precoces do produto em tela reduziu a resistência, aumentou o valor do micronaire e o grau de amarelo (b + ). A reflectância da fibra se relacionou de forma hiperbólica com as épocas de aplicação, apresentando o máximo próximo dos 30 dias da emergência das plantas. O comprimento da fibra, a sua uniformidade, o índice de fibras curtas e a elongação não foram alterados pelos tratamentos. INTRODUÇÃO O uso de reguladores e de moduladores do crescimento na cultura do algodão tem sido um passo tecnológico bastante presente na maioria dos países que produzem esta malvaceae, em especial os Estados Unidos da América do Norte, a China, onde em mais de 90% da área plantada se usa estes produtos, Turquia, Argentina e Austrália, entre outros (ICAC,1995). Estes produtos tem diversas ações no metabolismo das plantas (Cothren, 1994), sendo que o cloreto de mepiquat, que é um inibidor da biossíntese das giberelinas (Hake et al. (1991), tem sido usado na cotonicultura largamente, em especial nos plantios irrigados e tem efeitos diversos nas plantas, tais como redução da altura, redução do dossel foliar, redução dos ramos, aumento na produção de flores, redução do comprimento dos internódios, aumento da taxa clorofila a/clorofila b, incremento na espessura das folhas, estimulação na redução do dióxido de carbono, aumento dos pelos radiculares e outros (Thomas,1967, Gausman et al.1978, Walter et al. 1980, Heilman,1981, Fernadez et al., 1991, Hake et al 1991 e Cothren,1994). Considerando os efeitos ou influencias do cloreto de mepiquat na qualidade intrínseca da fibra do algodão existem poucas informações disponíveis. Hake et al (1991) salientam que os efeitos do cloreto de mepiquat na qualidade da fibra podem ser indiretos, devido a este produto interferir na maturidade da planta e assim pode reduzir ou incrementar as características tecnológicas da fibra.nas áreas irrigadas com algodão no Nordeste, especialmente no Estado da Bahia, que tem a maior área plantada com esta malvaceae irrigada do Brasil, com o uso de elevada tecnologia, um dos problemas que surgiram nos três últimos anos é o rápido crescimento inicial das plantas, com possível alteração no padrão normal de desenvolvimento e assim os produtores estão cada vez mais querendo usar os inibidores do crescimento logo cedo, fora das épocas indicadas para seu uso, que é no inicio
da floração da cultura ou mesmo parcelado, porém com início na fase de pleno botoamento das plantas. Neste trabalho procurou-se estudar os efeitos de diversas épocas de aplicação do cloreto de mepiquat, iniciando-se precocemente, aos 10 dias da emergência das plântulas, na qualidade intrínseca da fibra do algodoeiro, cultivar BRS 197 8H. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi estabelecido em 2002, em condições de casa-de-vegetação pertencente a Embrapa Algodão, localizada em Campina Grande, Paraíba. Utilizou-se a cultivar BRS 187 8H de algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L. raça latifolium Hutch.) e vasos com capacidade de 15 litros, e em cada um dele foram estabelecidas duas plantas que se constituírem na unidade experimental. Foi utilizado um delineamento estatístico de blocos ao acaso com quatro repetições e 12 tratamentos, sendo seis épocas de aplicação do regulador de crescimento, produto denominado de cloreto de mepiquat (N, N-dimethylpiperidinium chloride) na dosagem de 50 g/ha do produto técnico, e nas épocas, todo de uma só vez: Aos 10, 20, 30, 40, 50 e 60 dias da emergência das plântulas e para cada época para comparação teve-se uma testemunha. O plantio foi realizado no dia oito de janeiro de 2002 e a colheita na ultima semana do mês de maio do mesmo ano. Foram avaliadas oito variáveis relacionadas com a qualidade intrínseca da fibra do algodão: comprimento, em mm a SL 2,5 %, Uniformidade do comprimento em %, índice de fibras curtas (IFC) em %, com relação ao peso da fibra, resistência em gf/tex, finura em I.M. ou µg/pol, elongação em %, reflectância em % e grau de amarelo (b + ), todos determinados no instrumento de elevado volume, denominado de HVI, pertencente ao Laboratório da Embrapa Algodão, localizado em Campina Grande, Paraíba. