A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA E NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA NO CONTEXTO ESCOLAR



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Transcrição:

A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA E NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA NO CONTEXTO ESCOLAR Elvio de Carvalho Graduado em Filosofia pela UFSM/RS. Membro do projeto Formação Cultural. Amarildo Luiz Trevisan Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM/RS RESUMO Estou desenvolvendo com esse trabalho de pesquisa uma análise filosófica sobre as práticas pedagógicas do educador. E a partir desta análise, verificar como estes exercícios podem ajudar no processo de formação da opinião pública do aluno no contexto escolar. Sob tal perspectiva, destaca-se a ética e a política que até o atual momento prevalecem como fundamentos da compreensão da própria natureza da educação. Estas análises implicam igualmente explicitar o lugar e o papel da Filosofia da Educação como esforço hermenêutico de desvelamento não só das práticas educacionais dos professores, mas como também, as mudanças culturais da contemporaneidade. O trabalho permite, assim, não apenas interpelar momentos significativos da expressão histórica da Filosofia da Educação na cultura escolar, mas também debater conteúdos teóricos fundamentais do debate filosófico sobre o sentido da educação, debate que se apresenta com renovada força para os educadores no enfrentamento dos novos desafios que estão sendo colocados pelas novas tecnologias. Para isso, estou estudando teóricos como: (HABERMAS 1989), por entender a sua relevância no agir comunicativo por uma base formativa da opinião pública crítica, (KANT 2003), Nessa perspectiva, acredito estar contribuindo para a geração de uma racionalidade autocrítica necessária na ótica intersubjetiva da compreensão, conectada a uma interpretação da realidade cotidiana. Para desenvolver tal propósito, estou alicerçado em quatro questões norteadoras: 1 compreender o que é uma situação filosófica, 2 apresentar critérios para desenvolver uma aula a partir de situações filosóficas; 3 entender como essa proposta se relaciona com as abordagens existentes; 4 desenvolver atividades que instigue a racionalidade comunicativa e a opinião pública crítica segundo Habermas. Palavras-chave: Opinião Pública Crítica. Educação. Ensino Filosófico 1 O PAPEL DA FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA Vamos supor que estejamos numa escola: esta escola situa-se num espaço social determinado com regras pré-estabelecidas, e neste contexto escolar encontra-se um professor e um conjunto de indivíduos que estão querendo aprender algo significante em suas vidas. Neste contexto pode ser inserido as situações filosóficas que poderão possibilitar uma reflexão em direção a formação da opinião pública crítica. Cabe então ao professor enquanto intermediador de filosófico, captar as situações filosóficas desenvolvidas pelos alunos em

detrimento de algumas hipóteses levantadas em aula e assim trabalha-las. Porém, é preciso saber o que fazer? Esta pergunta é desafiadora, pois na realidade vai exigir do educador conhecimento sobre os conteúdos filosóficos e principalmente, comprometimento com sua pratica docente. Primeiro, a situação evidenciada poderá causar estranhamento tanto para o aluno quanto para o professor, pois em uma discussão que envolva o princípio dialético, muitas opiniões podem se convergir em diferentes horizontes, expressando assim, em muitos momentos, incertezas e estranhamento sobre temática tratada em sala de aula. Entretanto, há casos em que o conteúdo elaborado é pré-estabelecido afim de contribuir com a clareza e entendimento de determinado assunto, mas o educador deve levar em consideração os anseios dos alunos sem perder sua autonomia como orientador a fim de determinar outros rumos para as discussões. Antes de o professor adentrar na discussão em sala de aula sobre o tema opinião pública crítica, se faz necessário apresentar alguns critérios que abordem as situações filosóficas. Estas questões podem ser caracterizadas pelo estranhamento, ou seja, levar o aluno a se questionar sobre aquilo que é banal, comum no seu dia-a-dia. Um exemplo disso pode ser a propaganda de cerveja na mídia. Ela parece tão comum que nem se percebe o seu poder de influência e dominação sobre o consumidor. Algumas situações filosóficas poderão ajudar na desbanalização e na formação da opinião pública a cerca da propaganda da cerveja e do consumo exagerado da mesma que causa prejuízos e danos sociais: a propaganda mostra as estatísticas de dependência do álcool? Mostra a violência domestica causado pelo abuso do álcool? Mostra os acidentes com vítimas causadas pelo excesso da bebida? Mostra quanto os fabricantes recolhem aos cofres públicos com impostos e quanto o Estado gasta com o SUS para atender as vitimas de acidentes, violência e dependentes do álcool? Todas estas questões farão com que os alunos comessem a pensar e analisar que a propaganda só mostra o que lhes interessa, e a partir daí, esta desbanalização do banal poderá atingir outras situações que envolva o dia-a-dia dos educandos. Nesse sentido, o educador por meio de seus conhecimentos poderá a partir deste exemplo, esclarecer os alunos através da reflexão crítica, que o mundo está preso aos vícios e valores da indústria cultural, e que ele não têm de aceitar estas convicções e sim, questionar esse consumismo, assim o educador estrá contribuindo para a formação e construção do

