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Transcrição:

Edição e Propriedade: Jornadas de Obstetrícia Título: Por uma vida melhor... Sub-título: Actas das IV Jornadas de Obstetrícia Coordenador da Edição: Albina Sequeira Catarina Cordeiro Paula Janeiro Comissão Editorial: Albina Sequeira Catarina Cordeiro Paula Janeiro Design: António Sequeira Divulgação: Jornadas de Obstetrícia Suporte: E-book ISBN: 978 972 99165 1 9 Nota: todos os artigos publicados são propriedade das Jornadas de Obstetrícia, pelo que não podem ser reproduzidos para fins comerciais, sem a sua devida autorização. A Responsabilidade pela idoneidade e conteúdo dos artigos é única e exclusiva dos seus autores Auditório da Escola Superior de Saúde Vale do Ave Famalicão 2 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia Famalicão 2011

ÍNDICE: 0 Introdução 4 1 Plano de parto: importância de uma correcta informação 6 2 Diagnóstico Pré-Natal: uma realidade no Centro Hospitalar do Médio Ave 13 3 Reacções à gravidez transição à parentalidade 19 4 RN Um Renascer de afectos! 25 5 Envolvimento presencial dos homens durante o parto e efeitos sobre a sua sexualidade nos meses imediatos 29 6 Os Afectos e a Parentalidade - Contributos da Equipa de Enfermagem da USF Terras de Ferreira 40 7 Sexualidade na Gravidez e Papel do Enfermeiro 49 8 Gravidez e VIH: Aspectos Psicológicos 57 9 Controvérsias da Amniotomia: uma Revisão Sistemática da Literatura. 65 10 Nascimento de uma criança para doar Células Estaminais Será Ético? 73 11 Papel parental e a prevenção da claudicação familiar: o Grande Desafio. 82 12 Construção do Plano de Parto 89 13 Características das mães que amamentam 95 14 Necessidades dos pais, na transição para a Parentalidade, ao longo dos últimos 20 anos 102 15 A Enfermagem na Sexualidade no Período Pós-Parto 109 16 Sexualidade no Pós-Parto: Qual a Intervenção do Enfermeiro? 115 17 Depressão Pós Natal no Homem 119 Famalicão 2011 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia 3

1 Teresa Correia, 2 Cristina Carvalho, 3 Maria Isabel Ribeiro 1 Professora Coordenadora/Investigadora- Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança, Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano Email: teresaicorreia@ipb.pt 2 Enfermeira, E-mail: a18686@hotmail.com 3 Professora Adjunta - Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Bragança Email: xilote@ipb.pt RESUMO Introdução: O aleitamento materno é entendido como um processo intermédio entre o biológico e o social, podendo ser considerado como o primeiro estilo de vida saudável na vida de uma criança, pelos benefícios que traz para o bebé, para a mãe, para a família, para o ambiente e para a sociedade. Objectivo: Identificar características das mães que amamentam. Método: Estudo epidemiológico transversal realizado em 2010 com amostra representativa de mães de crianças com idades inferiores a 5 anos (n=197) residentes no Concelho de Bragança. Obteve-se informação sobre o aleitamento materno. Avaliou-se a história obstétrica da mulher e algumas características de natureza social e demográfica, através do preenchimento de um questionário. As informações recolhidas foram analisadas no SPSS. Conclusões/resultados: Do total de mulheres que participaram nesta investigação, 99,5% iniciaram a amamentação aos seus recém-nascidos, tendo sido o tempo médio de amamentação de 3 meses. Verificou-se nesta investigação que a possibilidade da mãe flexibilizar o seu horário, o facto de desfrutar da licença de maternidade e receber informação, nas consultas, sobre os benefícios do aleitamento materno parecem ser contributos importantes para o seu prolongamento. Desta forma, a necessidade de incentivo ao aleitamento materno continua a ser uma evidência. Palavras-chave: Aleitamento materno; Prevalência; Lactante; Saúde Pública. 1. INTRODUÇÃO O leite materno é o alimento adequado para as crianças nos primeiros meses de vida, tanto do ponto de vista nutritivo e imunológico quanto no plano psicológico, além de favorecer o vínculo entre mãe e filho quando o acto de amamentar é bem vivenciado pelas mães 1. O aleitamento materno exclusivo por seis meses, o aconselhado pela Organização Mundial de Famalicão 2011 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia 95