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 podem ser vistos os resumos das análises de variância dos dados das variáveis analisadas e submetidas a ANOVA. Verifica-se que os efeitos foram praticamente insignificantes e que somente para as épocas e as variáveis resistência, finura e reflectância houve efeitos significativos. Na tabela 2 tem-se os contastes ortogonais entre cada época de aplicação e su respectiva testemunha, verificando-se poucos efeitos significativos, estando de acordo com Hake et al (1992). O efeito das épocas de aplicação na resistência foi crescente com pode ser verificado na Figura 1, sendo o contrário para a finura da fibra, embora com um coeficiente de determinação muito pequeno, e assim com elevado grau de ação do acaso, com coeficiente de alienação (a) superior a 0,97. No tocante a reflectância, uma das mais importantes características da fibra, verificou-se uma relação parabólica, segundo grau, como o máximo com a aplicação aos 29 dias da emergência das plântulas, sendo o inverso para o grau de amarelo, como pode ser observado na Figura 1. Fazendo-se uma análise global, pode-se dizer que o cloreto de mepiquat praticamente não interfere na qualidade intrínseca da fibra, mesmo com aplicações hiperprecoces. CONCLUSÕES O regulador do crescimento (retardador) cloreto de mepiquat, utilizado na dosagem de 50g/ha do produto técnico, aplicado em várias épocas desde os 10 dias da emergência das plântulas até os 60 dias deste mesmo evento, praticamente não alterou a maioria das características da fibra do algodão, cultivar BRS 187 8H, em especial o comprimento, a uniformidade do comprimento, a elongação e o índice de fibras curtas; A finura da fibra teve micronaire menor (mais fina) nas épocas mais tardias, sendo mais grossa
com a aplicação hiperprecoce; A resistência foi menor com a aplicação hiperprecoce do regulador de crescimento; A reflectância da fibra e o grau de amarelo foram relacionadas com as épocas de aplicação de forma hiperbólica com o máximo de brancura com a aplicação aos 29 dias e o mínimo de amarelo. Tabela 1. Resumo das Análises de Variâncias das variáveis, comprimento de fibra (mm), uniformidade de comprimento (%), índice de fibra curta (%), resistência da fibra (gf/tex), alongamento da fibra (%), micronaire (µg/in), reflectância (%) e grau de amarelamento( + b) em função da época de aplicação do Cloreto de mepiquat. Campina Grande, PB. 2002. F.V. GL Quadrado Médio Len Uni SFI STR Elon Mic Rd b + Per. Aplicação 5 1,087 ns 1,026 ns 0,294 ns 7,133 ns 0,695 ns 0,716** 15,78** 0,362 ns Linear 1 0,136 ns 2,288 ns 0,513 ns 23,09** 0,0023 ns 0,759* 22,88** 0,024 ns Quadrática 1 1,893 ns 2,244 ns 0,100 ns 3,14 ns 0,00086 ns 0,021 ns 33,09** 1,634* Cúbica 1 0,078 ns 0,348 ns 0,069 ns 2,68 ns 0,199 ns 0,291 ns 18,92** 0,0064 ns Desv. Reg. 2 1,664 0,124 0,394 3,38 1,63 1,256 2,02 0,0743 Entre Test. 5 0,808 ns 2,270 ns 0,532 ns 5,63 ns 2,85** 0,321 ns 5,18* 0,883 ns G1 vs G2 1 0,00001 ns 0,0375 ns 0,0375 ns 44,72** 0,0107 ns 0,937* 4,16 ns 0,024 ns Tratamentos (11) 0,862 1,500 0,379 9,87 1,615 0,560 9,91 0,568 Bloco 4 1,751 1,118 0,483 12,18 2,23 0,247 7,82 1,66 Erro 44 1,09 1,060 0,414 3,27 0,69 