sujeito autônomo e crítico, fazendo com que sua opinião seja semelhante ao que Habermas afirma: [...] assume um significado diferente conforme reinvindique para si a condição de uma instância crítica em relação à publicidade normativamente imposta da execusão do poder político e social, ou sirva como uma instância receptiva em relação à publicidade manipulativamente difundida de pessoas e instituições, bens de consumo ou programas. Na esfera pública ambos os tipos de publicidade estão presentes, mas a opinião pública é sua destinatária comum trata-se então de examiná-la em busca de seus traços específicos. (HABERMAS, 1971, p.187). Dessa forma, considera-se que as imagens vivenciadas através dos meios de comunicações, dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula, das ilustrações de textos e histórias, são fortes instrumentos educativos, e considerações filosóficas significativas, necessitando, portanto serem trabalhadas, refletidas e questionadas criticamente no processo e na prática pedagógica. Penso que para esta e muitas outras propostas relevante de ensino possa dar certo, parte necessariamente das instituições básicas, é aí, que se inicia o processo formativo do aluno junto com sua opinião pública. É preciso que a escola leve em consideração o contexto escolar, a realidade em que os educandos estão inseridos, e principalmente ser coerente com a proposta de estudo com os tempos atuais. Deve se considerar como critério contextual todas as variáveis relevantes para o ensino e para a aprendizagem. Desse modo, o professor deve observar, por exemplo, a faixa etária dos alunos, o seu ambiente cultural, quais as suas preferências, quais as exigências da escola, da comunidade em que a escola situa-se, mas também quais são os anseios do próprio professor. A partir desse critério parece ser bastante confiável já que a proposta a ser trabalhada requer uma análise adequada da importância da Filosofia da Educação no processo formativo. Em Logik, ein Handbuch zu Vorlesungen no parágrafo 119, Kant comenta que existem dois métodos para ensinar uma ciência: acromático e erotemático. No primeiro, o professor unicamente ensina, isto é, apenas expõe o conteúdo; no segundo, além de ensinar ele também interroga. O método erotemático, por sua vez, Kant o divide em diálogo ou socrático e em catequético, conforme a direção de perguntas: no primeiro o intelecto, no segundo, a

