RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES: UM ENFOQUE SOBRE A EDUCAÇÃO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO



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ISSN 1984-9354 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES: UM ENFOQUE SOBRE A EDUCAÇÃO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO MÔNICA DE ARAÚJO MARTINS (LATEC/UFF) Resumo Este artigo tem por objetivo inicialmente expor alguns conceitos sobre Responsabilidade Socioambiental nas organizações e ensaios sobre sustentabilidade e educação. Como objetivo central pretende-se trabalhar a educação como agente de traansformação e influência nos aspectos ambientais. A metodologia aplicada consiste em uma revisão bibliográfica, sendo a busca de informações realizadas através de livros, artigos, sites, entre outros. Atualmente, o tema Responsabilidade Sócio- Ambiental tem sido motivo de discussões e fóruns de debates tanto no cenário organizacional, quanto no ambiente acadêmico. No primeiro capítulo, vemos a revisão da literatura e contextualização segundo Rodrigo C. da Rocha Loures em relação aos problemas dos excessivos maltratos ao meio ambiente. A seguir, o entendimento sobre o tema em questão e por fim, a educação como agente de transformação socioambiental. A motivação para este artigo foi adquirir um conhecimento melhor sobre Responsabilidade Socioambiental e de que maneira a educação pode interferir no processo de transformação do meio ambiente, no desenvolvimento do pensamento crítico e percepção de uma sociedade sustentável. Palavras-chaves: RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, ORGANIZAÇÕES, EDUCAÇÃO, AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO.

1. INTRODUÇÃO No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a questão nos principais centros da economia mundial. A obtenção de certificados de padrão de qualidade e de adequação ambiental, como as normas ISO, por centenas de empresas brasileiras, também é outro símbolo dos avanços que têm sido obtidos em alguns aspectos importantes da responsabilidade social empresarial. O Instituto Ethos é hoje uma referência internacional nos assuntos ligados a responsabilidade social e desenvolve ações, projetos, relatórios e parcerias com diversas entidades no mundo todo. É um pólo de trocas de conhecimentos, experiências e desenvolvimento de ferramentas que auxiliam as organizações a repensarem suas práticas de gestão e aprofundarem seus compromissos e ética empresarias para um mundo sustentável e socioambiental. Ainda de acordo com o Instituto Ethos (2009), responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Hoje, as preocupações ambientais e sociais estão presentes na pauta prioritária de muitas corporações e o mesmo acontece no ambiente dos governos, da academia e da sociedade civil, sendo parte integrante da vida das pessoas. Segundo pesquisas emitidas pelo próprio Instituto, já há algum tempo, ocorre divulgação de muitas informações sobre a participação das empresas em atividades sociais e como as mesmas se preocupam com a valorização do meio ambiente, do homem e da cultura. Para as empresas envolvidas, significa ganhar a preferência dos consumidores, contar com os melhores parceiros e ter suas ações valorizadas no mercado representando ganhos em ternos de negócios. 2

Para Loures (2008), Cada um desses atores estabelece ao seu modo, iniciativas próprias para o que considera vital para o desenvolvimento sustentável. No entanto, para que haja efetividade das ações e produtividade em prol da sustentabilidade é necessário estarmos amparados sobre três pilares fundamentais: Formação de novas competências, repensar o ensino no campo das ciências sociais e a geração de negócios sustentáveis. O que fica ainda mais evidente nos dias atuais. Segundo Lemos (2006), o grande desafio que a sociedade mundial enfrenta hoje é o de iniciar efetivamente o processo de transição em direção ao desenvolvimento sustentável. Contudo, para que isso seja uma realidade e atinja o maior número possível de organizações é preciso uma mudança fundamental na cultura, nos sistemas e nos processos que impactam a formação acadêmica dos nossos jovens e futuros líderes empresariais. Pode-se dizer que a educação tem sua base no processo de desenvolvimento intelectual, na formação ética, nos valores e na capacidade física de cada ser humano para que possa atuar e conviver na sociedade. Paulo Freire já dizia que não há seres educados e não educados, mas sim graus de educação que não são absolutos. Educar é um ato social e, portanto, reflexo dos momentos históricos e da cultura das sociedades. O fomento em torno da sustentabilidade demonstra a grande preocupação com as atuais condições de vida da espécie humana no nosso planeta. E o sétimo item descrito nos objetivos do milênio nos diz: Assegurar a sustentabilidade ambiental. 2. REVISÃO DA LITERATURA: RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Quando Milton Friedman, um dos mais influentes teóricos do liberalismo econômico, declarou em 1970, que a responsabilidade social de uma empresa se limitava a gerar tanto dinheiro quanto possível para seus donos, dentro das regras do jogo, recebeu aplausos do establischment da época. Para ele, ações de responsabilidade social eram perigosas, antidemocráticas e imprudentes. Com o tempo, e a explosão dos problemas sociais e ambientais, outros começaram a enxergar nos negócios uma fonte potencialmente poderosa de ações para o bem do planeta, conseqüentemente, para os próprios mercados. 3

