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cf. ALMEIDA, J. Leigos em que? p. 80.

Transcrição:

ISSN 1676-3742 DOI:10.17771/PUCRio.ATeo.29097 FERNANDES, Leonardo Agostini (Org.). Gaudium et Spes em questão: reflexões bíblicas, teológicas e pastorais. São Paulo: Paulinas, 2016, 184p. ISBN 9788535642360 Eliseu Wisniewski O organizador desta obra é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, diretor e professor de Sagrada Escritura no Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e professor de Sagrada Escritura do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Exerce seu ministério presbiteral na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A meta do organizador neste livro é uma reflexão sobre a constituição Gaudium et Spes (GS) sob os pontos de vista bíblico, teológico e pastoral com a convicção de que é preciso repropor a sua recepção e sua incidência não apenas na comunidade eclesial, mas em todos os níveis da sociedade, porque depois de cinquenta anos de sua promulgação, aconteceram muitas e profundas mudanças culturais, sociais, políticas e religiosas. Tais mudanças estão criando uma atmosfera bem diferente e colocando a humanidade num contexto de vida inédito em muitos sentidos, mas também mergulhada em grandes indefinições e novas crises. Com essas mudanças surgem, para a Igreja, novas e necessárias concepções pastorais, mais complexas e orgânicas, compreensivas e corresponsáveis no serviço à Boa-Nova da salvação. O livro reúne nove contribuições distribuídas em duas partes: 1) parte bíblica: três contribuições; e 2) parte sistemático-pastoral: seis contribuições. Na primeira reflexão, O amor de Deus e do próximo na Gaudium et Spes 16 e 24 de autoria de Waldecir Gonzaga, doutor em Teologia Bíblica e professor de Sagrada Escritura do Departamento de Teologia da PUCRJ e do Instituto Superior de Ciências Religiosas da Arquidiocese do Rio de Janeiro, analisando os textos do Novo Testamento, bem com suas bases veterotestamentárias, 366 ATeo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 56, p. 366-370, mai./ago.2017

mostra que estes são realmente singulares para compreendamos a base judaica e a novidade de Cristo e a novidade de Cristo em vista da interpretação da lei e da novidade do amor sem reservas em suas duas dimensões: vertical (Deus) e horizontal (homem). O autor o faz em dois momentos, primeiramente analisando as citações e referências bíblicas presentes na GS, com uma visão mais ampla do uso tanto do Antigo como do Novo Testamento e no segundo momento, trabalha a questão do amor de Deus e do próximo, presentes nos números 16 e 24 da GS. Na segunda reflexão, Pobres sempre tereis convosco : a ação da Igreja à luz da Gaudium et Spes- Leonardo Agostini Fernandes, avalia o sentido das falas de Jesus sobre os pobres no contexto da unção de Betânia, a qual assume uma importância singular, pois serviu para ratificar que Jesus é o Messias, isto é, o ungido de Deus, verificando-se como isso foi contemplado na GS, tendo-se me conta que Jesus, sendo rico, se fez pobre em sua benevolência para que os seus seguidores se tornassem ricos através de sua pobreza (cf. 2Cor 8,9). Mostra-nos isso a partir do jogo de palavras, na afirmativa e na negativa, que Jesus criou ao dizer pobres sempre o tereis convosco... a mim não sempre tereis, analisando do contexto das citações explicitas (Mt 26,11; Mc 14,7; Jo 12,8), no intuito de verificar os sentidos bíblicos e teológicos que derivam das semelhanças e diferenças que nelas se encontram, elucidandose ainda as citações sobre pobres e pobreza na GS a fim de identificar o percurso pretendido pelo Concílio através dessa constituição pastoral e seus desdobramentos posteriores. Na terceira reflexão, Alguns tópicos de antropologia paulina na Gaudium et spes, de autoria de Isidoro Mazzarolo, Ph.D. em Sagrada Escritura, Professor de Sagrada Escritura do Departamento de Teologia da PUCRJ e no Instituto Franciscano de Petrópolis/RJ, inicia afirmando que a GS é um dos mais belos tratados da antropologia teológica, pois nesta o ser humano é humano enquanto criatura divina no cosmos independente de sua opção religiosa, política ou econômica. A partir disso, o autor mostra que muitos são os textos de relação entre a GS e a teologia e a antropologia de Paulo, por isso escolhe alguns destes textos esclarecendo que a escolha é feita sem qualquer pretensão de primazia ou prioridade, mas com o intuito de realçar a importância dos elementos antropológicos que sustentam a GS e a visão do ser humano da teologia paulina. Na quarta reflexão, O Mistério Pascal à luz da Gaudium et spes 22, Luiz Fernando Ribeiro Santana, Doutor em Teologia Sistemática e Professor de ATeo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 56, p. 366-370, mai./ago.2017 367

