CADMO. Revista de Historia Antiga. Centro de História da Universidade de Lisboa

Documentos relacionados
[Recensão a] Winkler, Martin M. - Cinema and classical texts: Apollo s new light. URI: /23816

Por Júlia Silveira Matos

O que é o teatro? Uma das mais antigas expressões artísticas do Homem; Tem origem no verbo grego theastai (ver, contemplar, olhar), e no vocábulo greg

[Recensão a] Rodrigues, Nuno Simões - Mitos e lendas: Roma Antiga Autor(es): Ferreira, Nelson Henrique S. URI:

Biblioteca Escolar Agrupamento de Escolas de Vidigueira. Venham lá os exames

Géneros textuais e tipos textuais Armando Jorge Lopes

Teste Formativo sobre o CONTO

Introdução à Direção de Arte

3-4 DE Março de 2011

A MULHER NA HISTÓRIA ACTAS DOS COLÓQUIOS SOBRE A TEMÁTICA DA MULHER ( ) CÂMARA MUNICIPAL DA MOITA

[Recensão a] TREVIZAM, Matheus, Prosa técnica. Catão, Varrão, Vitrúvio e Columela. URI: /38120

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS CLÁSSICAS E ROMÂNICAS PLANIFICAÇÃO ANUAL 2018/2019 PORTUGUÊS - 11.º CURSO PROFISSIONAL DE INFORMÁTICA SISTEMAS

AGRUPAMENTO de ESCOLAS Nº1 de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2013/2014 PLANIFICAÇÃO ANUAL

HORÁRIO 2019 (B) CURSO DE LETRAS

LETRAS HORÁRIO ANO / 1º SEMESTRE - PERÍODO DIURNO E NOTURNO ANO HORÁRIO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo de PLANIFICAÇÃO ANUAL

LITERATURA: GÊNEROS E MODOS DE LEITURA - EM PROSA E VERSOS; - GÊNEROS LITERÁRIOS; -ELEMENTOS DA NARRATIVA. 1º ano OPVEST Mauricio Neves

Português 11º ano PLANIFICAÇÃO ANUAL Ano letivo 2016/2017

HORÁRIO CURSO DE LETRAS 1 ANO - 1º SEMESTRE - PERÍODO DIURNO E NOTURNO

DISCIPLINA: PORTUGUÊS

EMÍLIA MARIA ROCHA DE OLIVEIRA CVRRICVLVM VITAE

TEMAS/DOMÍNIOS Conteúdos Objectivos Tempos Avaliação Textos dos domínios transacional e

Ensaios sobre Eduardo Lourenço. João Tiago Lima

HORÁRIO DO CURSO DE LETRAS PERÍODOS DIURNO E NOTURNO ANO LETIVO DE º ANO/1º SEMESTRE

PROPOSTA CURSO DE LETRAS HORÁRIO 2017

AS CATEGORIAS DA NARRATIVA

DISCIPLINAS OPTATIVAS DLLV

O m e d i e v a l i s m o p o r t u g u ê s d a d é c a d a d e 5 0 d o s é c u l o X X a o s n o s s o s días F i l i p a M e d e i r o s

LITERACIA DA INFORMAÇÃO

Introdução. Sieyès. 1 Como é cediço, o primeiro a dar esse nome ao fenômeno foi o teórico francês Emmanuel Joseph

ÉTICA E MORAL. O porquê de uma diferenciação? O porquê da indiferenciação? 1

Elenco de Disciplinas do Dellin RES. N. 103/00-CEPE RES. N. 33/03-CEPE RES. N. 10/07-CEPE

P L A N I F I C A Ç Ã O A N U A L

VII Festival Escolar de Teatro de Tema Clássico

Como é que um filho que é artista se pode aproximar

Sumário APRESENTAÇÃO...7 LER E ESCREVER: A ESPECIFICIDADE DO TEXTO LITERÁRIO...11 A PRODUÇÃO ESCRITA...35 A CRÔNICA...53 O CONTO...65 A POESIA...

