waldecy@terra.com.br 1 Professor Doutor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Tocantins. E-mail:



Documentos relacionados
CUSTOS AMBIENTAIS DA PRODUÇÃO DA SOJA EM ÁREAS DE EXPANSÃO RECENTE NOS CERRADOS BRASILEIROS O CASO DE PEDRO AFONSO - TO

Custos ambientais da produção da soja em áreas de expansão recente nos cerrados brasileiros: o caso de Pedro Afonso TO

CUSTOS AMBIENTAIS DA PRODUÇÃO DA SOJA EM ÁREAS DE EXPANSÃO RECENTE NOS CERRADOS BRASILEIROS O CASO DE PEDRO AFONSO - TO

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

Environmental cost benefit analysis of soybean production in areas of recent expansion in the Brazilian savanna: the case of Pedro Afonso-TO.

Desempenho Recente e Perspectivas para a Agricultura

AGRICULTURA DE PRECISÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

Projeções de custos e rentabilidade do setor sucroenergético na região Nordeste para a safra 2013/14: o desafio de sobrevivência dos fornecedores

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Capítulo XV Custos e Rentabilidade

Custo de Produção do Milho Safrinha 2012

FOLDER PRODUÇÃO INTEGRADA DE ARROZ IRRIGADO. Produção Integrada de Arroz Irrigado

PLANTIO DIRETO. Definição JFMELO / AGRUFBA 1

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

Custo de Produção da Cultura da Soja Safra 2011/2012

CONTROLE BIOLÓGICO NA TEORIA E NA PRÁTICA: A REALIDADE DOS PEQUENOS AGRICULTORES DA REGIÃO DE CASCAVEL-PR

I MPACTO AMBI ENTAL DA I RRI GAÇÃO NO BRASI L

O Papel dos Critérios Econômicos na Gestão das Reservas da Biosfera

Jornal Brasileiro de Indústrias da Biomassa Biomassa Florestal no Estado de Goiás

A Mensuração dos Ativos Ambientais

CAP. 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS DE DECISÃO

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

LINEAMENTOS PARA MELHORAR A GESTÃO DAS ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS E FAZER MAIS SUSTENTÁVEL A PROTEÇÃO DA SAÚDE

O papel da APROSOJA na promoção da sustentabilidade na cadeia produtiva da soja brasileira

A RECUPERAÇÃO DA PRODUÇÃO DO ALGODÃO NO BRASIL. Joffre Kouri (Embrapa Algodão / joffre@cnpa.embrapa.br), Robério F. dos Santos (Embrapa Algodão)

VANTAGENS ECOLÓGICAS E ECONÔMICAS DE REFLORESTAMENTOS EM PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL RESUMO

CAP. 4b INFLUÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA

1,7 milhões de estabelecimentos 50 Mha


Equipamentos e sistemas para fertirrigação

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

Uso da biotecnologia garante US$ 3,6 bilhões à agricultura brasileira, aponta novo estudo da ABRASEM

PROJETO CAMPO FUTURO CUSTO DE PRODUÇÃO DO CAFÉ EM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES-BA

Agrícola ISO 9001 OHSAS ISO ISO 14001

BLOCO 11. ASSUNTOS: Controlo Análise dos Registos Contabilísticos Análise de estrutura e de eficiência Análise de actividade PROBLEMAS:

Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos. "Uma arma verdadeiramente competitiva"

Agroecologia. Agroecossistema

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS LCF-1581

Inovação Tecnológica e Controle de Mercado de Sementes Transgênicas de Milho 1 João Carlos Garcia 2 e Rubens Augusto de Miranda 2

TEMA: A importância da Micro e Pequena Empresa para Goiás

1. Introdução. 1.1 Apresentação

Programa de Desenvolvimento Rural

Avaliação de Investimentos

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

CALAGEM, GESSAGEM E AO MANEJO DA ADUBAÇÃO (SAFRAS 2011 E

Aregião de Cerrados no Brasil Central, ao longo

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

22/02/2009. Supply Chain Management. É a integração dos processos do negócio desde o usuário final até os fornecedores originais que

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DA CANOLA NO BRASIL E IMPACTOS NO CUSTO DE PRODUÇÃO E NA RENTABILIDADE.

Desempenho da Agroindústria em histórica iniciada em Como tem sido freqüente nos últimos anos (exceto em 2003), os

Adoção da Agricultura de Precisão no Brasil. Alberto C. de Campos Bernardi e Ricardo Y. Inamasu EMBRAPA 1

GESTÃO AMBIENTAL NO AGRONEGÓCIO HORTIFRUTÍCOLA

PRODUÇÃO ECONÔMICA DE SILAGEM 2º Dia de Campo de Ovinocultura Pedro Canário/ES 29/11/14

Conceitos e Histórico da Conservação de Solos e da Água

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE SECAGEM E ARMAZENAGEM DE GRÃOS

ORIENTAÇÕES SOBRE SEGURO, PROAGRO E RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

EFICIÊNCIA HIDRÁULICA E ENERGÉTICA EM SANEAMENTO

Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais.

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) de Corte da Embrapa Milho e Sorgo

Em 2050 a população mundial provavelmente

Palavras-chave: Cana-de-açúcar; Bem-estar; Goiatuba; Expansão agrícola.

Alocação de Recursos em Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária: uma abordagem da Teoria do Portfólio

Capacidade dos Portos Brasileiros Soja e Milho

Estabelecimento de Unidades de Referência Tecnológica e Econômica no Estado de Mato Grosso: Proposta de Avaliação Econômica - O Projeto URTE (Fase 1)

Valoração Econômica dos Impactos Ambientais de Tecnologias de Plantio em Região de Cerrados

Biocombustíveis: Estudo de culturas adequadas à sua produção: um panorama da produção agrícola da cana de açúcar e da soja.

PLANO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DO PIAUÍ

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

RELATÓRIO FINAL. AVALIAÇÃO DO PRODUTO CELLERON-SEEDS e CELLERON-FOLHA NA CULTURA DO MILHO CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA

Pesquisa Operacional. 4x1+3x2 <=1 0 6x1 - x2 >= 20 X1 >= 0 X2 >= 0 PESQUISA OPERACIONAL PESQUISA OPERACIONAL PESQUISA OPERACIONAL PESQUISA OPERACIONAL

Índice. 1. A educação e a teoria do capital humano...3. Grupo Módulo 7

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural PROJETO FIP-ABC. Produção sustentável em áreas já convertidas para o uso agropecuário (com base no Plano ABC)

Eficiência no uso da terra: um dos caminhos para alcançar maiores rentabilidades

O IBGE divulgou a pouco o primeiro prognóstico para a safra de 2011: Em 2011, IBGE prevê safra de grãos 2,8% menor que a de 2010

O AGRONEGÓCIO DO PALMITO NO BRASIL:

SISTEMAS DE PRODUÇÃO IMPORTÂNCIA PARA CONSERVAÇÃO DOS SOLOS E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE BAMBUI-MG 09/09/2008

um preço mais elevado, sinalizando qualidade. Se o produto não for bom, essa mesma empresa terá prejuízo em longo prazo, pois os contratos de

Você atingiu o estágio: Recomendações. NOME: MUNICIPIO: Ipiranga Data de preenchimento do guia: Data de devolução do relatório:

Boletim Ativos do Café - Edição 15 / Dezembro 2013 Preços do café intensificam a descapitalização na cafeicultura brasileira em 2013

Milho: preços elevados mesmo com super-safra norte-americana

Aplicações da FPA em Insourcing e Fábrica de Software

REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

Efeito dos custos dos insumos na rentabilidade dos projetos florestais

Principais características da inovação na indústria de transformação no Brasil

A visão de longo prazo contempla: Produção Exportações líquidas Estoques. Área plantada Produtividade Consumo doméstico (total e per capita)

Mudanças Climáticas e Economia. Secretaria de Acompanhamento Econômico SEAE

Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para modelos sustentáveis de agricultura.