Teologia Sistemático-Pastoral da PUCRJ, tendo em conta o parágrafo 22 da GS, traz uma abordagem do mistério do homem à luz do homem novo, isso porque a categoria mistério pascal é um dos mais significativos resgates realizados pela teologia do Concílio Vaticano II, maturando e traduzindo para a Igreja de nossos dias a riqueza bíblico-teológica contida nesta expressão. O autor mostra quando e onde a expressão aparece pela primeira vez na teologia do Concílio, precisamente na constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium (SC) e a partir dela todos os outros posteriormente promulgados serão, direta ou indiretamente, afetados pela teologia pascal. Na GS, o mistério pascal é um unicum, na medida que é o centro e a síntese do projeto amoroso de Deus criador e salvador e, ao mesmo tempo, a condição sine qua non para dele se poder participar. A GS apresenta à Igreja de hoje o euangelion do Mistério de Cristo, do Cristo Pascal, celebrado, crido e anunciado ao mundo. Na quinta reflexão, A relação entre Antropologia e Cristologia na Gaudium et spes, Geraldo Luiz de Mori, Diretor e Coordenador do Departamento de Teologia da FAJE na qual também é Professor, afirma que a partir os números cristológicos da GS (22,32,39,45) grande número dos tratados de antropologia teológica foram elaborados. Tendo-se em consideração essa afirmação, o autor retoma o contexto teológico-dogmático que antecedeu essa formulação, qual o lugar que essa formulação ocupa no texto da GS e, que impactos, leituras, opiniões essa articulação cristologia-antropologia provocou após o Concílio. O autor destaca três desdobramentos ulteriores que a antropologia teológica em relação com a antropologia conheceu: E. Schillebeeckx, H. de Lubac e G. Colombo. Na sexta reflexão, O bem do Matrimônio e da Família na Gaudium et spes e hoje, de autoria de Luís Corrêa Lima, Doutor em História e Professor de História da Igreja do Departamento de Teologia da PUC RJ, num primeiro momento apresenta de maneira sucinta o ensinamento sobre o matrimônio e a família presentes nos números 47, 48, 49, 50, 51, 52 da GS, num segundo momento mostra que o ideal de matrimônio e família, expresso aí, tem uma longa história: antiguidade romana, tradição judaico-cristã, cristandade ocidental, código de direito eclesiástico, concílio de Trento, Código de Direito Canônico de 1917 e 1983, Declaração Universal dos Direitos Humanos, Humanae Vitae e conclui apresentando novos desafios à família. Desafios estes que devem ser enfrentados com o mesmo espírito do Concílio Vaticano II como tem feito Papa Francisco na Evangelii Gaudium e Amoris Laetitia. Na sétima reflexão, Ter em vista o ser humano: a Gaudium et spes e o 368 ATeo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 56, p. 366-370, mai./ago.2017

Diálogo Ecumênico, por Maria Teresa de Freitas Cardoso, Doutora e Professora da PUCRJ, mostra que o ser humano marca os princípios doutrinais, pastorais e ecumênicos da GS. Desta forma, os diálogos ecumênicos e inter-religiosos ou o diálogo com todos os que aceitam a busca do bem podem retomar ou prosseguir a atitude fundamental da GS, tendo em vista o ser humano, os valores humanos, uma sociedade mais humana. A autora relembra a Ecclesiam Suam, de Paulo VI, na qual ele falou em vários círculos de diálogo. No conjunto, ela mostra ser importante que o diálogo ecumênico tenha em vista o ser humano. Na oitava reflexão, A autonomia das realidades terrestres a partir da Gaudim et spes, Maria Clara Bingemer, Doutora e Professora da PUCRJ, tomando o número 36 da GS, olha especificamente para a questão da autonomia das realidades terrestres, destacando que nenhum documento do Concílio Vaticano II tenha em si um potencial tão renovador e instigante quanto a GS, pois nela se encontra presente o melhor do Concílio em termos de abertura, diálogo com o mundo secularizado e visão positiva das realidades terrestres, como até então se tinha visto na Igreja Católica, mostrando como o Concílio, compreendendo a fé e a Igreja dentro do mundo antropocêntrico e secular, vai perceber a necessidade de que as realidades terrestres sejam livres e gozem de autonomia para crescer e desenvolver-se, a autora detêm-se sobre um ponto importante dessas realidades terrestres: a ciência, explicitando como a GS traz uma visão equilibrada e positiva desse particular, o que permite uma abertura de diálogo importante com os novos ateísmos e outras instâncias críticas hodiernas à Igreja, sua visão de mundo e sua pastoral. Na nona reflexão, Igreja e Sociedade: da Gaudium et Spes a nossos dias, Mario de França Miranda, Doutor e Professor da PUCRJ, tendo em conta o binômio igreja e sociedade, mostra quais foram os avanços da GS em relação ao período anterior ao Concílio Vaticano II e os novos desafios posteriores ao Concílio. O autor explicita que é preciso ter em mente as intuições básicas da GS para atualizá-la diante das rápidas e sucessivas transformações socioculturais, libertando a GS das circunstâncias passageiras do contexto em que foram pensadas e expressas, a fim de a Igreja apresentar uma presença atuante na sociedade. O autor finaliza sua abordagem oferecendo uma fundamentação teológica para o que entende ser a atividade evangelizadora da Igreja em nossos dias: a centralidade do Reino de Deus para a fé cristã; o projeto do Reino na GS; o Espírito Santo na luta histórica pelo Reino. Leonardo Agostini Fernando brinda os leitores com a organização de uma obra singular, mostrando que a GS desencadeou um processo de renovação ATeo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 56, p. 366-370, mai./ago.2017 369

eclesial ainda em andamento. Há 50 anos de distância, num mundo que muda rapidamente, a GS permanece não só atual como mostram os autores nas temáticas aí abordadas, mas contém novidades ainda não assimiladas. Captar as intuições fundamentais em cada momento histórico e atualizá-los no tempo presente é o que estimulam-nos as reflexões desta obra. O livro é didático e serve para alunos de teologia que buscam aprofundar a herança recebida do Concílio Vaticano II. Por essas razões a obra se torna recomendável. Eliseu Wisniewski Doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade do Paraná Paraná / RS Brasil E-mail: eliseu.vicentino@gmail.com 370 ATeo, Rio de Janeiro, v. 21, n. 56, p. 366-370, mai./ago.2017