RELATÓRIO DE LICENÇA SABÁTICA. Osvaldo Manuel Alves Pereira Silvestre Professor Auxiliar do DLLC da FLUC

SUPLEMENTO DE ATIVIDADES

Avaliação da Biblioteca Escolar- Questionário aos alunos

A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura:

Artigo 2 - O Curso de Letras habilitará o aluno em Português e uma Língua Estrangeira e suas respectivas literaturas.

P L A N I F I C A Ç Ã O A N U A L

Competências/ Objectivos Conteúdos Estrutura Cotações

1º Período º Período º Período

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2017/2018 PLANIFICAÇÃO ANUAL

Literatura Portuguesa

o menino transparente

LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

Curriculum Vitae: José Malheiro Magalhães

2 Contextualização. 5 Relações. Índice. Nota prévia histórico-literária A obra como crónica da mudança social... 19

A Palavra de Deus de hoje, começa com um convite à alegria: - é anunciada para nós uma Boa Notícia: a vida e missão de Jesus, o Ungido, o Filho de

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE LETRAS-IRATI (Currículo iniciado em 2009) LETRAS-INGLÊS

Curriculum Vitae: José Malheiro Magalhães

ESCOLA SECUNDÁRIA/3 RAINHA SANTA ISABEL ESTREMOZ PLANIFICAÇÃO ANUAL

11º ANO CURSOS PROFISSIONAIS PORTUGUÊS PLANIFICAÇÃO MODULAR

CARGA- HORÁRIA CRÉDITO CARÁTER EMENTA

Ficha de Unidade Curricular 2009/2010

ii. Metodologia de trabalho e Estrutura da Dissertação

ESCOLA SECUNDÁRIA/3 RAINHA SANTA ISABEL ESTREMOZ PLANIFICAÇÃO ANUAL

Habilitação em Francês Horário noturno Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Passados Próximos Memória e História

ASSOCIAÇÃO CLENARDVS: PROMOÇÃO E ENSINO DA CULTURA E LÍNGUAS CLÁSSICAS

A este respeito, e de algum modo contrariando algumas opiniões da academia portuguesa, tomamos partido: Eudoro de Sousa foi, sobretudo, um filósofo

GUIÃO PARA A ELABORAÇÃO DE UM PORTEFÓLIO

Escola Secundária com 3º Ciclo D. Manuel I de Beja

29/06/2018

ENSAIOS SOBRE LITERATURA

Índice. Capítulo I Introdução 1. Capítulo II O professor 17. Objectivo e questões do estudo 2. O contexto do estudo 9

FLUIR PERENE. A CULTURA CLÁSSICA EM ESCRITORES PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS

7.º Ciclo de Conferências. Ágora. Estudos Clássicos em Debate

As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal

Códigos Disciplinas Carga Horária. LEC050 Linguística I 60 horas --- LEC091 Estudos Literários I 60 horas ---

Resenha: VEYNE, P. A Sociedade Romana. Lisboa: Edições 70, 1993 Docente: Andréa Lúcia D. Oliveira Carvalho Rossi Discente: Dalmo Alexsander Fernandes

ocidental não podem prescindir do conhecimento gerado por aqueles filósofos que iniciaram os questionamentos mais fundantes do ser humano.

Programação - A ideia

ATUAÇÃO EXPANDIDA NOS SUPORTES FÍLMICO, FOTOGRÁFICO E SONORO

Tarefas de escrita. Planificação Redacção Revisão

Julio Cortázar. Rayuela. O jogo do mundo. Tradução do castelhano. Alberto Simões. Prefácio. José Luís Peixoto

Lógica. Abílio Rodrigues. FILOSOFIAS: O PRAZER DO PENSAR Coleção dirigida por Marilena Chaui e Juvenal Savian Filho.

