AS DESIGUALDADES DE REMUNERAÇÕES ENTRE HOMENS E MULHERES AUMENTAM COM O AUMENTO DO NIVEL DE ESCOLARIDADE E DE QUALIFICAÇÃO DAS MULHERES



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Desigualdades graves entre Homens e Mulheres com escolaridade e qualificação elevadas Pág. 1 AS DESIGUALDADES DE REMUNERAÇÕES ENTRE HOMENS E MULHERES AUMENTAM COM O AUMENTO DO NIVEL DE ESCOLARIDADE E DE QUALIFICAÇÃO DAS MULHERES RESUMO DESTE ESTUDO Apesar da importância e da participação crescente da mulher na vida do País, o certo é que persistem desigualdades entre homens e mulheres, e que o peso de algumas tende até a aumentar. Neste estudo chama-se a atenção para duas dessas desigualdades que se têm mantido invisíveis mas que, se não forem denunciadas e tomadas medidas adequadas para as contrariar, tenderão com o tempo a ganhar maior peso em Portugal. Contrariamente ao que se poderia pensar as desigualdades de remunerações entre homens e mulheres em Portugal não têm diminuído com o aumento do nível de escolaridade e das qualificações das mulheres; muito pelo, contrário. As mulheres apesar de serem já claramente maioritárias entre a população empregada em 12 das 16 áreas de saber (Letras e Ciências Religiosas; Ciências da Educação; Belas Artes; Direito; Administração das empresas e Técnicas Comerciais; Jornalismo e Informação; Ciências Exactas e Ciências Físicas; Matemáticas e Estatísticas; Ciências Médicas e Saúde; e Industria Transformadora), só o não sendo ainda em quatro (Agricultura, Silvicultura e Pesca; Ciências de Engenharia; Ciências Informáticas; e Ciências Veterinárias), e apesar do nível médio de escolaridade da população empregada feminina ( 8,5 anos) ser em 2002 já superior à dos homens empregados (apenas 7,7 anos), no entanto esse aumento do nível de escolaridade não tem determinado uma maior igualdade das remunerações entre homens e mulheres em Portugal; muito pelo contrário. (quadro I) Os dados dos quadros de pessoal tratados e divulgados pelo novamente chamado Ministério do Trabalho, mostram que quanto mais elevado é o nível de escolaridade da mulher maior é a desigualdade das remunerações entre homens e mulheres. Por exemplo, em 2002 (e este é o ultimo ano em que existem dados disponíveis) para o nível de escolaridade mais baixo Inferior ao Ensino Básico o ganho médio mensal das mulheres, que inclui tudo o que recebem, correspondia a 80,8% do ganho médio mensal dos homens, enquanto em relação ao nível de escolaridade mais elevado Licenciatura o ganho médio mensal das mulheres correspondia apenas a 66,7% do ganho médio dos homens (quadro II). Os mesmos dados dos quadros de pessoal das empresas também revelam que quanto mais elevado é o nível de qualificação das mulheres maior é a desigualdade de ganhos (remunerações) entre homens e mulheres. Assim, em 2002, o ganho médio mensal das mulheres do grupo Praticantes e Aprendizes (o nível de qualificação mais baixo) correspondia a 94,1% do ganho médio mensal dos homens do mesmo grupo, enquanto o ganho médio mensal das mulheres do grupo Quadros Superiores ( o nível de qualificação mais elevado) correspondia apenas a 70% do ganho médio mensal dos homens do mesmo grupo de qualificação (quadros II e IV). O nível de escolaridade e de qualificação das mulheres vai continuar a aumentar rapidamente (basta lembrar que actualmente em cada 100 licenciados que saem anualmente das universidades portuguesas 65 já são mulheres), por isso, muitas mais mulheres alcançarão níveis elevados de escolaridade e de qualificação. Se as desigualdades entre homens e mulheres que se verificam actualmente a nível de ganhos (remunerações) nos níveis mais elevados de escolaridade e de qualificação se se mantiverem, então a desigualdade de remunerações entre homens e mulheres tenderá a aumentar em termos nacionais porque uma maior percentagem de mulheres será afectada por ela. E isso constituirá certamente um obstáculo sério ao desenvolvimento do País, na medida em que impede a utilização plena das capacidades da maioria da população e gera naturalmente sentimentos de grave injustiça social e económica. Mas não é apenas nos campos anteriores que as desigualdades entre homens e mulheres continuam a ser grandes. O mesmo sucede no acesso ao emprego. Em Janeiro de 2005, o numero de mulheres desempregadas inscritas nos Centros de Emprego com o 1º ciclo era superior ao numero de homens inscritos nos Centros de Emprego com igual nível de escolaridade em 12,3%; na mesma data o numero de mulheres inscritas nos mesmos Centros com o ensino superior era mais elevado do que numero de homens com o mesmo nível de escolaridade inscritos nos Centros de Emprego em 92% (Q. V).

