Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre



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ISSN 0104-9046 Dezembro, 2001 70 PADCT Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico MCT / CNPq Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre SEFE

República Federativa do Brasil Fernando Henrique Cardoso Presidente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Marcus Vinícius Pratini de Moraes Ministro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Conselho de Administração Márcio Fortes de Almeida Presidente Alberto Duque Portugal Vice-Presidente Dietrich Gerhard Quast José Honório Accarini Sérgio Fausto Urbano Campos Ribeiral Membros Diretoria-Executiva da Embrapa Alberto Duque Portugal Diretor-Presidente Bonifácio Hideyuki Nakasu Dante Daniel Giacomelli Scolari José Roberto Rodrigues Peres Diretores-Executivos Embrapa Acre Ivandir Soares Campos Chefe-Geral Milcíades Heitor de Abreu Pardo Chefe-Adjunto de Administração João Batista Martiniano Pereira Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Evandro Orfanó Figueiredo Chefe-Adjunto de Comunicação, Negócios e Apoio

ISSN 0104-9046 Dezembro, 2001 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Documentos 70 Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre Jair Carvalho dos Santos Ronei Sant ana de Menezes Joana Maria Leite de Souza Symone Maria de Melo Figueiredo Evandro Orfanó Figueiredo Jorge Souza Rebouças da Costa Rio Branco, AC 2001

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Acre Rodovia BR-364, km 14, sentido Rio Branco/Porto Velho Caixa Postal, 321 Rio Branco, AC, CEP 69908-970 Fone: (68) 212-3200 Fax: (68) 212-3284 http://www.cpafac.embrapa.br sac@cpafac.embrapa.br Comitê de Publicações da Unidade Presidente: Murilo Fazolin Secretária-Executiva: Suely Moreira de Melo Membros: Claudenor Pinho de Sá, Edson Patto Pacheco, Elias Melo de Miranda, Flávio Araújo Pimentel, João Alencar de Sousa, José Tadeu de Souza Marinho, Judson Ferreira Valentim, Lúcia Helena de Oliveira Wadt, Luís Cláudio de Oliveira, Marcílio José Thomazini, Tarcísio Marcos de Souza Gondim Revisores deste trabalho: Paulo Guilherme S. Wadt (ad hoc), Murilo Fazolin Supervisão editorial: Claudia Carvalho Sena / Suely Moreira de Melo Revisão de texto: Claudia Carvalho Sena / Suely Moreira de Melo Normalização bibliográfica: Gilzelia de Melo Sousa / Jair Carvalho dos Santos Tratamento de ilustrações: Fernando Farias Sevá / Suelmo de Oliveira Lima Editoração eletrônica: Fernando Farias Sevá / Suelmo de Oliveira Lima 1ª edição 1ª impressão (2001): 300 exemplares Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). Embrapa Acre. Demandas tecnológicas para o processamento de castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre / Jair Carvalho dos Santos... [et al.]. Rio Branco : Embrapa Acre, 2001. 17 p. : il. ; 21 cm. (Embrapa Acre. Documentos ; 70). 1. Bertholletia excelsa Agricultura Produção. 2. Prática cultural Processamento Brasil Rio Branco. I. Embrapa Acre. II. Título. III. Série. CDD 634.573 (21. ed.) Embrapa 2001

Autores Jair Carvalho dos Santos Eng. agrôn., M.Sc., Embrapa Acre, Caixa Postal 321, 69908-970, Rio Branco, AC, jair@cpafac.embrapa.br Ronei Sant ana de Menezes Eng. agrôn., Pesacre, roneisantana@aol.com Joana Maria Leite de Souza Eng. agrôn., M.Sc., Embrapa Acre, joana@cpafac.embrapa.br Symone Maria de Melo Figueiredo Eng.agrôn., Imac, ucepnma.imac@ac.gov.br Evandro Orfanó Figueiredo Eng. agrôn., Embrapa Acre, orfano@cpafac.embrapa.br Jorge Souza Rebouças da Costa Eng. agrôn., CNS, cnsac@uol.com.br