memória. Nesse sentido, Kant ainda observa que só pode levar ensino pelo método erotemático ser for pelo diálogo socrático no qual o professor e aluno devem mutuamente interrogar e responder, pois mediante o método catequético comum pode-se apenas indagar sobre o que foi acromaticamente ensinado. Segundo Kant, o método catequético vale tão somente para os conhecimentos empíricos e históricos, ao passo que o diálogo vale, ao oposto, para os racionais (KANT, 2003, p. 297). Kant considera que o conhecimento filosófico é conhecido racional por conceitos (KANT, 2001, B741), assim podemos concluir que o ensino de filosofia deveria dar-se pelo método erotemático, em particular, pelo diálogo socrático. Ou seja, Kant estaria concordado com a proposta de ensino socrático que é o ideal para o ensino de filosofia. As situações filosóficas são as ações cotidianas de cada ser humano em interação com a realidade. Os mestres da filosofia antiga, por exemplo, encontrava-se em situações corriqueiras, em meio a conversas surgiam dúvidas e divergência de opinião sobre diferentes temas, na seqüência de seus diálogos eles procuravam soluciona-las, porém, sem estabelecerem verdades absolutas. A filosofia ensinada nas escolas em geral, não considera uma pré-aprendizagem dos problemas que compõem as disciplinas filosóficas. Ou seja, cada campo de ensino possui seu campo de atuação e sua situação peculiar. Desse modo, penso ser necessário ensinar filosofia a partir de uma pré-compreensão do que ela é. Além disso, é importante estimular os alunos a criarem situações filosóficas para que despertem para o gosto do diálogo e das discussões sobre os assuntos pertinentes a seus interesses assim, como o valor do saber filosófico. As situações filosóficas criada pelo educador no espaço escolar tornam se necessárias para que os alunos tenham uma maior compreensão dos conteúdos filosóficos. Entretanto, só isso não é suficiente, é importante que os alunos, na condição de sujeitos autônomos e críticos, junto com o professor, atuem na perspectiva de buscar uma situação de diálogo reflexivo e emancipador frente as diferentes situações cotidianas da cultura contemporânea.

2 A CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DE HABERMAS NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA Nesse sentido, o processo educativo a partir de um olhar filosófico, passa a dar uma maior compreensão do significado da formação da opinião pública, enquanto processo formativo e emancipador do aluno. Penso ser possível recorrer à racionalidade comunicativa de Habermas, pois ela busca fundamentos necessários ao enfrentamento da cientificidade moderna que tomou conta da sociedade, levando com isso, os sujeitos agirem segundo os pressupostos da racionalidade instrumental (Habermas, 1989). Em meios possíveis de confronto com os paradigmas da modernidade, a opinião pública crítica poderá capacitar os indivíduos mediante uma razão crítica e atuante. Nesse sentido, a razão pós-metafísica com o caráter de telos deverá criar possibilidades na discursividade entre os sujeitos e objetos, desse modo, o agir comunicativo, compreendido num desenvolvimento circular, possibilitará ao indivíduo, uma ação comunicativa racional e emancipadora. Com isso, dirigindo principalmente suas ações imputáveis e paralelamente produzidas nas tradições do seu meio. Com isso, fica pré-entendido que a finalidade da ação informativa pelo sujeito é proclamar a veracidade ou legitimar a razão teórica. Assim, a teoria comunicativa buscará instrumentos analíticos que poderá conduzir ao discurso idealizado pelos sujeitos autônomos. Por outro lado, os sujeitos plenamente esclarecidos, através de uma moralidade ética vão procurar manifestar uma opinião pública diferenciada da trivialidade mundana. Em outro ponto, entende-se que a opinião pública foi gerada a partir de uma comunicação pública articulada pela vontade maior de uma comunidade. Para justificar isso, Habermas utiliza o uso público da razão na tentativa de estabilizar a política, ou seja, a autoridade de direito para um fim comum. Sendo assim, a teoria discursiva democrática procura harmonizar as liberdades públicas com as privadas, priorizando a essência de cada uma. Assim, o agir comunicativo ressuscita o uso da racionalidade prática visando uma intersubjetividade compreensiva pelos sujeitos engajados. Atualmente, os procedimentos de comunicação entre os sujeitos são influenciados pela cultura de massa, que por sua vez, é influenciada pelos mecanismos de dominação cultural. Desse modo, os protagonistas com opinião pública podem ser considerados sujeitos especializados e capacitados ao desempenhar racionalmente seu logos.