Inovação Tecnológica e Controle de Mercado de Sementes de Milho

Disciplinas. Dinâmica de Potássio no solo e sua utilização nas culturas

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

Programa de Desenvolvimento Rural do Continente para Medida 9 MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA EM ZONAS DESFAVORECIDAS

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Agronegócios: conceitos e dimensões. Prof. Paulo Medeiros

PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES SOBRE VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

Transcrição:

VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUÇÃO DE SOJA E MILHO NOS CERRADOS BRASILEIROS Waldecy Rodrigues 1 Resumo - Este artigo tem o objetivo de valorar economicamente os impactos ambientais de tecnologias de plantio de soja e milho nos região de cerrados. Foram medidos os impactos ambientais do plantio convencional e direto. Para a valoração econômica do processo erosivo e o assoreamento de recursos hídricos causados pelas técnicas de plantio foi utilizado o Método Custo-Reposição (MCR). No caso da soja a adoção do plantio direto eleva o custo de produção em 0,47%, mas com a adição do custo de reposição de nutrientes do solo este custo passa a ser (-0,37%) menor do que no plantio convencional.. Ainda, com a posterior adição do custo de remoção de sedimentos de recursos hídricos, o custo social da soja passa a ser (-0,93%) menor do que no plantio convencional. No cultivo do milho, os custos de produção do plantio direto são (-5,92%) menores do que os referentes ao plantio convencional, demostrando sua maior eficiência econômica. O plantio direto tem custos 3,62% superiores nos insumos e são inferiores em (-43,44%) no preparo do solo com relação ao plantio convencional, mostrando uma maior eficiência econômica no resultado geral. Ademais, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em (-29,43%) e o custo social do milho em (-6,17%), também ficando assim demonstrado a maior sustentabilidade do plantio direto. Palavras-chaves: Método custo-reposição, cerrados, valoração ambiental. 1) Introdução A sustentabilidade na atividade agrícola está diretamente relacionada com os impactos ambientais, econômicos e sociais provocados pela utilização das tecnologias agrícolas. A discussão sobre o desenvolvimento rural sustentável passa fundamentalmente pela análise das escolhas técnicas feitas pelos produtores rurais e seus efeitos sobre a eficiência da produção e as externalidades ambientais geradas no processo. Historicamente, os Cerrados brasileiros, com a expansão da fronteira agrícola na região a partir da década de 70, passaram a ser sistematicamente ocupados pela produção agropecuária em larga escala. O modelo tecnológico dominante na exploração agrícola nos Cerrados é profundamente dependente de insumos externos (calcário e fertilizantes) produzidos por grandes indústrias do setor químico. Este artigo tem o objetivo de valorar economicamente os impactos ambientais de tecnologias de plantio de soja e milho nos região de cerrados. Pretende-se problematizar a relação entre a eficiência na combinação de insumos e seus custos privados com a geração das externalidades ambientais e seus custos sociais. A idéia básica é comparar diferentes alternativas de plantio plantio direto e plantio convencional quanto seus custos privados e ambientais. Assim, surge a necessidade de se comparar técnicas de cultivo não só quanto aos seus custos privados, mas abrangendo a questão de sua sustentabilidade. Assim, é necessário questionar quais são os custos e benefícios privados e sociais do uso das técnicas de plantio para melhor conciliar as escolhas tecnológicas dos com o bem-estar social. 1 Professor Doutor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Tocantins. E-mail: waldecy@terra.com.br

2 2) Metodologia Para a valoração econômica do processo erosivo foi utilizado o método custoreposição (efeitos internos e efeitos externos). Em que pese todos os limites da aplicação dos métodos de valoração ambiental, os mesmos são de grande utilidade para avaliação de impactos ambientais da produção agrícola. O Método Custo de Reposição (MCR) está baseado na reparação de algum dano ao recurso ambiental e o custo de reposição pode ser entendido como uma medida do seu benefício. PEARCE (1993) afirma que o MCR é freqüentemente utilizado como uma medida do dano causado. Essa abordagem é correta nas situações em que é possível argumentar que a reparação do dano deve acontecer por causa de alguma restrição da sustentabilidade da produção agrícola no longo prazo. O MCR será utilizado empiricamente a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: 1. descrição das tecnologias de plantio a serem analisadas plantio direto e plantio convencional - enfatizando suas características técnicas e econômicas; 2. análise das relações naturais entre causas e efeitos do processo de erosão agrícola causado pelo uso de tecnologias de plantio na região do Cerrado; 3. valoração econômica dos efeitos do processo erosivo no custo de reposição de nutrientes dos solos nas tecnologias de plantio abordadas; 4. valoração econômica dos efeitos do processo de assoreamento dos recursos hídricos nas tecnologias de plantio abordadas no custo de reposição para companhia de recursos hídricos. 3) Resultados e Discussões 3.1) Evolução do plantio direto nos cerrados brasileiros Segundo LANDERS (1996), o plantio direto (PD) foi introduzido no país, em 1969, em Não-Me-Toque RS, com um plantio experimental de sorgo. Em relação às técnicas convencionais de preparo e cultivo do solo, o PD apresenta práticas agronômicas inovadoras, que movimentam menos o solo e permitem um eficiente controle da erosão, pela manutenção de uma cobertura morta (palha) sobre o solo. A adoção do PD foi uma reação espontânea de agricultores que sentiram a falta de sustentabilidade econômica e física do sistema de plantio convencional, intensivamente mecanizado, e em função dos efeitos da erosão e do alto investimento em maquinário. As principais características técnicas do plantio direto, que reduzem o impacto erosivo nos solos, são (LANDERS, 1996): 1. A eliminação do uso de práticas agrícolas convencionais, como a aração e a gradagem, reduzindo a movimentação de máquinas sobre o solo; 2. Criação de uma cobertura permanente de palha na superfície, aumentando a fertilidade do solo; 3. Plantio com máquinas especializadas que cortam a palha para inserir simultaneamente a semente e o adubo (racionalização do uso de insumos). O técnica do plantio direto vem sendo utilizada por um maior número de produtores na região dos cerrados brasileiros com o decorrer do tempo. A partir da tabela 1, pode-se constatar que no início dos anos noventa a área destinada para plantio direto nos cerrados brasileiros correspondia 8,7% do total destinado em todo o Brasil. Já no final desta década subiu para 29,70%. Nesse mesmo período, enquanto a área brasileira destinada para o plantio direto crescia 13,5 vezes nos cerrados brasileiros cresceu cerca de 46 vezes.

3 TABELA 1 Evolução da área plantadas em plantio direto (em ha) Ano agrícola Cerrados Brasil 1974/75-8.000 1976/77-57.000 1978/79-54.000 1980/81-205.000 1982/83 500 260.000 1984/85 2.000 500.000 1986/87 9.000 n.d. 1988/89 35.000 n.d. 1990/91 87.000 1.000.000 1991/92 180.000 1.350.000 1992/93 270.000 n.d. 1993/94 420.000 3.000.000 1994/95 930.000 3.800.000 1995/96 1.500.000 4.500.000 1996/97 1.938.000 7.900.000 1997/98 2.670.000 10.100.000 1998/99 3.402.000 12.100.000 1999/00 4.000.000 13.470.000 Fonte Fundação ABC - Citada por LANDERS (1996), p. 14. FEBRAPD (2001). Entre 1990/2000, houve uma expansão de 4.498% na área plantada nos cerrados com a utilização da tecnologia do plantio direto, em contrapartida com uma expansão de 1.247% na área plantada no Brasil (Tabela 1). Houve uma expansão considerável da utilização do plantio direto, tanto no Brasil, com particular destaque para região dos cerrados, por ser uma importante fronteira agrícola do país, com a exploração intensiva de commodities propícias a utilização desta tecnologia de plantio. Outros fatores devem ser observados como elementos da mudança de comportamento dos produtores rurais na adoção de tecnologias com menor impacto ambiental. SAMAHA e LANDERS (1998), ressalta que essas mudanças estão sendo condicionadas por uma crescente exigência social a respeito da qualidade ambiental. Dessa forma, o plantio direto se torna uma ferramenta importante para a busca da competitividade e da sustentabilidade da produção agrícola. Competitividade pois possibilita a maximização do lucro na propriedade rural no longo prazo, pela contenção do processo de erosão e sustentabilidade pois esta tecnologia reduz os impactos ambientais causados pelo processo erosivo reduzindo o nível de externalidades ambientais negativas. Segundo CAMPANHOLA et alli (1997) pode-se adotar um enfoque simplificador e quantificar a externalidades ambientais negativas de acordo com a importância que o bem perdido ou deteriorado tem para o agrossistema. Neste caso, o custo da erosão seria dado pelo valor dos nutrientes contidos no solo que foi perdido, ou, em outros casos mais graves onde a área torna-se inapta para a agricultura, o custo é obtido pelo preço de mercado da área de terra afetada. Entretanto, este tipo de abordagem não mede os danos sobre outros bens e serviços ambientais, como por exemplo, perdas da biodiversidade, e, também, não mede outros efeitos decorrentes do processo erosivo que afetam outras partes do ecossistema, como, por, exemplo, a qualidade dos recursos hídricos. Para se realizar a valoração econômica dos efeitos do processo de erosão / sedimentação é necessária uma compreensão prévia dos impactos ambientais causados pelo agente degradador. Para tal finalidade, utiliza-se o Quadro 1 que representa as relações entre causas e efeitos no processo de erosão agrícola no processo de produção.