Desigualdades graves entre Homens e Mulheres com escolaridade e qualificação elevadas Pág. 2 Apesar da crescente participação e importância da mulher na vida do País, o certo é que muitas desigualdades entre homens e mulheres persistem, e outras tendem a tornaremse visíveis devido ao seu agravamento. Como mostrarmos no estudo que publicamos no 8 de Março de 2004, utilizando como indicador o número de licenciados, as mulheres já são claramente maioritárias em 12 das 16 áreas do saber. Assim, em 2001, na população empregada, 78% dos licenciados em Letras e Ciências Religiosas eram mulheres; em Ciências da Educação essa percentagem era de 84%; em Belas Artes era de 62%; no Direito 54,4% dos licenciados eram mulheres; nas Ciências Sociais 61,7%; na Administração de empresas e Técnicos Comerciais 53,8%; no Jornalismo e Informação 53,8%; nas Ciências exactas e Ciências Físicas 66,2% dos licenciados eram mulheres; nas Matemáticas e Estatísticas 73,3%; nas Ciências Médicas e Saúde 60,5% ; e na Industria Transformadora 53%. Apenas na Arquitectura e Construção (26,9% dos licenciados eram mulheres), na Agricultura, Silvicultura e Pesca ( 40,3% dos licenciados), Ciências de Engenharia ( 19,1%), Ciências Informáticas (31,9% dos licenciados) e Ciências Veterinárias (41,6% dos licenciados) as mulheres eram ainda minoritárias relativamente ao total de licenciados empregados. E o peso das mulheres em todas as áreas do saber continuará a aumentar rapidamente. Para concluir isso, basta recordar que actualmente em cada 100 licenciados que saem anualmente das universidades portuguesas 65 são já mulheres. O NIVEL MÉDIO DE ESCOLARIDADE DAS MULHERES EMPREGADAS (8,5 ANOS ) É JÁ SUPERIOR AO DOS HOMENS ( 7,7 ANOS) Os últimos dados conhecidos dos quadros de pessoal das empresas tratados pelo novamente chamado Ministério do Trabalho e da Segurança Social, referentes ao ano de 2002, que constam do quadro I mostram que o nível médio de escolaridade das mulheres empregadas é já superior ao nível médio de escolaridade dos homens empregados. QUADRO I População empregado (quadros de pessoal) por níveis de escolaridade e por sexo e escolaridade média da população empregada feminina e masculina em Portugal em 2002 Nº Trabalhadores(as) % em relação TOTAL % Mulheres Anos escolaridade no Total NIVEIS ENSINO Mulheres Das Dos (Homens + Homens Mulheres Homens Mulheres) Mulheres Homens Inferior Ensino Básico 13.148 24.546 1,7% 2,2% 34,9% 0 0 1º Ciclo 193.038 346.694 25,1% 31,3% 35,8% 772.152 1.386.776 2º Ciclo 161.066 251.261 20,9% 22,7% 39,1% 966.396 1.507.566 3º Ciclo 145.405 212.462 18,9% 19,2% 40,6% 1.308.645 1.912.158 Secundário 170.054 179.931 22,1% 16,2% 48,6% 2.040.648 2.159.172 Bacharelato 22.920 23.588 3,0% 2,1% 49,3% 343.800 353.820 Licenciatura 64.681 69.503 8,4% 6,3% 48,2% 1.099.577 1.181.551 TOTAL 770.312 1.107.985 100,0% 100,0% 41,0% 6.531.218 8.501.043 NIVEL DE ESCOLARIDADE MÉDIA (nº de anos médio de escolaridade) 8,5 7,7 Assim, de acordo com os dados do quadro, 56,2% dos homens empregados possuíam apenas o ensino básico ou menos, enquanto a nível das mulheres essa percentagem era de 47,7%; em relação ao ensino secundário, a percentagem de homens com este nível de ensino era apenas de 16,2% enquanto a percentagem de mulheres atingia 22,1%; com um nível de escolaridade superior a percentagem de homens era apenas de 8,4%, enquanto a das mulheres atingia 11,4%. Se analisarmos a percentagem que as mulheres representam em cada nível de escolaridade (ver coluna % de Mulheres no Total (Homens+Mulheres ) conclui-se que o peso das mulheres é tanto maior quanto maior é o nível de escolaridade. Por ex., as mulheres com o 1º ciclo do ensino básico representam 35,8% deste grupo (Homens+Mulheres), enquanto já representam 48,2% do grupo de licenciados.