Apresentação Este trabalho é parte dos resultados do projeto Plataforma Tecnológica para o Setor Extrativista do Estado do Acre, executado com suporte financeiro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Participaram da concepção, elaboração e execução do projeto a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre Embrapa Acre, o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais Pesacre, a Universidade Federal do Acre Ufac, o Conselho Nacional dos Seringueiros CNS, a Comissão Pastoral da Terra CPT e a Secretaria Estadual de Floresta e Extrativismo Sefe.

Sumário Introdução... 9 Metodologia... 12 Resultados e Discussão... 14 Conclusões e Sugestões... 16 Referências Bibliográficas... 16 Anexo I... 17

Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre 1 Jair Carvalho dos Santos Ronei Sant ana de Menezes Joana Maria Leite de Souza Symone Maria de Melo Figueiredo Evandro Orfanó Figueiredo Jorge Souza Rebouças da Costa Introdução O Estado do Acre apresenta forte aptidão e tradição extrativistas, possuindo cerca de dois terços de sua área total ocupados por reservas extrativistas, áreas indígenas e outras áreas de conservação e preservação. No entanto, o modelo tradicional de extrativismo não-madeireiro, praticado ao longo deste século, caracterizado pelo baixo nível tecnológico, tem se mostrado não-sustentável, sob o ponto de vista econômico e social, diante da estrutura de mercado local e externo, especialmente em sua baixa capacidade competitiva. A crise do extrativismo, à base de castanha e borracha, trouxe como conseqüência o aumento da extração de madeira e os desmatamentos para implantação de sistemas agrícolas e pecuários. As preocupações com a floresta amazônica e com o 1 Estudo realizado com apoio financeiro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e do Programa Alternatives to Slash and Burn ASB.

10 Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre meio ambiente resultaram na necessidade premente de redefinir os modelos extrativos não-madeireiros, com base na incorporação de tecnologias de produção e mudanças no processo de comercialização. Essas mudanças devem proporcionar melhor desempenho econômico à atividade e incremento de renda aos extrativistas, de modo que estes não sejam estimulados a desistir da atividade, substituindo áreas de mata por cultivos agropecuários. A castanha-do-brasil é o principal produto gerador de renda para as famílias que vivem do extrativismo no Acre. A tendência de queda nos preços, verificada nas últimas décadas, e a concorrência com produtos similares, como castanha de caju, nozes, amendoim e outras amêndoas, representam consideráveis riscos aos sistemas produtivos da castanha-dobrasil. Estes riscos, normalmente, estão relacionados ao elevado custo de coleta e processamento e à baixa qualidade dos produtos. Acredita-se que vários fatores atuem ao longo das cadeias e sistemas produtivos extrativistas, como entraves ao seu desempenho. Esses entraves ou gargalos podem ser classificados como tecnológicos e não-tecnológicos, segundo a sua natureza. Aos entraves tecnológicos estão relacionadas as respectivas tecnologias que necessitam ser geradas e/ou adotadas pelos elementos que atuam nas cadeias de produção. Em geral, a incorporação de novas tecnologias favorece o desenvolvimento e a sustentabilidade de cadeias e sistemas produtivos. Tecnologia pode ser conceituada como um conjunto organizado de conhecimentos intuitivos, empíricos e ou científicos utilizados na produção e comercialização de bens e

Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre 11 serviços. Demandas tecnológicas são definidas como necessidades de conhecimentos e tecnologias, visando reduzir o impacto de limitações identificadas nos componentes do sistema produtivo, para a melhoria da qualidade de seus produtos, eficiência produtiva, competitividade, sustentabilidade e eqüidade de benefícios entre seus componentes (Castro & Pereira, 1999). A escassez de melhoria tecnológica tem provocado a estagnação ou a involução de setores agrícolas e extrativistas. O extrativismo de borracha natural do Brasil, por exemplo, tem se mantido estagnado durante mais de um século, com conseqüente perda de competitividade do produto brasileiro frente à produção dos seringais de cultivo da Ásia e do Brasil (Castro & Pereira, 1999). No caso da castanha-do-brasil, o País corre o risco de perder, cada vez mais, mercado para outras castanhas produzidas sob sistemas cultivados, que apresentam, por conseguinte, maior emprego de tecnologias e capacidade competitiva. Na área de processamento, o sistema de beneficiamento brasileiro encontra-se defasado em relação à Bolívia e Peru, devido aos investimentos em tecnologia promovidos por entidades norte-americanas e européias (Figueiredo et al., 2001). A coleta e exportação de castanha-do-brasil ocorre há várias décadas. No entanto, iniciativas de estudos técnico-científicos relacionados ao processamento e, principalmente, ao manejo das áreas de coleta são recentes, existindo grande lacuna de conhecimentos. É necessário estabelecer a definição de novas pesquisas, por meio de critérios que priorizem essas demandas, para evitar desperdício de recursos financeiros (públicos e privados) e de esforço humano, com benefícios ao setor produtivo e ao consumidor. Esses critérios de priorização,

12 Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre por sua vez, devem considerar fatores não somente econômicos, mas também valores sociais e ambientais (Figueiredo et al., 2001). Neste sentido, a identificação das demandas servirá como subsídio para implementar políticas públicas de pesquisa, de transferência de tecnologia, socioambientais e de crédito agroindustrial, assim como, de norteadores de investimento para o setor privado (processadores). Os resultados dessas ações deverão trazer melhorias à capacidade competitiva das indústrias de processamento e, indiretamente, à sustentabilidade das áreas de reservas extrativistas e outras áreas de conservação, contribuindo, dessa forma, para a conservação da floresta amazônica e de sua biodiversidade. O objetivo deste trabalho foi identificar e priorizar as demandas de natureza tecnológica, resultantes de problemas que atuam como entraves ou gargalos ao desenvolvimento do subsistema de processamento de castanha-do-brasil extrativa. Metodologia A identificação das demandas tecnológicas para castanha foi efetuada dentro do projeto Plataforma Tecnológica para o Extrativismo no Estado do Acre, concebido e executado como parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Uma das plataformas executadas teve como objeto o sistema produtivo de castanha. Plataformas tecnológicas são foros onde as partes interessadas da sociedade se reúnem para identificar os gargalos tecnológicos ligados a determinado setor ou região e para definir as ações prioritárias para eliminá-los. Como partes interessadas da sociedade entendem-se os agentes do sistema de inovação e difusão de tecnologia: usuários e

Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre 13 produtores de conhecimento técnico-científico, empresários, investidores, agências de fomento, representantes do governo federal, estadual e municipal e outros (Ministério da Ciência e Tecnologia, 1998). O foro de discussão para castanha foi constituído pelas seguintes etapas básicas: a) identificação e mobilização dos agentes envolvidos nas discussões; b) execução dos foros de discussão sobre os entraves e demandas tecnológicas. Inicialmente, foram definidos esboços das cadeias e dos sistemas de produção, objetivando identificar as classes de agentes que atuam de forma direta e indireta nesses sistemas, para em seguida identificar e convidar, a participar dos foros de debates, os elementos chaves representantes das classes de agentes. A etapa final do projeto consistiu em organizar e executar a plataforma tecnológica. O foro foi realizado no período de 15 a 17 de novembro de 2000, com a participação de 32 pessoas entre representantes das áreas de extração e processamento dos sistemas, especialistas, administradores públicos e representantes de instituições financeiras (Anexo I). Como estratégia de execução, os debates foram segmentados nos subsistemas de manejo de coleta extrativa e de processamento de castanha. Neste trabalho são apresentados apenas os resultados referentes ao subsistema de processamento. Os participantes criaram uma lista de problemas e, em seguida, um moderador conduziu a discussão para cada um dos problemas, visando definir as demandas e suas respectivas ordens de prioridade.