Segundo Loures (2008), hoje, o raciocínio é outro e muita coisa mudou desde a década de 70. Existe um consenso crescente em torno da questão de mudanças ambientais e efeitos econômicos. E o maior desafio passou a ser a construção de uma nova teoria econômica do crescimento sustentável para melhor distribuição de riqueza. Conforme definido pela Comissão Brundtland, no seu relatório Nosso Futuro Comum, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. De acordo com Duarte e Dias (1986), a responsabilidade social na empresa tem sua gênese no trabalho de Bowen de 1957, quando o tema era tratado com maior profundidade no qual define que o conceito de responsabilidade social é como a obrigação do homem de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com os fins e valores da sociedade. A partir deste marco o tema assumiu relevância nos meios acadêmicos e empresariais, universidades, principalmente, nos Estados Unidos e Europa. Para Bowen (1957), a doutrina de responsabilidade social corporativa (RSC) significa uma transformação radical na concepção da empresa e de seu papel na sociedade, no qual atinge cinco grandes grupos beneficiados pela RSC: funcionários, clientes, fornecedores, competidores e outros com os quais a empresa mantenha transações comerciais. Ressaltando desde então, o envolvimento de todos. De acordo com Loures (2008,p.31), nos últimos 25 anos, surgiram muitas iniciativas que, reconhecendo a necessidade de reconceitualizar as premissas e modelos de gestão, as empresas começaram a entender e aplicar os conceitos em relação à responsabilidade socioambiental dos negócios. Com isso, grandes, médias e pequenas empresas passaram a incorporar em suas decisões ações relacionadas ao tema ou mesmo, reflexões sobre ele. Deste modo, também adotaram uma visão de longo prazo em vez da ênfase tradicional do curto prazo, embora algumas dúvidas ainda permaneçam como por exemplo: 1- Como uma empresa pode ser sustentável sem comprometer seus lucros? 2- Que estratégias podem ser utilizadas a fim de alcançar sustentabilidade? 3- Como construir vantagem competitiva respeitando e valorizando os preceitos de sustentabilidade? 4

Atualmente, a economia global e a nacional ainda mostram algumas fragilidades em responder a essas perguntas. No entanto, com a fundação do Instituto Ethos no Brasil, em 1998, houve a possibilidade de engajar as empresas de forma prática para dar respostas a estas e outras fragilidades. Michel Porter é considerado até hoje um dos mais importantes gurus da administração e maior autoridade em estratégia competitiva e em uma de suas citações nos diz em 1996: No futuro, o desenvolvimento econômico sustentável será alcançado a partir da melhoria da produtividade no uso de insumos. Vantagens em mão de obra e recursos naturais não serão mais sustentáveis na Era da Competição Total, porque existem muitos países oferecendo a mesma coisa. Melhorar a performance ambiental e aumentar a competitividade são virtualmente sinônimos. Poluição é desperdício. Para Lemos (2006), um dos problemas que as empresas vem enfrentando atualmente com o conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), é a cobrança cada vez maior por parte da sociedade, da aplicação desses princípios às suas atividades fundamentais e, não apenas, os mecanismos tradicionais de treinamento e a melhoria da qualidade de vida de seus funcionários e das comunidades onde se inserem. E com isso, as empresas estão sendo cada vez mais pressionadas para minimizar os impactos ambientais de seus produtos e serviços. Ainda de acordo com Lemos (2006, p.222), sustenta-se ainda que as empresas têm obrigações morais com a sociedade que permite que elas exerçam suas funções produtivas e dessa forma, devem fazer com que os benefícios materiais de suas ações empresariais atinjam diretamente os mais diversos setores da sociedade. Assumindo um papel mais ativo na resolução dos problemas sociais já que são atores que detêm muitos recursos, o que as permite e de certa forma as obriga assumir esse papel. A esse respeito, Maximiano (2000, p. 28) comenta que: Muitos produtos e serviços essenciais para a simples sobrevivência somente se tornam disponíveis quando há organizações empenhadas em realizá-los [..]A energia, a segurança pública, o controle da poluição tudo depende de uma organização. Robbins (2002) concorda com as ideias mencionadas ao inferir que o contexto das organizações do século XXI é formado por um conjunto de organizações que visa corresponder às expectativas do homem, adaptando-se às mudanças nas tendências sociais, nos hábitos dos consumidores e no trabalho em si. E como protagonistas do 5