Saúde (OMS) 2 seguido da continuidade da amamentação e introdução de alimentos complementares apropriados possui inúmeros benefícios nutricionais, imunológicos e afectivos de fundamental importância para a saúde e sobrevivência das crianças, alem de desempenhar um importante papel na saúde das mulheres 3,4. O aleitamento depende de diversos factores sócio culturais, profissionais, nível de educação e da acção dos profissionais de saúde e dos media 5. Neste contexto a presente investigação teve como objectivo identificar variáveis de natureza obstétrica, social e demográfica das mães que amamentam. 2. MATERIAL E MÉTODOS Estudo epidemiológico transversal realizado em 2010 com amostra representativa de mães de crianças com menos de 5 anos de idade (n=197) residentes no Concelho de Bragança. Obtevese informação sobre o aleitamento materno exclusivo até aos primeiros quatro meses de vida do bebé. Avaliou-se a história obstétrica da mulher e algumas variáveis relativas à caracterização social e demográfica, através do preenchimento de um questionário. As informações recolhidas foram analisadas com a metodologia estatística usual, no programa SPSS. Foram calculadas frequências absolutas e relativas bem como medidas de tendência central (Média) e de dispersão (Desvio Padrão, Valores Máximo e Mínimo). Das mulheres que participaram nesta investigação (197), 99,5% iniciaram a amamentação aos seus recém-nascidos, mas apenas 22,8% (45) os amamentaram exclusivamente até aos 3 meses de idade (tabela 1). Tabela 1 Caracterização da amostra Variáveis Grupos Frequências (n=197) n % Aleitamento materno Sim Não 196 1 99,5 0,5 Aleitamento materno exclusivo Sim Não 45 152 22,8 77,2 Medidas de tendência central e de dispersão relativas à idade (anos) Média =34,8; Desvio Padrão = 5,38; Máximo = 48 Mínimo = 20 As participantes tinham em média 34,8 anos de idade (DP±5,38), cerca de metade eram primíparas e mais de metade já tinham sido mães (figura 1). 96 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia Famalicão 2011

Multípa ra 51% Primípa ra 49% Figura 1 Distribuição das inquiridas tendo em conta a paridade 3. RESULTADOS A taxa de aleitamento materno à saída da maternidade foi de 99,5%, os resultados são os expressos nas figuras que se seguem: Multípara 2,1 Ensino superior Secundário 2,1 3,1 Primípara 4,2 2º ciclo 1º ciclo 2,1 6,3 0 2 4 6 0 2 4 6 8 Figura 2 TMA tendo em conta a paridade Figura 3 TMA tendo em conta a escolaridade da mãe As mulheres que amamentam m mais tempo os seus filhos, são primíparas (TMA=4,2 meses) (figura 2), possuem menos anos de escolaridade (TMA=6,3 meses) (figura 3), trabalham fora de casa (TMA=3,5 meses) (figura 4), usufruíram da licença de parto (TMA=3,9 meses) (figura 5) e após, os 4 meses até aos 3 anos de idade do seu filho, optaram por trabalhar menos horas (TMA=3,3 meses) (figura 6). Não 2,2 Licença parto Licença sem 2,3 3,9 Sim 3,5 Férias Apoio familiar 1 2,3 0 2 4 0 2 4 Figura 4 TMA tendo em conta a ocupação da mãe (trabalha ou não) Figura 5 - TMA tendo em conta a situação da mãe após o parto Famalicão 2011 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia 97

