Introdução O que é a violência? O que é a violência doméstica, os maus tratos. e o abuso? O abuso constitui uma prática

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Transcrição:

Í n d i c e Introdução... 7 1. O que é a violência?... 11 2. O que é a violência doméstica, os maus tratos. e o abuso?... 21 3. O abuso constitui uma prática recente?... 29 4. Que comportamentos podem ser considerados abuso?... 45 5. O castigo é uma forma de abuso?... 61 6. Quem são as vítimas de abuso e quais. os factores de risco?... 69 7. Porque são abusadas certas pessoas?... 77 8. O abuso pode agravar-se com o tempo?... 89 9. Quais as consequências do abuso?... 97 10. Como e quem pode identificar um abuso?... 105 11. Que fazer quando se suspeita de um abuso?... 127 Considerações finais... 137 Bibliografia... 141 5

6

I n t r o d u ç ão A violência, na qual se inclui o abuso, constitui uma questão social muito grave e complexa, com relevantes prejuízos para a saúde física e psicológica das vítimas (por vezes com desfecho fatal). e com importantes implicações socioeconómicas, não só para as vítimas e suas famílias, mas também para a sociedade em geral. Importa, por isso, que o Estado, as instituições, os diversos profissionais que no terreno trabalham com as vítimas de violência, os cientistas, bem como toda a sociedade civil, estejam informados sobre esta problemática e sobre as estratégias. e soluções existentes em cada comunidade visando identificá-la, tratá-la e preveni-la. Só com o empenho e cometimento de todos será possível atingir este desiderato fácil de idealizar mas muito difícil de concretizar, dada a complexidade destes casos. 7

A visibilidade crescente deste assunto e a relevância cada vez maior que lhe vem sendo atribuída pelas diferentes sociedades, tem levado os poderes políticos de todo o mundo, juntamente com diversas organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU),. a Organi.zação Mundial de Saúde (OMS), o United Nations Children Found (UNICEF), o Conselho da Europa e o Parlamento Europeu, a definir políticas de combate e de prevenção destes casos. Portugal tem também desenvolvido diversas estratégias e iniciativas neste âmbito, importando citar. o Plano Nacional contra a Violência Doméstica e a publicação, em 2009, da Lei 112, de 16 de Setembro, que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica e à protecção e assistência das suas vítimas. Assim, a presente publicação tem como objectivo dar resposta a algumas questões que no dia-a-dia nos são colocadas pelas mais diversas pessoas. Espera-se que o seu esclarecimento, ainda que num formato simples, possa contribuir para criar uma maior sensibilização e atenção face. 8

à existência destes casos, bem como para promover a capacidade de cada um para os identificar e orientar adequadamente, tendo em vista a mais rápida protecção e tratamento das vítimas e a pre.venção da sua vitimização secundária e da reiteração da violência. Abordaremos, inicialmente, a questão da violência. em geral, para depois nos centrarmos na problemática do abuso, com uma particular ênfase sobre os casos de abuso no contexto da família, por serem estes particularmente difíceis de identificar. e tratar, e porque em Portugal atingem uma relevante faixa da população. Analisaremos, conjuntamente, questões que vão desde o abuso de crianças ao abuso de idosos, passando pelo abuso nas relações de intimidade, entre outros. Este tipo de abordagem tem em vista fornecer ao leitor uma panorâmica geral sobre. o assunto, ainda que cada tipo de caso (abuso infantil, abuso nas relações de intimidade, abuso de idosos, bullying, etc.), encerre dinâmicas específicas que importa conhecer e ter em conta quando se pensa numa intervenção concreta. De qualquer forma, trataremos apenas como genérico o que. 9

é comum às diferentes situações, fazendo-se referência a algumas especificidades de certos casos. Não se trata de um livro técnico, pelo que procuramos dar respostas simples e simultaneamente úteis, a questões que em si mesmas são de extrema complexidade. Evitaremos, pois, sempre que exequível, o recurso a linguagem técnica ou à literatura. Para tal, recorremos, o mais possível, à nossa experiência profissional sobre o assunto e à da equipa com a qual trabalhamos, indicando. apenas alguma bibliografia que consideramos fundamental e obrigatória no panorama português. 1 0