14 Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre As prioridades foram classificadas na seguinte ordem: muito alta (1), alta (2), média (3) e baixa (4). Os critérios para definir as prioridades foram os efeitos do problema, ou sua solução, na competitividade, sustentabilidade e eqüidade do sistema e, ainda, na qualidade e competitividade dos produtos gerados (Castro & Pereira, 1999). Resultados e Discussão Na área de processamento de amêndoas (Tabela 1), as maiores prioridades estão relacionadas à contaminação por toxinas sintetizadas por microorganismos, especialmente fungos. Isso representa o principal problema tecnológico para o sistema produtivo, devido ao crescente rigor na legislação de países importadores de castanha, relacionado à presença dessas toxinas. Existe a necessidade premente de se conhecer os modos de ocorrência, os fatores condicionantes e a evolução do processo de contaminação. Essas informações são fundamentais no desenvolvimento de pesquisas tecnológicas visando estabelecer procedimentos para detectar, prevenir e controlar a contaminação.

Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre 15 Tabela 1. Linhas de pesquisa e aplicação de tecnologia identificadas e priorizadas para processamento da amêndoa de castanha-do-brasil. Rio Branco, AC, 2000. Área temática Linha de pesquisa e aplicação de tecnologia Prioridade* Dimensionar secadores de castanha para diferentes unidades produtivas 2 Pós-colheita Definir parâmetros para processo eficiente de secagem de castanha (temperatura, tempo, luz solar, etc.) 2 Contaminação por micotoxina Segurança no trabalho Controle de qualidade Energia alternativa Tecnologia de alimentos Identificar pontos críticos de contaminação de amêndoas por micotoxina, nas diversas etapas do processo produtivo Avaliar a influência de métodos de coleta de frutos de castanha na ocorrência de micotoxina Definir critérios para coleta de frutos de castanha para prevenir contaminação por micotoxina Desenvolver tecnologia para armazenamento das castanhas na mata Desenvolver depósitos apropriados para armazenagem de castanha Definir critérios técnicos para aumentar a segurança dos extrativistas no processo de manejo de castanhais Dimensionar equipamentos ergonômicos para quebra de castanha Desenvolver métodos simplificados para identificar matéria-prima (castanha) rancificada Identificar fontes alternativas e sustentáveis de energia para uso no processamento de castanha Desenvolver produtos (comestíveis ou não) à base de castanha Realizar estudos para prolongar o prazo de validade de castanha processada Realizar estudos para aproveitamento dos resíduos de processamento de castanha Extração de Desenvolver tecnologia para extração, preservação da qualidade e uso do óleo de óleo castanha Administração Avaliar técnica e economicamente o método descentralizado de processamento de da produção castanha (unidades familiares) *Ordem de prioridade: 1 (muito alta); 2 (alta) e 3 (média). Na segunda escala de prioridade, encontram-se as necessidades de definir parâmetros e estruturas de secagem de amêndoas, armazenagem, desenvolvimento de estudos para produtos à base de castanha e avaliação da viabilidade de unidades de processamento comunitárias ou familiares. As questões referentes à secagem e armazenagem estão relacionadas à durabilidade, qualidade e contaminação por micotoxina. Estudos sobre produtos relacionam-se à durabilidade e agregação de valor à castanha. Unidades de processamento de menor escala estão ligadas à melhor eqüidade no processo produtivo. 1 1 1 2 2 3 3 2 3 2 1 2 1 1