QUADRO 1 - As relações entre causas e efeitos no processo de erosão agrícola na região do Cerrado. Problema Causas do problema Agentes causadores Efeitos Agentes receptores Erosão do solo na área de lavoura - Taxas de infiltração do solo reduzidas pela compactação do solo; - Monoculturas; -Insuficiente cobertura do solo; - Práticas de manejo do solo mal dimensionadas. - Agricultores (pelo removimento excessivo do solo e práticas de manejo inadequadas). - Perda da população de plantas; - Perda de nutrientes, calcário e outros insumos; - Deposição de sedimentos nos terraços; - Sulcos e voçorocas de erosão; - Elevação dos custos de produção; - Queda na produtividade. Externalidades geradas pela erosão do solo nas áreas agrícolas Poluição da água - Solutos líquidos em suspensão - Agricultores - Assoreamento dos rios e represas; - Elevação dos custos de tratamento da água; - Eutrofização dos rios; - Redução da população de peixes; - Aumento nos custos de manutenção de usinas hidrelétricas. Regime hídrico Fonte-LANDERS(1996) - Redução na fase de infiltração do solo 42 - Agricultores - Redução na taxa de infiltração do solo; Aumento no volume das enchentes; - Redução nos caudais dos rios e rendimento de poços durante a estiagens; - Redução na evaporação do solo. - Os próprios agricultores. -Usinas hidrelétricas; - Pescadores; -População jusante. a -População a jusante. - Os próprios agricultores

43 5 O processo de erosão dos solos tem basicamente dois tipos de efeitos: internos e externos. Os efeitos internos estão associados com a perda da eficiência da produção agrícola associados com o processo erosivo. Nesse sentido, esses custos são absorvidos pelos próprios produtores rurais, aumentando assim seus custos de produção no médio e longo prazo. Já os efeitos externos são absorvidos por outros agentes econômicos que sofrem fundamentalmente com o processo de assoreamento dos recursos hídricos, sendo que estes custos não estão incluídos nos custos privados do produtor / degradador. 3.2 - Efeitos internos do processo de erosão dos solos Os custos internos do processo de erosão devem ser calculados utilizando-se as perdas de solo por cultura transformadas em perdas de nutrientes conforme a composição do solo. Considera-se que toda a perda de terra representa também correspondente perda de nutrientes. Tem-se a seguinte equação de determinação dos custos internos (MARQUES, 1998): Custos internos = Qn (Pn + Ca) + (Pp * Qp), onde: Qn = fertilizantes carreados pela erosão; Pn = preço dos fertilizantes; Ca = custo de aplicação dos fertilizantes Pp = preço da produção agrícola; Qp = redução da produtividade de longo prazo em virtude da erosão 2. A idéia básica é comparar os custos gerados pelo processo de erosão na utilização de duas tecnologias alternativas de plantio: plantio convencional utilizando técnicas de aração e gradeamento dos solos e o plantio direto que busca o não removimento dos solos e a formação de uma palhada visando aumentar a produtividade no longo prazo. Verifica-se na Tabela 2 que o plantio convencional gera uma erosão 300,12% superior ao plantio direto, indicando que esta tecnologia é muito mais sustentável no que diz respeito exclusivamente ao manejo dos solos. TABELA 2 Grupos de culturas, área ocupada e perdas de solo no município de Mineiros GO Produtos Área ocupada Erosão no plantio Erosão no plantio (ha)¹ convencional direto (ton./ano)² (ton./ano)² Soja 44.864 215.347,20 40.377,60 Milho 8.672 29.484,80 20.812,80 TOTAL 55.536 244.832,00 61.190,40 Fonte: ¹IBGE - Censo Agropecuário (1995/1996); ² Cálculos feitos a partir de SATURNINO e LANDERS (1997); o arraste de partículas na soja plantio convencional é de 4,8 ton./ano e no plantio direto 0,9 ton./ano; no milho os indicadores para o plantio convencional e o plantio são respectivamente 3,4 ton./ano e 2,4 ton./ano. Para se avaliar os efeitos do processo erosivo sobre a rentabilidade do produtor individual serão elaboradas duas hipóteses: 1) toda a produção de milho e soja no município de Mineiros GO é feita através do plantio convencional (tabela.3) e; 2) toda a produção de milho e soja é realizada pelo uso do plantio direto (tabela 4). Utilizando-se o Método Custo-Reposição verifica-se na tabela 3 que se todos os produtores de milho e soja do município de Mineiros GO utilizarem a tecnologia tradicional têm um custo anual com reposição de nutrientes de R$ 227.482,46, ou seja, um valor médio de R$ 4,10 por hectare. 2 Neste trabalho não são considerados a perda de produtividade no longo prazo com a erosão. Por hipótese admite-se que toda a perda de nutrientes pode ser reposta.

6 TABELA 3 Estimativa do valor econômico das perdas de solo no Plantio Convencional no município de Mineiros GO Nutrientes Concentração de nutrientes no solo (%)¹ Perdas de nutrientes (ton.) Fertilizantes Nitrogênio 0,096750 236,87 Uréia (45% N) Fósforo 0,002614 6,40 Superfosfato simples Potássio 0,010058 24,63 Cloreto de potássio Cálcio + 0,094872 232,28 Calcário Magnésio dolomítico Perdas do solo em ton. Kg. Fert./kg nutrientes¹ Perdas de fertilizante s (ton./ano) Preço dos fertilizantes (R$ ) Valor econômico das perdas em R$ / ano 2,22 525,85 388,00 204.029,04 5,56 35,58 263,00 9.537,54 1,66 4,08 220,00 897,60 2,63 610,90 21,31 13.018,28 244.832,00 - - - - - 227.482,46 Fonte Elaborado pelo próprio autor; ¹indicadores técnicos colhidos em Marques (1998). Por outro lado observa-se que, de acordo com a tabela 4, se todos os produtores do município utilizarem a tecnologia do plantio direto teriam um custo médio com reposição de nutrientes de R$ 1,06 por hectare, ou seja, um custo anual com reposição de nutrientes de R$ 58.949,48. TABELA 4 Estimativa do valor econômico das perdas de solo no Plantio Direto no município de Mineiros GO Nutrientes Concentração de nutrientes no solo (%) Perdas de nutrientes (ton.) Fertilizantes Nitrogênio 0,096750 59,20 Uréia (45% N) Fósforo 0,002614 1,60 Superfosfato simples Potássio 0,010058 6,47 Cloreto de potássio Cálcio + 0,094872 58,05 Calcário Magnésio dolomítico Perdas do solo em ton. Kg. Fert./kg nutrientes Perdas de fertilizante s (ton./ano) Preço dos fertilizantes (R$ ) Valor econômico das perdas em R$ / ano 2,22 131,42 388,00 50.992,51 5,56 8,90 263,00 2..340,70 1,66 10,74 220,00 2.362,84 2,63 152,67 21,31 3.253,43 61.190,40 - - - - - 58.949,48 Fonte Elaborado pelo próprio autor; ¹indicadores técnicos colhidos em Marques (1998). Em uma abordagem comparativa dos custos anuais de reposição com nutrientes, verifica-se uma redução de 74,15% com adoção da tecnologia conservacionista (plantio direto). Entretanto, do ponto de vista econômico, em uma perspectiva de maximização de lucros no curto prazo, os produtores rurais podem preferir a alternativa de ocupar outras áreas na sua propriedade sem fazer o custo de reposição de nutrientes ou mesmo trocar a tecnologia de plantio. Nesse sentido, pode ocorrer o desmatamento das reservas florestais legais e das matas ciliares para o uso como lavouras. 3.3 - Efeitos externos: os custos do assoreamento para os sistemas de captação de água Como já foi destacado, existem vários efeitos externos associados ao processo de erosão, sendo o mais significativo o assoreamento dos recursos hídricos. O processo de assoreamento reduz a disposição de recursos hídricos para outros agentes econômicos que compartilham do mesmo recurso ambiental. Dessa forma o processo de erosão causa indiretamente, por exemplo, o aumento no custo de geração de energia elétrica, o aumento no custo da captação de água para o abastecimento urbano e pode reduzir a disposição de recursos hídricos para regiões que necessitam de projetos de irrigação. Nesse artigo a externalidade escolhida para a valoração econômica é constituído pelos efeitos econômicos do processo de erosão sobre o custo de captação de água no município de Mineiros GO. A função física para a estimativa do total de sedimentos retidos nos córregos, rios e