A criança ficou com A criança ficou com 2,3 3,29 A mãe optou por 11 A criança ficou em 2 0 5 10 15 Figura 6 - TMA tendo em conta a situação da criança dos 4 meses aos 3 anos de idade Foram também as mulheres que fizeram as consultas pré-natais no sector público (TMA=3,3 meses) onde lhes foi fornecida informação sobre os benefícios da amamentação (TMA=3,3 meses) as que mais tempo amamentaram os seus filhos (figuras 7 e 8). Privado 2,2 Público 3,3 0 2 4 Figura 7 - TMA tendo em conta o local das consultas Figura 8 - TMA tendo em conta se receberam ou não informação sobre amamentação nas consultas 4. DISCUSSÃO Participaram neste estudo 197 mães com uma média de idade de 34,8 ± 5,38 anos, no intervalo de 20-48 anos. A maioria das mães tinha a escolaridade secundária (28,9%) ou um curso universitário (33,3%). Das 197 mulheres, 96 (48,9%) eram primíparas e em 175 (88,6%) fizeram vigilância pré-natal, com cinco ou mais consultas. Na presente investigação, a taxa de aleitamento materno à saída da maternidade foi de 99,5% que é ligeiramente superior aos resultados obtidos num estudo longitudinal prospectivo 5, que envolveu 475 puérperas na Maternidade do Hospital Santa Maria em Lisboa. Relativamente à duração média do aleitamento materno (três meses), os resultados do presente estudo são semelhantes aos obtidos noutro estudo 5, o que significa que a duração do 98 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia Famalicão 2011

aleitamento materno se tem mantido e fica muito aquém dos meses seis meses recomendados pela OMS 2. O nível educacional da mãe foi identificado 5, 6 como um importante factor associado à prática e continuidade da amamentação. Essa tendência é explicada 7, pelo fato da prática do aleitamento materno seguir o padrão de desenvolvimento da sociedade. Contudo, neste estudo verificou-se que as mães com formação académica superior foram as que amamentaram por menos tempo os seus filhos (TMA=2,1 meses). Estes resultados vão ao encontro a outro estudo 6 no qual os autores verificaram que as mães que apresentavam o nível universitário como escolaridade forneceram o leite materno exclusivo aos seus bebés por um tempo inferior quando comparado às outras escolaridades estudadas. Neste trabalho verificou-se que a mãe que exerce uma actividade fora de casa consegue amamentar em média durante 3,5 meses ao passo que a mãe que não trabalha se fica pelos 2,2 meses. O facto de a mãe exercer uma actividade remunerada, fora de casa, contribui para a interrupção do aleitamento materno 8. Todavia, o aleitamento materno exclusivo é maior entre as mulheres que trabalham fora em comparação com aquelas que trabalham em casa 7. O regresso ao trabalho continua a ser uma barreira importante para a manutenção do aleitamento materno exclusivo e misto e contribui para a grande quebra da taxa de amamentação dos três para os seis meses 5. Tendo em conta a situação da mãe após o parto, verificou-se que o tempo médio de amamentação é maior quando a mãe usufrui da licença de parto quando comparada com as restantes modalidades. A licença de maternidade tem sido útil e usada pela maioria das mães trabalhadoras para amamentar, embora haja outros fatores que são fundamentais para que a manutenção da lactação seja facilitada e que permitem a proximidade mãe-criança 8. Neste contexto a implementação de acções de apoio à mãe, tal como a licença de parto, entre outras, representam um estímulo importante para a manutenção e o prolongamento do aleitamento. A amamentação na primeira hora de nascimento é prejudicada por práticas inadequadas nas maternidades sobretudo nas privadas 9. Na presente investigação registaram-se tempos de amamentação mais longos mas mães que fizeram as consultas pré-natais no sector público (TMA=3,3 meses) e nas mães que tiveram apoio na maternidade (TMA=3,3 meses). A falta de informação e suporte pelos profissionais de saúde após o parto é um dos obstáculos para o sucesso do aleitamento 7,10,11. É fundamental encorajar e ajudar as mães a iniciarem a amamentação pois só assim é que podem ter uma experiência positiva, determinante na maior duração do aleitamento materno 5. Não basta a mulher estar informada das vantagens do aleitamento materno e optar por esta prática 12. Para levar adiante a sua opção, a mãe tem de Famalicão 2011 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia 99