contexto social, antes de tentar ajustar seus produtos e serviços, as organizações devem reconhecer as influências que exercem no ambiente, tomando atitudes coerentes relacionadas as preocupações da sociedade, principalmente com relação às questões socioambientais. Isso porque para sobreviver no mercado, não basta oferecer produtos e serviços que satisfaçam às necessidades humanas, mas também desenvolver soluções que evitem danos ao meio-ambiente. 3. EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL TRANSFORMADORA Paulo Freire (1983, p. 41), um dos mais notáveis referenciais da Teoria Crítica e fundador da Pedagogia Libertadora, como forma de estimular a formação de sujeitos críticos emancipados e autores da sua própria história, ressaltou que devemos assumir como seres sociais, históricos, pensantes, comunicadores, transformadores, criadores, realizadores de sonhos, defendendo assim, o protagonismo social. O pensamento pedagógico de Freire (1983, p.149) aponta para a comunicação, como princípio que transforma o homem em sujeito de sua própria história através de uma relação dialética vivida na sua inserção na natureza e na cultura, diferenciando-o dos outros animais. Sabemos que a educação exerce um papel fundamental na formação do indivíduo, no meio social e no mundo do trabalho. De acordo com Nascimento (2006, p.13), o conhecimento relaciona-se, direta e essencialmente, com o ser humano que reage e atua na sociedade, a partir do acesso que tem ou não à educação e à sua iniciativa de buscar o seu aprimoramento constante, através da capacidade de aprender a aprender. E nas organizações, é considerado um recurso determinante. Do ponto de vista da educação brasileira, segundo Niskier (1999, p.28) É importante que a consciência coletiva seja alertada de que somente através da Educação teremos a transformação social, econômica e política do indivíduo e do país. A partir desse contexto, analisaremos sobre a necessidade de mudarmos hábitos e comportamentos que possibilitem uma melhoria nas atuais condições sociais e ambientais de preservação ao meio ambiente, através de uma educação transformadora. O que ouço esqueço. O que vejo lembro. Mas o que faço aprendo Confúcio. 6

Confúcio nos instiga a refletir sobre o ônus do esquecimento ou da importância primordial de recuperarmos a consciência de quem somos verdadeiramente e dos saberes que temos da nossa vida. Segundo Loures (2008, p.59), a educação é frequentemente conceituada como processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, a fim de que possa atuar na sociedade. Hoje, considera-se necessário que a educação atinja a vida das pessoas e da coletividade e contribua para o fortalecimento da participação crítica e reflexiva dos grupos e nas decisões dos assuntos que lhes dizem respeito. De acordo com Paulo Freire (1983), não há seres educados e não educados, mas sim graus de educação, que não são absolutos. Educar é um ato social e, portanto, reflexo dos momentos históricos e da cultura das sociedades. As relações de ensino-aprendizagem são dinâmicas e se modificam de acordo com os valores de cada época e de cada situação vivida. Nos últimos tempos, percebemos como a temática que gira em torno da sustentabilidade vem ganhado destaque nos fóruns de debates, nas organizações e nos sistemas de ensino. Tal direcionamento e postura demonstra a crescente preocupação com as condições de vida da espécie humana e do nosso planeta. E nesta lógica, diversos autores escrevem e falam sobre a Educação para a Sustentabilidade. A fim de complementar a pesquisa, buscou-se ainda informação através do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global de 1992, em que fala: Consideramos que a educação ambiental para uma sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetário. Esta definição deixa clara o nosso entendimento sobre importância de educarmos de forma consciente a sociedade sob o âmbito ecológico e sustentável a partir das salas de aula e consequentemente, nas organizações. 7