7 reservatórios é a seguinte (CHAVES ET ALII, 1995) 3 : R = P. E. n. A. p Onde: R volume de retenção de sedimentos nos recursos hídricos P valor médio de perda do solo E taxa de entrega de sedimentos n eficiência média de retenção dos sedimentos nos recursos hídricos A área estimada pela ocupação de lavouras p volume do solo carreado para os recursos hídricos Ainda em uma perspectiva comparativa, nas tabelas 5 e 6 têm-se para as culturas do milho e da soja tem-se os seguintes indicadores para o plantio convencional e o plantio direto no município de Mineiros GO: TABELA 5 Estimativa do custo social do assoreamento dos recursos hídricos com a utilização da tecnologia de plantio convencional no sistema de captação de água no município de Mineiros GO Cultura R P E (%) p (%) A (ha) P (%) (ton./ano) (ton./ano) Soja 10.767,36 4,8 50% 50% 44.864 20% Milho 1.474,24 3,4 50% 50% 8.672 20% TOTAL 12.241,60 - - - - - Fonte Elaborado pelo próprio autor; ¹indicadores técnicos colhidos em Marques (1998). TABELA 6 Estimativa do custo social do assoreamento dos recursos hídricos com a utilização da tecnologia de plantio direto no sistema de captação de água no município de Mineiros GO Cultura R P (ton./ano) E (%) p (%) A (ha) P (%) (ton./ano) Soja 2.018,88 0,9 50% 50% 44.864 20% Milho 1.040,64 2,4 50% 50% 8.672 20% TOTAL 3.059,52 Fonte Elaborado pelo próprio autor; ¹indicadores técnicos colhidos em Marques (1998). Considerando a hipótese de que toda o plantio de soja e milho é feito pelo método convencional (grade niveladora) o volume de retenção total estimada no município de Mineiros GO é de 12.241,60 ton./ano. Medindo as externalidades causadas pelo processo de assoreamento sobre o sistema de captação de água, estima-se que o custo eventual de remoção do sedimento eqüivale a R$ 7,33 4. Desta forma pode-se calcular os custos sociais do processo de erosão / assoreamento no município de Mineiros - GO sobre o sistema de captação de água em R$ 89.730,93 /ano. Considerando a hipótese de que toda o plantio de soja e milho é feito pelo plantio direto o volume de retenção total estimada no município de Mineiros GO é de 3.059,52 ton./ano. Pode-se estimar os custos sociais do processo de erosão / assoreamento no município de Mineiros - GO sobre o sistema de captação de água em R$ 22.426,28 / ano. Levando em conta a hipótese de que a Companhia Municipal de Abastecimento de Mineiros queira manter a mesma disponibilidade de recursos hídricos, verifica-se o fato que a adoção da tecnologia do plantio direto por parte dos produtores de soja e milho geraria uma economia anual para a empresa de R$ 67.304,65 que corresponde uma redução de 75% do custo anterior de remoção dos sedimentos. Tendo em vista que esta estimativa esteja correta, faz-se uma reflexão dentro do 3 Citado por LANDERS, J. N.. O plantio direto na agricultura : o caso do Cerrado. In LOPES, I V; BASTOS FILHO, G S; BILLER, BILLER, D. e BALE, M,. In Gestão ambiental no Brasil experiência e sucesso.. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1994, p. 8-9. 4 Valor estimado pela SABESP em U$ 3,90 para a remoção de uma tonelada de sedimentos do fundo dos rios.

8 raciocínio dos custos marginais de redução da poluição e da redução dos danos marginais, será que não seria compensador para as empresas de captação de água subsidiar (instrumento de gestão econômica do meio ambiente para obter a degradação ótima ) um programa de gestão das microbacias no seu curso de captação de água, visando obter práticas sustentáveis por parte dos produtores rurais até no valor de R$ 67.304,64, que a mesma estaria obtendo um benefício marginal com a redução da sedimentação dos recursos hídricos. A partir do somatório dos efeitos internos e externos do processo erosivo pode-se estimar que os danos ambientais causados pelo processo erosivo com a utilização do plantio convencional são de R$ 317.213,39 / ano, enquanto que se os produtores utilizarem a tecnologia do plantio direto estes mesmos danos serão de R$ 81.375,76. Entretanto, os impactos ambientais derivados ao processo de erosão dos solos não estão relacionados apenas aos seus efeitos sobre o sistema de captação de água municipal e nem somente pelas perdas de nutriente dos solos. Por essa razão, pode-se inferir que o valor total dos danos ambientais, incluindo valores de opção, quase opção e de existência dos recursos ambientais, são bastante superiores. Também a diferença monetária entre a redução dos danos ambientais com a adoção da tecnologia do plantio direto também são bem mais elevadas. 3,4 - A análise custo benefício econômica do plantio convencional e direto A seguir são detalhados os custos de produção de duas importantes culturas dos Cerrados brasileiros milho e soja no plantio convencional e no plantio direto. 5 No caso da soja, conforme a tabela 7, o plantio direto é cerca de 0,47% mais caro do que o plantio convencional, demonstrando uma pequena vantagem de custos da tecnologia convencional. O plantio direto com relação ao plantio convencional tem um maior custo com insumos (9,48%), principalmente com o uso de dessecantes, e custos inferiores (- 35,84%) com relação ao preparo do solo. TABELA 7 Custo médio de produção de soja no plantio convencional e no plantio direto no município de Mineiros GO na safra de 1998/99 6. Itens Plantio Direto (R$ / ha ) Plantio Convencional (R$ / ha ) 1. Insumos 363,71 332,19 Fertilizante c/ micros 119,00 119,00 Inoculante 0,40 0,40 Micronutriente / foliar (Zn + Mn + B) 5,00 5,00 Sementes 38,00 38,00 Tratamento c/ sementes 2,33 2,33 Herbicidas (incluindo dessecantes) 105,02 75,90 Inseticidas 21,60 21,60 Fungicida 14,00 14,00 Aplicação de herbicidas 3,60 1,20 Aplicação de inseticidas 8,78 8,78 Aplicação aérea de fungicida 10,00 10,00 Calcário / há / ano 35,98 35,98 2. Operações hora /maq. 53,32 83,10 Subsolagem - 22,50 Manutenção terraços - 4,10 Gradagem - 17,60 Roçagem 9,50 - Plantio 17,88 12,50 Colheita 21,14 21,14 Transporte 5,00 5,00 TOTAL 417,23 415,29 Fonte ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE GRÃOS MINEIROS GO (1999). Dados trabalhados pelo autor. Indicadores técnicos colhidos em LANDERS (1994). 5 Os dados foram colhidos no município de Mineiros GO. 6 Não se considerou o custo da construção rural. Propriedade em sistema de produção em plantio direto em média a três anos.