Desigualdades graves entre Homens e Mulheres com escolaridade e qualificação elevadas Pág. 3 Se calcularmos a escolaridade média dos homens e das mulheres empregados, concluímos que esta última (a das mulheres) é já superior à primeira (à dos Homens). Assim, tomando como base toda a população empregada feminina, por um lado, e, por outro lado, toda a população masculina, conclui-se rapidamente que a escolaridade média (ponderada) dos homens empregados em Portugal é apenas de 7,7 anos enquanto a das mulheres é de 8,5 anos. QUANTO MAIS ELEVADO É O NIVEL DE ESCOLARIDADE, MAIORES SÃO AS DESIGUALDADES DE REMUNERAÇÕES ENTRE HOMENS E MULHERES No entanto, esta maior nível de escolaridade das mulheres não tem tido correspondência a nível de maior igualdade de ganhos entre homens e mulheres. Efectivamente, o que tem sucedido nas empresas portuguesas é que quanto maior é o nível de escolaridade maior são as desigualdades de remuneração entre homens e mulheres. Os dados oficiais dos quadros de pessoal que constam do quadro seguinte provam precisamente isso. QUADRO II Ganho médio mensal dos Homens e das Mulheres em Portugal de acordo com o nível de escolaridade em 2002 e em Euros Ganho médio mensal -Euros % que ganho das Mulheres representa NIVEIS ENSINO Mulheres Homens Em relação ganho dos Homens Inferior Ensino Básico 482,21 596,79 80,8% 1º Ciclo 491,70 682,22 72,1% 2º Ciclo 511,51 691,29 74,0% 3º Ciclo 648,96 853,11 76,1% Secundário 791,69 1.094,07 72,4% Bacharelato 1.212,41 1.817,05 66,7% Licenciatura 1.513,02 2.269,83 66,7% TOTAL 698,37 903,81 77,3% Os dados do quadro mostram que existe uma correlação positiva entre nível de escolaridade e desigualdade de remunerações entre Homens e Mulheres em Portugal, ou seja, quanto mais elevada é a escolarida de maiores são as desigualdades entre homens e mulheres. Efectivamente, para o nível de escolaridade mais baixo Inferior ao Ensino Básico o ganho médio das mulheres, que inclui tudo o que ela recebe, corresponde a 80,8% do ganho médio mensal dos homens, enquanto em relação ao nível de escolaridade mais elevado Licenciatura o ganho médio das mulheres corresponde apenas a 66,7% do ganho médio dos homens. Os dados oficiais disponíveis parecem mostrar que o crescimento continuo do nível de escolaridade das mulheres empregadas que tem sido superior à dos homens não se tem traduzido por uma maior igualdade de remunerações entre homens e mulheres; pelo contrário, tem-se verificado é uma desigualdade maior nos grupos profissionais com mais elevado nível de escolaridade, o que não deixa de ser preocupante. É evidente, que dependendo o rápido desenvolvimento do País do aumento significativo do nível de escolaridade da população, e sabendo-se que é precisamente o nível de escolaridade das mulheres aquele que está a aumentar mais rapidamente, consequentemente as graves desigualdades referidas anteriormente constituem obstáculos importantes à recuperação do atraso do País, na medida em que impede a utilização plena das capacidades das mulheres, marginalizando-as e criando sentimos reais de injustiça. QUANTO MAIS ELEVADO É O NIVEL DE QUALIFICAÇÃO, MAIORES SÃO TAMBÉM AS DESIGUALDADES DE REMUNERAÇÕES ENTRE HOMENS E MULHERES Se cruzarmos os dados do quadro II repartição da população empregada feminina e masculina por níveis de escolaridade com os dados também oficiais constantes do quadro III repartição da população empregada feminina e masculina por níveis de qualificação as conclusões anteriores são reforçadas.