1º PERÍODO (Aulas Previstas: 64)

Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativoargumentativo

Volume 01 - Direito Penal - Parte Geral I.S.B.N.: Volume 02 - Direito Penal - Parte Especial I.S.B.N.:

CONFLUENZE. RIVISTA DI STUDI IBEROAMERICANI.

Agradecimentos. Ao professor Doutor José Pedro Ferreira a disponibilidade sempre evidenciada bem como o rigor e precisão, no âmbito da coordenação.

Os símbolos da Justiça

[Recensão a] Apuleio - Conto de Amor e Psique: introdução, tradução do latim e notas de Delfim Ferreira Leão. URI:

DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA ANO LECTIVO 2009/ º Ano 1. COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS

11º ANO CURSOS PROFISSIONAIS PORTUGUÊS PLANIFICAÇÃO MODULAR

Programação das Unidades de Aprendizagem

Unidades Curriculares de Complementação de Formação Ofertadas (UCCF)

Guião de Visionamento do vídeo: Sisyphus - the real struggle

Português 2011/2012 Ana Oliveira Daniela Oliveira Luciana Oliveira Raquel Ferreira

A cerimónia de entrega do prémio terá lugar no dia 17 de Março, no Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra

UNIDADE ACADÊMICA: CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUBA SUBUNIDADE ACADÊMICA: FACULDADE DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM PROFESSOR(A): AUGUSTO SARMENTO-PANTOJA

ENSINO SECUNDÁRIO 10º ANO PLANIFICAÇÃO ANUAL

1. Fernando Pessoa. Oralidade. Leitura

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO PROJETO DE PESQUISA UMA ANÁLISE ESPACIAL DO CONTO SUBSTÂNCIA DE GUIMARÃES ROSA

Acção n.º 41 Oficina de Escrita (Criativa) Modalidade: Oficina de Formação; Destinatários: Docentes dos grupos 110, 200, 210, 220 e 300

Transcrição:

CADMO Revista de Historia Antiga Centro de História da Universidade de Lisboa 19

feminino, aqui estudado através das várias composições que Helena de Tróia tem tido no cinema (sendo este um tema igualmente tratado por nós num colóquio dedicado à heroína mitológica e decorrido em Coimbra em 2006). Cleópatra é outra figura que assume naturalmente contornos mitológicos neste contexto e que 0 A. sabe aproveitar igualmente bem. De facto, na cultura contemporânea, a última rainha do Egipto assumiu uma posição sem dúvida mítica, em grande parte graças ao cinema. O livro encerra com o regresso à poesia, definida pelas metáforas que Homero e Apoio permitem construir. Em suma, este livro lida com as representações modernas de temas clássicos, confirmando a importância do Mundo Antigo na cultura contemporânea, sendo de realçar que essas temáticas assumem formas de acordo com os objectivos e os media a que recorrem para se retransmitir e reformular. Apesar de a qualidade do produto não ser sempre homogénea, 0 certo é que nos basta a presença do tema ou motivo clássico para atestarmos a retransmissão cultural. Winkler ciassifica pertinentemente essas metamorfoses de «Protean nature». Esta característica confirma ainda 0 carácter continuamente reinventivo do mito antigo/clássico, falando mesmo num «neo mitologismo» que se pode estudar através de uma ciência a que poderíamos chamar «filmofilologia». Mas será mesmo necessário reinventar 0 seu nome? Não continuamos no domínio da boa e velha hermenêutica, tout courf? Seja como for, não resistimos a terminar esta recensão com as palavras do próprio Winkler: «if Antiquity is important for cinema, cinema is also important for antiquity and the presence of classical Greece and Rome in our culture and education.» Na verdade, quanta da percepção, para não dizer mesmo suposto conhecimento, que as massas possuem do Mundo Antigo, e da Antiguidade Clássica em especial, não será devida ao cinema? Nuno Simões Rodrigues JOSÉ LUÍS LOPES BRANDÃO, Máscaras dos Césares. Teatro e Moralidade nas Vidas suetonianas, Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2009, 482 pp., ISBN 978-989-8281-14-2. O estudo em epígrafe é urna recentíssima edição da biblioteca online Classica Digitalia (http://classicadigitalia.uc.pt): constitui, assim, mais um marco do excelente trabalho que os seus responsáveis vêm 365