9 No caso do milho (Tabela 8), o plantio direto é cerca de (-5,9%) menor do que o plantio convencional, mostrando neste caso a maior eficiência econômica da tecnologia sustentável. Nesta cultura o plantio direto tem custos 3,62% superiores nos insumos e são inferiores em (-43,46%) no preparo do solo com relação ao plantio convencional, mostrando uma maior eficiência econômica no resultado geral. TABELA 8 Custo médio de produção do milho no plantio convencional e no plantio direto no município de Mineiros GO na safra de 1998/99. Itens Plantio Direto 7 Plantio Convencional (R$ / ha ) (R$ / ha ) 1. Insumos 402,63 388,54 Fertilizante c/ micros 122,00 122,00 Fertilizante cobertura 46,50 46,50 Micronutriente / foliar (Zn + Mn + B) 5,00 5,00 Sementes 65,00 65,00 Tratamento c/ sementes 8,95 8,95 Herbicidas 59,89 44,00 Inseticidas 16,30 16,30 Aplicação de herbicidas 3,60 1,20 Aplicação de inseticidas 4,39 4,39 Adubação de cobertura - 4,20 Recepção e secagem 36,00 36,00 Calcário / ha / ano 35,00 35,00 2. Operações hora /maq. 55,88 98,85 Subsolagem - 22,50 Manutenção terraços - 4,09 Gradagem - 22,26 Roçagem (Capina) 0,50 - Plantio 17,88 12,50 Colheita 27,50 27,50 Transporte 10,00 10,00 TOTAL 458,51 487,39 Fonte ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE GRÃOS MINEIROS GO (1999). Dados trabalhados pelo autor. Indicadores técnicos colhidos em LANDERS (1994). Na análise custo-benefício da soja pode ser verificada a eficiência econômica das tecnologias de plantio em análise. As duas tecnologias plantio direto e plantio convencional - são viáveis economicamente, pois o B / C é maior que 1 nas duas alternativas, satisfazendo a principal condição de viabilidade econômica. Considerando a taxa interna de retorno anual descontada (TIRdescano.), verifica-se que a TIRdescano anual do plantio direto é de 3,84% enquanto no plantio convencional é de 3,91% (Tabela 9). 7 Propriedade em sistema de produção em plantio direto em média a três anos.

10 TABELA 9 Análise custo-benefício da produção de soja/ha/ano 8 ANOS 9 PLANTIO DIRETO PLANTIO CONVENCIONAL CUSTOS² BENEFÍCIOS CUSTOS BENEFÍCIOS 0-188,60-204,20 1 434,60 566,67 415,29 566,67 2 434,60 566,67 415,29 566,67 3 417,23 566,67 415,29 566,67 4 417,23 566,67 415,29 566,67 5 417,23 566,67 415,29 566,67 6 417,23 566,67 415,29 566,67 7 417,23 566,67 415,29 566,67 8 417,23 566,67 415,29 566,67 9 417,23 566,67 415,29 566,67 10 417,23 566,67 415,29 566,67 TOTAL DO FLUXO DE 4.207,04 5.666,70 4.152,90 5.666,70 CAIXA TOTAL DO FLUXO DE 1869,26 2502,07 1833,66 2502,07 CAIXA DESCONTADO¹ BENEFÍCIO CUSTO (B/C) 1,33853 1,36452 VALOR PRESENTE 444,21 464,20 LÍQUIDO (VPL) TIR DESCONTADA 10 45,80% 46,70% ANOS (TIRdesc10anos) TIR ANUAL DESCONTADA 3,84% 3,91% (TIRdescano) Fonte Elaborado pelo autor. ¹Total dos fluxos de caixa descontado a uma taxa de 18,5% (OVER-SELIC julho / 2002) ² a partir do 3 ano há queda de 2,6% nos custos do plantio direto (LANDERS, 1996). A alternativa tecnológica mais eficiente do ponto de vista econômico é o plantio convencional, entretanto com uma grande proximidade com o plantio direto em termos de eficiência econômica. Entretanto, em uma situação de longo prazo o processo de erosão pode afetar substancialmente as áreas cultivadas com a tecnologia convencional de aragem e gradeação simples, podendo reduzir os níveis futuros de produtividade e até mesmo, em situações mais extremas, inviabilizar as áreas para o cultivo. Na análise custo-benefício do milho fica demonstrado que as duas tecnologias são viáveis economicamente, pois o B/C é maior que 1 nas duas alternativas, satisfazendo a principal condição de viabilidade econômica da tecnologia. Verifica-se que a TIRdesc anual do plantio direto é de 2,49% enquanto no plantio convencional é de 1,38%. (Tabela 10). 8 Os custos dos anos 1 e 2 para o plantio direto foram estimados pelo autor com base em LANDERS (1994). Os benefícios privados é a receita total por hectare, considerando o preço da saca de soja 60 kg é de R$ 13,60, e a produtividade média considerada no plantio direto no plantio convencional é de (kg/ha) 2.500. (Estes dados foram cruzados com o Censo Agrícola do IBGE - 1995). 9 Foram escolhidos 10 anos para análise no fluxo de caixa, pois é tempo suficiente para a tecnologia conservacionista apresentar rendimentos crescentes de escala em virtude da utilização da palhada no plantio direto.

11 TABELA 10 Análise custo-benefício da produção de milho/ha/ano 10 ANOS PLANTIO DIRETO PLANTIO CONVENCIONAL CUSTOS² BENEFÍCIOS CUSTOS² BENEFÍCIOS 0-188,60-204,20 1 470,77 564,34 487,39 564,34 2 470,77 564,34 487,39 564,34 3 458,51 564,34 487,39 564,34 4 458,51 564,34 487,39 564,34 5 458,51 564,34 487,39 564,34 6 458,51 564,34 487,39 564,34 7 458,51 564,34 487,39 564,34 8 458,51 564,34 487,39 564,34 9 458,51 564,34 487,39 564,34 10 458,51 564,34 487,39 564,34 TOTAL DO FLUXO DE 4.609,62 5.643,40 4.873,90 5.643,40 CAIXA TOTAL DO FLUXO DE 2043,57 2491,78 2152,01 2491,78 CAIXA DESCONTADO¹ BENEFÍCIO CUSTO (B/C) 1,21932 1,15788 VALOR PRESENTE 259,60 135,56 LÍQUIDO (VPL) TIR DESCONTADA 10 27,90% 14,71% ANOS (TIRdesc10anos) TIR ANUAL DESCONTADA 2,49% 1,38% (TIRdesc) Fonte Elaborado pelo autor. ¹Total dos fluxos de caixa descontado a uma taxa de 18,5% (OVER-SELIC julho / 2002) ² a partir do 3 ano há queda de 2,6% nos custos do plantio direto (LANDERS, 1996). A alternativa tecnológica mais eficiente do ponto de vista econômico é o plantio direto, sendo que o produtor rural com o conhecimento da aplicação do sistema vai escolher esta tecnologia para o plantio. Entretanto, ressalva-se as dificuldades de manejo como um empecilho para o desenvolvimento desta tecnologia. No município de Mineiros Go, os produtores locais estão com muitas dificuldades na prevenção de pragas e doenças, que segundo os mesmos são mais difíceis de controlar com a formação da palhada no plantio direto. Muitos produtores vêm adotando práticas mistas de plantio (direto e convencional), visando a se precaver das vantagens e desvantagens dos dois métodos de cultivo. A principal vantagem do plantio direto é a redução do processo erosivo. Entretanto, segundo os agricultores, no plantio convencional o combate a doenças e pragas e o manejo são mais simples e eficazes. Uma outra constatação que pode ser feita através da análise custo-benefício em particular da TIRdescano - é que, em termos comparativos, a produção da soja é muito mais rentável do ponto de vista econômico do que a produção de milho. Um produtor de soja utilizando a técnica de plantio direto tem uma TIRdescano de 3,84%, enquanto o produtor de 10 Os custos dos anos 1 e 2 para o plantio direto foram estimados pelo autor com base em LANDERS (1994). Os benefícios privados é a receita total por hectare, considerando o preço da saca de milho (60 kg) é de R$ 7,18, e a produtividade média estimada do plantio direto e do plantio convencional é de (kg/ha) 4.716 - Censo Agropecuário Brasileiro (IBGE - 1995).