0,147 2,23 0,368 CV(%) - 3,45 1,20 17,241 6,31 6,69 9,31 1,97 4,79 G1= Tratamentos com aplicação (10, 20, 30, 40, 50, e 60) G2= Tratamentos com testemunhas (tt10, tt20, tt30, tt40, tt50, e tt60) * Significativo a 5% pelo teste F ** Significativo a 5% pelo teste F ns Não significativo (Teste F) Tabela 2. Resumo das Análises de Variâncias dos contrastes de interesse para as variáveis, comprimento de fibra (mm), uniformidade de comprimento (%), índice de fibra curta (%), resistência da fibra (gf/tex), alongamento da fibra (%), micronaire (µg/in), reflectância (%) e grau de amarelamento( + b) em função da aplicação do Cloreto de mepiquat. Campina Grande, PB. 2002. Contrastes de interesse GL Quadrado Médio Len Uni SFI STR Elon Mic Rd b + ŷ1 = P10 vs tt10 1 0,484 ns 0,121 ns 0,001 ns 4,900 ns 2,025 ns 0,016 ns 2,304 ns 0,081 ns ŷ2 = P20 vs tt20 1 1,936 ns 0,196 ns 0,049 ns 2,916 ns 2,401 ns 0,256 ns 14,161* 0,576 ns ŷ3 = P30 vs tt30 1 0,441 ns 0,676 ns 0,001 ns 7,569 ns 7,396** 0,004 ns 1,600 ns 0,324 ns ŷ4 = P40 vs tt40 1 0,049 ns 0,961 ns 0,144 ns 23,409** 2,304 ns 2,601** 3,481 ns 0,121 ns ŷ5 = P50 vs tt50 1 0,576 ns 0,676 ns 0,001 ns 4,900 ns 0,196 ns 0,064 ns 0,529 ns 0,144 ns ŷ6 = P60 vs tt60 1 0,324 ns 0,081 ns 0,289 ns 7,056 ns 0,144 ns 0,196 ns 17,161** 0,064 ns ŷ7 = G1 vs G2 1 0,00000001 ns 0,037 ns 0,037 ns 44,721** 0,011 ns 0,937* 4,161 ns 0,024 ns Erro 44 1,088 1,061 0,416 3,269 0,691 0,148 2,236 0,368 * Significativo a 5% pelo teste F ** Significativo a 5% pelo teste F ns Não significativo (Teste F)
Resistência (gf/tex) 32 30 28 26 24 22 20 y= 27,712+0,0514x r 2 =0,65 Micronaire ( g/in) 4,30 4,20 4,10 4,00 3,90 3,80 3,70 3,60 3,50 y=4,316-0,00931x r 2 =0,21 Reflectância (%) 78 77 76 75 y= 73,83 + 0,24361x - 0,004211x 2 74 r 2 = 0,71 73 72 71 Amarelamento (%) 13,20 13,00 12,80 12,60 12,40 12,20 12,00 y= 13,472-0,063843x + 0,00093571x 2 r 2 = 0,91 Figura. 1. Regressão da Resistência (P 0,01), Micronaire (finura) (P 0,05), Reflectância (P 0,01) e Grau de amarelamento (P 0,01) em função da aplicação do Cloreto de mepiquat. Campina Grande, PB. 2002. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COTHREN, J.T. Use of growth regulators in cotton production. In: PROCEEDING OF WORLD COTTON RESEARCH CONFERENCE,1. Brisbane, Australia. Proceedings... Challenging the future. Brisbane, Australia: CSIRO, 1994. FERNANDEZ, C.J.; COTHREN, J.T.; McINNES, K.J. Partitioning of biomass in well-watered and waterstressed cotton plants treated with mepiquat chloride. Crop Science, v.31, p. 1224-1228, 1991. GAUSMAN, H.W.; RITTIG, F.R.; NAMKEN,L.N.; RODRIQUEZ, R.R.; ESCOBAR, D.E.; GARZA, M.V. E ffects of 1,1 dimethyl-piperdium chloride on cotton (Gossypium hirsutum L.) leaf chlorophyll. In: PROC. PLANT GROWTH REGUL. WORKING GRUP CONF. Plant Growth Regulator Working Group, Longmont, CO,.1978. p.137-145. GAUSMAN, H.W.; STEIN, E.; RITTIG, F.R.; LEAMER, R.W.; ESCOBAR, D.E.; RODRIGUEZ, R. Leaf CO 2 uptake and chlorophyll ratios of pix-treated cotton. In: PROC. SIXTH ANN. MEET. PLANT GROWTH REGUL. Working Group Plant Growth Regulator working Group. Longmont, CO. 1979. p. 117-125. HAKE, K.; KERBY, T.; McCARTY, W.; O NEAL, D.; SUPAK, J. Physiology of pix.usa. National Cotton Council. Cotton Physiology Today, v.2, n.6, 4 p, 1992. HEILMAN,M.D. Interactions of nitrogen with PIX TM on the growth and yield of cotton. In: BROWN, J.M. (ed). PROCEEDINGS BELTWIDE COTTON PRODUCTION RESEARCH CONFERENCES. National Cotton Council of America, Proceedings... Memphis, TN, USA. 1981. p. 47. INTERNATIONAL COTTON ADVISORY COMMITTEE. The ICAC Recorder. Washington, USA. v.13, n.2, p.7-10. June, 1995.
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