fazendo em prol da cultura, pondo à disposição de todos um conjunto de obras de reconhecida qualidade no âmbito dos estudos clássicos. Saúde-se, antes de mais, 0 facto de se tratar de um estudo sobre Suetónio, autor de que todos falam, mas raramente é lido como merece, e sobre 0 qual, em língua portuguesa e fora do âmbito das teses académicas, pouco ou nada existe que possa ser de uso para quem aborda as Vidas dos Doze Césares. Tratando-se de trabalho pautado pelo rigor científico, mas também escrito em prosa agradável de 1er e de recorte literário, na pureza da linguagem e na correcção do discurso, não podemos senão augurar que ele se torne um dos livros que qualquer professor de literatura latina não hesitará em recomendar aos seus alunos, colhendo também ele, como de resto todos os especialistas na área, um apurado guia para a leitura e interpretação do texto suetoniano. Para tal contribui também o facto de 0 Doutor José Luís Brandão, a acompanhar os passos latinos que cita, deles ter apresentado - com rigor e elegância - a respectiva tradução. Não ficam assim defraudados os que possam ser mais titubeantes na língua de Cícero. Sublinhe-se ainda a pertinência com que a bibliografia nos é apresentada: extensa, que 0 é (pp. 393-414), mas absolutamente cingida a títulos que é indispensável conhecer. Merece também uma palavra de louvor a inclusão de três índices (de personagens e lugares históricos; de autores antigos; analítico). Propõe-se 0 Autor «perceber o modo como 0 biógrafo escreve história, como apresenta e manipula as personagens, como julga os governantes e como condiciona 0 juízo dos leitores» (p. 11). Ao longo da obra, o leitor vai descortinando a materialização e, se assim se pode dizer, 0 desdobramento destes grandes objectivos em outros que com eles se entrelaçam. Logo na introdução (pp. 15-27), o Autor lança um repto, 0 de intentar perceber as razões que levaram Suetónio a escolher um género, a biografia, considerado não tão nobre quanto a história, e isso embora tivesse todas as condições, quer materiais, quer de formação, para se dedicar a labor semelhante ao de Tácito, e de imediato deixa uma pista para a discussão e a hermenêutica do texto: trata-se de um género mais adequado a uma época em que vigorava o governo de um só homem, relativamente à qual Suetónio terá compreendido que eram os uitia e as uirtutes dos imperadores que definiam e conduziam 0 curso da história. Na mesma introdução, encontramos uma segura contextualização histórica e literária do género biográfico, dos predecessores de Suetónio, na Grécia e em Roma, dos seus modelos 366

