ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS RESIDENTES EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA EM TERESINA PIAUÍ Ana Paula de Sousa Pereira 1, Bruno Quintino Borges 1, Danylo Rafhael Costa Silva², Maria da Conceição Barros Oliveira 3, Jussara de Brito Santiago 3, Janaína de Moraes Silva 3, Giselle Borges Vieira Pires de Oliveira 3,Thayrine Amorim Rodrigues 4, João Batista Raposo Mazullo Filho 4 1 Faculdade Ceut/ Departamento de Fisioterapia Fisioterapia, Av. dos Expedicionários, 790 - São João - Teresina PI, aninha_sousa_fisio@hotmail.com, brunofisio181@hotmail.com 2 Universidade Estadual do Piauí/Departamento de Fisioterapia - Fisioterapia, Rua Olavo Bilac, 233 Centro Teresina - PI, danylorafhael@hotmail.com 3 Faculdade Aliança/Departamento de Fisioterapia - Fisioterapia, Endereço: Rua São Pedro, 96, Centro Teresina - PI, fisiojanainams@gmail.com, mariah.da.conceicao@hotmail.com, jussarasantiagoo@gmail.com, gigivieira@yahoo.com.br 4 Faculdade Santo Agostinho/ Departamento de Fisioterapia Fisioterapia, Av. Valter Alencar, 66 - São Pedro - Teresina PI. ftmanzulo@hotmail.com Resumo- Este estudo teve como objetivo analisar a qualidade de vida em pacientes institucionalizados por meio do Questionário SF-36. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, transversal e natureza quantitativa, realizado em duas instituições de longa permanência na cidade de Teresina-PI. Participaram do estudo 41 idosos com idade entre 62 e 79 anos. Os resultados demonstraram escore baixo, em média, para os domínios capacidade funcional, aspectos físicos, dor, aspectos sociais, vitalidade, saúde mental, estado geral de saúde e aspectos emocionais. Isso aponta para uma qualidade de vida ruim ou insatisfatória, conforme o instrumento utilizado SF 36. O estudo mostrou que os idosos das instituições possuem qualidade de vida ruim, sendo importante uma abordagem e investigação dos fatores institucionais que possam estar influenciando nessa qualidade de vida. Palavras-chave: Idoso. Institucionalização. Qualidade de Vida. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde, Fisioterapia. Introdução Pozza (2008) definiu que qualidade de vida é: a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações". Conforme Rezende (2001), a entrada de um idoso em uma instituição mostra a deficiência da assistência domiciliar associada muitas vezes a fatores como classe social, presença de patologias ou disfunção, sendo que a imobilidade, instabilidade, incontinências e perdas cognitivas são os principais. O objetivo desta pesquisa foi analisar a qualidade de vida em idosos institucionalizados através do questionário SF-36. Metodologia Esta pesquisa trata-se de estudo de campo descritivo, transversal, de abordagem direta e natureza quantitativa. A amostra foi composta por 41 idosos selecionados em instituições de longa permanência que abrigam idosos em Teresina - Piauí, no período de maio de 2013. Determinou-se que seriam incluídos na pesquisa, idosos com idade entre 60 e 80 anos de idade, de ambos os gêneros, residentes na instituição há pelo menos três meses, lúcidos e capazes de responder coerentemente aos instrumentos de coleta de dados. Foram excluídos do estudo idosos com alterações cognitivas, distúrbios psiquiátricos de qualquer natureza, acamados, cadeirantes e deficientes visuais. O questionário foi respondido de forma oral e preenchido de forma manuscrita pela pesquisadora. O SF-36 é composto por 11 questões e 36 itens que englobam oito componentes (domínios ou dimensões), representados por capacidade funcional (dez itens), aspectos físicos (quatro itens), dor (dois itens), estado geral da saúde (cinco itens), vitalidade (quatro itens), aspectos sociais (dois 1
itens), aspectos emocionais (três itens), saúde mental (cinco itens) e uma questão comparativa sobre a percepção atual da saúde e há um ano. Para cada componente, é calculado um resultado final numa escala de 0 a 100, onde o escore 0 corresponde ao pior estado de saúde, e o escore 100 corresponde ao melhor. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do CEUT sob o número do protocolo 12341213.2.0000.619. Resultados Os valores amostrais da avaliação dos escores da qualidade de vida nos 8 domínios do questionário SF-36 estão expressos na Tabela 1. Tabela 1: Escores totais do Questionário SF-36 de acordo com os domínios. Domínios do SF-36 Mín. Máx M DP Capacidade Funcional 12 19 1 ±13,0 Aspectos Físicos 21 29 2 ±10,7 Dor 2 4 40 ±11,28 20 1 10 0 Influência da saúde física e mental nas atividades sociais (últimas 4 sem.) 16 Todo o tempo 12 13 Maior parte do tempo Alguma parte do tempo Figura 1: Influência da saúde física e mental nas atividades sociais nas últimas 4 semanas (n=41), Teresina, 2013. A Figura 2 mostra a classificação da dor relatada nesses pacientes institucionalizados. Classificação da dor relatada pelos entrevistados Estado