Dando seqüência a temática filosófica e sua contribuição a partir da prática e das metodologias usadas pelo educador no contexto escolar, sub-jaz, que a decodificação do espírito, ou seja, uma espécie de cultura de informação necessita de uma reissignificação que re-estabeleça o contato do sujeito frente ao objeto de uma forma crítica. Em contrapartida, uma grande parte de educador estão preocupado passar informações ou ensinar o aluno a pensar a partir do conhecimento do professor, tornando o indivíduo mero reprodutor de idéias. Quando que na verdade, o sujeito deve ser instigado a se utilizar do pensamento muna perspectiva hermenêutica, suscitando assim, uma sociedade de sujeitos responsáveis que, mesmo ainda em conjuntos se alinham numa ação determinada, dirigindo se a uma decisão cujo posicionamento não necessariamente seja unânime, mas que seja para o bem comum da sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista, o mundo cientificista marcado por grandes descobertas tecnológicas que tornam os sujeitos reificados e passivos. A educação filosófica poderá contribuir para o crescimento crítico na formação da opinião pública crítica. A proposta de Habermas é reconstruir alternativas viáveis na construção de um modelo estritamente racional que tenha a finalidade emancipatória do indivíduo, enquanto sujeito inserido no processo formativo coletivo da opinião pública crítica. Em meio a essas possíveis alternativas, a saída do sujeito de sua resignação para uma práxis discursiva possibilitará um maior desempenho empreendedor na sua caminhada em direção de sua emancipação crítica e humana. Sendo assim, a validade objetiva, enquanto agir comunicativa se determina necessariamente por vontades subjetivas enquanto sujeitos críticos conscientes. Com isso, a teoria de Habermas tentará re-estabelecer o credenciamento do poder crítico referente a exclusividade racionalhumanizada, mediante uma ação pedagógica transformadora e libertadora. Além disso, é importante para o educador ter pleno domínio dos conteúdos filosóficos a serem trabalhados em sala de aula. Fazendo uso de uma metodologia que venha atender as necessidades do aluno dentro de sua realidade cotidiana, ou seja, de sua cultura. Também, há de ser levado em consideração que não se pode ter como conhecimento a priori que estratégia de ensino terá mais sucesso nas praticas educativas. Isto é, uma questão empírica, só a prática

poderá decidir sobre qual a melhor estratégia de ensino de filosofia que possibilita uma opinião pública crítica. O que se pode aferir de antemão é que existem propostas metodológicas que são viáveis no contexto escolar. Contudo, sem uma preparação adequada dos profissionais da educação e das metodologias apropriadas à realidade de cada contexto, a comunidade escolar, assim como a sociedade ficarão à mercê da cultura de massa, fortemente influenciada pela cultura ideologicamente dominante. Em contrapartida, Habermas salienta que os educadores fundamentados num agir comunicativo, possibilitarão um desenvolvimento no processo intelectual e humano, na medida do uso reflexivo racional enquanto opinião pública crítica participativa e coletiva. REFERÊNCIAS HABERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro Ltda, 1989.. Ciência e Técnica como Ideologia. Madrid: Tecnos, 1997. HABERMAS, J. Comunicação, opinião pública e poder. In: COHN, Gabriel. (Org.). Comunicação e indústria cultural: Leituras de análise dos meios de comunicação na sociedade contemporânea e das manifestações da opinião pública, propaganda e cultura de massa nessa sociedade. São Paulo: Cia. Editora Nacional Ed. da USP, Série 2ª, V. 39, 1971. KANT, Immanuel. Manual dos Cursos de Lógica Geral. Tradução: Fausto Castilho. 2ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003..Crítica da Razão Pura. Tradução: Alexandre Fradique Morijão e Manuela Pinto dos Santos. 5ª ed. Lisba: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.. Pedagogia. Madrid: Akal, 1983.