16 Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre Verificou-se grande preocupação quanto aos procedimentos costumeiramente adotados no manuseio do fruto e das amêndoas de castanha nas diversas fases de processamento. Conclusões e Sugestões Na área de processamento, as maiores prioridades são as medidas de prevenção e controle de contaminação das amêndoas de castanha por micotoxinas. Numa segunda escala de prioridade, estão as questões referentes a estruturas para armazenamento e secagem de amêndoas e desenvolvimento de novos produtos comerciais à base de castanha. Sugere-se que cada tecnologia a ser gerada seja objeto de análise de viabilidade econômica (onde couber) e de seus impactos sociais e ao meio ambiente. Referências Bibliográficas CASTRO, A. M. G. de; PEREIRA, J. da P. Estudo de caso: a cadeia produtiva da borracha natural no Brasil. Florianópolis: UFSC, 1999, Curso de Especialização em Engenharia da Produção, aula 9. p. 131-179. FIGUEIREDO, E. O.; SANTOS, J. C. dos; FIGUEIREDO, S. M. de M. Demandas tecnológicas para o manejo florestal da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa Humb e Bompl). Rio Branco: Embrapa Acre, 2001. 15 p. (Embrapa Acre. Documentos, 61). MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Edital CDT/ PADCT 01/98 Segunda rodada. Disponível em: <http:// reaact.cesar.org.br/padctii/cdt/edital/rodada02/edcdt.html>. Acesso em: 12 set. 1998.

Demandas Tecnológicas para o Processamento de Castanha (Bertholletia excelsa Humb e Bompl) no Estado do Acre 17 Anexo I. Relação de participantes da plataforma para castanha-do-brasil. Rio Branco, Acre, 2000. Nome Instituição ou empresa/uf ou E-mail ou telefone país Alberto Pistoni Cooperiaco/AC (68) 612-2045 Carlos Alberto F. de Castro Fase/PA aluizio@fase.amazon.com.br Celene Jerônimo de Souza Sefe/AC celene-souza@bol.com.br Claudia Baider USP/SP clbaider@usp.br Cláudio Carvalho - (68) 229-1068 Cydia Furtado Utal-Ufac/AC utal@ufac.br Evandro Orfanó Figueiredo Embrapa/AC orfano@cpafac.embrapa.br Evangelina Jurado Tahuamanu/Bolívia tahuacob@latinmail.com Félix Emílio Cornejo Embrapa/RJ felix@ctaa.embrapa.br Joana Souza Embrapa/AC joana@cpafac.embrapa.br Karen Kainer Universidade da Flórida/EUA kkainer@latam.ufl.edu Lu Piening Ceso/Bolívia pien@telusplanet.net Luciana do Carmo Ufac/AC cdin@ufac.br Luiz R. B. Morais Brasmazon/PA morais@brasmazon.com.br Maria das D. Santos Mendes Caex/AC caex@mdnet.com.br Median de Pardo Esalq/USP/SP mpardo@carpa.ciagri.usp.br Nazira Camely Ufac, Embrapa/AC Nazira@osite.com.br Pedro Centeno ACCA/Peru castanha@terra.com.pe Rafael Rojas CIP/Peru ci-pem@terra.com.pe Ramon Cortez Capeb/AC capeb@mdnet.com.br Ricardo Mello Ipam/PA mellos@amazon.com.br Rivaldo Bertulino da Costa Castanha Beija-Flor/AC (68) 225-7748 Rivaldo de Assis e Silva Caex/AC caex@mdnet.com.br Rolando Cortez Capeb/AC capeb@mdnet.com.br Rolando Haches Tahuamanu/Bolívia rolando-haches@latinmail.com Ronald Corvera IIAP/Peru rcorvera@viabcp.com Ronei Sant ana de Menezes Pesacre/AC ronei@mdnet.com.br Ruddy Saucedo Cadexnor/Bolívia 591-0852/3426/3118 Rui Santana Utal/Ufac/AC utal@ufac.br Salustiano Diogo de Lima Caex/AC caex@mdnet.com.br Sérgio Alércio Capeb/AC capeb@mdnet.com.br Symone Maria de Melo Figueiredo Imac/AC orfano@cpafac.embrapa.br