RESENHA Um retrato do Anonymous Brasil Por Rafael Buchala Resenha do livro: MACHADO, Murilo Bansi. Anonymous Brasil - Poder & Resistência na Sociedade de Controle. Salvador, EDUFBA, 2013. Escrito pelo pesquisador Murilo Bansi Machado, Anonymous Brasil Poder e Resistência na Sociedade de Controle se apresenta como o primeiro estudo acadêmico que investiga as características da cultura hacker e as evoluções do cyberativismo, em particular as direfentes formas de execer o hacktivismo considerado por grandes autores acadêmicos uma forma de resistência política na Sociedade de Controle, tendo como objeto de pesquisa a rede heterogênea de grupos Anonymous Brasil. O principal objetivo deste estudo foi o de verificar como o Anonymous Brasil se engaja politicamente, seu modo de organização, suas lutas, seus ideais e seus atores, tendo como ponto de partida a perspectiva segundo a qual o hacktivismo se configura como uma forma de resistência política à um modo específico de controle exercido na contemporaneidade. O autor desta obra se propôs a analisar as diversas formas de engajamento político realizadas por grupos e indivíduos identificados com o movimento hacker no Brasil e no Mundo. No primeiro capítulo, o autor realizou um breve histórico do hacktivismo, que teve como origem o apoio ao movimento Zapatista, considerado o primeiro movimento de guerrilha informacional da história, ocorrido no México em 1994. Além disso, apontou características da cultura hacker em escala mundial por meio de pesquisadores como Stephen Levy e Pekka Himanen. Pode-se notar que enquanto as primeiras gerações de hackers tinham como foco as políticas relacionadas à softwares e hardwares, as últimas
transpuseram com mais força esse carácter político ao plano social, tornando aptas a realização de atos concretos de protesto e de desobediência civíl, conforme ampla argumentação presente no texto dos respectivos autores acima citados. O capítulo seguinte traz à discussão sobre a Sociedade de Controle e seus fundamentos teóricos. Neste momento, o pesquisador realiza um cruzamento das formas de resistência do hacktivismo com os exercícios do poder pós-moderno. Para dar maior visibilidade e clareamento a fim de entender as diferenças e mudanças das Sociedades Disciplinares para a Sociedade de Controle foi utilizado o ensaio de Deleuze O controle é de curto prazo e rotação rápida, mas contínuo e limitado, resume Deleuze sobre a Sociedade de Controle. Ainda neste capítulo, foi possivel afirmar que as tecnologias digitais de comunicação tornaram-se algumas das principais ferramentas da Sociedade de Controle. É nesta perspectiva que o autor utiliza o conceito Gallowayano de Protocolo considerado um conjunto de recomendações e regras que determinam padrões técnicos e com isso, governam o modo como as tecnologias específicas são acordadas, adotadas, implementadas e usadas pelas pessoas no mundo. Galloway associou o controle deleuziano ao conceito de protocolo, considerado o cerne da mídia de massa mais controlada de todos os tempos: a internet. Considerados atores protocológicos por excelência, os hackers têm expertise e engajamento político necessário para resistir ao controle, iludindo e hipertrofiando o protocolo. Posteriormente, foram abordados os principais trabalhos realizados sobre as interpretações do ativismo hacker, dividindo-os em três perspectivas teóricas: (1) Desobediência civil digital; (2) Guerra da Informação / Ciberterrorismo; e (3) Hacktivismo por ele mesmo. Como esta pesquisa aborda os aspectos sociais, culturais e políticos do ativismo hacker, o autor se filiou apenas à primeira perspectiva teórica. Do ponto de vista de Manion e Goodroum se determinada ação não causar danos a pessoas ou propriedades; não for violenta; não for desempenhada visando o lucro pessoal; tiver uma motivação ética; tiver, por parte dos agentes, uma vontade de assumir responsabilidades pessoais para eventuais consequências, essa ação pode ser
considerada uma forma de desobediência civíl eletrônica, ou seja, é preciso que haja justificativa moral por trás das ações dos hacktivistas. O terceiro capítulo é caracterizado pelo movimento Anonymous. Para descrevê-lo, o pesquisador recorre à uma análise histórica desde o surgimento inicial e atuação internacional até sua origem no Brasil e faces de atuação em território nacional. No contexto brasileiro, a trajetória do coletivo Anonymous pode ser divido em quatro fases: Início, Operacional, Ápice e Dispersão. Para realizar uma análise mais profunda sobre o a rede heterogênia no Brasil, foram coletados depoimentos de indivíduos identificados como Anonymous e feita uma profunda imersão em duas grandes operações realizadas pelo hacktivistas: A Operação WeeksPayment e a Operação Globo, ambas realizadas em 2012. A primeira #OpWeeksPayment teve como principal ação tirar do ar o site dos cinco maiores bancos brasileiros, de segunda a sexta-feira, durante a semana do pagamento, momento em que ocorre grande circulação financeira por parte dos bancos e seus clientes. Temos condições de causar um caos jamais visto, mas este não é o objetivo do movimento. A ideia é alertar a população sobre o que ocontece no país e como ela pode fazer algo para mudar a situação, afirmou um dos Anons em mensagens postadas no Twitter. Já na #OpGlobo, pequenos nichos de hackers conseguiram derrubar mais de 20 sites das Organizações Globo. Quando a rede optou pelo ataque, diversas mensagens foram postadas reforçando os desvios supostamente praticados pela emissora, tais como manipulação deliberada da opinião pública e indevida dedução de impostos por meio do projeto Criança Esperança. Como é de praxe, a #OpGlobo não foi unânime entre os Anonymous Brasileiros. Isso porque, para alguns Anons houve uma quebra na regra clássica seguida até então pela maior parte do movimento internacional: a de que os Anonymous não atacariam os meios de comunicação. Por sua vez, grupos individuais pertecentes à vertente do movimento lembraram que em nenhum momento voltaram-se contra sites noticiosos das Organizações Globo, uma vez que os ataques foram realizados em páginas comerciais.
O quarto e último capítulo refletiu sobre a questão central deste estudo, uma vez que sugeriu quatro formas de engajamento político por parte dos Anonymous. O Anonimato, considerado claramente como uma forma de resistência; a Evangelização ou seja, poder de persuasão para levar as ideias, ações e conceitos do movimento para que mais pessoas se identifiquem com ele; a formação de redes distribuídas; e o fato de exibir e possibilitar várias formas de ações políticas. Após os caminhos percorridos pelo autor na referida pesquisa, pode-se concluir que o coletivo Anonymous reformulou e reconfigurou o ativismo hacker em escala mundial. Além disso, apresenta-se como uma forma de resistência dos poderes pós-modernos de acordo com as concepções expostas e formuladas históricamente por Deleuze. Vale ressaltar que a vertente Anonymous possui uma identidade multifacetada permeada pelo engajamento político que vai do ambiente online até as ruas e manifestos contra formas de poder, sempre se mantendo no anonimato.