10 MEDIDAS PARA UMA POLÍTICA DE APOIO À VÍTIMA
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- Alfredo Gabeira Arantes
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1 10 MEDIDAS PARA UMA POLÍTICA DE APOIO À VÍTIMA vítimas de crime num Estado ausente Há actualmente, em Portugal, crescentes sinais de insegurança, violência e maior receio de vitimação. O Estado português não tem respondido adequadamente às realidades criminais, designadamente às vítimas que resultam da prática de cada crime. Há também um significativo grau de ignorância e de incompreensão relativamente ao crime e às suas consequências, sobretudo porque, de todos os actores de Justiça criminal, a vítima é aquele que menos visibilidade tem. O Estado português não tem observado os instrumentos jurídicos internacionais em especial os que têm sido emanados pela União Europeia, pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da Europa, que visam garantir os direitos fundamentais das vítimas de crime. A inobservância destes instrumentos jurídicos conduz, na maioria dos casos, a uma vitimação secundária, gerada pelo próprio sistema da Justiça a vítima, depois de sofrer o crime, volta a sofrer, desta vez pela inadequação do sistema às suas necessidades específicas enquanto vítima. O Estado português também não tem implementado uma verdadeira transversalidade no tratamento das situações de vitimação, padecendo o sistema criminal de uma desadequada articulação entre os seus diferentes operadores, e destes com outros operadores, externos ao sistema. Dir-se-á que o Estado português não possui um fio condutor em qualquer política criminal relativa a vítima de crime. Neste 22 de Fevereiro, em que se celebra em toda a Europa, o Dia Europeu da Vítima, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que desde 1990 vem apoiando as vítimas de crime em Portugal e sensibilizando para as suas necessidades, reflectiu dez medidas que o Estado português deveria considerar prioritárias nesta matéria.
2 Assim: 1 Prevenção da vitimação. O Estado português deve garantir uma redução dos níveis do crime, e, logo, da vitimação existente; bem como deve garantir a redução da vitimação secundária; 2 Respeito e reconhecimento. O Estado português deve garantir que os legítimos interesses das vítimas de crime são tidos em conta em todas as fases do processo criminal, sendo que todos os intervenientes do processo devem adoptar o procedimento adequado para lidar com o autor do crime sem agravar a vulnerabilidade da vítima, nem a conduzir a uma vitimação secundária; pois só assim será possível à vítima desenvolver uma atitude positiva e mais ajustada face à experiência do crime; 3 Protecção. O Estado português deve garantir uma protecção eficaz das vítimas de crime, nomeadamente quando as vítimas, enquanto testemunhas num processo criminal, são ameaçadas, agredidas e perseguidas. Neste sentido, deve garantir a aplicação efectiva da lei de protecção de testemunhas. Deve também garantir que todos os recursos tecnológicos disponíveis para proteger as vítimas por exemplo, a instalação de alarmes pessoais com ligação directa às forças policiais mais próximas e inclusão dos mesmos na lista de resposta prioritária, bem como afectar recursos adicionais para esse fim; 4 Informação. O Estado português deve garantir que as vítimas de crime são devidamente informadas sobre os problemas comuns e reacções decorrentes da vitimação, dos serviços de apoio existentes, dos seus direitos e sobre o desenvolvimento dos processos judiciais, em tempo útil, de modo claro e completo; bem como deve garantir que as vítimas de crime possam informar sobre danos económicos, físicos e emocionais sofridos em consequência do crime, existência ou não de qualquer relação anterior ou actual com o autor do crime, bem como eventuais receios pela sua segurança pessoal ou de intimidação por parte daquele; 5 Formação. O Estado português deve garantir uma crescente consciência da problemática das vítimas de crime e das suas consequências nas estruturas do sistema da Justiça criminal. Uma formação adequada poderá garantir que os operadores deste sistema ficam preparados para percepcionar as vítimas como pessoas em delicada situação psicológica, física e social, com necessidades específicas, decorrentes da sua condição de vítimas de crime;
3 6 Mediação vítima/agressor. O Estado português deve garantir a implementação de prátiacs de Justiça Restaurativa, designadamente a mediação entre vítima e agressor, prevendoas na sua legislação, implementando-as directamente, ou promovendo a sua implementação por organizações da sociedade civil; 7 Indemnização. O Estado português deve garantir uma justa indemnização às vítimas de crime, aumentando a abrangência dos crimes em que esta pode ser pedida pelas vítimas, bem como alargando a cobertura dos danos, sendo que estes deverão ser mais que meros danos patrimoniais e a indemnização contemplar também danos morais. Deve também garantir uma maior e eficaz divulgação pública da existência desta indemnização; 8 Saúde. O Estado português deve garantir o acesso gratuito e prioritário das vítimas aos cuidados de saúde, sem ter de proceder antecipadamente ao seu pagamento, não só nos serviços nacionais de saúde, mas também pelos serviços de medicina legal; 9 Educação e emprego. O Estado português deve garantir uma adequada sensibilização das entidades empregadoras e dos profissionais da educação para os problemas e necessidades específicas das vítimas de crime, nomeadamente através da implementação de mecanismos de prevenção e detecção de situações de vitimação, com seu respectivo encaminhamento para os serviços competentes. Também deve garantir apoio e protecção adequados no local de trabalho e nos estabelecimentos de ensino; 10 Apoio às organizações. O Estado português deve garantir apoio directo, nomeadamente financeiro, às organizações que, da sociedade civil, apoiam vítimas de crime. O cumprimento destas medidas ajudaria o Estado português a definir uma política integrada de apoio às vítimas de crime em Portugal. Estaria também de acordo com a Decisão-Quadro relativa ao estatuto das vítimas de crime em processo penal, aprovada em 15 de Março de 2001, pelo Conselho da União Europeia, que, ironicamente, teve a sua origem numa iniciativa do próprio Estado português. Um Estado que, na verdade, é, em matéria de vítimas, um Estado ausente. APAV 22 de Fevereiro de 2005
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