Geral de Saúde 21 40 38 ±10,10 Vitalidade 24 38 3 ±07,1 Aspectos Sociais 24 40 37, ±09,42 20 1 10 0 16 12 13 6 Aspectos emocionais 18 3 33,3 ±0,0 Saúde Mental 2 32 28 ±13,20 M: Média; DP: Desvio Padrão Fonte: Elaborado pelos pesquisadores. Teresina, 2013. A Tabela 2 mostra os dados referentes às principais respostas ao questionário SF-36 no domínio de capacidade funcional dos entrevistados. A Figura 1 mostra as respostas referentes a esse componente do SF-36: Figura 2: Classificação da dor relatada pelos entrevistados nas últimas 4 semanas (n=41). Teresina, 2013. A Figura 3 mostra os resultados encontrados. Percepção do estado geral de saúde 6; 1% 16; 39% 19; 46% Muito ruim Ruim Boa Figura 3: Percepção dos entrevistados em relação ao estado geral de saúde (n=41). Teresina, 2013. 2
Em relação aos dados referentes às respostas fornecidas aos itens pertencentes ao domínio estado geral de saúde, observou-se nesta pesquisa que houve predominância de afirmativas de uma percepção ruim para o estado geral de saúde, com 3,7% (22) dos entrevistados que afirmaram não terem uma saúde excelente, seguido de 48,7% (20) que referiram não saber se a saúde vai piorar ou não, e por fim, 39,0% (16), que relataram adoecer mais facilmente que outras pessoas. A Figura 4 mostra a percepção dos entrevistados quanto à saúde atual e há um ano atrás. Figura 4: Classificação da saúde em comparação ao período anterior de um ano (n=41). Em relação à caracterização do domínio Vitalidade e Saúde Mental, observou-se que, no domínio vitalidade, que 70,7% (30) dos entrevistados relataram nunca se sentirem com muita energia, seguido de 46,3% (19) que relataram sentir-se com vigor, vontade e força apenas alguma parte do tempo e 36,6% (1) bem como 31,7% (13) relataram sentir-se cansados e esgotados a maior parte do tempo. No aspecto emocional a pesquisa revela que geralmente os idosos estão sem ânimo (39,0%), nervosos (48,8%), deprimidos (39,0%) e por pouco tempo sentem-se felizes ou bem dispostos (3,7%). Discussão Classificação da saúde comparada a um ano atrás. 13; 32% 28; 68% Um pouco pior Quase a mesma Em relação ao domínio de capacidade funcional, obteve-se uma média de pontuação no escore de valor 1. Esse dado ocorreu, em média, em 80,4% (33) dos entrevistados. Pode-se observar que o grau de dificuldade para realização de atividades rigorosas, atividades moderadas e atividades de subir vários lances de escada, foram relatadas como atividades de muita dificuldade por 99,9% (41) da amostra. Os achados no presente estudo relacionados à capacidade funcional de idosos institucionalizados vêm contrapor o resultado encontrado no estudo realizado por Mincato e Freitas (2007), os quais realizaram um estudo com 66 idosos institucionalizados. Os mesmos utilizaram o SF-36 e encontraram, para o domínio de capacidade funcional, uma média de escore em torno de 87,14, levando a considerar a amostra com qualidade de vida boa. Os autores também realizaram uma comparação com a variável capacidade funcional e qualidade de vida, onde confirmaram uma relação diretamente proporcional entre as duas variáveis. De acordo com Cueto (2003), a capacidade funcional é um dos importantes marcadores de um envelhecimento bem-sucedido e da qualidade de vida dos idosos. Quando observa-se que a capacidade funcional não apresenta uma boa resposta à avaliação do idoso, suspeita-se de um processo de envelhecimento fora do padrão bem-sucedido, o que pode comprometer mais facilmente a saúde e independência do idoso. Na literatura, o déficit da capacidade funcional no idoso também está relacionado ao processo de institucionalização, uma vez que restringe o idoso de suas atividades anteriormente realizadas. Para Brito e Ramos (2002), as instituições têm o inconveniente, na maioria dos casos, de levar os idosos ao isolamento e à inatividade física em decorrência do manejo técnico inadequado e dos altos custos dos serviços de apoio. Mazuim (200) em um estudo realizado com idosos lúcidos constatou que, antes de serem institucionalizados, tanto os homens quanto as mulheres realizavam atividades rotineiras, o que favorecia a manutenção da autonomia e independência, no entanto, após a institucionalização, em virtude da escassa atividade sugerida, muitos apresentaram déficits de capacidade funcional, que se mostrou com médias de escore em torno de 14,6, semelhantes aos achados do presente estudo. Em relação à limitação por aspectos físicos, este apresentou uma média de escores de 2 (vide Tabela 1) estando presentes em 90,1% (37) dos entrevistados. Pelo exposto, pode-se perceber que houve uma predominância de limitação ao exercício de atividades devido aos aspectos físicos, mostrando que os idosos entrevistados deixaram de realizar atividades, o que também pode estar relacionado à diminuição da capacidade funcional. Os dados do presente estudo relativos ao domínio físico, concordam com os achados de Cader et al. (2006), que encontraram um escore de domínio físico relativamente baixo (12,02). Para esses autores o principal fator envolvido na limitação por aspectos físicos é o sedentarismo, pois o alto comportamento sedentário que caracteriza a população idosa exacerba os 3