12 milho, utilizando a mesma tecnologia, tem uma TIRdescano de 1,38%. Isso explica em grande parte o aumento da produção da soja na região dos Cerrados e a queda da produção de milho durante a década de 90. Segundo a FAEG (1999) 11, no estado de Goiás, a produção de soja no início da década era de 1.661.260 toneladas e na safra de 1997/98 passou para 3.393.240 toneladas, apresentando um crescimento real de 104,25%. A produção de milho no início da década era de 2.886.410 e na safra 1997/98 passou para 2.527.662, houve uma queda de ( 12,43%). Na tabela 11 é feita uma abordagem da evolução histórica dos custos privados nas décadas de 80 e 90 das técnicas de manejo dos solos (plantio convencional e direto) nos Cerrados brasileiros. Destaca-se o fato que a tecnologia do plantio direto está se tornando cada vez mais eficiente do ponto de vista econômico se comparada com o plantio convencional. TABELA 11 - Avaliação comparativa dos custos relativos do plantio direto e convencional ITEM Plantio Convencional Soja Milho Plantio Direto Soja Milho CUNHA (1989) 100,00 100,00 LANDERS (1994) 100,00 100,00 RODRIGUES (1999) 100,00 100,00 106,00 105,00 102,43 98,01 100,47 94,07 Fonte: CUNHA (1989), LANDERS (1994), ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE GRÃOS MINEIROS GO (1999) - dados trabalhados pelo autor. No final da década de 80 o plantio direto era considerado praticamente inviável economicamente para os Cerrados, a não ser em uma situação de muito longo prazo (CUNHA, 1989). Este autor demonstra que no final da década de 1980 o plantio direto tinha custos superiores ao plantio convencional. No cultivo da soja e do milho o plantio direto apresentava custos 6% e 5% superiores ao plantio convencional, respectivamente. Já na avaliação de LANDERS (1996) o plantio direto demonstrava custos menores que o plantio convencional no caso do milho em ( 1,99%) e na soja a tecnologia conservacionista apresenta um custo superior em 2,43%, demonstrando uma grande proximidade nos custos privados entre o plantio direto e convencional no caso das duas culturas. RODRIGUES (1999) reforça a tendência do aumento da eficiência econômica do plantio direto com relação ao plantio convencional. Há uma grande proximidade nos custos de produção da soja nas duas técnicas de manejo dos solos, sendo que no plantio direto os custos são superiores ao plantio convencional em apenas 0,47%, enquanto no cultivo do milho a tecnologia conservacionista apresenta custos ( 5,93%) menores do que a tecnologia convencional. Em suma, ao longo da década de 90 foi constatada uma evolução da eficiência econômica do plantio direto com ao convencional. Durante este período o plantio direto foi tendo seus custos reduzidos, principalmente, pela redução do preço dos herbicidas dessecantes 12. Entretanto, mesmo com a evolução da eficiência econômica do plantio direto, os produtores rurais têm algumas restrições à utilização desta tecnologia: 1) o surgimento de pragas e doenças que requerem um nível diferente de manejo pela existência da palhada; 2) falta de preparo adequado para o manejo de herbicidas e 3) a dependência da produção agrícola com relação a grandes empresas multinacionais produtoras de herbicidas 11 FAEG. Produção e custo de produção do milho e da soja. Goiânia: 1999. (mimeo) 12 Por exemplo, o litro do Rondoup (dessecante) em 1994 era US$ 8,90 e em 1999 foi orçado em US$ 3,60.

13 dessecantes. 3.5 - A análise custo benefício social do plantio convencional e do plantio direto No caso do milho há uma vantagem de custos para a tecnologia do plantio direto, enquanto no caso da soja há um pequena vantagem para a tecnologia convencional (arado + aiveca). Resta saber quais são as externalidades ambientais das duas tecnologias, para processar a análise custo-benefício agregando os danos ambientais e os benefícios advindos da redução da degradação. Ressalta-se que principal conseqüência do manejo inadequado dos solos é o processo de erosão / sedimentação, por isso este será o impacto ambiental considerado na análise feita a seguir. Para realizar a análise custo benefício social do plantio convencional e direto, é necessário calcular o custo social médio, que agrega tanto o custo privado de produção quanto os custos ambientais gerados pelo processo erosivo. O custo social é estimado a partir do somatório dos custos de produção (privados) e dos efeitos do processo de erosão / sedimentação sobre a reposição dos nutrientes dos solos e dos efeitos da sedimentação dos recursos hídricos no sistema de captação de água (ambientais). No caso da soja, a utilização do plantio convencional gera um custo social de R$ 422,53 por hectare / ano, sendo R$ 415,29 de custo privado e R$ 7,24 de custo ambiental (R$ 4,5 para a reposição de nutrientes do solo erodido e R$ 1,72 para cobrir custos com a remoção dos sedimentos dos recursos hídricos). Já no plantio direto, o cultivo da soja gera um custo social de R$ 418,59 por hectare / ano, sendo R$ 417,23 de custo privado e R$ 1,36 de custo ambiental (R$ 0,61 para a reposição de nutrientes e R$ 0,69 para a remoção de sedimentos dos recursos hídricos) (Tabela 12). No caso do milho, a utilização do plantio convencional gera um custo social de R$ 487,39 por hectare / ano, sendo R$ 487,39 de custo privado e R$ 5,13 de custo ambiental (R$ 3,16 para a reposição de nutrientes do solo erodido e R$ 1,25 para cobrir custos com a remoção dos sedimentos dos recursos hídricos). Já no plantio direto, o cultivo de milho gera um custo social de R$ 458,51 por hectare / ano, sendo R$ 458,51 de custo privado e R$ 3,62 de custo ambiental (R$ 2,30 para a reposição de nutrientes e R$ 0,32 para a remoção de sedimentos dos recursos hídricos) (Tabela 12). TABELA 12 - Estimativa do custo social médio das tecnologias de plantio convencional e direto Áreas de plantio Custo de produção médio (R$ / ha) Custo ambiental médio (R$ / ha) Custo social médio (R$ / ha) Plantio convencional Soja 415,29 7,24 422,53 Milho 487,39 5,13 492,52 Plantio direto Soja 417,23 1,36 418,59 Milho 458,51 3,62 462,13 Fonte Elaboração própria. Na Tabela 12 verifica-se que no caso da soja, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em (-81,22%) e o custo social em (0,93%). Já no caso do milho, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em (-29,43%) e o custo social em (-6,17%). Após os cálculos dos custos sociais é possível realizar análise custo-benefício social, que incorpora, simultaneamente, os custos privados e os custos ambientais nos cultivos da soja e do milho utilizando plantio direto e convencional. No caso da soja, a adoção do plantio direto gera um valor presente líquido social 1,38% e uma taxa interna de retorno

14 descontada social anual 0,29% maiores do que no caso do plantio convencional (Tabela 13). TABELA 13 Análise dos custos sociais do processo erosivo na produção de soja/ha/ano ANOS PLANTIO DIRETO PLANTIO CONVENCIONAL CUSTOS² BENEFÍCIOS CUSTOS² BENEFÍCIOS 0-188,60-204,20 1 435,96 566,67 422,53 566,67 2 435,96 566,67 422,53 566,67 3 418,59 566,67 422,53 566,67 4 418,59 566,67 422,53 566,67 5 418,59 566,67 422,53 566,67 6 418,59 566,67 422,53 566,67 7 418,59 566,67 422,53 566,67 8 418,59 566,67 422,53 566,67 9 418,59 566,67 422,53 566,67 10 418,59 566,67 422,53 566,67 TOTAL DO FLUXO 4.220,64 5.666,70 4.225,30 5.666,70 TOTAL DO FLUXO 1875,26 2502,07 1865,63 2502,07 DESCONTADO¹ B/C SOCIAL 1,33425 1,34114 VPL SOCIAL 438,20 432,23 TIR DESCONTADA 45,20% 43,66% SOCIAL 10 ANOS (TIRdescsoc10anos) TIR DESCONTADA 3,80% 3,69% SOCIAL ANUAL (TIRdescsocano) Fonte Elaboração própria. ¹Total dos fluxos de caixa descontado a uma taxa de 18,5% (OVER-SELIC julho / 2002) ² a partir do 3 ano há queda de 2,6% nos custos do plantio direto (LANDERS, 1996). Olhando apenas os custos e benefícios privados na produção da soja, os indicadores econômicos apontaram para a vantagem da adoção no plantio convencional. Entretanto, com a soma dos custos ambientais envolvidos nas duas tecnologias de plantio, a situação inverte-se. Ficando o plantio direto com melhores indicadores de viabilidade. Na produção da soja quais variáveis, ou condições específicas, implicam nessa alteração das condições de viabilidade econômica e ambiental destas tecnologias de plantio? Observa-se que enquanto os custos de produção da soja são superiores no plantio direto em 0,47%, mas ao adicionar-se os custos ambientais de reposição nutrientes do solo o plantio direto passa a ter um custo (-0,37%) menor (Gráfico 1). Este indicador demonstra que na medida que as terras aptas para atividade agrícola são utilizadas na fazenda, o produtor sente-se impelido a adotar práticas mais sustentáveis de cultivo (plantio direto), pois o seu custo com erosão é menor. Isso explica, em parte, a grande aceitação do plantio direto em áreas de Cerrado, com uma adesão cada vez maior de produtores.