Desigualdades graves entre Homens e Mulheres com escolaridade e qualificação elevadas Pág. 4 QUADRO III - População empregado (quadros de pessoal) por níveis de qualificação e por sexo em Portugal em 2002 Nº Trabalhadores(as) % em relação TOTAL % Mulheres do NIVEIS QUALIFICAÇÃO Mulheres Homens Mulheres Homens Total (H+M) Quadros superiores 28.821 60.338 3,9% 5,6% 32,3% Quadros médios 25.233 40.748 3,4% 3,8% 38,2% Encarregados, Contramestres, Chefes de equipa 18.060 59.621 2,4% 5,6% 23,2% Profissionais altamente qualificados 54.425 70.602 7,3% 6,6% 43,5% Profissionais qualificados 297.099 545.534 40,0% 50,9% 35,3% Profissionais semi-qualificados 166.791 121.843 22,5% 11,4% 57,8% Profissionais não qualificados 91.380 115.653 12,3% 10,8% 44,1% Praticantes e aprendizes 60.544 57.673 8,2% 5,4% 51,2% TOTAL 742.353 1.072.012 100,0% 100,0% 40,9% Como os dados do quadro mostram, quanto maior é o nível de qualificação menor é o peso das mulheres. Por ex., as mulheres representam 51,1% do total (Homens+Mulheres) dos Praticantes e Aprendizes enquanto a percentagem de mulheres no grupo Quadros Superiores é apenas de 32,3%. Assim, em relação a níveis de qualificação verifica-se uma inversão do que se observa relativamente a níveis de escolaridade. E isto porque a níveis de escolaridade, quanto mais elevado é o nível de escolaridade maior é o peso (percentagem ) de mulheres, enquanto relativamente a níveis de qualificação verifica-se precisamente o inverso, ou seja, quanto maior é o nível de qualificação menor é o peso (percentagem) de mulheres. Também aqui, ou seja, quanto a níveis de qualificação a mulher não tem obtido um estatuto que corresponda ao aumento do seu nível de escolaridade. Parece também persistirem elevadas desigualdades nesta área. Esta conclusão é reforçada pela análise dos ganhos médios mensais dos homens e das mulheres em Portugal por níveis de qualificação, o que é possível fazer com base nos dados oficiais dos quadros de pessoal das empresas constantes do quadro IV. QUADRO IV Ganho médio mensal dos Homens e das Mulheres em Portugal de acordo com o nível de qualificação em 2002 e em Euros Ganho médio mensal - Euros % Ganho das Mulheres NIVEIS QUALIFICAÇÃO Mulheres Homens Em relação ganho Homens Quadros superiores 1.789,68 2.556,60 70,0% Quadros médios 1.385,10 1.667,54 83,1% Encarregados, Contra-mestres, Chefes equipa 991,61 1.139,10 87,1% Profissionais altamente qualificados 1.122,00 1.270,97 88,3% Profissionais qualificados 620,14 733,75 84,5% Profissionais semi-qualificados 496,41 639,08 77,7% Profissionais não qualificados 462,69 535,79 86,4% Praticantes e aprendizes 451,58 479,95 94,1% TOTAL 698,37 903,81 77,3% Também neste campo, verifica-se uma correlação positiva entre níveis de qualificação e desigualdade entre mulheres e homens, ou seja, quanto mais elevada é o grupo de qualificação maiores são as desigualdades entre homens e mulheres a nível de ganhos médios mensais em euros. Como mostram os dados do quadro IV, o ganho médio mensal das mulheres do grupo Praticantes e Aprendizes ( o nível mais baixo) corresponde a 94,1% do ganho médio mensal dos homens, enquanto o ganho médio mensal das mulheres do grupo Quadros