estar inserida num ambiente favorável à amamentação e contar com o apoio de um profissional habilitado a ajudá-la, se necessário. Apesar de a amamentação ser um acto natural, não é instintivo 13. Algumas mulheres conseguem realizá-lo sem problemas, outras, porém precisam de ser estimuladas e apoiadas. 5. CONCLUSÕES Das mulheres que participaram nesta investigação uma grande percentagem iniciou a amamentação aos seus recém-nascidos, embora a prevalência de aleitamento materno exclusivo registado tenha sido inferior a um quarto. Aferiu-se, ainda, que a ocupação da mulher e os anos de escolaridade são factores que contribuem para a diminuição do tempo médio de amamentação. Por outro lado, a possibilidade de flexibilizar o seu horário, trabalhando menos horas, o facto de desfrutar da licença de maternidade e receber informação, nas consultas sobre os benefícios do aleitamento materno parecem ser contributos importantes para o seu prolongamento. Parece evidente a necessidade de investir nas regalias sociais colocadas ao dispor da mãe no sentido de fomentar o aleitamento materno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Bosi, M. & Machado, M. Amamentação: um resgate histórico. Cadernos esp - Escola de Saúde Pública do Ceará 2005; 1 (1). 2. Organización Mundial de la Salud. La alimentación del lactante y del niño pequeño. Washington: Biblioteca Sede 2010. OPS. 3. Rea, M. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Jornal de Pediatria 2004; 80 (5)(Supl): 142-146. 4. Ramos, C., Almeida, J., Saldiva, S., Pereira, L., Alberto, N., Teles, J. & Pereira, T. Prevalência do Aleitamento Materno Exclusivo e os fatores a ele associados em crianças nascidas nos Hospitais Amigos da Criança de Teresina Piauí. Epidemiol. Serv. Saúde Brasília 2010; 19 (2): 115-124. 5. Sandes, A., Nascimento, C., Figueira, J., Gouveia, R.,Valente, S., Martins, S., Correia, S., Rocha, E., Silva, L. Aleitamento materno: Prevalência e Factores Condicionantes. Acta Med Port 2007; 20: 193-200. 6. Venâncio, S., Escuder, M., Saldiva, S. & Giugliani, E. A prática do aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal: Situação actual e avanços. Jornal de Pediatria 2010; 86 (4): 317-324. 100 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia Famalicão 2011

7. Vitor, R., Vitor, M., Oliveira, T., Corrêa, C. & Menezes, H. Aleitamento materno exclusivo: análise desta prática na região Sul do Brasil. Revista da AMRIGS Porto Alegre 2010; 54 (1): 44-48. 8. Rea, M.Possibilidades e limitações da amamentação entre mulheres trabalhadoras formais. Rev. Saúde Pública 2007; 31 (2): 149-156. 9. Brecailo, M., Corso, A., Almeida, C. & Schmitz, B. Factores associados ao aleitamento materno exclusivo em Guarapuava, Paraná. Revista de Nutrição, Campinas 2010; 23 (4). 553-563. 10. Boccoloni, C., Carvalho, M., Oliveira, M. & Vasconcellos, A. Fatores associados à amamentação na primeira hora de vida. Rev. Saúde Pública 2011; 45 (1): 69-78. 11. Horta B., Olinto M., Victora C., Barros F. & Guimarães P. Amamentação e padrões alimentares em crianças de duas coortes de base populacional no Sul do Brasil: tendências e diferenciais. Cad Saúde Pública 1996; 12 Supl 1: 43-48. 12. Giugliani, E. & Lamounier, J. Aleitamento materno: uma contribuição científica para a prática do profissional de saúde. Jornal de Pediatria 2004; 80 (5)(supl): S117-S118. 13. Trindade, A., Linhares, E. & Araújo, R. Aleitamento materno: conhecimentos das puérperas a respeito dessa prática. Rev.Saúde.Com 2008; 4 (2): 123-133. Famalicão 2011 E-book - IV Jornadas de Obstetrícia 101