15 GRÁFICO 1 - SOJA: COMPARAÇÃO DOS CUSTOS SOCIAIS NO PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL 423,00 421,00 2,62 419,00 417,00 0,62 1,10 4,62 R$ / ha 415,00 413,00 411,00 409,00 417,23 415,29 407,00 405,00 Plantio direto Plantio convencional Custo de produção Custo reposição de nutrientes do solo Custo assoreamento Fonte Elaboração própria. No caso do milho, a adoção do plantio direto gera um valor presente líquido social 299,68% e uma taxa interna de retorno descontada social anual 1,19% maiores do que no caso do plantio convencional (Tabela 14). TABELA 14 Análise dos custos sociais do processo erosivo na produção de milho/ha/ano ANOS PLANTIO DIRETO PLANTIO CONVENCIONAL CUSTOS² BENEFÍCIOS CUSTOS² BENEFÍCIOS 0-188,60-204,20 1 471,64 564,34 418,56 564,34 2 471,64 564,34 418,56 564,34 3 459,38 564,34 418,56 564,34 4 459,38 564,34 418,56 564,34 5 459,38 564,34 418,56 564,34 6 459,38 564,34 418,56 564,34 7 459,38 564,34 418,56 564,34 8 459,38 564,34 418,56 564,34 9 459,38 564,34 418,56 564,34 10 459,38 564,34 418,56 564,34 TOTAL DO FLUXO 4.618,32 5.643,40 4.185,60 5.643,40 TOTAL DO FLUXO 2047,42 2491,78 1848,10 2491,78 DESCONTADO¹ B/C 1,31069 1,14582 VPL 451,28 112,91 TIR DESCONTADA 10 26,27% 12,37% ANOS (TIRdesc10anos) TIR ANUAL 2,36% 1,17% Fonte Elaboração própria. ¹Total dos fluxos de caixa descontado a uma taxa de 18,5% (OVER-SELIC julho / 2002) ² a partir do 3 ano há queda de 2,6% nos custos do plantio direto (LANDERS, 1996).

16 GRÁFICO 2 - MILHO: COMPARAÇÃO DOS CUSTOS SOCIAIS DO PLANTIO CONVENCIONAL E DIRETO 500,00 490,00 5,13 480,00 R$ / ha 470,00 460,00 3,62 487,39 450,00 458,51 440,00 Plantio direto Custo de produção Custo Ambiental Plantio convencional Fonte Elaboração própria. No caso do milho, o plantio direto tem uma clara vantagem sobre o plantio convencional, tanto em custos privados e sociais. Com a adoção do plantio direto tem-se uma redução de (-5,93%) no custo de produção, (-29,43%) no custo ambiental e (-6,37%) no custo social (Gráfico 2). Sintetizando, no caso da soja a adoção do plantio direto eleva o custo de produção em 0,47%, mas com a adição do custo de reposição de nutrientes do solo este custo passa a ser (-0,37%) menor do que no plantio convencional. Ainda, com a posterior adição do custo de remoção de sedimentos de recursos hídricos, o custo social passa a ser (-0,93%) menor do que no plantio convencional. Avaliando, especificamente, os custos ambientais (reposição de solos e assoreamento de recursos hídricos), no cultivo da soja, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em (-80,28%) (Gráfico 1). No caso do milho, a adoção do plantio direto reduz o custo de produção em (-5,92%), custo ambiental em (- 29,43%) e o custo social em (-6,17%) (Gráfico 2). Assim, a hipótese central do trabalho que o plantio direto causa uma elevação dos custos de produção e leva a uma redução custos ambientais é corroborada para o cultivo da soja e rejeitada para o cultivo do milho, uma vez que neste caso também os custos de produção privados são menores no plantio direto e os custos ambientais inferiores, devido a redução do processo de erosão dos solos e assoreamento dos recursos hídricos.

17 Particularmente, considerando a arraste de partículas assoreando os recursos hídricos (rios, córregos e reservatórios) verifica-se que a adoção do plantio direto reduziria os custos das atividades econômicas e dos empreendimentos que dependessem diretamente da captação da água, como, por exemplo, empresas de saneamento, usinas hidrelétricas e, até mesmo, outros produtores rurais que estão localizados ao longo da microbacia. Outros benefícios existem, em nível de produtor, porém nem sempre são imediatamente percebidos ou economicamente valorados, como o aumento da capacidade de retenção da água no solo, bem como a redução da necessidade de herbicidas nas safras seguintes. A conversão ao plantio direto, por exemplo, reduz o tempo de preparo do solo e, com isso, o tempo gasto pelo gerente / produtor na condução da operação. O que se pode concluir em termos de análise custo benefício que além da tecnologia do plantio direto ser mais eficiente do ponto de vista econômico no caso do milho tem um custo de produção relativamente superior no caso da soja. Entretanto, o plantio direto gera um benefício social líquido na medida que reduz o impacto da erosão sobre a sedimentação dos recursos hídricos reduzindo as externalidades ambientais negativas. Isto afeta positivamente o bem-estar dos outros agentes econômicos que dependem do mesmo recurso ambiental, podendo justificar a intervenção do poder público, através de instrumentos de gestão econômica do meio ambiente - para estimular a adoção da tecnologia tida como mais conservacionista. No caso do milho, sendo a tecnologia do plantio direto mais eficiente economicamente do que o plantio convencional não há razão para o poder público elaborar instrumentos de gestão econômica do meio ambiente (subsídios) para estimular a adoção da tecnologia considerada conservacionista, pois neste caso apenas os mecanismos de mercado são suficientes. Entretanto, recomenda-se como sendo responsabilidade do poder público a promoção de programas de educação ambiental para a disseminação da tecnologia agrícola sustentável. No cultura do milho, com a utilização do plantio direto, houve a feliz coincidência de que a tecnologia menos agressiva ao meio ambiente também é a mais eficiente do ponto de vista econômico. Entretanto isso só foi possível porque os produtores rurais começaram a sentir os efeitos da erosão sobre seus níveis de lucratividade e houve um acentuado investimento em pesquisa agropecuária por parte do governo e entidades de classe para o aperfeiçoamento desta técnica de plantio. No caso da soja, a tecnologia do plantio convencional apresentou custos de produção menores do que o plantio direto, entretanto com a consideração dos custos com reposição de nutrientes, o plantio direto já passa a apresentar vantagens econômicas. Também, neste caso, é imprescindível que o poder público juntamente com as organizações dos produtores rurais, disseminem o plantio direto para ampliar sua utilização, levando-se em conta a necessidade de treinamento dos produtores rurais para o correto manejo dos herbicidas a fim de evitar acidentes de trabalho e o agravamento dos impactos ambientais desta tecnologia. Outro papel fundamental a ser desempenhado pelo poder público, é fomento a pesquisas agronômicas que visem a aperfeiçoar o plantio direto, principalmente na redução do uso de herbicidas no seu manejo, reduzindo assim possíveis contaminações de cursos de água. 4) Considerações Finais O plantio direto é uma tecnologia em plena expansão nos Cerrados brasileiros, atualmente nos Cerrados cerca de 4.000.000 de hectares são cultivados em neste regime de plantio. Nos últimos anos, o plantio direto vem tendo grandes evoluções em termos de eficiência econômica através do esforço do institutos de pesquisa do governo, de grandes empresas multinacionais à montante e das associações dos produtores, onde os herbicidas dessecantes vem tendo seus preços reduzidos e as técnicas de manejo estão sendo difundidas em larga escala. Em termos ambientais a técnica do plantio direto apresenta