Quando se trabalha a educação nas instituições com disciplinas relacionadas a sustentabilidade, meio ambiente e reponsabilidade social a possibilidade de formarmos cidadãos corresponsáveis, críticos e mais conscientes é muito maior. No contexto empresarial, a educação também terá um papel fundamental pois, reforçará a ideia a respeito da cultura organizacional, a missão e os programas voltados para Responsabilidade Socioambiental a partir dos treinamentos direcionados e dos resultados obtidos. No âmbito do Pacto Global de 2001, foram criados seis princípios para Educação de Gestão Responsável, que foram escritos por educadores de escolas de gestão do mundo inteiro. Uma proposta de reforma de profundidade chamada de educação executiva de alto nível e que está baseada em uma reconceitualização de propósitos, valores, métodos, pesquisas, ampliação de parcerias e diálogos. O pacto também serviu para uma iniciativa importante e de base para a criação da ISO 26000 de Responsabilidade Social Empresarial- SER. Não trataremos de todos os itens citados aqui neste artigo no entanto, refletiremos algumas questões cruciais como por exemplo: 1- Como disseminar estes princípios de forma transdisciplinar? 2- Como ajudar as empresas e organizações de governo a agirem de uma forma sóciopolítico-ambiental responsável? Segundo Loures (2008, p. 39), os principais desafios que definem o começo deste novo milênio são a escassez de água potável e outras crises ambientais como a violência, a homogeneização cultural global, a pobreza, a crise mundial de alimentos e a globalização da inflação. Todos apontam claramente para soluções que vão além da esfera de disciplinas individuais e específicas como economia, engenharia, etc. Por essas razões, é fundamental termos uma mudança no sistema de educação. Especialmente no que diz respeito ao contexto socioambiental. Arnaldo Niskier (1999, p.28), acadêmico, educador e profundo conhecedor do sistema Educacional Brasileiro, relata que há uma necessidade de se estabelecer uma consciência coletiva, para que sejamos alertados que: Somente através da educação teremos a transformação social, econômica e política do indivíduo e do país. Contudo, Loures (2008) relata que infelizmente ainda existe uma grande parte das instituições acadêmicas e das organizações que limitam suas práticas voltadas para a 8

sustentabilidade e as ações locais, sem realmente mergulhar nas profundezas das razões e questionar, porque temos comportamentos, práticas e crenças tão insustentáveis. Com base nessa análise, é preciso colocar em evidência a importância crucial do desenvolvimento da prática da ética e do cuidado em todas as nossas ações, de forma profunda e abrangente. Pois o ser humano que preda o ambiente natural também preda o ambiente social. 4. A EDUCAÇÃO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO Peter Drucker foi o maior pensador no campo da administração em todos os tempos e costumava afirmar que todos os problemas que existem no planeta devem ser vistos como oportunidade de novos negócios. E para enxergar por este prisma é preciso quebrar paradigmas nos processos e nos modelos de educação. Paulo Freire (1991), em uma de suas citações nos revela que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem tampouco a sociedade muda. Já para Nascimento (2006, p.18), julga importante a necessidade de se estabelecer um diálogo entre as empresas e as universidades a fim de buscarem alternativas para trazer a educação mais perto do mundo dos negócios. A educação é vista como ato de conhecimento e transformação social com certo cunho político. Segundo Brandão (1986), aprender é formar-se pessoa a partir do organismo, realizando a passagem da natureza à cultura. Onde costuma valorizar a educação popular. A Educação Popular é uma educação comprometida e participativa orientada pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo. Neste caso, vale ressaltar que baseado nesses princípios, este modelo de educação contribui para uma formação mais homogênea da sociedade, com valores determinantes no processo da construção de conhecimentos e, portanto considerada como um importante instrumento de transformação social. E este movimento também se baseia na fundamentação de Paulo Freire, que aponta essa teoria educacional com uma das mais importantes para a mudança social cujo os aspectos encontram-se amparados nos valores culturais. Ainda de acordo com Freire, a força dessa transformação assenta na consciência crítica das relações do homem com o mundo e os outros homens. 9