prejuízos no sistema estrutural e fisiológico frente ao envelhecimento. A Figura 1 mostra que 16 (39,0%) entrevistados referiram influência da saúde física e mental nas atividades sociais durante todo o tempo, seguida de 13 (31,7%) que referiram essa influência apenas alguma parte do tempo e 12 (29,3%) referiram que a saúde física e mental influencia na maior parte do tempo nas suas atividades sociais. A distribuição dos entrevistados conforme o relato dessa influência mostra que as limitações físicas, associadas a diminuição da capacidade funcional, exercem influência desfavorável na dinamização da convivência desses pacientes nas instituições, pois os mesmos, deixam de realizar atividades sociais por fatores intrínsecos físicos, o que pode contribuir em uma qualidade de vida ruim. Cader et al. (2006) também encontrou uma predominância de pacientes que relataram algum tipo de influência da saúde física nos aspectos sociais, com escore, em média de 12,60. Eles propuseram um suporte social adequado, com promoção de atividades sociais, que aumentaria a função cognitiva destes gerontes, promovendo melhora na qualidade de vida. Em relação ao domínio dor, este se apresentou com escore, em média de 40, ocorrendo na maioria dos entrevistados (vide Tabela 1). Observa-se, segundo a Figura 2, que independente da classificação atribuída ao nível de dor sentida no período inferior a quatro semanas, pelos 99,9% (41) dos entrevistados referiram a presença de dor. Esses dados não concordam com os achados encontrados por Freire e Tavares (200), que realizaram uma entrevista com 10 idosos institucionalizados e encontraram relatos de dor em apenas 40 % dos idosos. Observa-se na figura 3 que a maioria dos entrevistados relata seu estado geral de saúde como muito ruim, representado por 46% (19) da amostra total, seguido de 39% (16) que relataram um estado geral de saúde ruim e apenas 1% (6) afirmaram o estado geral de saúde como bom. Houve predominância de afirmativas de uma percepção ruim para o estado geral de saúde, com 3,7% (22) dos entrevistados que afirmaram não terem uma saúde excelente, seguido de 48,7% (20) que referiram não saber se a saúde vai piorar ou não, e por fim, 39,0% (16), que relataram adoecer mais facilmente que outras pessoas. Em relação à investigação da percepção atual de saúde comparada à de um ano atrás (Figura 4) houve uma predominância de 68% de entrevistados que referiram um estado de saúde um pouco pior, seguido de 32% que relataram a saúde como a mesma. No estudo de Pozza et al. (2008), realizado com 16 idosos institucionalizados, Os resultados descritos apresentaram uma média 47,62 para o domínio de estado geral de saúde, considerado para os autores como insatisfatório, similarmente aos achados do presente estudo. No domínio vitalidade, encontrou-se que 70,7% (30) dos entrevistados relataram nunca se sentirem com muita energia, seguidos de 46,3% (19) que relataram sentir-se com vigor, vontade e força apenas alguma parte do tempo e 36,6% (1) bem como 31,7% (13) relataram sentir-se cansados e esgotados a maior parte do tempo. No aspecto emocional a pesquisa revela que geralmente os idosos estão sem ânimo (39,0%), nervosos (48,8%), deprimidos (39,0%) e por pouco tempo sentem-se felizes ou bem dispostos (3,7%). Esses dados concordam com os achados de Cader (2006), que avaliaram os domínios vitalidade e saúde mental como insatisfatórios, obtendo escores de 28 e 19 respectivamente. Porcu et al. (2002) realizou um estudo comparativo com idosos institucionalizados e não institucionalizados e verificou que a prevalência de sintomas depressivos entre as populações estudadas variou tanto quantitativamente quanto qualitativamente. Os idosos asilados apresentaram escores mais altos na condizente com depressão grave e muito grave. Conclusão O estudo mostrou que a qualidade de vida dos idosos entrevistados foi considera insatisfatória (ou ruim), mediante os baixos escores apresentados pelos domínios referentes ao SF-36. Dessa forma, observa-se a necessidade de se buscar estratégias que coloquem o idoso como coadjuvante no processo de promoção e bem-estar de sua vida, para que se possa tornar realidade a prática dos conceitos de promoção da saúde dentro deste ambiente, meta que hoje é um grande desafio para os profissionais gerontólogos que se preocupam com esta problemática. Referências BRITO F.C.; RAMOS L.R. serviços de Atenção à Saúde do Idoso. In: NETTO, P. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em uma visão globalizada. 2 ed. São Paulo: Ed. Aheneu, 2002. 4
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