18 várias vantagens, principalmente, associadas com a redução do processo de erosão dos solos e assoreamento dos recursos hídricos. No caso da soja a adoção do plantio direto eleva o custo de produção em 0,47%, mas com a adição do custo de reposição de nutrientes do solo este custo passa a ser (-0,37%) menor do que no plantio convencional. Isso comprova que em uma situação de longo prazo o plantio direto já uma alternativa econômica mais atraente do que o plantio convencional, na medida em que áreas vão sendo praticamente inutilizadas para a exploração econômica em propriedades que utilizam métodos convencionais de cultivo. Ainda, com a posterior adição do custo de remoção de sedimentos de recursos hídricos, o custo social passa a ser (- 0,93%) menor do que no plantio convencional. Ademais, foi verificada uma redução de (- 81,22%) no custo ambiental com a adoção do plantio direto, ficando assim demonstrado a maior sustentabilidade da tecnologia conservacionista. No cultivo do milho, os custos de produção do plantio direto são (-5,92%) menores do que os referentes ao plantio convencional, demostrando a maior eficiência econômica da tecnologia sustentável. O plantio direto tem custos 3,62% superiores nos insumos e são inferiores em (-43,44%) no preparo do solo com relação ao plantio convencional, mostrando uma maior eficiência econômica no resultado geral. Ademais, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em (-29,43%) e o custo social em (-6,17%), também ficando assim demonstrado a maior sustentabilidade da tecnologia conservacionista.. 5) Referências Bibliográficas AFFIN,O,A.D.; ZINN,Y.L. Biodiversidade e produção sustentável de alimentos e fibras nos Cerrados. In: PEREIRA, R.C.; NASSER,L.C.B. VIII Simpósio sobre o Cerrado. Brasília:1996. p.28-35. APG-Mineiros. Custo médio de produção do milho e da soja no plantio convencional e plantio direto. Mineiros: 1999 (mimeo) BELLIA, Vitor. Introdução a economia do meio-ambiente. Brasília: IBAMA, 1996. p. 103-106. CAMPANHOLA,C.L.; Alfredo J.; RODRIGUES, G.S. Agricultura e impacto ambiental. I Simpósio sobre os Cerrados do Meio-norte. Teresina, 09, a 12 dez., 1997 (Embrapa),159-168. CARVALHO, L C P. Teoria da firma: a produção e a firma. In: PINHO, D B & VASCONCELLOS M A S. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 1998 p. 143-180. CHAVES,H.M.L. Efeitos do plantio direto sobre o meio ambiente. In: SATURNINO,H.M.;LANDERS,J.N. O meio ambiente e o plantio direto. Goiânia: 1997. p.57-66. COLOZZI NETO, F A. Solo sob plantio direto. Londrina: EMBRAPA, 1997. 235p. CUNHA, A. S. (coord.) Uma Avaliação da Sustentabilidade da Agricultura nos Cerrados. Relatórios de Pesquisa, Brasília. IPEA, fev. Ì994. 256 p. CUNHA,G. Plantio direto. 39.ed. São Paulo: IEA, l997. 28p. DAROLT, M.R. Plantio direto: pequenas propriedades sustentáveis. Londrina: IAPAR, 1998. 255p. EATON, B. C. e EATON, D. F. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999. 606 p. ERVIN C. e ERVIN D., 1982. Factors affecting the use of soil conservation practices: Hypotheses, evidence and policy implications. Lands Economics, Vol 58, NE pp. 277-292.

19 FAEG. Produção e custo de produção do milho e da soja. Goiânia: 1999. (mimeo) FIELD, Barry C. Economía Ambiental Uma Introduccíon. Colômbia, McGrawHill, 1995. 587 p. HIRCHFELD, H. Engenharia econômica e análise de custos. São Paulo: Atlas, 1989. p. 151-164. LANDERS, J.N.; TEIXEIRA, S,M.;MILHOMEN, A. Possíveis impactos técnica de plantio direto sobre a sustentabilidade da produção de grãos nos Cerrados In: 32º Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. 1994, p.199-813. LANDERS,J.N. O plantio direto na agricultura: o caso do Cerrado. In: LOPES, Ignez V.; FILHO, Guilherine S.B.; BTLLER, Dan; BALE, Malcolm. Gestão Ambiental no Brasil. Rio de Janeiro, 1996, p.4-24. LUTZ, E., PAGIOLA, S e REICH, C. The costs and benefits of soil conservacion: the farmers viewpoint. In: The World Bank Research Observer, vol. 9, nº 2 (july, 1994), p. 273-95. MARQUES, João Fernando. Custos da erosão do solo em razão dos efeitos internos e externos à área da produção agrícola. In: Revista de Economia e Sociologia Rural, vol. 36, nº 1, jan. / mar. Brasília: SOBER, 1998. MCCONNELL K., 1983. An economic model of soil conservation. In: American Journal of Agricultural Economics, Vol. NE. pp. 83-89. MUELLER,C.C. Centro-Oeste: Evolução, Situação Atual e Perspectivas de Desenvolvimento Sustentável. In: VELLOSO,J. R. (org.). Fórum Nacional como Evitar uma Nova "Década Perdida" A Ecologia e o Novo Padrão de Desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro, 1991, p.88-125.. De grão em grão o Cerrado perde o espaço. Brasília: WWF, 2001. MUZILLI, O. Atualização em plantio direto. In: FRANCIELI, A L.; VIDAL,P. Plantio direto no Brasil. Campinas: CARGILL, 1985. p. 3-53. NOGUEIRA, Jorge M. e Marcelino A. A. de MEDEIROS. "Quanto vale aquilo que não tem valor? Valor de existência, economia e meio ambiente". XXV Encontro Brasileiro de Economia (ANPEC). Recife, dezembro, 1997, 20p. OLIVEIRA, R G. Economia do meio ambiente. In: PINHO, D B & VASCONCELLOS M A S. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 1998. PAGIOLA S., 1993. Soil conservation and the sustainability of agricultural production. Dissertation submitted to the Food Research Institute and the Committee on Graduate Studies of Sanford University, in partial fulfillment of the requirements for degree of Doctor of Philosophy. PYNDICK, Robert e RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo, Makron Books, 1994. 968 p. REGO,P.G. Plantio direto na pequena propriedade. Encontro Latino Americano, 1., 1993. Ponta Grossa: anais. Ponta Grossa: 1993. 428p. RODRIGUES, Waldecy. Avaliação econômica dos impactos econômicos da produção agrícola nos Cerrados brasileiros. In: 37º Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. 1999.

20 RODRIGUES, Waldecy. Instrumentos econômicos de gestão meio ambiente uma análise crítica sobre a aplicação do imposto ambiental. Brasília: Universidade de Brasília /Departamento de Economia, 1999 (mimeo). ROMANO, P.A. Plantio direto e recursos hídricos. In: SATURNINO,H. M; LANDERS J.N. O meio ambiente e o plantio direto. Goiânia: 1997. p.75-82. SATURNINO,H. M; LANDERS J.N. O meio ambiente e o plantio direto. Goiânia: EMBRAPA, 1997. 116 p. SAMAHA, H M; LANDERS, J N. A economia do plantio direto. In: DAROLT, M.R. Plantio direto: pequenas propriedades sustentáveis. Londrina: IAPAR, 1998. 255p. SERÔA DA MOTTA, R. Análise de custo-benefício do meio ambiente. In: Margulis, S. Meio Ambiente: aspectos teóricos e econômicos. Rio de Janeiro, IPEA: Brasília, IPEA/PNUD, 1999. p. 109-134. SHIKI,S. Sistema agroalimentar no Cerrado brasileiro: caminhado para o caos? In: SHIKI, S.; SILVA, J. Graziano. Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do Cerrado brasileiro. Uberlândia, 1997, p,l0l-152. VASCONCELLOS M. A. S. e OLIVEIRA, R G. Manual de microeconomia. São Paulo: Atlas, 2000. 327 p.