Desigualdades graves entre Homens e Mulheres com escolaridade e qualificação elevadas Pág. 5 Superiores ( o nível de qualificação mais elevado) corresponde apenas a 70% do ganho médio mensal dos homens. O nível de escolaridade e de qualificação das mulheres vai continuar a aumentar rapidamente, logo uma percentagem crescente de mulheres ocupará os grupos mais elevados de escolaridade e de qualificação. Se as graves desigualdades entre homens e mulheres que se verificam nomeadamente a nível de ganhos (remunerações) nos níveis mais elevados de escolaridade e de qualificação se mantiverem, então as desigualdades em Portugal a nível de remunerações entre homens e mulheres aumentarão no lugar de diminuírem. Esta é uma realidade que urge alterar rapidamente, o que só será possível com um forte combate e empenhamento de toda a sociedade, e não apenas das mulheres, pois quem ganhará será também toda sociedade com a melhor justiça que se alcançará e com um aproveitamento maior de todas as capacidades das mulheres, tão necessária para fazer sair o País do estado atraso em que se encontra e da grave crise económica e social que actualmente enfrenta. QUANTO MAIS ELEVADO É O NIVEL DE ESCOLARIDADE, MAIS ELEVADO É A DIFERENÇA PERCENTUAL ENTRE O DESEMPREGO DE MULHERES E DE HOMENS Para finalizar este estudo interessa analisar também as consequências desiguais entre homens e mulheres que está a ter um dos problemas mais graves que enfrenta actualmente a sociedade portuguesa:- o aumento rápido do desemprego. No quadro seguinte apresentam-se o numero de desempregados inscritos nos Centros de Emprego do IEFP já em Janeiro de 2005, repartidos por sexos e níveis de escolaridade. QUADRO V Nº de desempregados inscritos nos Centros de Emprego do IEFP em Janeiro de 2005 por sexos e nível de escolaridade NIVEL DE DESEMPREGADOS % que desemprego das Mulheres ESCOLARIDADE HOMENS MULHERES é superior ao dos Homens Nenhum nível de escolaridade 10.358 16.622 60,5% 1º ciclo 75.524 84.837 12,3% 2º ciclo 44.282 57.581 30,0% 3º ciclo 36.549 44.065 20,6% Secundário 31.789 44.727 40,7% Superior 12.706 24.409 92,1% TOTAL DESEMPREGADOS-IEFP 211.208 272.241 28,9% FONTE: Informação Men/sal do Mercado de Emprego IEFP Os dados do quadro mostram que, em Janeiro de 2005, o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego do IEFP somava já 483.449, e certamente existem muitos desempregados que não se inscrevem nos Centros de Emprego, porque isso não é obrigatório nem obtêm qualquer benéfico nisso. Outro aspecto importante também revelado pelos dados do IEFP constantes do quadro anterior, e com interesse para os estudo que estamos a fazer, é o seguinte:- exceptuando o grupo com Nenhum nível de escolaridade, em relação aos restantes níveis de escolaridade (1º ciclo a superior), quanto mais elevado é o nível de escolaridade maior é a Percentagem que o desemprego das Mulheres é superior ao desemprego dos Homens (última coluna à direita do quadro). Por ex., o numero de mulheres desempregadas com o 1º ciclo inscritas nos Centros de Emprego é superior em 12,3% ao numero de homens inscritos nos Centros de Emprego com o mesmo nível de escolaridade, enquanto o numero de mulheres desempregadas com o ensino superior é já 92% mais elevado do que numero de homens com o mesmo nível de escolaridade inscritos nos Centros de Emprego. Também aqui se verifica uma correlação positiva entre nível de escolaridade e nível de desemprego, o que é preocupante. Eugénio Rosa Economista e.mail: edr@mail.telepac.pt