O modelo de mundo que está sendo apresentado atualmente não acompanha a evolução do ser humano enquanto agentes de mudanças. Precisamos nos reinventar a cada momento, como seres que se preparam para uma nova evolução. As empresas pensam em gerar lucros, mas não preservam as riquezas naturais. Consideram que o capital intelectual é o valor mais importante no mercado, no entanto são raras as organizações que desenvolvem políticas de treinamentos adequadas voltadas para a sustentabilidade dos negócios e do planeta. Por outro lado, nas salas de aula, ainda é grande a demanda de professores comprometidos, estimulados e empenhados a ensinarem a seus alunos se tornarem cidadãos corresponsáveis pela meio ambiente e pela vida de cada espécie presente no planeta. Hoje, os autores que ajudam a escrever as experiências vividas no ambiente escolar ainda crescem acreditando que o nosso oxigênio vem das árvores e a experiência mais marcante que tiveram na aula de ciências, foi a do caroço de feijão no algodão. E isso acontece até hoje. A educação precisa mudar e acompanhar essa evolução que teve início há muitas décadas atrás com a teoria evolucionista de Charles Darwin que desmistificou os fatos narrados e nos trouxe o conhecimento de que quando uma espécie encontra-se em um meio favorável, o número de indivíduos daquela espécie aumentará até o limite de capacidade daquele ambiente. A esse processo, deu o nome de seleção natural. 5. CONCLUSÃO Embora ainda estejamos distantes dessa mudança, o cenário atual nos obriga a repensar nossas práticas em relação ao meio ambiente e a importância de atitudes consciente de forma que acompanhe a evolução do planeta e da sociedade. As empresas, cenários também de grandes aprendizagens ocupam um papel primordial no que diz respeito a mudanças de posturas relacionadas ao meio ambiente. Elas devem ser significativas e dotadas de condutas organizacionais que visam a responsabilidade socioambiental, fica claro que fortalecendo as ações de planejamento estratégico, colaborando para moldar os comportamentos nos negócios, as atitudes das lideranças e consequentemente, dos seus liderados, gerarão uma onda de mudanças positivas, promovendo assim, um cenário melhor para que as empresas e sociedades possam prosperar, 10

preservando o meio. E para que isso ocorra naturalmente e a curto prazo é preciso fazer as mudanças. Fica óbvio que somente através de uma visão compartilhada de valores básicos como ética, consciência igualitária, modificar hábitos e posturas, seremos os novos atores do contexto socioambiental com base numa qualidade de vida melhor e mais sustentável. Para que isso aconteça, faz-se necessário a união de esforços de todos os indivíduos envolvidos: organizações, empresas, governos e instituições privadas e públicas. Conclui-se, portanto, que a educação sobre todos os aspectos é o melhor caminho para transformar a sociedade atual nos verdadeiros agentes de mudança. Em cidadãos mais conscientes e justos. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDAO, Carlos R. Educação Popular. 3ª ed. SP, Brasiliense, 1986 DUARTE, Gleuso D. e DIAS, José Maria A. M. Responsabilidade Social; a empresa hoje. Rio de Janeiro, LTC- Livros Técnicos e Cientificos, 1986. DRUCKER, Peter. A Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Ática, 1997. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987. FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 35ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. FRIEDMAN, Georges. O trabalho em migalhas. São Paulo: Perspectiva, 1972. INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo: Instituto de Empresas e Responsabilidade Social, 2009. LEMOS, H. M.; SANTOS, C. H.; QUELHAS, O. L. G. Sustentabilidade das Organizações Brasileiras. Niterói: ABEPRO, 2006. LOURES, Rodrigo C. da R. Proposições Provocativas: Ensaios sobre Sustentabilidade e Educação. Publicação do Sistema de Federação das Indústrias do Estado do Paraná, 2008. MAXIMIANO, Antonio C. A. Teoria geral da administração: da escola cientifica à competitividade na economia globalizada. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. 11

NASCIMENTO, Leyla. Gestores de Pessoas: Os impactos nas Transformações no Mercado de Trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006. NISKIER, Arnaldo. Novos rumos da educação brasileira. João Pessoa: A União, 1999. PORTER, Michael E. and KRAMER, Mark R. Strategy and Society: The Link between Competitive Advantage and Corporate Social Responsibility. Harvard Bussines Review, 2006. ROBBINS, Stephen. Comportamento organizacional. 11.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2007. TRATADO de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global, Rio de Janeiro, 1992. Disponível em: <http://www.ufpa.br/npadc/gpeea/docsea/tratadoea.pdf> Acesso em 10 mai. 2011. 12

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