retóricos. Apetrechado com essa visão do que sustenta e apoia a escolha do biógrafo, pode o leitor abordar as três partes em que se divide o estudo. A primeira, intitulada «A Construção das Vidas» (pp. 29-91), visa «entender a forma como 0 biógrafo organiza e apresenta ao leitor o conjunto de informações sobre os imperadores» (p. 31), desvendando as técnicas de conquistar e seduzir um público curioso de conhecer a vida, com seus podres e seus aspectos luminosos, de quem era senhor em Roma, e dono de Roma. Assim se compreende a razão da maior importância da organização da matéria histórica per species, por rubricas, com grande vantagem sobre a apresentação cronológica, per tempora, que todavia Suetónio não rejeita, particularmente quando se ocupa do nascimento e das circunstâncias da morte dos imperadores. Na análise do par uirtutes/uitia, descortina José Luís Brandão os meios de captação do leitor, entre eles, para darmos apenas dois exemplos, 0 recurso aos rumores e à anedota, e a intervenção directa do autor no texto. Na segunda parte, a mais extensa, sob 0 título «O Teatro das Vidas» (pp. 93 325), analisa-se a obra de Suetónio na perspectiva da importância que 0 teatro assumia na propaganda imperial. Para isso esmiúça-se a presença de elementos dramáticos na construção das biografias, mostrando como e por que razão nelas se dá um óbvio relevo aos dramas pessoais e privados, em detrimento dos colectivos e públicos. Prova-se que cada Vida é como que uma peça «com princípio, meio e fim, em que 0 biografado é 0 protagonista» (p. 95), com as suas acções e os seus dicta, com os actores secundários que 0 rodeiam, e vivem e agem em função dele. Nesse drama, acompanha José Luís Brandão, em momentos sucessivos, a ascensão (gloriosa, controversa ou inglória) dos imperadores, expressa segundo os parâmetros que hão-de nortear a sua conduta enquanto principes, a conquista e recepção do poder supremo, o exercício do poder, e, finalmente, a morte, vista seguindo 0 prisma que faz com que «os bons imperadores [sejam] premiados com mortes dignas» (p. 271) e que os maus sofram, na morte, as consequências da maldade ou do destempero com que urdiram o seu governo. Nessa conformidade, José Luís Brandão observa até que ponto, no desvendar das máscaras que os principes envergavam, Suetónio pretendeu, mais do que delectare, também mouere e docere. Na terceira parte, «A expressão da moralidade: Juízos e Prejuízos» (pp. 327 380), prova se que as Vidas «transmitem uma men- 367

sagem não tanto política como moral» (p. 329) e que, por isso, Suetónio não é, ao contrário do que muitos dizem e escrevem, um autor meramente descritivo, que se abstém de tirar ilações de âmbito moral, deixando-as para o leitor. Para intervir, manipula pois os dados históricos, escolhendo, deturpando ou omitindo, em função dos valores que quer enaltecer ou dos vícios que quer exprobrar, com a clara intenção de «condicionar e atrair 0 leitor para a sua mensagem moral» (ibidem). Não andam aqui ausentes os princípios da fisiognomonia que, se não é uma ciência exacta, pelo menos é a arte que permite a Suetónio conceber 0 retrato físico dos imperadores como reflexo do ethos. Assim se prova que os objectivos de Suetónio eram tudo menos os triviais de uma má língua ou de um ajuste de contas com os imperadores desaparecidos. O que se apresenta são modelos, modelos a seguir e modelos a rejeitar, na «representação do extremo ao qual determinado vício ou determinada virtude podem conduzir» (p. 389), para usar palavras da Conclusão (pp. 383-390) deste estudo, tal como se prova que a arquitectura das Vidas não se compadece com leituras truncadas ou observação de excertos. José Luís Brandão leva-nos a ver que as doze biografias devem ser «lidas de forma continuada», pois «[s]ó assim se podem abarcar plenamente as qualidades literárias e os objectivos do biógrafo» (p. 390). E é nessa leitura que nos propõe que verificamos a justeza do juízo dos séculos, que fizeram de Suetónio um dos leitores mais lidos, e mais apreciados, de toda a literatura latina. Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel ESTEBAN CALDERÓN DORDA, ALICIA MORALES ORTIZ (eds ), La madre en la Antigüedad: Literatura, Sociedad y Religión, Madrid: Signifer Libros, 2007, 276 pp., ISBN 978-84-934612-9-4. O volume coordenado por Esteban Calderón e Alicia Morales, intitulado La madre en la Antigüedad: Literatura, Sociedad y Religión, apresenta-se como uma colectânea de ensaios sobre a maternidade e a figura da mãe no mundo grecolatino e cuja intenção monográfica se cumpre por meio da análise do tema em textos de distintos géneros do espaço literário grego e latino. O volume é ainda complementado por dois textos centrados na mundividência bíblica do tema da mater- 368